Acessibilidade / Reportar erro

Mudanças de uso da terra e emissão de gases de efeito estufa: uma explanação sobre os principais drivers de emissão

Resumo

O aquecimento global é atribuído ao aumento das emissões de gases de efeito estufa (GEE), como dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O). As mudanças no uso da terra têm impactos significativos nas emissões de GEE, sendo responsáveis por aproximadamente 44% das emissões do país em 2019. Essa é uma revisão que aborda as principais rotas de formação dos GEE no solo com foco na influência das mudanças do uso da terra nas emissões de GEE. Constata-se que as emissões de CO2 pelo solo estão relacionadas à respiração de raízes, microrganismos e decomposição da matéria orgânica (MO) do solo, assim mudanças no uso da terra podem alterar as características do solo, favorecendo a intensificação das emissões de CO2. As emissões de CH4 pelo solo ocorrem em condições de anaerobiose por microrganismos metanogênicos, no entanto as mudanças no uso da terra, como a conversão de florestas em pastagens, podem aumentar as emissões de CH4 devido a uma maior concentração de microrganismos metanogênicos no solo. Já o N2O é produzido no solo durante o processo de nitrificação e desnitrificação por microrganismos, e a fertilização nitrogenada em áreas agrícolas pode aumentar as emissões de N2O, especialmente quando associada à umidade e disponibilidade de carbono orgânico no solo. Destaca-se a importância de compreender as dinâmicas de formação e emissão de GEE decorrentes das mudanças de uso da terra, pois estratégias eficientes de manejo podem reduzir essas emissões e contribuir para o cumprimento das metas do Brasil em relação à redução de GEE estabelecidas em acordos internacionais.

Palavras-chave:
estoque de carbono; metano no solo; óxido nitroso no solo

Abstract

Global warming is attributed to the increase in greenhouse gas (GHG) emissions, such as carbon dioxide (CO2), methane (CH4), and nitrous oxide (N2O). Land use changes significantly impact on GHG emissions, accounting for approximately 44% of the country’s emissions in 2019. This review addresses the main pathways of GHG formation in the soil, focusing on the influence of land use changes on GHG emissions. It is found that soil CO2 emissions are related to root respiration, microorganisms, and organic matter (OM) decomposition in the soil. Changes in land use can alter soil characteristics, favoring increased CO2 emissions. Soil CH4 emissions occur under anaerobic conditions by methanogenic microorganisms; however, land use changes, such as forest conversion to pasture, can increase CH4 emissions due to a higher concentration of methanogenic microorganisms in the soil. On the other hand, N2O is produced in the soil during nitrification and denitrification processes by microorganisms, and nitrogen fertilization in agricultural areas can increase N2O emissions, especially when associated with soil moisture and the availability of organic carbon. It is important to understand the dynamics of GHG formation and emissions resulting from land use changes because efficient management strategies can reduce these emissions and contribute to Brazil’s goals for GHG reduction as established in international agreements.

Keywords:
Carbon stock; methane in the soil; nitrous oxide in the soil

1. Introdução

O aquecimento global tem sido atribuído ao excesso de emissão de gases de efeito estufa (GEE) para a atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O). Esses gases estão em diferentes concentrações na atmosfera, sendo que há maiores concentrações de CO2 seguido do CH4 e do N2O, respectivamente. É notório enfatizar que dentre os gases com maior capacidade de poluição estão o CH4 e N2O, ambos com uma capacidade de poluição 28 e 265 vezes a do CO2, respectivamente (11 IPCC. Resumo para formuladores de políticas. In: Mudança Climática e Terra: um relatório especial do IPCC sobre mudança climática, desertificação, degradação da terra, gestão sustentável da terra, segurança alimentar e fluxos de gases de efeito estufa em ecossistemas terrestres. 2019. 41p.), contudo, o principal GEE emitido pelo Brasil é o CO2 (22 Eggleston HS, Buendia L, Mika K, Ngara T, Tanake K. IPCC guidelines for national greenhouse gas inventories. Hayama: IGES, 2006. https://www.ipcc.ch/report/2006-ipcc-guidelines-for-national-greenhouse-gas-inventories/
https://www.ipcc.ch/report/2006-ipcc-gui...
).

A produção desses gases ocorre de forma otimizada em setores de energia, agropecuária, processos industriais, resíduos e mudança de uso da terra, sendo este último responsável por 45% das emissões de GEE no Brasil (33 Sistema De Estimativa De Emissões De Gases De Efeito Estufa - SEEG. SEEG Brasil. Emissões totais série histórica. Disponível em: <http://plataforma.seeg.eco.br/total_emission#> Acesso em 15/05/2021.
http://plataforma.seeg.eco.br/total_emis...
). Em 2019 o processo de modificação no uso da terra no Brasil foi responsável por aproximadamente 44% das emissões de gases de efeito estufa (GEE), seguido pela atividade agropecuária com 27% (33 Sistema De Estimativa De Emissões De Gases De Efeito Estufa - SEEG. SEEG Brasil. Emissões totais série histórica. Disponível em: <http://plataforma.seeg.eco.br/total_emission#> Acesso em 15/05/2021.
http://plataforma.seeg.eco.br/total_emis...
).

As modificações no uso da terra alteram as características físico-químicas e biológicas do solo, proporcionando condições favoráveis à intensificação das emissões dos GEE (44 Moges A, Dagnachew M, Yimer F. Land Use Effects on Soil Quality Indicators: A Case Study of Abo-Wonsho Southern Ethiopia. Applied and Environmental Soil Science. 2013, 2013:784989. https://doi.org/10.1155/2013/784989
https://doi.org/10.1155/2013/784989...
, 55 Kroeger ME, Delmont TO, Eren AM, Meyer KM, Guo J, Khan K, Rodrigues JLM, Bohannan BJM, Tringe SG, Borges CD. New Biological Insights Into How Deforestation in Amazonia Affects Soil Microbial Communities Using Metagenomics and Metagenome-Assembled Genomes. Frontiers In Microbiology. 2018;9:1635. Disponível em: http://dx.doi.org/10.3389/fmicb.2018.01635.
http://dx.doi.org/10.3389/fmicb.2018.016...
). Ademais, a magnitude de emissões de GEE no solo em função da mudança do uso da terra está sujeita à influência da temperatura, umidade, teores de nitrogênio, carbono e padrão microbiológico no solo (66 Tavanti RFR, Montarini R, Panosso AR, Scala Jr NL, Neto MC, Freddi ODaS, Gazáles AP, Carvalho MAC, Soares MB, Tavanti TR, Galino FS. What is the impact of pasture reform on organic carbon compartments and CO2 emissions in the Brazilian Cerrado?. Catena. 2020;194:104702. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.104702
https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.10...
).

Diante da situação nacional e global, verifica-se a importância de pesquisas que visem compreender a dinâmica de formação e emissão de GEE decorrentes das mudanças de uso da terra a fim de determinar técnicas de manejo eficientes que reduzam as emissões e propiciem maior conservação dos recursos naturais, contribuindo assim para o alcance de objetivos assumidos pelo Brasil em acordos como o de Paris em 2016 e ressaltados na COP26 em 2021.

Portanto, nesta revisão é abordada a ação antrópica na potencialização do efeito estufa e, por consequente, no aquecimento global. As principais rotas de formação dos GEE são expostas indicando os fatores mais importantes que influenciam a formação e emissão desses gases, e a compreensão sobre a influência das modificações do uso da terra nas rotas de emissão.

2. Efeito estufa e aquecimento global: uma breve explanação

O efeito estufa e a presença dos GEE na atmosfera são fenômenos naturais. Uma parte da radiação que chega ao planeta Terra é absorvida pelos oceanos, rios, solo e plantas, outra parte da energia é refletida para o espaço, onde é retida por uma camada de gases na atmosfera composta principalmente de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), esse fenômeno é denominado efeito estufa. A retenção de parte da radiação solar incidente na atmosfera é responsável por manter o planeta aquecido, impedindo-o de congelar (77 Oktyabrskiy VP. A new opinion of the greenhouse effect. St. Petersburg Polytechnical University Journal: Physics and Mathematics. 2016;2:124-126. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.spjpm.2016.05.008.
https://doi.org/10.1016/j.spjpm.2016.05....
).

Ao longo dos últimos séculos houve significativas mudanças na intensidade de produção dos gases e na quantidade de emissões, assim, a camada de GEE na atmosfera está se tornando cada vez mais espessa e, consequentemente está retendo mais energia estimulando assim o aquecimento global de forma desenfreada (88 Xu Y, Cui G. Influence of spectral characteristics of the Earth’s surface radiation on the greenhouse effect: Principles and mechanisms. Atmospheric Environment. 2021;244:117908. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.atmosenv.2020.117908
https://doi.org/10.1016/j.atmosenv.2020....
).

Segundo o IPCC(99 IPCC. Climate change 2007: the physical science basis. Contribution of working group I to the fourth assessment report of the intergovernmental panel on climate change. Cambridge: Cambridge University Press, United Kingdom, 2007. 996 p.), o aquecimento global é caracterizado pelo aumento substancial da temperatura média do planeta, influenciando na velocidade de degelo das calotas polares, no aumento no nível dos mares, na extinção de vários organismos vivos como plantas e animais, além de alterações nas condições climáticas, ocasionando impactos negativos na produtividade das áreas agrícolas.

Os GEE estão presentes na atmosfera em diferentes concentrações, sendo a ordem de grandeza: CO2 (66%), CH4 (16%) e N2O (7%) do total de GEE presentes na atmosfera. Os gases são expressos em equivalente de CO2 ou Potencial de Aquecimento Global (PAG), assim, o CO2 tem peso de 1 PAG, o CH4 tem peso de 28 PAG e o N2O tem peso de 265 PAG (11 IPCC. Resumo para formuladores de políticas. In: Mudança Climática e Terra: um relatório especial do IPCC sobre mudança climática, desertificação, degradação da terra, gestão sustentável da terra, segurança alimentar e fluxos de gases de efeito estufa em ecossistemas terrestres. 2019. 41p.). Vale ressaltar que devido a ameaça do aquecimento global à sobrevivência do ser humano no planeta Terra, diversas nações têm se mobilizado na busca por meios de mitigar as emissões de GEE.

