O referencial teórico-metodológico de Jô Benetton nas intervenções de terapia ocupacional com crianças: uma revisão de escopo

Cestari, Leila Maria Quiles; Lopes, Kezia Pereira; Bertolozzi, Renata Cristina Domingues; Marcolino, Taís Quevedo

doi:10.1590/2526-8910.ctoAO270835321

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Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional

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Sumário

Artigo Original • Cad. Bras. Ter. Ocup. 32 • 2024 • https://doi.org/10.1590/2526-8910.ctoAO270835321 copiar

O referencial teórico-metodológico de Jô Benetton nas intervenções de terapia ocupacional com crianças: uma revisão de escopo

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Resumo

Introdução

O referencial teórico-metodológico brasileiro construído por Jô Benetton, atualmente chamado de Método Terapia Ocupacional Dinâmica, sustenta a prática de terapia ocupacional com diversas populações, inclusive crianças. Há vasta produção de artigos que demandam sistematização para compreender seu escopo.

Objetivo

Resumir e descrever as produções que utilizam este referencial com crianças e identificar lacunas na literatura.

Metodologia

Revisão de escopo, com seleção de estudos em bibliotecas e bases digitais (BVS; Portal de Periódicos CAPES, SciELO), sites (Google Acadêmico) e ferramentas de buscas de revistas nacionais da área; busca manual na Revista CETO, e estratégias complementares. Foram incluídos artigos revisados por pares, literatura cinzenta, sem data limite, em português ou inglês. Dados descritivos foram analisados por estatística simples e dados qualitativos receberam análise temática.

Resultados

Identificaram-se 2.152 estudos, selecionados 106 após leitura de título/resumo, sendo 56 duplicados. Dos 50 estudos lidos na íntegra, 26 foram para análise final. A maioria caracterizou-se por relatos de experiência publicados na Revista CETO, na década de 2000, em português. Os cinco temas identificados explicitam adesão dos estudos ao Paradigma da Terapia Ocupacional, analisando as necessidades das crianças situacionalmente, com intervenções livres e dinâmicas centradas na relação triádica, incluindo pessoas relevantes do cotidiano das crianças, e com uso ainda tímido da análise de atividades pelas crianças.

Conclusão

Este estudo contribui para dar visibilidade a um corpo de conhecimento teórico-prático construído na realidade brasileira congruente com as principais evidências que visam ampliar o engajamento e a participação de crianças com diferentes problemáticas nas atividades do cotidiano.

Palavras-chave:
Terapia Ocupacional; Infância; Cuidado da Criança; Prática Profissional; Participação Social

Estratégias de busca	Número de estudos identificados	Número de estudos para análise final
Portal de Periódicos CAPES	307	1
BVS	958	1
Google Acadêmico	590	2^* * Identificação de literatura cinzenta. Fonte: Elaboração das autoras.
Scielo Brasil	64	0
Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo	62	0
Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar/Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional	62	3
Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional	85	1
Revista CETO	14	11
Solicitação ao CETO	5	5*
Currículo das autoras	5	2
TOTAL	2.152	26

