O uso de recursos por comunidades humanas tem influência direta na conservação da biodiversidade, na medida em que a forma como ele é executada pode implicar em conservação ou sobre-uso dos recursos. Este artigo descreve um estudo de caso sobre as mudanças ocorridas na pesca em uma comunidade da costa brasileira ao longo de 10 anos (1992-2002). Houve um decréscimo das quantidades médias capturadas diariamente (de 14 kg para 11.32 kg) e anualmente (de 4.2 t para 3.4 t) e também na riqueza de espécies (de 21 para 17 espécies). Além disso, a similaridade da composição de espécies presentes nos desembarques pesqueiros entre os dois períodos foi baixa. (Índice de Morisita-Horn Ch = 0.24). Estas mudanças sugerem um declínio das populações de peixes exploradas localmente, o que provavelmente causou o fim da pesca artesanal comercial. No entanto, a diversidade de espécies capturadas com caniço e com o cerco com redes foi maior no segundo período, enquanto não houve diferença significativa na diversidade de peixes capturada com redes de espera. Apesar destas mudanças, não houve alteração significativa na CPUE e a pesca não intensiva é ainda praticada por alguns membros da comunidade (6-35). Algumas medidas de co-manejo, baseadas no que já é de certa forma realizado pela comunidade (controle da pesca, cultivo de ostras, ecoturismo, etc.), são propostas e podem ser aplicadas a outras comunidades costeiras após serem apropriadamente adaptadas às características locais, objetivando a manutenção do uso continuado dos recursos, mas de forma racional.
pesca; comunidades da costa brasileira; co-manejo; mudanças temporais