Em 2016 o Brasil assinou o acordo de Paris e se comprometeu a reduzir suas emissões de GEE em 37% até 2025 quando comparado aos dados de 2005, ratificando metas já estabelecidas pela Lei nacional n°12.187 de 2009 e pelo decreto nacional n° 9.578 de 2018 (1010 Brasil, Lei n° 12.187, DE 29 DE DEZEMBRO DE 2009. Diário Oficial da União - DOU, 2009. Portuguese., 1111 Brasil, Nº 9.578, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2018. Diário Oficial da União - DOU, 2018. Portuguese.-1212 TALANOA - Instituto Internacional de Políticas Públicas. A Política Nacional de Mudança do Clima em 2020: estado de metas, mercados e governança assumidos na Lei 12.187/2009. Rio de Janeiro, Brasil. 2020, 83p.). Em 2021 durante a COP26 o país reafirmou seus objetivos estipulando redução de 50% das emissões de GEE comparando os dados de 2030 à 2005 (1313 Brasil, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Acesso em 10-06-2022, Available from: https://www.gov.br/mma/ptbr/noticias/brasil-inicia-agenda-de-negociacoes-com-boas-perspectivas>. 2021.portuguese.
https://www.gov.br/mma/ptbr/noticias/bra...
). Atualmente o Brasil tem implantado o plano ABC+, que visa uma economia de baixa emissão de GEE na agricultura atuando em categorias, como: recuperação de pastagens, integração lavoura-pecuária-floresta e sistemas agroflorestais, sistema plantio direto, fixação biológica de nitrogênio, florestas plantadas, tratamento de dejeto de animais e adaptação às mudanças climáticas, com validade até 2030 (1414 Brasil. PLANO SETORIAL PARA ADAPTAÇÃO À MUDANÇA DO CLIMA E BAIXA EMISSÃO DE CARBONO NA AGROPECUÁRIA COM VISTAS AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (2020-2030). MAPA, Brasília, 2021. 28p. Portuguese.).

3. Emissões de CO2 pelo solo

O solo é o principal reservatório de carbono do planeta, sendo a matéria orgânica (MO) constituída por 55 - 60% em massa de carbono (C) considerada um dos maiores reservatórios do mundo com 1.300 a 1.500 Pg de C no primeiro metro superficial (1515 Jackson RB, Lajtha K, Crow SE, Hugelius G, Kramer MG, Piñeiro G. The Ecology of Soil Carbon: pools, vulnerabilities, and biotic and abiotic controls. Annual Review of Ecology, Evolution, And Systematics. 2017;48(1):419-445. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1146/annurev-ecolsys-112414-054234
http://dx.doi.org/10.1146/annurev-ecolsy...
). No solo as emissões de CO2 estão relacionadas à respiração de raízes, microrganismos e com a decomposição da MO. Tratando-se especificamente de mudanças no uso da terra, as emissões de CO2 são decorrentes principalmente de alterações nas concentrações das diferentes frações da MO do solo, mediante qualidade, adição ou remoção da mesma, além da fertilidade (1616 Yang X, Meng J, Lan Y, Chen W, Yang T, Yuan J, Liu S, Han J. Effects of maize stover and its biochar on soil CO2 emissions and labile organic carbon fractions in Northeast China. Agriculture Ecosystem & Environment. 2017;240:24-31. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agee.2017.02.001.
https://doi.org/10.1016/j.agee.2017.02.0...
).

Usualmente mudanças de uso da terra causam alterações nos parâmetros químicos do solo, principalmente decorridos das diferenças de manejo entre o novo e o antigo sistema (1717 De Carvalho MAC, Panosso AR, Ribeiro Teixeira EE, Araújo EG, Brancaglioni VA, Dallacort R. Multivariate approach of soil attributes on the characterlization of land use in the southern Brazilian Amazon. Soil Tillage Research. 2018;184:207-215. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.still.2018.08.004
https://doi.org/10.1016/j.still.2018.08....
) ademais, algumas modificações realizam queima da biomassa (1818 Chang J, Ciais P, Gasser T, Smith P, Herrero M, Havlík P, Obersteiner M, Guenet B, Goll DS, Li W, Naipal V, Peng S, Qiu C, Tian H, Viovy N, Yue C, Zhu D. Climate warming from managed grasslands cancels the cooling effect of carbon sinks in sparsely grazed and natural grasslands. Nature Communications. 2021;12(118):1-10. Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41467-020-20406-7
https://doi.org/10.1038/s41467-020-20406...
) levando à perdas nos estoques de C impulsionando as emissões de CO2 (1919 Andrew JM, Kirsten DH, Tirha G, David E, Melanie DJ. Storage of soil carbon as particulate and mineral associated organic matter in irrigated woody perennial crops. Geoderma, 2021;403:115185. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2021.115185
https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2021....
). As mudanças de uso da terra também podem influenciar na temperatura do solo, sendo essa considerada um fator limitante para a produção do CO2 (R2 = 55) uma vez que influencia na atividade microbiana do solo (2020 Zhang Q, Wu J, Lei Y, Yang F, Zhang D, Zhang K, Zhang Q, Cheng X. Agricultural land use change impacts soil CO2 emission and its 13 C-isotopic signature in central China. Soil and Tillage Research. 2018;177:105-112. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.still.2017.11.017
https://doi.org/10.1016/j.still.2017.11....
, 2121 Zhang Y, Zhao W, Fu L, Zhao C, Jia A. Land use conversion influences soil respiration across a desertoasis ecoregion in Northwest China, with consideration of cold season CO2 efflux and its significance. Catena. 2020;188:104460. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.104460
https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.10...
).

O revolvimento do solo presente em algumas atividades envolvidas na mudança de uso da terra pode ser um contribuinte para a emissão de CO2, pois causa rompimentos nos agregados permitindo maior aeração e até mesmo maior infiltração de água (44 Moges A, Dagnachew M, Yimer F. Land Use Effects on Soil Quality Indicators: A Case Study of Abo-Wonsho Southern Ethiopia. Applied and Environmental Soil Science. 2013, 2013:784989. https://doi.org/10.1155/2013/784989
https://doi.org/10.1155/2013/784989...
). Esse rompimento reflete em uma maior exposição da MO viabilizando o aumento da oxidação do C orgânico do solo por microrganismos, resultando em maior produção de CO2 (Figura 1) (1515 Jackson RB, Lajtha K, Crow SE, Hugelius G, Kramer MG, Piñeiro G. The Ecology of Soil Carbon: pools, vulnerabilities, and biotic and abiotic controls. Annual Review of Ecology, Evolution, And Systematics. 2017;48(1):419-445. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1146/annurev-ecolsys-112414-054234
http://dx.doi.org/10.1146/annurev-ecolsy...
, 2222 Samson ME, Chantigny MH, Vanasse A, Menasseri-Aubry S, Royer I, Angers DA. Management practices differently affect particulate and mineral-associated organic matter and their precursors in arable soils. Soil Biology and Biochemistry. 2020;148:107867. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2020.107867
https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2020.1...
e 2323 Lavallee JM, Soong JL, Cotrufo MF. Conceptualizing soil organic matter into particulate and mineral-associated forms to address global change in the 21st century. Global Change Biology. 2020;26(1):261-27. Disponível em: https://doi.org/10.1111/gcb.14859
https://doi.org/10.1111/gcb.14859...
).

Figura 1
Ciclo do Carbono (C) no solo

A MO do solo é um dos principais fatores que regulam as emissões de CO2, e usualmente vem sendo dividida em duas frações, (1) carbono orgânico particulado (COP), (2) carbono orgânico associado a minerais (CAM). O COP possui densidade inferior a 1,6-1,85 g/cm3 ou superior a 1,6-1,85 g/dm3, porém, associados a um tamanho de partícula superior a 50-63 µm, já o CAM possui densidade superior a 1,6-1,85 g/dm3 associado a um tamanho de partícula inferior a 50-63 µm (2323 Lavallee JM, Soong JL, Cotrufo MF. Conceptualizing soil organic matter into particulate and mineral-associated forms to address global change in the 21st century. Global Change Biology. 2020;26(1):261-27. Disponível em: https://doi.org/10.1111/gcb.14859
https://doi.org/10.1111/gcb.14859...
).

Dentre as duas frações da MO do solo, o COP se destaca como fator influenciador da emissão de CO2, sendo considerada uma fração mais grosseira do C no solo, enquanto o CAM é uma fração mais estável com menor possibilidade de ser reduzida no solo, pois detém associação organomineral (2323 Lavallee JM, Soong JL, Cotrufo MF. Conceptualizing soil organic matter into particulate and mineral-associated forms to address global change in the 21st century. Global Change Biology. 2020;26(1):261-27. Disponível em: https://doi.org/10.1111/gcb.14859
https://doi.org/10.1111/gcb.14859...
, 2424 Mikutta R, Turner S, Schippers A, Gentsch N, Meyer-Stüve S, Condron Lm, Peltzer Da, Richardson Sj, Eger A, Hempel G, Kaiser K, Klotzbücher T, Uggenberger GG. Microbial and abiotic controls on mineral-associated organic matter in soil profiles along an ecosystem gradient. Scientific reports. 2019;9(1):1-9. Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41598-019-46501-4
https://doi.org/10.1038/s41598-019-46501...
). Dessa forma, os maiores níveis de CAM no solo estão associados à menores emissões de CO2.

O papel da textura do solo na proteção da MO e formação de frações mais estáveis do C no solo e consequente redução da emissão de GEE, ainda é contraditório. Bruun et al.(2525 Bruun TB, Elberling B, De Neergaard A, Magid J. Organic carbon dynamics in different soil types after conversion of forest to agriculture. Land Degradation & Development. 2013;26(3):272-283. Disponível em: https://doi.org/10.1002/ldr.2205
https://doi.org/10.1002/ldr.2205...
), Miranda et al.(2626 Miranda E, Carmo J, Couto E, Camargo P. Long-term changes in soil carbono stocks in the Brazilian Cerrado under commercial soybean. Land Degradation & Development. 2016;27(6):1586-1594. Disponível em: https://doi.org/10.1002/ldr.2473.
https://doi.org/10.1002/ldr.2473...
) e Tavanti et al.(66 Tavanti RFR, Montarini R, Panosso AR, Scala Jr NL, Neto MC, Freddi ODaS, Gazáles AP, Carvalho MAC, Soares MB, Tavanti TR, Galino FS. What is the impact of pasture reform on organic carbon compartments and CO2 emissions in the Brazilian Cerrado?. Catena. 2020;194:104702. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.104702
https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.10...
) demonstraram que a argila é capaz de proteger a MO do solo, logo, é capaz de impedir a oxidação do C em CO2. Em contrapartida, Midwood et al.(2727 Midwood AJ, Hannam KD, Gebretsadikan T, Emde D, Jones MD. Storage of soil carbon as particulate and mineral associated organic matter in irrigated woody perennial crops. Geoderma. 2021;403:115185. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2021.115185.
https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2021....
) afirmaram que a textura do solo não tem alta correlação (R2 = 0,007 - 0,17) com o processo de estabilização do C e a consequente formação das frações da MO, principalmente o CAM. Segundo esses autores, em solos argilosos a maior presença do CAM é decorrente do intemperismo mineral associado à alta umidade e não ao efeito direto da argila.

