Durante a identificação de moluscos bivalves coletados na Antártica, foi reunida uma rica bibliografia taxonômica, estimulando comparações com a malacofauna do Brasil. Assim, listamos um total de 68 espécies conhecidas para águas rasas (menos de 200 m de profundidade) da Antártica e 368 para o Brasil, procurando encontrar espécies, famílias e superfamílias em comum a ambos os locais, e investigando em que essas malacofaunas diferem em relação aos grupos representados e em relação ao hábito de vida das suas espécies. Vinte e três superfamílias não possuem representantes antárticos, mas estão presentes com pelo menos uma espécie brasileira; o oposto não ocorre, pois todas superfamílias que ocorrem na Antártica também são conhecidas para o Brasil. O número de espécies brasileiras é maior, composto por uma mistura de táxons de diferentes províncias biogeográficas, enquanto na Antártica existem somente poucas espécies adaptadas às condições polares, com uma minoria de representantes de fora da Antártica. Dessa forma, muitas espécies típicas do caribe se distribuem até o Brasil, pertencendo aos diversos Arcoidea, Pectinoidea, Lucinoidea, Cardioidea, Veneroidea e Tellinoidea. Cimentantes Ostreoidea, Plicatuloidea, Dimyoidea, Spondylidae (Pectinoidea) e Chamoidea não estão presentes na Antártica, como também não estão perfuradores de madeira (Teredinidae, Pholadoidea) e de rochas (Pholadidae, Pholadoidea; Gastrochaenoidea; e Lithophaginae, Mytiloidea). É notável o grande número de espécies brasileiras de grupos infaunais (exemplos, Tellinidae, Veneridae, Cardiidae e Mactroidea) e epifaunais (Pectinidae, Mytilidae e Arcidae), que são ausentes ou pobremente representados na Antártica. Nuculanoidea, Limopsoidea, Lucinoidea, Galeommatoidea, Cyamioidea e Cuspidarioidea são os grupos mais ricos em espécies antárticas, alguns deles também sendo especiosos no Brasil, entretanto, em maiores profundidades. Três espécies são registradas para ambos os locais: Limatula pygmaea (Limidae), Lasaea adansoni (Lasaeidae) e Gaimardia trapesina (Gaimardiidae). Através de análises dos grupos, é possível apontar aqueles que são taxonomicamente diversos em uma ou outra fauna, e então enfatizá-los em estudos ecológicos, utilizando-os como "organismos monitores" ou modelos. O presente trabalho pode ser um ponto de partida para futuras discussões sobre a ocorrência de um gradiente latitudinal ao longo da costa leste da América do Sul, estimulando trabalhos sobre mudanças que ocorrem na composição das faunas de bivalves do Brasil, Uruguai, Argentina e Antártica.
lista de espécies; águas rasas; fauna brasileira; fauna antártica