Cena 1
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Eu tenho uma diferença muito importante [entre] o sistema tradicional de ensino que, em alguns momentos da minha aula, que não são tão poucos, eu utilizo, mesmo.
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Vou na lousa, escrevo, falo, explico.
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Aquela aula em que o professor é o protagonista.
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Porque eu tenho necessidade e tenho alunos que gostam desse modelo de aula.
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Eu também acho importante, em alguns momentos, ir à lousa e explicar, e falar, e propor.
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Mas eu também utilizo, cada vez mais, o trabalho com essas novas metodologias.
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Eu gosto muito da resolução de problemas.
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[…] Meus alunos estão começando a procurar isso, também, durante as aulas.
Cena 2
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[Durante uma aula] eu estava ensinando geometria analítica, seguindo o modelo mais tradicional.
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Ia até a lousa e explicava e [depois] eles faziam exercícios.
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Aí eu coloquei as equações de duas retas e pedi para eles calcularem a distância entre essas duas retas.
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E aí eles ficaram totalmente perdidos.
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[Imitando aos estudantes]”Ah! Mas o senhor não falou isso!”.
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[Como se respondesse aos estudantes] “Que fala que nada! Tenta aí!”.
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E eles vão tentando. Alguns conseguem sem [conhecer previamente] a fórmula que calcula a distância entre um ponto e uma reta.
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E eu vou ajudando.
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E depois que eles fizeram toda essa investigação, que tentaram, depois eu vou para a lousa.
Cena 3
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No final do ano sempre faço uma avaliação da disciplina.
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E esse ano foi bastante interessante que meus alunos […] falaram:
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“Professor aquelas aulas que você não falou a fórmula, não falou nada, são as mais interessantes. Não que a aula do senhor seja ruim, mas aquelas aulas são muito interessantes”.
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Pena que não tem tanto tempo, porque na [menciona o nome da escola] são só quatro horas de matemática por semana e aí…
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Mas eles gostam, eu também gosto, eu acho interessante.
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E eu adoto, assim, parcialmente, essas metodologias.
Cena 4
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Eu também ainda… Não sei se é uma concepção minha, mas eu não vejo que todo conteúdo matemático é possível de ser desenvolvido usando a resolução de problemas ou a modelagem.
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Tem alguns conteúdos que eu ainda tenho muita dificuldade para usar essas metodologias.
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Eu prefiro, até pelo meu perfil profissional, ir até a lousa, explicar, dar exercícios, dar alguns exemplos e algumas coisas desse tipo.
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Então, quando eu vejo a possibilidade, eu tento trabalhar bastante com essas ideias, mas tem alguns momentos em que o professor Roberto vai na lousa e dá a aula dele e tudo mundo tem que ficar quietinho e prestar atenção [ambos riem].
(Entrevista com Roberto, 2018).
Cena 1
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Na escola particular eu já não consigo trabalhar com essa proposta [refere-se à utilização da Resolução de Problemas e da Modelagem como alternativas pedagógicas].
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Quando eu trabalho é bem pontual. O foco da aula é o cumprimento da apostila.
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Então, eu sou empregado da dona da escola, ela deixa bem claro isso.
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Que eu preciso dar conta daquele material.
Cena 2
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E eu sou um professor que tem uma bagagem relativamente boa.
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Eu trabalho com esse material há quinze anos, então, não tem problema nenhum.
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Porque o pai, quando ele chega em casa, ele vai olhar se o professor terminou a apostila ou não.
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Ele não vai perguntar se o aluno aprendeu e como ele aprendeu.
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E isso, inclusive, me incomoda um pouco.
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Eu tenho conversas com minha esposa, com a professora Natalia.
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E isso me incomoda um pouco.
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Esse modelo de aula em que o professor precisa dar conta de todo o conteúdo sempre, sem deixar um item para trás e vamos que vamos.
Cena 3
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Em alguns momentos eu até tento [utilizar outras metodologias], mas dentro da sala de aula fica muito complexo porque, basicamente, eu tenho 75, 80 páginas por bimestre.
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E eu tenho que dar conta do conteúdo, eu sou contratado para isso, eu preciso trabalhar isso.