Uma alternativa para a redução das emissões de CO2 em função do uso da terra é a diminuição nas práticas de preparo mecânico do solo, pois isso resultará em acúmulo nos níveis de MO. Esse efeito ocorre majoritariamente nas camadas superficiais 0-30 cm conforme observado por Riltt et al.(2828 Rittl TF, Oliveira D, Cerri CEP. Soil carbon stock changes under different land uses in the Amazon. Geoderma Regional. 2017;10:138-143. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2017.07.004.
https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2017.07...
) ao converterem pastagens para áreas de agricultura, e por Damian et al.(2929 Damian JM, Matos ES, Pedreira BC, Carvalho PCF, Premazzi LM, Williams S, Paustian K, Cerri CEP. Predicting soil C changes after pasture intensification and diversification in Brazil. Catena. 2021 202:105238. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.catena.2021.105238
https://doi.org/10.1016/j.catena.2021.10...
) ao converterem pastagens mal manejadas em áreas de integração lavoura-pecuária-floresta para áreas de pastagem bem manejadas.

A conversão de alguns usos da terra em sistemas de pastagem pode exercer redução nos níveis de C nos primeiros anos após a conversão. É esperado que após 10 anos da conversão para sistemas de pastagem bem manejadas, os estoques de C orgânico do solo (ECOS), sejam semelhantes ou superiores aos valores iniciais à implantação do sistema. Grande parte desse resultado é ocasionado pela ampla deposição de resíduos vegetais e carbono ao solo mediantes à ação das gramíneas implantadas no sistema (3030 Santos CA, Rezende CP, Pinheiro ÉFM, Pereira JM, Alves BJR, Urquiaga S, Boddey RM. Changes in soil carbon stocks after land-use change from native vegetation to pastures in the Atlantic forest region of Brazil. Geoderma. 2019;337:94-401. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2018.09.045
https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2018....
, 3131 Pinheiro FM, Nair PKR, Nair VD, Tonucci RG, Venturin RP. Soil carbon stock and stability under Eucalyptusbased silvopasture and other land-use systems in the Cerrado biodiversity hotspot. Journal of Environmental Management. 2021;299:113676. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2021.113676.
https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2021.1...
). Já a conversão de áreas de pastagem ou de mata nativa à áreas de agricultura podem resultar em queda constante nos ECOS por até 25 anos após conversão, em decorrência do preparo do solo com uso de maquinário, e pela baixa cobertura do solo em alguns períodos do ano (3232 Dalal RC, Thornton CM, Allen DE, Owens JS, Kopittke PM. Long-term land use change in Australia from native forest decreases all fractions of soil organic carbon, including resistant organic carbon, for cropping but not sown pasture. Agriculture, Ecosystems & Environment. 2021;311:107326. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agee.2021.107326
https://doi.org/10.1016/j.agee.2021.1073...
).

Conforme o compilado realizado (Figura 2), é possível observar que o cumulativo de C no solo em sistemas bem manejados de pastagem consegue neutralizar as emissões de CO2eq de algumas taxas de lotação animal, indicando esses tipos de uso da terra como alternativas para consorciar ganho econômico à produção sustentável. Com base nesses trabalhos também fica claro que sistemas de pastagem mal manejados colaboram com a emissão de CO2 para a atmosfera, não somente por emitirem CO2, mas sim, porque não estocam C.

Figura 2
Comparação entre emissão de CO2eq entérico por bovinos e a recuperação estocada de CO2eq exclusiva pelo solo de diferentes sistemas, todos equivalentes a um período de 2 anos

Em sistemas de pastagem mal manejadas, a entrada de C no solo é reduzida principalmente pela baixa eficiência das gramíneas do sistema em produzir raízes e palhada, semelhante ao que ocorre em áreas de agricultura, essa menor entrada de C no solo não consegue mitigar as emissões que ocorrem naturalmente nestes dois usos da terra (66 Tavanti RFR, Montarini R, Panosso AR, Scala Jr NL, Neto MC, Freddi ODaS, Gazáles AP, Carvalho MAC, Soares MB, Tavanti TR, Galino FS. What is the impact of pasture reform on organic carbon compartments and CO2 emissions in the Brazilian Cerrado?. Catena. 2020;194:104702. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.104702
https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.10...
).

Já em condição de agricultura, sistemas agroflorestais (3434 Steinfeld JP, Bianchi FJJA, Locatelli JL, Rizzo R, Resende MEB, Ballester MVR, Cerri CEP, Bernardi ACC, Creamer RE. Increasing complexity of agroforestry systems benefits nutrient cycling and mineral-associated organic carbon storage, in south-eastern Brazil. Geoderma. 2023;440:116726. https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2023.116726.
https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2023....
), rotação de culturas (3535 Alves LA, Denardin LGO, Martins AP, Bayer C, Veloso MG, Bremm C, Carvalho PCF, Machado DR, Tiecher T. The effect of crop rotation and sheep grazing management on plant production and soil C and N stocks in a longterm integrated crop-livestock system in Southern Brazil. Soil and Tillage Research. 2020;203:104678. https://doi.org/10.1016/j.still.2020.104678.
https://doi.org/10.1016/j.still.2020.104...
) e uso de cobertura morta (3636 Sant’anna SAC, Martins MR, Goulart JM, Araújo SN, Araújo ES, Zaman M, Jantalia CP, Alves B, Jr, Boddey RM, Urquiaga S. Biological nitrogen fixation and soil N2O emissions from legume residues in an Acrisol in SE Brazil. Geoderma Regional. 2018; 15:e00196. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2018.e00196
https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2018.e0...
) podem contribuir positivamente para o sequestro de C, principalmente porque esses sistemas conseguem depositar expressiva quantidade de resíduo vegetal no solo, que ao longo do tempo passará pelo processo de ciclagem do C, culminando com a sua imobilização em alguma fração da matéria orgânica no solo.

Em geral aponta-se que o CO2 é influenciado pelos estoques de C do solo, uma vez que esse é o principal substrato pelos microrganismos para a produção desse gás. Contudo, esse C pode ser encontrado no solo em formas mais resistentes ou susceptíveis à oxidação, embora ambas estejam sujeitas à oxidação microbiana. Em adicional, mudanças de uso da terra influenciam nas características químicas do solo podendo gerar aumento da exposição do C ao efeito da oxidação microbiana.

4. Emissões de CH4 no solo

O gás metano (CH4) possui capacidade de absorção de radiação infravermelho 28 vezes maior que o potencial do CO2 (11 IPCC. Resumo para formuladores de políticas. In: Mudança Climática e Terra: um relatório especial do IPCC sobre mudança climática, desertificação, degradação da terra, gestão sustentável da terra, segurança alimentar e fluxos de gases de efeito estufa em ecossistemas terrestres. 2019. 41p.). Sua produção no solo é dependente de microrganismos anaeróbios que decompõem o carbono normalmente em condição de alagamento e nessas condições, sua faixa de temperatura ideal para produção é de 37° a 45° C (3737 Vieira CFA, Lima LCD, Coutinho MM, Cavalcante, FSA. Efeitos climáticos do metano na atmosfera. Rev. Tecnol. Fortaleza. 2008;29(1):72-83. Disponível em: https://ojs.unifor.br/tec/article/view/46
https://ojs.unifor.br/tec/article/view/4...
).

A produção de CH4 ocorre a partir da ação de microrganismos denominados metanogênicos, que em condição de anaerobiose, utilizam como substratos o acetato, formato, H2, CO2 e compostos metilados (3838 Evans PN, Boyd JA, Leu AO, Woodcroft BJ, Parks DH, Hugenholtz P, Tyson, GW. An evolving view of methane metabolism in the Archaea. Nature Reviews Microbiology. 2019;17(4):219-232. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1038/s41579-018-0136-7.
http://dx.doi.org/10.1038/s41579-018-013...
, 3939 Meyer KM, Morris AH, Webster K, Klein AM, Kroeger ME, Meredith LK, Braendholt A, Nakamura F, Venturini A, Souza LF, Shek K,L, Danielson R, Haren JV, Camargo PB, Tsai SM, Dini-Andreote F, De Mauro JMS, Barlow J, Berenguer E, Nüsslein K, Saleska S, Rodrigues JLM, Bohannan BJM, Belowground changes to community structure alter methane-cycling dynamics in Amazonia. Environment International. 2020;145:106131. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.envint.2020.106131
https://doi.org/10.1016/j.envint.2020.10...
). Sua oxidação pode ser realizada por microrganismos denominados metanotróficos que o utilizam como única fonte de alimento em condições aeróbias, e adicionalmente, o metano também pode ser oxidado por oxidantes de amônia (NH3), mas em ambas as vias de oxidação o CH4 é convertido no solo em CO2 (1818 Chang J, Ciais P, Gasser T, Smith P, Herrero M, Havlík P, Obersteiner M, Guenet B, Goll DS, Li W, Naipal V, Peng S, Qiu C, Tian H, Viovy N, Yue C, Zhu D. Climate warming from managed grasslands cancels the cooling effect of carbon sinks in sparsely grazed and natural grasslands. Nature Communications. 2021;12(118):1-10. Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41467-020-20406-7
https://doi.org/10.1038/s41467-020-20406...
).

O processo de conversão de CH4 em CO2 no solo pode ser realizado por Archeas oxidantes de amônia (AOA), bactérias oxidantes de amônia (BOA) e metanotróficos, sendo que as AOA possuem maior afinidade com o CH4, consequentemente quanto maior o número de AOA menor será o de BOA no solo (R2=0,53) (4040 Xu X, Xia Z, Liu Y, Liu E, Muller K, Wang H, Luo J, Wu X, Beiyuan J, Fang Z, Xu J, Di H, Li Y. Interactions between methanotrophs and ammonia oxidizers modulate the response of in situ methane emissions to simulated climate change and its legacy in an acidic soil. Science of the Total Environment. 2021;752:142225. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020.142225
https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020...
). Além disso, as AOA são pouco afetadas pelas mudanças do solo, principalmente com o aumento de temperatura e redução da umidade, podendo assim ser uma das principais rotas de oxidação do CH4 no solo após mudanças de uso da terra (4040 Xu X, Xia Z, Liu Y, Liu E, Muller K, Wang H, Luo J, Wu X, Beiyuan J, Fang Z, Xu J, Di H, Li Y. Interactions between methanotrophs and ammonia oxidizers modulate the response of in situ methane emissions to simulated climate change and its legacy in an acidic soil. Science of the Total Environment. 2021;752:142225. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020.142225
https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020...
). No entanto, o inverso também pode ser aplicado, uma vez que o amônio (NH4) um dos possíveis produtos do uso de nitrogênio como fertilizante também pode ser oxidado por metanotróficos, logo esse pode ser considerado como um potencial competidor com o metano pela monoxigenase (enzima responsável pela oxidação do CH4) (4141 Mosier A, Schimel D, Valentine D, Bronson K, Parton W. Methane and nitrous-oxide fluxes in native, fertilized and cultivated grasslands. Nature. 1991;350:330-332. Disponível em: https://doi.org/10.1038/350330a0.
https://doi.org/10.1038/350330a0...
).

