RESUMO
JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS:
A dor crônica e os distúrbios do sono são condições comuns. A ocorrência simultânea dessas duas entidades resulta em maior sofrimento pessoal e redução do bem-estar e da funcionalidade. O objetivo desta pesquisa foi avaliar a influência da dor crônica no sono e o seu impacto na qualidade de vida.
MÉTODOS:
Trata-se de um estudo observacional, transversal, individual e não controlado, realizado no Centro Multidisciplinar de Dor do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG). Os pacientes responderam a uma entrevista semiestruturada, face a face, por meio do sistema de computador do próprio centro de dor (avaliaDor®), utilizando dispositivos móveis conectados à internet. Foram coletados dados socioeconômicos e de dor; em seguida foram aplicados instrumentos para avaliar a intensidade da dor (Escala Visual Numérica - EVN), a qualidade de vida (Medical Outcomes Study 36 - Short Form Health Survey - SF-36), a presença de distúrbios psiquiátricos (Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão - HAD) e o sono (Mini Sleep Questionnaire - MSQ).
RESULTADOS
Cento e três pacientes participaram do estudo. Setenta e dois por cento eram do sexo feminino, com mediana de idade de 55 anos, com predominância de brancos com baixo nível de escolaridade. De toda a população estudada, 74,76% dos participantes apresentaram “dificuldade grave” para dormir, enquanto 22,33% tiveram “boa qualidade” de sono. Em relação à intensidade da dor, os pacientes dos grupos de dor moderada e intensa apresentaram maior percentual de “dificuldade grave” para dormir quando comparados aos pacientes com dor leve. Em relação à presença de ansiedade e depressão, observou-se maior pontuação nos itens: “sono agitado”, “cansaço sem motivo aparente”, “acorda com dor de cabeça”, “acorda e volta a dormir”, “acorda cansado pela manhã” e, por fim, “acorda e não volta a dormir”. Os dados gerais do SF-36 apontam para uma baixa qualidade de vida dos doentes do presente estudo e, com base na análise multivariada, os itens “SF-36-Dor e SF-36-Vitalidade” revelaram-se fatores protetores da presença de perturbações do sono.
CONCLUSÃO:
Os distúrbios de sono em pacientes com dor crônica são comuns e determinam piora na qualidade de vida. A frequência desse distúrbio foi maior nos pacientes com ansiedade e depressão, em comparação com os pacientes que não apresentaram essas desordens psiquiátricas. A identificação precoce dos distúrbios do sono, em indivíduos com dor crônica, é fundamental para alcançar maior bem-estar.
Descritores:
Dor crônica; Qualidade de vida; Sono
DESTAQUES
Este artigo analisou dor crônica e distúrbios do sono, dois temas relevantes devido à alta prevalência e à influência na qualidade de vida.
Esta pesquisa relacionou as desordens do sono com os distúrbios de humor e ansiedade, comorbidades psiquiátricas comuns nos pacientes com dor crônica.
Foi demonstrada a importância de avaliar os pacientes com dor crônica quanto à presença e à gravidade dos distúrbios do sono, com o intuito de adequar o tratamento multidimensional da dor.