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Às vezes eu lamento um pouco.
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Às vezes, o que eu consigo fazer é usar o recurso tecnológico que é o Google Sala de Aula, o Google Classroom, e alguns outros recursos que a escola disponibiliza.
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Mas a maioria do tempo é a mesma apostila, a resolução de exercícios na lousa e os alunos mal podem respirar porque o vestibular está chegando e essa é a proposta.
(Entrevista com Roberto, 2018).
Cena 1
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Eu acho que todas as disciplinas […] contribuíram muito para minha prática profissional no sentido de realmente ter mudança na minha postura enquanto professor.
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Claro que essa mudança acontece, também, de acordo com a escola e o aluno com quem estou trabalhando, mas ela acontece.
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Às vezes mais, às vezes menos, mas ela acontece.
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Acontecia e continua acontecendo.
Cena 2
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Eu me lembro muito de uma disciplina que a gente fez com a professora Clara [centrada] na ideia de análise de erros.
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Eu fiz uma graduação em que a gente nem olhava a prova.
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O professor não devolvia para a gente.
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A avaliação, ela não tinha um caráter de construção do conhecimento.
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[Mas esta] era uma disciplina muito legal […] fizemos análise do erro na avaliação.
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Olhar a avaliação como um momento de construção de conhecimento.
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Eu comecei a entregar a prova pros meus alunos para eles olharem.
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[Como se falasse com seus alunos]”Pessoal, muita gente resolveu mal o exercício 3, vamos discutir um pouquinho do exercício 3?”
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Até hoje eu faço isso […].
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E aí eu falo: “A avaliação está avaliando vocês e está avaliando meu trabalho também, então, vamos fazer com seriedade, vamos fazer bem-feitinho”.
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Então, os meus alunos, eles já entendem um pouco melhor a avaliação.
Cena 3
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Esse momento de olhar para a avaliação como aquilo que o aluno ainda não conhece, como dizia a professora Clara.
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Olhar para o que ele ainda não conhece, eu adotei [essa ideia] na minha prática profissional.
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Incorporei no meu dia a dia de aula, eu observo muito isso.
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Eu sempre procuro reservar um momento da aula para eles tentarem fazer as coisas sob a minha supervisão.
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Para ver como eles estão fazendo, as perguntas que eles estão me dirigindo, essas coisas todas.
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Então, acabei adotando essa ideia, sim.
(Entrevista com Roberto, 2018).
Cena 1
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Eu continuo, sim, aplicando essas ideias da resolução de problemas e da modelagem em diversos conteúdos matemáticos em todas as séries que eu dou aulas.
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Então,[a realização da dissertação] me ajudou muito.
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O Mestrado, ele contribui muito para melhorar a minha vida profissional.
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[Apontou conhecimentos] em metodologias e estratégias didáticas um pouco diferentes.
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Isso é muito importante, mas não acho que foi o mais importante.
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[O mais importante foi] compreender um pouco melhor como se constitui a aprendizagem dos alunos.
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Eu acho que isso me ajudou bastante para entender que a matemática precisa de um tempo para cada um, que cada indivíduo não é o mesmo.
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E que um pode achar que o aluno de matemática errou, mas ele está construindo esse conhecimento, não tenha dúvida disso.
Cena 2
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E [a realização da dissertação] me ajudou também a trabalhar com outros professores.
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A gente estuda alguma coisa e na sala de professores aí a gente se posiciona.
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Fala: “Olha, eu estou entendendo que….”.
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Enfim, eu acho que isso está sendo uma das maiores contribuições do Roberto, enquanto colega de profissão.
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Tentar ajudar outro profissional que não teve a oportunidade que eu tive de vivenciar tudo isso ao longo do Mestrado Profissional.
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Acho que isso é bastante importante e me tornou uma pessoa mais firme no que eu faço, nas minhas atitudes.
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E isso me ajuda a passar para um outro colega da escola, outro colega de profissão que está sofrendo algum dilema.
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E a gente se posiciona e pode tentar passar para ele como as coisas funcionam na Educação Matemática.
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Isso foi importante para mim.
(Entrevista com Roberto, 2018).