Em solo sob condições de anaerobiose, a MO é decomposta por microrganismos em frações menores através de processos de hidrólise e fermentação. Os principais produtos deste processo são o CO2 e o CH4. O CH4 produzido é difundido para a camada superior do solo, onde ocorre condição de aerobiose, permitindo a oxidação do metano por organismos metanotróficos. Durante o processo de difusão do CH4 para a camada superior do solo, pode ocorrer uma série de reações entre o CH4 e n-receptores de elétrons, assim, parte do CH4 produzido a partir da decomposição da MO não chega a ser emitido para a atmosfera (Figura 3) (4242 Dean JF, Middelburg JJ, Röckmann T, Aerts R, Blauw LG, Egger M, Mike SMJ, Anniek EEJ, Meisel OH, Rasigraf O, Slomp CP, Michiel H, Dolman AJ. Methane feedbacks to the global climate system in a warmer world. Reviews of Geophysics. 2018;56(1):207-250. Disponível em: https://doi.org/10.1002/2017RG000559
https://doi.org/10.1002/2017RG000559...
). Podemos citar como principais aceptores de elétrons do solo os óxidos de ferro e manganês (4343 Silva LSD, Griebeler G, Moterle DF, Bayer C, Zschornack T, Pocojeski E. Dinâmica da emissão de metano em solos sob cultivo de arroz irrigado no sul do Brasil. Revista Brasileira de Ciência do Solo. 2011;35(2):473-781. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-06832011000200016
https://doi.org/10.1590/S0100-0683201100...
).

Figura 3
Ciclo do metano (CH4) no solo

A produção de CH4 proveniente do solo também está relacionada à deterioração da MO em condições alagadas, frequentemente observadas em sistemas agrícolas como em cultivos de arroz (4343 Silva LSD, Griebeler G, Moterle DF, Bayer C, Zschornack T, Pocojeski E. Dinâmica da emissão de metano em solos sob cultivo de arroz irrigado no sul do Brasil. Revista Brasileira de Ciência do Solo. 2011;35(2):473-781. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-06832011000200016
https://doi.org/10.1590/S0100-0683201100...
, 4545 Liu X, Peñuelas J, Sardans J, Fang Y, Wiesmeier M, Wu L, Chen X, Chen Y, Jin Q, Wang W. Response of soil nutrient concentrations and stoichiometry, and greenhouse gas carbon emissions linked to change in land-use of paddy fields in China. Catena. 2021;203:105326. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.catena.2021.105326.
http://dx.doi.org/10.1016/j.catena.2021....
). Esse processo também pode ocorrer em outras culturas em decorrência da alta precipitação em determinados períodos do ano, o que também pode levar algumas áreas a produzirem CH4, ocasionado pela saturação de umidade máxima do solo (4646 Kroeger ME, Meredith LK, Meyer KM, Webster KD, Camargo PB, Souza LF, Tsai SM, Van Haren J, Saleska S, Bohannan BJM, Nüsslein K. Rainforest-to-pasture conversion stimulates soil methanogenesis across the Brazilian Amazon. The Isme Journal. 2021;15(3):658-672. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1038/s41396-020-00804-x.
http://dx.doi.org/10.1038/s41396-020-008...
). Contudo, mudanças de uso da terra em que ocorre a conversão de um sistema para áreas de agricultura costumam gerar redução nas emissões de metano, uma vez que nestes sistemas ocorre uma redução dos ECOS e umidade do solo (4747 Ondiek RA, Hayes DS, Kinyua DN, Kitaka N, Lautsch E, Mutuo P, Hein T. Influence of land-use change and season on soil greenhouse gas emissions from a tropical wetland: A stepwise explorative assessment. Science of the Total Environment. 2021;787:147701. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021.147701
https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021...
, 4848 Wachiye S, Merbold L, Vesala T, Rinne J, Leitner S, Anen MR, Vuorinne I, Heiskanen J, Pellikka P. Soil greenhouse gas emissions from a sisal chronosequence in Kenya. Agricultural and Forest Meteorology. 2021;307:108465. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agrformet.2021.108465
https://doi.org/10.1016/j.agrformet.2021...
).

As emissões de CH4 pelo solo são relacionadas a fatores intrínsecos ao cultivo como duração do plantio, tempo de descanso da área, e insumos aplicados. Em uma meta-análise avaliando emissões de GEE em diferentes sistemas agrícolas, Shakoor et al.(4949 Shakoor A, Shakoor S, Rehman, Ashraf F, Abdullah M, Shahza SM, Farooq TH, Ashraf M, Manzoor MA, Altaf MM, Altaf MA. Effect of animal manure, crop type, climate zone, and soil attributes on greenhouse gas emissions from agricultural soils - A global meta-analysis. Journal of Cleaner Production. 2021;278:124019. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2020.124019
https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2020.1...
) constataram que as emissões de CH4 aumentaram quando foi aplicado esterco de aves em solo com pH > 7, saturação de umidade do solo > 60%, em área de cultivo de arroz, e em locais em que a área estava em descanso sem cobertura, sendo também verificado maiores emissões do gás em plantios com duração inferior a 320 dias. Além disso, a emissão de CH4 também pode ser influenciada pelas condições da faixa de solo avaliada. Cardoso et al.(5050 Cardoso A Da S, Junqueira JB, Reis RA, Ruggieri AC. How do greenhouse gas emissions vary with biofertilizer type and soil temperature and moisture in a tropical grassland?. Pedosphere. 2020;30(5): 607-617. Disponível em: https://doi.org/10.1016/S1002-0160(20)60025-X
https://doi.org/10.1016/S1002-0160(20)60...
) verificaram que maiores emissões de metano ocorrem no extrato superior do solo, influenciadas principalmente pela umidade e temperatura da faixa de solo avaliada. Quanto mais elevada a umidade e temperatura da fração de solo, maior será a emissão de CH4 (5151 Parashar DC, Gupta PK, Rai J, Sharma RC, Singh N. Effect of soil temperature on methane emission from paddy fields. Chemosphere. 1993;26(1-4):247-250. Disponível em: https://doi.org/10.1016/0045-6535(93)90425-5.
https://doi.org/10.1016/0045-6535(93)904...
). A emissão de metano possui ainda uma correlação com as concentrações de nitrogênio aplicadas no solo. Segundo Sainju et al.(5252 Sainju UM, Ghimire R, Dangi S. Soil carbon dioxide and methane emissions and carbon balance with crop rotation and nitrogen fertilization. Science of the Total Environment. 2021;775:145702. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021.145902
https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021...
), essa correlação para o sistema de monocultura é moderada (R2=0,56), enquanto a correlação para o sistema de rotação de cultura gramínea - leguminosa apresenta correlação muito forte (R2= 0.91), concluindo que o uso de rotação de culturas com leguminosas quando associado a diminuição da fertilização nitrogenada podem reduzir a emissão de CH4 em -1 kg Ceq ha-1. No entanto, o trabalho destacou que ainda não existe um consenso sobre a influência da fertilização na emissão de CH4.

Além dos fatores edafoclimáticos que afetam a emissão de CH4, estudos recentes (3939 Meyer KM, Morris AH, Webster K, Klein AM, Kroeger ME, Meredith LK, Braendholt A, Nakamura F, Venturini A, Souza LF, Shek K,L, Danielson R, Haren JV, Camargo PB, Tsai SM, Dini-Andreote F, De Mauro JMS, Barlow J, Berenguer E, Nüsslein K, Saleska S, Rodrigues JLM, Bohannan BJM, Belowground changes to community structure alter methane-cycling dynamics in Amazonia. Environment International. 2020;145:106131. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.envint.2020.106131
https://doi.org/10.1016/j.envint.2020.10...
,4545 Liu X, Peñuelas J, Sardans J, Fang Y, Wiesmeier M, Wu L, Chen X, Chen Y, Jin Q, Wang W. Response of soil nutrient concentrations and stoichiometry, and greenhouse gas carbon emissions linked to change in land-use of paddy fields in China. Catena. 2021;203:105326. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.catena.2021.105326.
http://dx.doi.org/10.1016/j.catena.2021....
,4646 Kroeger ME, Meredith LK, Meyer KM, Webster KD, Camargo PB, Souza LF, Tsai SM, Van Haren J, Saleska S, Bohannan BJM, Nüsslein K. Rainforest-to-pasture conversion stimulates soil methanogenesis across the Brazilian Amazon. The Isme Journal. 2021;15(3):658-672. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1038/s41396-020-00804-x.
http://dx.doi.org/10.1038/s41396-020-008...
e 5353 Ma L, Yang H, Pan Z, Rong Y. In situ measurements and meta-analysis reveal that land-use changes combined with low nitrogen application promote methane uptake by temperate grasslands in China. Science of The Total Environment.2020;706:136048. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2019.136048
https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2019...
) acerca da emissão de metano em pastagens indicam a microbiota metanogênica do solo como fator influente para a liberação de CH4, que pode ser afetada por fatores secundários como pH do solo, vegetação, compactação, entrada de nutrientes via excreta de animais, níveis de COS, drenagem, textura arenosa, nitrogênio total do solo, densidade aparente do solo, amônio (NH4) e nitrato (NO3) do solo.

Os principais fatores de emissão do gás metano pelo solo atribuído nos trabalhos analisados compreenderam à umidade, microbiologia e à disponibilidade de MO no solo, sendo que a conversão de áreas úmidas em áreas de agricultura pode reduzir a produção de metano, uma vez que diminui a umidade e os estoques de carbono do solo.

5. Emissões de N2O no solo

O óxido nitroso (N2O) é uma das formas gasosas do Nitrogênio (N) produzido durante o processo de nitrificação mediante alguns microrganismos nitrificadores (Figura 4A), sendo também produzido durante o processo de desnitrificação mediante microrganismos desnitrificantes através da redutase do óxido nítrico, que é comumente associado como principal processo de formação do N2O (Figura 4B). Há também outros processos de emissão de N2O que são a codesnitrificação e a quimiodesnitrificação, no entanto o produzem em menor proporção (5454 VIEIRA, R. F. Ciclo do nitrogênio em sistemas agrícolas. Brasília: Embrapa. 1 ed. 2017. 165p.). Em áreas de agricultura, sua produção ocorre principalmente pela conversão de fertilizantes nitrogenados em N2O. Já em áreas de pastagem, sua produção é derivada da aplicação de fertilizantes e pela deposição de N na urina pelos animais (5555 Clough TJ, Cardenas L M, Friedl J, Wolf B. Nitrous oxide emissions from ruminant urine: science and mitigation for intensively managed perennial pastures. Current Opinion in Environmental Sustainability. 2020;47:21-27. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.cosust.2020.07.001
https://doi.org/10.1016/j.cosust.2020.07...
).