Autor/Ano	Tipo de estudo	Participantes e local da intervenção
Benetton (1993)Benetton, J. (1993). O silêncio. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 4(1-2), 63-67.	Relato de experiência	Duas crianças (sem idades especificadas) com diagnóstico médico de Autismo³ 3 O diagnóstico médico está descrito conforme a publicação, compreendendo-se que há outras classificações atuais. , sem especificação do local de atendimento.
Almeida (1995)Almeida, M. I. N. (1995). A importância do ato terapêutico na recepção. Revista CETO, 1, 33-34.	Relato de experiência	Um grupo de crianças (sem especificação de número), em Hospital-Dia Psiquiátrico Infantil, público, em São Paulo, SP.
Montanari (1995)Montanari, A. P. M. (1995). Atendimento à criança especial. Revista CETO, 1, 56.	Relato de experiência	Atendimentos individuais de “[…] crianças hiperativas, com distúrbios de aprendizagem, distúrbios de comportamento e deficiência mental” (Montanari (1995, pMontanari, A. P. M. (1995). Atendimento à criança especial. Revista CETO, 1, 56.. 56), em consultório particular, em Belo Horizonte, MG. Não especifica número de crianças e idades.
Matsukura (1997)Matsukura, T. S. (1997). A aplicabilidade da terapia ocupacional no tratamento do autismo infantil. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 6(1), 25-47.	Estudo de caso	Uma criança com oito anos, com diagnóstico médico de Autismo, atendida no Serviço de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal de São Carlos, SP.
Amaro et al. (1998)Amaro, D. G., Ambrosio, M. A. F., Moldan, P., & Sibinel, S. R. (1998). A construção de um caminho na clínica com crianças no processo de terapia ocupacional. Revista CETO, 3, 27-32.	Relato de experiência	Uma criança de sete anos, nascida prematura, atendida em instituição educacional pública, em Mauá, SP.
Matsukura (2001)Matsukura, T. S. (2001). Terapia ocupacional em psiquiatria infantil. Revista CETO, 6, 25-27.	Estudo de caso	Criança com cinco anos de idade, com diagnóstico médico de Autismo, sem especificar local de atendimento.
Takatori et al. (2001)Takatori, M., Bomtempo, E., & Benetton, M. J. (2001). O brincar e a criança com deficiência física: a construção inicial de uma história em terapia ocupacional. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 9(2), 91-105.	Estudo de caso	Uma criança com seis anos, com diagnóstico médico de Síndrome de Hoffmann, atendida em uma unidade pública de reabilitação em São Paulo, SP.
Benetton et al. (2000)Benetton, M. J., Ferrari, S., & Tedesco, S. (2000). Terapia ocupacional: função terapêutica e sua ação educativa. O Mundo da Saúde, 5(3), 1-7.	Estudo teórico-prático	Criança de 11 anos, sem diagnóstico médico especificado, acompanhada no CETO, em São Paulo, SP.
Takatori et al. (2004)Takatori, M., Oshiro, M., & Otashima, C. (2004). O hospital e a assistência em terapia ocupacional com a população infantil. In M. M. R. P. Carlo & M. C. M. Luzo (Eds.), Terapia ocupacional: reabilitação física e contextos hospitalares (pp. 256-275). São Paulo: Editora Roca.	Estudo Teórico-prático	Crianças hospitalizadas, sem especificar idade, acompanhadas em diversos contextos hospitalares.
Pellegrini (2007)Pellegrini, A. C. (2007). As relações entre o brincar na Terapia Ocupacional Dinâmica e no Modelo Lúdico: subsídios para a clínica na saúde mental infantil. Revista CETO, 10, 40-47.	Estudo Teórico-prático	Três crianças com diferentes idades (cinco anos, oito anos, dez anos), com problemáticas da ordem da saúde mental infantojuvenil, sem especificação de local de atendimento.
Pellegrini (2008)Pellegrini, A. C. (2008). Brincar é atividade? Revista CETO, 11, 41-46.	Estudo Teórico-prático	Duas crianças com seis anos de idade, sem especificar diagnóstico médico nem local das intervenções.
Takatori & Oshiro (2009)Takatori, M., & Oshiro, M. (2009). Playing to create new ways of playing: a child with Prader-Willi Syndrome. Journal of Developmental and Physical Disabilities, 21(2), 139-152.	Estudo de caso	Criança com cinco anos de idade, com diagnóstico médico de Síndrome de Prader-Willi, acompanhada em atendimento domiciliar, em São Paulo, SP.
Hernandes (2010)Hernandes, R. S. (2010). Um indivíduo com Síndrome de Asperger: estudo de caso a partir de análise das produções de atividades expressivas pelas trilhas associativas (Dissertação de mestrado). Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.	Estudo de caso	Uma criança com 11 anos de idade, com diagnóstico médico de Síndrome de Asperger, acompanhada em atendimento domiciliar, em Marília, SP.
Takatori (2010a)Takatori, M. (2010a). O uso do brincar na terapia ocupacional: uma compreensão de experiência criativa e facilitação da participação social. Revista CETO, 12, 45-52.	Estudo Teórico-prático	Crianças com deficiência física, com diferentes idades (quatro anos, seis anos e oito anos), atendidas em clínica vinculada a uma instituição de ensino pública, em São Paulo, SP.
Takatori (2010b)Takatori, M. (2010b). Vamos brincar? Do ingresso da criança com deficiência física na terapia ocupacional à facilitação da participação social (Tese de doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo.	Estudo de caso múltiplo	Quatro crianças:
		1. Criança com três anos e sete meses, com diagnóstico médico de Paralisia Cerebral (PC).
		2. Criança com oito anos, com diagnóstico médico de hemiparesia espástica decorrente de Acidente Vascular Cerebral.
		3. Criança com seis anos, com diagnóstico médico de PC.
		4. Criança com sete anos, com diagnóstico médico de Distrofia Muscular Progressiva de Duchenne.
		Todas atendidas em uma clínica-escola de uma instituição pública de ensino superior.
Martini (2010)Martini, G. (2010). O brincar na clínica da terapia ocupacional com crianças com deficiência física: relato de um caso. Revista CETO, 12, 27-31.	Relato de experiência	Criança com quatro anos de idade, sem diagnóstico médico especificado, em uso de cadeira de rodas e com dificuldades motoras, atendida em uma instituição pública. Sem referência de cidade.
Sousa (2010)Sousa, C. P. (2010). Enquanto o futuro não vem… Transtornos mentais precoces e a assistência em terapia ocupacional. Revista CETO, 12, 40-44.	Estudo Teórico-prático	Criança com dois anos e quatro meses, sem especificar diagnóstico médico.
Coelho (2012)Coelho, M. C. (2012). Brincar é coisa séria. Revista CETO, 13, 49-56.	Relato de experiência	Criança com cinco anos de idade, com diagnóstico médico de PC, em atendimento domiciliar, em São Paulo, SP.
Santarosa (2012)Santarosa, C. C. (2012). Erros, acertos e consertos em um atendimento infantil. Revista CETO, 13, 41-48.	Relato de experiência	Criança com dois anos de idade, com diagnóstico médico de PC, em uma instituição de reabilitação pública, sem especificar cidade.
Takatori (2012)Takatori, M. (2012). O brincar na terapia ocupacional: um enfoque na criança com lesões neurológicas. São Paulo: Zagodoni.	Estudo de casos múltiplos	Quatro crianças:
		1. Criança com três anos e sete meses, com diagnóstico médico de PC.
		2. Criança com oito anos, com diagnóstico médico de hemiparesia espástica decorrente de Acidente Vascular Cerebral.
		3. Criança com seis anos, com diagnóstico médico de PC.
		4. Criança com sete anos, com diagnóstico médico de Distrofia Muscular Progressiva de Duchenne.
		Todas atendidas em uma clínica-escola de uma instituição pública de ensino superior.
Varela & Martins (2015)Varela, R. C. B., & Martins, B. (2015). Atuação da terapia ocupacional na paralisia cerebral. In C. B. M. Monteiro, L. C. Abreu & V. E. Valenti (Eds.), Paralisia cerebral: teoria e prática (pp. 449-461). São Paulo: Plêiade.	Relato de experiência	Criança com oito anos, com diagnóstico médico de PC, sem especificar local de atendimento.
Varela et al. (2019)Varela, R. C. B., Sant’Anna, M. M. M., & Souza, V. L. V. (2019). Comunicação Suplementar e Alternativa: intervenção de terapia ocupacional no contexto clínico. In M. G. Manzini & C. M. S. Martinez (Eds.), Terapia ocupacional e comunicação alternativa em contextos de desenvolvimento humano (pp. 121-143). São Carlos: EdUFSCar.	Relato de experiência	Criança com cinco anos, com diagnóstico médico de Síndrome de Rett, com necessidades complexas de comunicação, sem especificar local de atendimento.
Varela et al. (2020)Varela, R. C. B., Pelosi, M. B., & Rocha, A. N. D. C. (2020). Intervenção da Terapia Ocupacional na Infância utilizando a Comunicação Suplementar e/ou Alternativa. In M. M. M. Sant’Anna & L. I. Pfeifer (Eds.), Terapia ocupacional na infância: procedimentos na prática clínica (pp. 283-297). São Paulo: Mennon.	Relato de experiência	Criança com quatro anos, com diagnóstico médico de Encefalopatia Epiléptica Precoce, com necessidades complexas de comunicação, atendida em domicílio e em consultório particular.
Cestari et al. (2022)Cestari, L. M., Abreu, V. H., Constantino, R. A. P., & Marcolino, T. Q. (2022). O que importa para a criança com Transtorno do Espectro do Autismo? Narrativas sobre a construção de sentidos em terapia ocupacional. In Anais do Congresso Aprender Criança 2022. Ribeirão Preto: ABENEPI.	Relato de experiência	Criança com seis anos, com diagnóstico médico de TEA, atendida em consultório particular, em Matão, SP.
Mastropietro et al. (2022)Mastropietro, A. P., Cestari, L. M. Q., & Marcolino, T. Q. (2022). Você se ocupa das suas coisas hoje, que eu faço as minhas atividades! O método terapia ocupacional dinâmica com crianças. Revista Interinstitucional Brasileira de Terapia Ocupacional, 6(3), 1231-1236.	Relato de experiência	Criança com sete anos, sem especificar diagnóstico médico, também acompanhada em psiquiatria e psicologia, atendida em consultório particular, em Ribeirão Preto, SP.
Varela et al. (2022)Varela, R. C. B., Schaik, E. V., Barone, B. M., & Benetton, J. (2022). Sobre a terapia ocupacional e o uso da tecnologia assistiva no transtorno do espectro autista. In D. Souza (Ed.), Terapia ocupacional e sua representatividade no transtorno do espectro autismo: teoria e prática (pp. 247-265). São Paulo: Book Toy.	Relato de experiência	Criança com oito anos, com diagnóstico médico de TEA, atendida em consultório particular.

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[1] Leila Maria Quiles Cestari e-mail: lemariacestari@gmail.com