Figura 4
Processos de Nitrificação (A) e Desnitrificação (B), envolvidos na produção de N2O

A produção desse gás no solo é dependente da ação de bactérias, fungos e Archeas que utilizam o amônio (NH4+) e nitrato (NO3-) disponível do fertilizante, urina dos animais ou da MO do solo como principal substrato durante alguma das fases do ciclo do N (5656 Merloti LF, Mendes LW, Pedrinho A, De Souza LF, Ferrari BM, Tsai SM. Forest-to-agriculture conversion in Amazon drives soil microbial communities and N-cycle. Soil Biology & Biochemistry. 2019;137:107567. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2019.107567
https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2019.1...
). As Archeas oxidantes de amônia (AOA) dominam em solos onde há baixa concentração de NH4+ e produzem menos N2O comparadas às bactérias oxidantes de amônia (BOA) (5757 Prosser JI, Hink L, Gubry-Rangin C, Nicol GW. Nitrous oxide production by ammonia oxidizers: physiological diversity, niche differentiation and potential mitigation strategies. Global Change Biology. 2020;26(1):103-118. Disponível em: https://doi.org/10.1111/gcb.14877
https://doi.org/10.1111/gcb.14877...
). Já os fungos podem realizar o processo de desnitrificação, preferindo usar NO3- e NO2- para formar N2O, uma vez que esses são incapazes de formar o N2, pois não possuem a enzima redutase do N2O (5858 Maeda K, Spor A, Edel-Hermann V, Heraud C, Breuil M,C, Bizouard F, Toyoda S, Yoshida N, Steinberg C, Philippot L. N2O production, a widespread trait in fungi. Scientific Report. 2015;5:59697. Disponível em: https://doi.org/10.1038/srep09697.
https://doi.org/10.1038/srep09697...
).

A fertilização nitrogenada pode interagir com a umidade e com a disponibilidade do C orgânico no solo, gerando uma maior proporção de nitrato, sendo este um dos principais substratos do processo de desnitrificação do N e, a consequente emissão de N2O como um dos produtos. Esse efeito pode ser potencializado pela disponibilidade de C no solo uma vez que este também é um elemento indispensável para a maioria dos processos microbianos (5959 Gelfand l, Cui M, Tang J, Robertson GP. Short-term drought response of N2O and CO2 emissions from mesic agricultural soils in the US Midwest. Agriculture, Ecosystems & Environment. 2015;212:127-133. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.agee.2015.07.005.
http://dx.doi.org/10.1016/j.agee.2015.07...
, 6060 Cardoso ADaS, Quintana BG, Janusckiewicz ER, Brito LDeF, Morgado E.DaS, Reis RA, Ruggieri AC. N2O emissions from urine-treated tropical soil: Effects of soil moisture and compaction, urine composition, and dung addition. Catena. 2017;157:325-332. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.catena.2017.05.036
https://doi.org/10.1016/j.catena.2017.05...
). Picos de emissão do N2O no solo normalmente encontram-se poucos dias após a aplicação de fertilizantes nitrogenados (6161 Zurovec O, Wall DP, Brennan FP, Krol DJ, Forrestal PJ, Richards KG. Increasing soil pH reduces fertiliser derived N2O emissions in intensively managed temperate grassland. Agriculture, Ecosystems & Environment. 2021;311:107319. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agee.2021.107319
https://doi.org/10.1016/j.agee.2021.1073...
).

Nas primeiras 24 - 48 horas os fertilizantes nitrogenados, principalmente a ureia, quando adicionados ao solo perpassam pela ação da enzima urease que hidrolisa ureia a amônio (NH4+) e íons de carbonato (CO32-). O carbonato é hidrolisado futuramente em bicarbonato (HCO3) e íons de OH, o que aumenta drasticamente o pH do solo (pH > 8). Esse elevado pH tem a capacidade de fazer com que a MO do solo libere NH3-, pois o OH afeta a relação NH4+/NH3- uma vez que em pH mais elevados o N da ureia tende a ficar na forma de amônia. Por fim essa maior disponibilidade de NH3- pode ser oxidada por BOA podendo gerar N2O (5555 Clough TJ, Cardenas L M, Friedl J, Wolf B. Nitrous oxide emissions from ruminant urine: science and mitigation for intensively managed perennial pastures. Current Opinion in Environmental Sustainability. 2020;47:21-27. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.cosust.2020.07.001
https://doi.org/10.1016/j.cosust.2020.07...
).

Yuttitham et al.(6262 Yuttitham M, Chidthaisong A, Ruangchu U. N2O fluxes and direct N2O emission factors from maize cultivation on Oxisols in Thailand. Geoderma Regional. 2020;20:e00244. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2019.e00244
https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2019.e0...
) corroboraram que as emissões de N2O podem ser potencializadas pela aplicação de fertilizantes, e Silva et al.(4343 Silva LSD, Griebeler G, Moterle DF, Bayer C, Zschornack T, Pocojeski E. Dinâmica da emissão de metano em solos sob cultivo de arroz irrigado no sul do Brasil. Revista Brasileira de Ciência do Solo. 2011;35(2):473-781. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-06832011000200016
https://doi.org/10.1590/S0100-0683201100...
) observaram que as emissões de N2O podem estar associadas aos teores de carbono (C) e nitrogênio (N) microbiano. Dados do IPCC (99 IPCC. Climate change 2007: the physical science basis. Contribution of working group I to the fourth assessment report of the intergovernmental panel on climate change. Cambridge: Cambridge University Press, United Kingdom, 2007. 996 p.) demonstraram que em condições ambientais ideais os fertilizantes agrícolas nitrogenados podem corresponder até 1% das emissões de N2O. As áreas agrícolas que usam fertilização nitrogenada estão sujeitas as maiores emissões de N2O (99 IPCC. Climate change 2007: the physical science basis. Contribution of working group I to the fourth assessment report of the intergovernmental panel on climate change. Cambridge: Cambridge University Press, United Kingdom, 2007. 996 p.; 6363 Bell MJ, Hinton N, Cloy JM, Topp CFE, Rees RM, Cardenas LT, Scott C, Webster RW, Ashton AP, Whitmore JR, Williams H, Balshaw F, Paine, K, Goulding WT, Chadwick, DR. Nitrous oxide emissions from fertilised UK arable soils: Fluxes, emission factors and mitigation. Agriculture, Ecosystems & Environment. 2015;212:134-147. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agee.2015.07.003
https://doi.org/10.1016/j.agee.2015.07.0...
), principalmente as que utilizam a ureia, pois após reação deste fertilizante com a água do solo ocorre a formação de amônio podendo este ser utilizado posteriormente no processo desnitrificação por nitrificadores (5454 VIEIRA, R. F. Ciclo do nitrogênio em sistemas agrícolas. Brasília: Embrapa. 1 ed. 2017. 165p.). A utilização de fertilização com resíduos animais também pode estimular as emissões de N2O e NOx pois pode haver uma inibição das enzimas que reduzem nitrato e nitrito (6464 Pu Y, Zhu B, Dong Z, Liu Y, Wang C, Ye C. Soil N2O and NOx emissions are directly linked with N-cycling enzymatic activities. Applied Soil Ecology. 2019; 139:15-24. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.apsoil.2019.03.007
https://doi.org/10.1016/j.apsoil.2019.03...
).

Na pecuária a emissão de N2O é relacionada à associação da deposição de urina e esterco ao solo, a urina libera N ao solo e as fezes realizam o fornecimento de C (6060 Cardoso ADaS, Quintana BG, Janusckiewicz ER, Brito LDeF, Morgado E.DaS, Reis RA, Ruggieri AC. N2O emissions from urine-treated tropical soil: Effects of soil moisture and compaction, urine composition, and dung addition. Catena. 2017;157:325-332. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.catena.2017.05.036
https://doi.org/10.1016/j.catena.2017.05...
). No entanto, embora essa seja uma combinação favorável para a produção de N2O, a liberação de N pelo esterco é lenta, o que pode favorecer a formação de baixos níveis de NH4+ no solo, estimulando a presença de AOA e consequentemente menores emissões de N2O (5555 Clough TJ, Cardenas L M, Friedl J, Wolf B. Nitrous oxide emissions from ruminant urine: science and mitigation for intensively managed perennial pastures. Current Opinion in Environmental Sustainability. 2020;47:21-27. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.cosust.2020.07.001
https://doi.org/10.1016/j.cosust.2020.07...
).

A concentração de MO presente no solo também pode influenciar na produção de N2O, uma vez que essa em grande quantidade no solo age como um tamponante do pH, o que faz com que a concentração de NH4+ seja reduzida na solução do solo em resposta a esse fenômeno, as concentrações subsequentes de NH3, NOx- e N2O também são reduzidas (6565 Breuillin-Sessoms F, Venterea RT, Sadowsky MJ, Coulter JA, Clough TJ, Wang P. Nitrification gene ratio and free ammonia explain nitrite and nitrous oxide production in urea-amended soils. Soil Biology & Biochemistry. 2017;111:143-153. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2017.04.007
https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2017.0...
).

Outro fator inerente ao solo e capaz de influenciar nas emissões de N2O é a textura do solo. Segundo Carmo et al.(6666 Carmo JB, Andrade CA, Cerri CC, Picollo MC. Disponibilidade de nitrogênio e fluxos de N2O a partir de solo sob pastagem após aplicação de herbicida. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 2005;29(5):735-746. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-06832005000500009
https://doi.org/10.1590/S0100-0683200500...
), a textura do solo quando associada a umidade poderá influenciar a emissão de N2O, pois está diretamente relacionada com a capacidade de retenção de água logo após o enchimento dos micros e macroporos. Com a saturação por água, ocorre a condição de anaerobiose suficiente para alguns microrganismos produzirem N2O. Assim, solos argilosos tendem a emitir mais N2O (6767 Pihlatie M, Syväsalo E, Simojoki A, Esala M, Regina K. Contribution of nitrification and denitrification to N2O production in peat, clay and loamy sand soils under different soil moisture conditions. Nutrient Cycling Agroecossystem. 2004;70(2):135-141. Disponível em: https://doi.org/10.1023/B:FRES.0000048475.81211.3c.
https://doi.org/10.1023/B:FRES.000004847...
). É importante ressaltar que a produção de N2O também pode ocorrer em condição de aerobiose devido a ação de microrganismos aeróbios, portanto a condição de aerobiose não é um fator limitante para a produção de N2O e não deve ser desprezada como justificativa para quantificação do gás (6868 Xu Y, Xu Z, Cai Z. Reverchon F. Review of denitrification in tropical and subtropical soils of terrestrial ecosystems. Journal of Soil and Sediment. 2013;13(4):699-710. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11368-013-0650-1
https://doi.org/10.1007/s11368-013-0650-...
).

O pH do solo também pode influenciar na emissão de N2O através da inibição ou potencialização das enzimas envolvidas nos processos de nitrificação e desnitrificação, como também influencia a população microbiana presente no solo (6969 Saggar S, Jha N, Deslippe J, Bolan NS, Luo J, Giltrap DL, Kim DG, Zaman M, Tillman RW, Denitrification and N2 O: N2 production in temperate grasslands: processes, measurements, modelling and mitigating negative impacts. Science and Total Environment. 2013;465(1):173-195. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2012.11.050
https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2012...
). O pH entre 5,4 e 5,9 potencializa as emissões de N2O devido ao maior processo de desnitrificação (7070 Russenes AL, Korsaeth A, Bakken LR, Dörsch P. Spatial variation in soil pH controls off-season N2O emission in an agricultural soil. Soil Biology and Biochemistry. 2016;99:36-46. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2016.04.019
https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2016.0...
), porém menores valores de pH também reduzem a redutase do óxido nitroso (Figura 4B), o que acaba aumentando as emissões de N2O (7171 Zheng Q, Hu Y, Zhang S, Noll L, Böckle T, Dietrich M, Herbold CW, Eichorst SA, Woebken D, Richter A, Wanek W. Soil multifunctionality is affected by the soil environment and by microbial community composition and diversity. Soil Biology and Biochemistry. 2019;136:107521. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2019.107521
https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2019.1...
). Quando comparado sistemas de pastagens com e sem manejo de calagem por longos períodos observou-se diferenças em relação a emissão de N2O. Solos de pastagem que foram corrigidos por meio da calagem apresentam aumento no pH e redução das emissões de N2O (6161 Zurovec O, Wall DP, Brennan FP, Krol DJ, Forrestal PJ, Richards KG. Increasing soil pH reduces fertiliser derived N2O emissions in intensively managed temperate grassland. Agriculture, Ecosystems & Environment. 2021;311:107319. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agee.2021.107319
https://doi.org/10.1016/j.agee.2021.1073...
).

As emissões de N2O são influenciadas pelas modificações de uso da terra, principalmente em áreas em que ocorre a substituição da floresta nativa pela agricultura ou por pastagens (7272 Pedrinho A, Mendes LW, Merloti LF, Da Fonseca MDeC, Cannavan FDeS, Tsai SM. Forest-to-pasture conversion and recovery based on assessment of microbial communities in Eastern Amazon Rainforest. FEMS Microbiology Ecology. 2018;95(3):1-10. Disponível em: https://doi.org/10.1093/femsec/fiy236.
https://doi.org/10.1093/femsec/fiy236...
). Nessas áreas ocorrem alterações microbiológicas no solo favorecendo o processo de nitrificação e desnitrificação, enquanto a floresta natural é considerada um sumidouro de N2O (5656 Merloti LF, Mendes LW, Pedrinho A, De Souza LF, Ferrari BM, Tsai SM. Forest-to-agriculture conversion in Amazon drives soil microbial communities and N-cycle. Soil Biology & Biochemistry. 2019;137:107567. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2019.107567
https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2019.1...
).

Para tentar reduzir a emissão de N2O por fertilizantes nitrogenados, a fixação biológica de nitrogênio (FBN), rotação de culturas e uso de cobertura morta (provenientes de leguminosas) podem ser uma opção (34, 35 e 36). Segundo Sant’Anna et al.(3636 Sant’anna SAC, Martins MR, Goulart JM, Araújo SN, Araújo ES, Zaman M, Jantalia CP, Alves B, Jr, Boddey RM, Urquiaga S. Biological nitrogen fixation and soil N2O emissions from legume residues in an Acrisol in SE Brazil. Geoderma Regional. 2018; 15:e00196. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2018.e00196
https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2018.e0...
), que avaliaram três leguminosas utilizadas em sistema de adubação verde, comprovaram a emissão de N2O decorrente dos resíduos das plantas. No entanto, as concentrações de emissão foram inferiores aos estipulados pelo IPCC e demonstraram que a utilização de culturas capazes de realizar FBN é vantajosa por diminuírem as necessidades de fertilizantes nitrogenados, e consequentemente reduzem as emissões de CO2 produzidas durante o processo de fabricação, distribuição e aplicação. Ademais, o uso de leguminosas pode compensar a necessidade de fertilização nitrogenada em sistemas de pastagem (7373 Boddey RM, Casagrande DR, Homem BGC, Alves BJR. Forage legumes in grass pastures in tropical Brazil and likely impacts on greenhouse gas emissions: A review. Grass and forage Science. 2020;75(4):357-371. Disponível em: https://doi.org/10.1111/gfs.12498
https://doi.org/10.1111/gfs.12498...
), ficando assim evidentes alternativas de manejo para a mitigação desse GEE em condição de pastagem.

6. Conclusão

Mudanças de uso da terra interferem nos parâmetros químicos, físicos e biológicos do solo, influenciando na emissão de GEE para atmosfera. O CO2 é produzido naturalmente no solo pela ação de microrganismos, e sua emissão depende principalmente dos ECOS. A produção de CH4 também depende dos ECOS, porém esse é produzido em condição de anaerobiose, sendo que solos de alta drenagem ou com baixo ECOS apresentam dificuldade para produzir esse gás. Já o N2O, é dependente da disponibilidade de substrato (NH4+ ou NO3-), solos de agricultura geralmente são associados à maiores emissões desse gás, porém isso é consequência da maior entrada de N nesse sistema de uso da terra.

Agradecimentos

Gostaríamos de agradecer ao Grupo de Estudos em Ruminantes e Produção de Forragem da Amazônia (GERFAM; www.gerfam.com.br), bem como ao Grupo Unespfor (Unesp). Agradecemos também à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP, processo nº 2019/25234-0) e do Pará (FAPESPA, processo nº 071/2020), além da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES, que por meio do PDPG-Amazônia Legal, concedeu a bolsa ao primeiro autor; número do processo: 88887.510270/2020-00).

References

  • 1
    IPCC. Resumo para formuladores de políticas. In: Mudança Climática e Terra: um relatório especial do IPCC sobre mudança climática, desertificação, degradação da terra, gestão sustentável da terra, segurança alimentar e fluxos de gases de efeito estufa em ecossistemas terrestres. 2019. 41p.
  • 2
    Eggleston HS, Buendia L, Mika K, Ngara T, Tanake K. IPCC guidelines for national greenhouse gas inventories. Hayama: IGES, 2006. https://www.ipcc.ch/report/2006-ipcc-guidelines-for-national-greenhouse-gas-inventories/
    » https://www.ipcc.ch/report/2006-ipcc-guidelines-for-national-greenhouse-gas-inventories/
  • 3
    Sistema De Estimativa De Emissões De Gases De Efeito Estufa - SEEG. SEEG Brasil. Emissões totais série histórica. Disponível em: <http://plataforma.seeg.eco.br/total_emission#> Acesso em 15/05/2021.
    » http://plataforma.seeg.eco.br/total_emission#
  • 4
    Moges A, Dagnachew M, Yimer F. Land Use Effects on Soil Quality Indicators: A Case Study of Abo-Wonsho Southern Ethiopia. Applied and Environmental Soil Science. 2013, 2013:784989. https://doi.org/10.1155/2013/784989
    » https://doi.org/10.1155/2013/784989
  • 5
    Kroeger ME, Delmont TO, Eren AM, Meyer KM, Guo J, Khan K, Rodrigues JLM, Bohannan BJM, Tringe SG, Borges CD. New Biological Insights Into How Deforestation in Amazonia Affects Soil Microbial Communities Using Metagenomics and Metagenome-Assembled Genomes. Frontiers In Microbiology. 2018;9:1635. Disponível em: http://dx.doi.org/10.3389/fmicb.2018.01635
    » http://dx.doi.org/10.3389/fmicb.2018.01635
  • 6
    Tavanti RFR, Montarini R, Panosso AR, Scala Jr NL, Neto MC, Freddi ODaS, Gazáles AP, Carvalho MAC, Soares MB, Tavanti TR, Galino FS. What is the impact of pasture reform on organic carbon compartments and CO2 emissions in the Brazilian Cerrado?. Catena. 2020;194:104702. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.104702
    » https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.104702
  • 7
    Oktyabrskiy VP. A new opinion of the greenhouse effect. St. Petersburg Polytechnical University Journal: Physics and Mathematics. 2016;2:124-126. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.spjpm.2016.05.008
    » https://doi.org/10.1016/j.spjpm.2016.05.008
  • 8
    Xu Y, Cui G. Influence of spectral characteristics of the Earth’s surface radiation on the greenhouse effect: Principles and mechanisms. Atmospheric Environment. 2021;244:117908. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.atmosenv.2020.117908
    » https://doi.org/10.1016/j.atmosenv.2020.117908
  • 9
    IPCC. Climate change 2007: the physical science basis. Contribution of working group I to the fourth assessment report of the intergovernmental panel on climate change. Cambridge: Cambridge University Press, United Kingdom, 2007. 996 p.
  • 10
    Brasil, Lei n° 12.187, DE 29 DE DEZEMBRO DE 2009. Diário Oficial da União - DOU, 2009. Portuguese.
  • 11
    Brasil, Nº 9.578, DE 22 DE NOVEMBRO DE 2018. Diário Oficial da União - DOU, 2018. Portuguese.
  • 12
    TALANOA - Instituto Internacional de Políticas Públicas. A Política Nacional de Mudança do Clima em 2020: estado de metas, mercados e governança assumidos na Lei 12.187/2009. Rio de Janeiro, Brasil. 2020, 83p.
  • 13
    Brasil, MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Acesso em 10-06-2022, Available from: https://www.gov.br/mma/ptbr/noticias/brasil-inicia-agenda-de-negociacoes-com-boas-perspectivas>. 2021.portuguese.
    » https://www.gov.br/mma/ptbr/noticias/brasil-inicia-agenda-de-negociacoes-com-boas-perspectivas
  • 14
    Brasil. PLANO SETORIAL PARA ADAPTAÇÃO À MUDANÇA DO CLIMA E BAIXA EMISSÃO DE CARBONO NA AGROPECUÁRIA COM VISTAS AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (2020-2030). MAPA, Brasília, 2021. 28p. Portuguese.
  • 15
    Jackson RB, Lajtha K, Crow SE, Hugelius G, Kramer MG, Piñeiro G. The Ecology of Soil Carbon: pools, vulnerabilities, and biotic and abiotic controls. Annual Review of Ecology, Evolution, And Systematics. 2017;48(1):419-445. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1146/annurev-ecolsys-112414-054234
    » http://dx.doi.org/10.1146/annurev-ecolsys-112414-054234
  • 16
    Yang X, Meng J, Lan Y, Chen W, Yang T, Yuan J, Liu S, Han J. Effects of maize stover and its biochar on soil CO2 emissions and labile organic carbon fractions in Northeast China. Agriculture Ecosystem & Environment. 2017;240:24-31. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agee.2017.02.001
    » https://doi.org/10.1016/j.agee.2017.02.001
  • 17
    De Carvalho MAC, Panosso AR, Ribeiro Teixeira EE, Araújo EG, Brancaglioni VA, Dallacort R. Multivariate approach of soil attributes on the characterlization of land use in the southern Brazilian Amazon. Soil Tillage Research. 2018;184:207-215. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.still.2018.08.004
    » https://doi.org/10.1016/j.still.2018.08.004
  • 18
    Chang J, Ciais P, Gasser T, Smith P, Herrero M, Havlík P, Obersteiner M, Guenet B, Goll DS, Li W, Naipal V, Peng S, Qiu C, Tian H, Viovy N, Yue C, Zhu D. Climate warming from managed grasslands cancels the cooling effect of carbon sinks in sparsely grazed and natural grasslands. Nature Communications. 2021;12(118):1-10. Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41467-020-20406-7
    » https://doi.org/10.1038/s41467-020-20406-7
  • 19
    Andrew JM, Kirsten DH, Tirha G, David E, Melanie DJ. Storage of soil carbon as particulate and mineral associated organic matter in irrigated woody perennial crops. Geoderma, 2021;403:115185. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2021.115185
    » https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2021.115185
  • 20
    Zhang Q, Wu J, Lei Y, Yang F, Zhang D, Zhang K, Zhang Q, Cheng X. Agricultural land use change impacts soil CO2 emission and its 13 C-isotopic signature in central China. Soil and Tillage Research. 2018;177:105-112. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.still.2017.11.017
    » https://doi.org/10.1016/j.still.2017.11.017
  • 21
    Zhang Y, Zhao W, Fu L, Zhao C, Jia A. Land use conversion influences soil respiration across a desertoasis ecoregion in Northwest China, with consideration of cold season CO2 efflux and its significance. Catena. 2020;188:104460. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.104460
    » https://doi.org/10.1016/j.catena.2020.104460
  • 22
    Samson ME, Chantigny MH, Vanasse A, Menasseri-Aubry S, Royer I, Angers DA. Management practices differently affect particulate and mineral-associated organic matter and their precursors in arable soils. Soil Biology and Biochemistry. 2020;148:107867. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2020.107867
    » https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2020.107867
  • 23
    Lavallee JM, Soong JL, Cotrufo MF. Conceptualizing soil organic matter into particulate and mineral-associated forms to address global change in the 21st century. Global Change Biology. 2020;26(1):261-27. Disponível em: https://doi.org/10.1111/gcb.14859
    » https://doi.org/10.1111/gcb.14859
  • 24
    Mikutta R, Turner S, Schippers A, Gentsch N, Meyer-Stüve S, Condron Lm, Peltzer Da, Richardson Sj, Eger A, Hempel G, Kaiser K, Klotzbücher T, Uggenberger GG. Microbial and abiotic controls on mineral-associated organic matter in soil profiles along an ecosystem gradient. Scientific reports. 2019;9(1):1-9. Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41598-019-46501-4
    » https://doi.org/10.1038/s41598-019-46501-4
  • 25
    Bruun TB, Elberling B, De Neergaard A, Magid J. Organic carbon dynamics in different soil types after conversion of forest to agriculture. Land Degradation & Development. 2013;26(3):272-283. Disponível em: https://doi.org/10.1002/ldr.2205
    » https://doi.org/10.1002/ldr.2205
  • 26
    Miranda E, Carmo J, Couto E, Camargo P. Long-term changes in soil carbono stocks in the Brazilian Cerrado under commercial soybean. Land Degradation & Development. 2016;27(6):1586-1594. Disponível em: https://doi.org/10.1002/ldr.2473
    » https://doi.org/10.1002/ldr.2473
  • 27
    Midwood AJ, Hannam KD, Gebretsadikan T, Emde D, Jones MD. Storage of soil carbon as particulate and mineral associated organic matter in irrigated woody perennial crops. Geoderma. 2021;403:115185. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2021.115185
    » https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2021.115185
  • 28
    Rittl TF, Oliveira D, Cerri CEP. Soil carbon stock changes under different land uses in the Amazon. Geoderma Regional. 2017;10:138-143. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2017.07.004
    » https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2017.07.004
  • 29
    Damian JM, Matos ES, Pedreira BC, Carvalho PCF, Premazzi LM, Williams S, Paustian K, Cerri CEP. Predicting soil C changes after pasture intensification and diversification in Brazil. Catena. 2021 202:105238. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.catena.2021.105238
    » https://doi.org/10.1016/j.catena.2021.105238
  • 30
    Santos CA, Rezende CP, Pinheiro ÉFM, Pereira JM, Alves BJR, Urquiaga S, Boddey RM. Changes in soil carbon stocks after land-use change from native vegetation to pastures in the Atlantic forest region of Brazil. Geoderma. 2019;337:94-401. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2018.09.045
    » https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2018.09.045
  • 31
    Pinheiro FM, Nair PKR, Nair VD, Tonucci RG, Venturin RP. Soil carbon stock and stability under Eucalyptusbased silvopasture and other land-use systems in the Cerrado biodiversity hotspot. Journal of Environmental Management. 2021;299:113676. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2021.113676
    » https://doi.org/10.1016/j.jenvman.2021.113676
  • 32
    Dalal RC, Thornton CM, Allen DE, Owens JS, Kopittke PM. Long-term land use change in Australia from native forest decreases all fractions of soil organic carbon, including resistant organic carbon, for cropping but not sown pasture. Agriculture, Ecosystems & Environment. 2021;311:107326. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agee.2021.107326
    » https://doi.org/10.1016/j.agee.2021.107326
  • 33
    Resende LDeO, Muller MD, Kohmann MM, Pinto LFG, Junior LC, Zen SD, Rego LFG. Silvopastoral management of beef cattle production for neutralizing the environmental impact of enteric methane emission. Agroforest System. 2019;94:893-903. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s10457-019-00460-x
    » https://doi.org/10.1007/s10457-019-00460-x
  • 34
    Steinfeld JP, Bianchi FJJA, Locatelli JL, Rizzo R, Resende MEB, Ballester MVR, Cerri CEP, Bernardi ACC, Creamer RE. Increasing complexity of agroforestry systems benefits nutrient cycling and mineral-associated organic carbon storage, in south-eastern Brazil. Geoderma. 2023;440:116726. https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2023.116726
    » https://doi.org/10.1016/j.geoderma.2023.116726
  • 35
    Alves LA, Denardin LGO, Martins AP, Bayer C, Veloso MG, Bremm C, Carvalho PCF, Machado DR, Tiecher T. The effect of crop rotation and sheep grazing management on plant production and soil C and N stocks in a longterm integrated crop-livestock system in Southern Brazil. Soil and Tillage Research. 2020;203:104678. https://doi.org/10.1016/j.still.2020.104678
    » https://doi.org/10.1016/j.still.2020.104678
  • 36
    Sant’anna SAC, Martins MR, Goulart JM, Araújo SN, Araújo ES, Zaman M, Jantalia CP, Alves B, Jr, Boddey RM, Urquiaga S. Biological nitrogen fixation and soil N2O emissions from legume residues in an Acrisol in SE Brazil. Geoderma Regional. 2018; 15:e00196. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2018.e00196
    » https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2018.e00196
  • 37
    Vieira CFA, Lima LCD, Coutinho MM, Cavalcante, FSA. Efeitos climáticos do metano na atmosfera. Rev. Tecnol. Fortaleza. 2008;29(1):72-83. Disponível em: https://ojs.unifor.br/tec/article/view/46
    » https://ojs.unifor.br/tec/article/view/46
  • 38
    Evans PN, Boyd JA, Leu AO, Woodcroft BJ, Parks DH, Hugenholtz P, Tyson, GW. An evolving view of methane metabolism in the Archaea. Nature Reviews Microbiology. 2019;17(4):219-232. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1038/s41579-018-0136-7
    » http://dx.doi.org/10.1038/s41579-018-0136-7
  • 39
    Meyer KM, Morris AH, Webster K, Klein AM, Kroeger ME, Meredith LK, Braendholt A, Nakamura F, Venturini A, Souza LF, Shek K,L, Danielson R, Haren JV, Camargo PB, Tsai SM, Dini-Andreote F, De Mauro JMS, Barlow J, Berenguer E, Nüsslein K, Saleska S, Rodrigues JLM, Bohannan BJM, Belowground changes to community structure alter methane-cycling dynamics in Amazonia. Environment International. 2020;145:106131. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.envint.2020.106131
    » https://doi.org/10.1016/j.envint.2020.106131
  • 40
    Xu X, Xia Z, Liu Y, Liu E, Muller K, Wang H, Luo J, Wu X, Beiyuan J, Fang Z, Xu J, Di H, Li Y. Interactions between methanotrophs and ammonia oxidizers modulate the response of in situ methane emissions to simulated climate change and its legacy in an acidic soil. Science of the Total Environment. 2021;752:142225. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020.142225
    » https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2020.142225
  • 41
    Mosier A, Schimel D, Valentine D, Bronson K, Parton W. Methane and nitrous-oxide fluxes in native, fertilized and cultivated grasslands. Nature. 1991;350:330-332. Disponível em: https://doi.org/10.1038/350330a0
    » https://doi.org/10.1038/350330a0
  • 42
    Dean JF, Middelburg JJ, Röckmann T, Aerts R, Blauw LG, Egger M, Mike SMJ, Anniek EEJ, Meisel OH, Rasigraf O, Slomp CP, Michiel H, Dolman AJ. Methane feedbacks to the global climate system in a warmer world. Reviews of Geophysics. 2018;56(1):207-250. Disponível em: https://doi.org/10.1002/2017RG000559
    » https://doi.org/10.1002/2017RG000559
  • 43
    Silva LSD, Griebeler G, Moterle DF, Bayer C, Zschornack T, Pocojeski E. Dinâmica da emissão de metano em solos sob cultivo de arroz irrigado no sul do Brasil. Revista Brasileira de Ciência do Solo. 2011;35(2):473-781. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-06832011000200016
    » https://doi.org/10.1590/S0100-06832011000200016
  • 44
    Keppler F, Hamilton JTG, Braß M, Röckmann T. Methane emissions from terrestrial plants under aerobic conditions. Nature. 2006;439:187-191. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1038/nature04420
    » http://dx.doi.org/10.1038/nature04420
  • 45
    Liu X, Peñuelas J, Sardans J, Fang Y, Wiesmeier M, Wu L, Chen X, Chen Y, Jin Q, Wang W. Response of soil nutrient concentrations and stoichiometry, and greenhouse gas carbon emissions linked to change in land-use of paddy fields in China. Catena. 2021;203:105326. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.catena.2021.105326
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.catena.2021.105326
  • 46
    Kroeger ME, Meredith LK, Meyer KM, Webster KD, Camargo PB, Souza LF, Tsai SM, Van Haren J, Saleska S, Bohannan BJM, Nüsslein K. Rainforest-to-pasture conversion stimulates soil methanogenesis across the Brazilian Amazon. The Isme Journal. 2021;15(3):658-672. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1038/s41396-020-00804-x
    » http://dx.doi.org/10.1038/s41396-020-00804-x
  • 47
    Ondiek RA, Hayes DS, Kinyua DN, Kitaka N, Lautsch E, Mutuo P, Hein T. Influence of land-use change and season on soil greenhouse gas emissions from a tropical wetland: A stepwise explorative assessment. Science of the Total Environment. 2021;787:147701. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021.147701
    » https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021.147701
  • 48
    Wachiye S, Merbold L, Vesala T, Rinne J, Leitner S, Anen MR, Vuorinne I, Heiskanen J, Pellikka P. Soil greenhouse gas emissions from a sisal chronosequence in Kenya. Agricultural and Forest Meteorology. 2021;307:108465. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agrformet.2021.108465
    » https://doi.org/10.1016/j.agrformet.2021.108465
  • 49
    Shakoor A, Shakoor S, Rehman, Ashraf F, Abdullah M, Shahza SM, Farooq TH, Ashraf M, Manzoor MA, Altaf MM, Altaf MA. Effect of animal manure, crop type, climate zone, and soil attributes on greenhouse gas emissions from agricultural soils - A global meta-analysis. Journal of Cleaner Production. 2021;278:124019. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2020.124019
    » https://doi.org/10.1016/j.jclepro.2020.124019
  • 50
    Cardoso A Da S, Junqueira JB, Reis RA, Ruggieri AC. How do greenhouse gas emissions vary with biofertilizer type and soil temperature and moisture in a tropical grassland?. Pedosphere. 2020;30(5): 607-617. Disponível em: https://doi.org/10.1016/S1002-0160(20)60025-X
    » https://doi.org/10.1016/S1002-0160(20)60025-X
  • 51
    Parashar DC, Gupta PK, Rai J, Sharma RC, Singh N. Effect of soil temperature on methane emission from paddy fields. Chemosphere. 1993;26(1-4):247-250. Disponível em: https://doi.org/10.1016/0045-6535(93)90425-5
    » https://doi.org/10.1016/0045-6535(93)90425-5
  • 52
    Sainju UM, Ghimire R, Dangi S. Soil carbon dioxide and methane emissions and carbon balance with crop rotation and nitrogen fertilization. Science of the Total Environment. 2021;775:145702. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021.145902
    » https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2021.145902
  • 53
    Ma L, Yang H, Pan Z, Rong Y. In situ measurements and meta-analysis reveal that land-use changes combined with low nitrogen application promote methane uptake by temperate grasslands in China. Science of The Total Environment.2020;706:136048. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2019.136048
    » https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2019.136048
  • 54
    VIEIRA, R. F. Ciclo do nitrogênio em sistemas agrícolas. Brasília: Embrapa. 1 ed. 2017. 165p.
  • 55
    Clough TJ, Cardenas L M, Friedl J, Wolf B. Nitrous oxide emissions from ruminant urine: science and mitigation for intensively managed perennial pastures. Current Opinion in Environmental Sustainability. 2020;47:21-27. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.cosust.2020.07.001
    » https://doi.org/10.1016/j.cosust.2020.07.001
  • 56
    Merloti LF, Mendes LW, Pedrinho A, De Souza LF, Ferrari BM, Tsai SM. Forest-to-agriculture conversion in Amazon drives soil microbial communities and N-cycle. Soil Biology & Biochemistry. 2019;137:107567. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2019.107567
    » https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2019.107567
  • 57
    Prosser JI, Hink L, Gubry-Rangin C, Nicol GW. Nitrous oxide production by ammonia oxidizers: physiological diversity, niche differentiation and potential mitigation strategies. Global Change Biology. 2020;26(1):103-118. Disponível em: https://doi.org/10.1111/gcb.14877
    » https://doi.org/10.1111/gcb.14877
  • 58
    Maeda K, Spor A, Edel-Hermann V, Heraud C, Breuil M,C, Bizouard F, Toyoda S, Yoshida N, Steinberg C, Philippot L. N2O production, a widespread trait in fungi. Scientific Report. 2015;5:59697. Disponível em: https://doi.org/10.1038/srep09697
    » https://doi.org/10.1038/srep09697
  • 59
    Gelfand l, Cui M, Tang J, Robertson GP. Short-term drought response of N2O and CO2 emissions from mesic agricultural soils in the US Midwest. Agriculture, Ecosystems & Environment. 2015;212:127-133. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.agee.2015.07.005
    » http://dx.doi.org/10.1016/j.agee.2015.07.005
  • 60
    Cardoso ADaS, Quintana BG, Janusckiewicz ER, Brito LDeF, Morgado E.DaS, Reis RA, Ruggieri AC. N2O emissions from urine-treated tropical soil: Effects of soil moisture and compaction, urine composition, and dung addition. Catena. 2017;157:325-332. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.catena.2017.05.036
    » https://doi.org/10.1016/j.catena.2017.05.036
  • 61
    Zurovec O, Wall DP, Brennan FP, Krol DJ, Forrestal PJ, Richards KG. Increasing soil pH reduces fertiliser derived N2O emissions in intensively managed temperate grassland. Agriculture, Ecosystems & Environment. 2021;311:107319. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agee.2021.107319
    » https://doi.org/10.1016/j.agee.2021.107319
  • 62
    Yuttitham M, Chidthaisong A, Ruangchu U. N2O fluxes and direct N2O emission factors from maize cultivation on Oxisols in Thailand. Geoderma Regional. 2020;20:e00244. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2019.e00244
    » https://doi.org/10.1016/j.geodrs.2019.e00244
  • 63
    Bell MJ, Hinton N, Cloy JM, Topp CFE, Rees RM, Cardenas LT, Scott C, Webster RW, Ashton AP, Whitmore JR, Williams H, Balshaw F, Paine, K, Goulding WT, Chadwick, DR. Nitrous oxide emissions from fertilised UK arable soils: Fluxes, emission factors and mitigation. Agriculture, Ecosystems & Environment. 2015;212:134-147. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.agee.2015.07.003
    » https://doi.org/10.1016/j.agee.2015.07.003
  • 64
    Pu Y, Zhu B, Dong Z, Liu Y, Wang C, Ye C. Soil N2O and NOx emissions are directly linked with N-cycling enzymatic activities. Applied Soil Ecology. 2019; 139:15-24. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.apsoil.2019.03.007
    » https://doi.org/10.1016/j.apsoil.2019.03.007
  • 65
    Breuillin-Sessoms F, Venterea RT, Sadowsky MJ, Coulter JA, Clough TJ, Wang P. Nitrification gene ratio and free ammonia explain nitrite and nitrous oxide production in urea-amended soils. Soil Biology & Biochemistry. 2017;111:143-153. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2017.04.007
    » https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2017.04.007
  • 66
    Carmo JB, Andrade CA, Cerri CC, Picollo MC. Disponibilidade de nitrogênio e fluxos de N2O a partir de solo sob pastagem após aplicação de herbicida. Revista Brasileira de Ciência do Solo, 2005;29(5):735-746. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0100-06832005000500009
    » https://doi.org/10.1590/S0100-06832005000500009
  • 67
    Pihlatie M, Syväsalo E, Simojoki A, Esala M, Regina K. Contribution of nitrification and denitrification to N2O production in peat, clay and loamy sand soils under different soil moisture conditions. Nutrient Cycling Agroecossystem. 2004;70(2):135-141. Disponível em: https://doi.org/10.1023/B:FRES.0000048475.81211.3c
    » https://doi.org/10.1023/B:FRES.0000048475.81211.3c
  • 68
    Xu Y, Xu Z, Cai Z. Reverchon F. Review of denitrification in tropical and subtropical soils of terrestrial ecosystems. Journal of Soil and Sediment. 2013;13(4):699-710. Disponível em: https://doi.org/10.1007/s11368-013-0650-1
    » https://doi.org/10.1007/s11368-013-0650-1
  • 69
    Saggar S, Jha N, Deslippe J, Bolan NS, Luo J, Giltrap DL, Kim DG, Zaman M, Tillman RW, Denitrification and N2 O: N2 production in temperate grasslands: processes, measurements, modelling and mitigating negative impacts. Science and Total Environment. 2013;465(1):173-195. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2012.11.050
    » https://doi.org/10.1016/j.scitotenv.2012.11.050
  • 70
    Russenes AL, Korsaeth A, Bakken LR, Dörsch P. Spatial variation in soil pH controls off-season N2O emission in an agricultural soil. Soil Biology and Biochemistry. 2016;99:36-46. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2016.04.019
    » https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2016.04.019
  • 71
    Zheng Q, Hu Y, Zhang S, Noll L, Böckle T, Dietrich M, Herbold CW, Eichorst SA, Woebken D, Richter A, Wanek W. Soil multifunctionality is affected by the soil environment and by microbial community composition and diversity. Soil Biology and Biochemistry. 2019;136:107521. Disponível em: https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2019.107521
    » https://doi.org/10.1016/j.soilbio.2019.107521
  • 72
    Pedrinho A, Mendes LW, Merloti LF, Da Fonseca MDeC, Cannavan FDeS, Tsai SM. Forest-to-pasture conversion and recovery based on assessment of microbial communities in Eastern Amazon Rainforest. FEMS Microbiology Ecology. 2018;95(3):1-10. Disponível em: https://doi.org/10.1093/femsec/fiy236
    » https://doi.org/10.1093/femsec/fiy236
  • 73
    Boddey RM, Casagrande DR, Homem BGC, Alves BJR. Forage legumes in grass pastures in tropical Brazil and likely impacts on greenhouse gas emissions: A review. Grass and forage Science. 2020;75(4):357-371. Disponível em: https://doi.org/10.1111/gfs.12498
    » https://doi.org/10.1111/gfs.12498

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    23 Set 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    03 Nov 2023
  • Aceito
    27 Maio 2024
  • Publicado
    19 Ago 2024
Universidade Federal de Goiás Universidade Federal de Goiás, Escola de Veterinária e Zootecnia, Campus II, Caixa Postal 131, CEP: 74001-970, Tel.: (55 62) 3521-1568, Fax: (55 62) 3521-1566 - Goiânia - GO - Brazil
E-mail: revistacab@gmail.com