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Terapia ocupacional social: formulações à luz de referenciais freireanos

Resumo

Realiza-se uma reflexão crítica, tendo como finalidade discorrer sobre a terapia ocupacional social, enquanto campo de saberes e práticas, com base no referencial freireano, com foco em três conceitos: educação como prática da liberdade, diálogo e conscientização. A terapia ocupacional social busca articular práxis junto a populações em processos de rupturas de suas redes sociais de suporte e que vivenciam limitações na participação social, por meio de ações que articulam a dimensão comunitária e territorial dos sujeitos, em perspectiva micro e macrossocial. Entende-se que as formulações de Paulo Freire são potentes para orientar essas intervenções, tendo em vista que os conceitos apreendidos fortificam os percursos já percorridos pelas especificidades do campo, dando base para se ir além. São referenciais teóricos consistentes para se elaborar e realizar ações comprometidas com a libertação de sujeitos e grupos subalternizados, oferecendo aportes para se lidar com relações de opressão e fomentar as possibilidades de transformação. Exigem, todavia, o compromisso com a luta por uma sociedade mais justa, ou menos desigual, tendo o diálogo, a liberdade e a conscientização como princípios para o seu quefazer técnico e ético-político, engendrando ou indo na direção do inédito-viável.

Palavras-chave:
Educação; Conscientização; Mudança Social; Participação Social; Paulo Freire; Terapia Ocupacional

Abstract

This is a critical reflection aimed to discuss the social occupational therapies as a knowledge and practice area, using the Freirian references, focused on three concepts: education as the practice of freedom, dialogue, and conscientization. The social occupational therapy seeks to articulate praxis with the populations in process of ruptures of its social networks and that life experiences limitations in the social participation, through actions that articulate the social and communitarian dimension of the individuals, in the micro and macrosocial perspectives. We understand that Paulo Freire’s formulations are powerful to guide these interventions since the concepts learned to strengthen the paths already covered by the specificities of the area, providing a basis for going further. They are theoretical references consistent to elaborate and perform engaged actions with the freeing of the subalternate groups, offering contributions to deal with oppression relationships and encourage the possibilities of transformation. It demands, nevertheless, the engagement with the struggle by a fairer society, or less unequal, having the dialog, the freedom, and the conscientization as principles to their technical and ethics-political praxis, creating or stepping forward of the untested feasibility.

Keywords:
Education; Conscientization; Social Change; Social Participation; Paulo Freire; Occupational Therapy

1 Introdução

A terapia ocupacional social, desde seu surgimento, tem como uma de suas referências os aportes freireanos (Malfitano et al., 2014Malfitano, A. P., Lopes, R. E., Magalhães, L., & Townsend, E. A. (2014). Social occupational therapy: conversations about a Brazilian experience. Canadian Journal of Occupational Therapy, 81(5), 298-307. http://dx.doi.org/10.1177/0008417414536712.
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). De acordo com o levantamento de Gontijo & Santiago (2018)Gontijo, D. T., & Santiago, M. E. (2018). Terapia ocupacional e pedagogia Paulo Freire: configurações do encontro na produção científica nacional. Reflexão e Ação, 26(1), 132-148. http://dx.doi.org/10.17058/rea.v26i1.11667.
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, as produções nesse campo são marcadas por citações desse autor.

Assim, o intuito deste ensaio é discorrer sobre a terapia ocupacional social, com base no referencial teórico de Paulo Freire, produzindo uma articulação crítica. Ou seja, pretende-se desenvolver alguns conceitos freireanos e refletir sobre suas contribuições para a produção epistêmica, técnica, ética e política da terapia ocupacional social – seu quefazer (ação-reflexão/ práxis).

O percurso realizado aqui parte, primeiramente, de uma breve biografia de Paulo Freire, seguida de formulações que localizam pressupostos da terapia ocupacional social, para, assim, chegar às reflexões e propostas elaboradas com base em três conceitos do autor: educação como prática da liberdade, diálogo e conscientização, os quais são tecidos e pensados para a práxis da terapia ocupacional social.

1.1 Paulo Freire

Paulo Reglus Neves Freire nasceu em Recife, Pernambuco, Nordeste do Brasil, em 19 de setembro de 1921, e morreu em dois de maio de 1997. Ao longo de sua vida, deixou um intenso legado para a educação, assim como diversos recursos teórico-críticos para compreender as relações de opressão e libertação, que constituem a existência de homens e mulheres que estão no mundo, com o mundo e com os outros (Freire, 2000Freire, P. (2000). Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP.). Mundo marcado pela malvadez, mas, segundo Freire, tomado pela possibilidade política e ideológica da justiça, do progresso, da transformação e da libertação (Brandão, 2014Brandão, C. R. (2014). Paulo Freire o menino que lia o mundo: uma história de pessoas, de letras e de palavras. Recuperado em 26 de junho de 2018, de http://www.acervo.paulofreire.org:8080/jspui/bitstream/7891/4218/1/FPF_PTPF_12_101.pdf
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; Andreola, 2000Andreola, B. A. (2000). Carta-prefácio à Paulo Freire. In P. Freire, Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos (pp. 10-14). São Paulo: UNESP.).

Gadotti (1997)Gadotti, M. (1997). Lições de Freire. Revista da Faculdade de Educação, 23(1-2). http://dx.doi.org/10.1590/S0102-25551997000100002.
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discorre sobre Freire e seu compromisso com os oprimidos, engendrando possibilidades para a transformação dessa condição, na busca por movimentos pedagógicos revolucionários, problematizadores e dialógicos, na tentativa de não só denunciar as mazelas do mundo, como também de anunciar formas e possibilidades para sua superação.

Ademais, Freire e suas ideias deram vida a diversos movimentos de luta pela educação popular no Brasil, como o Movimento de Cultura Popular (MCP), Centro Popular de Cultura (CPC), Movimento de Educação de Base (MEB)1 1 O Movimento de Cultura Popular (MCP) surgiu vinculado à prefeitura de Recife, em 1960; o Centro Popular de Cultura (CPC) foi criado em 1961, junto à União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro, sendo que depois se difundiu para outros municípios; o Movimento de Educação de Base (MEB), de abrangência nacional, resulta, em 1961, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), articulado com ações do Governo Federal, entre outros. Esses são movimentos que tiveram como base iniciativas de educadores, políticos, intelectuais, estudantes e de outros movimentos sociais, voltando-se para a produção de uma educação como prática da liberdade junto às classes populares, sobretudo, de jovens e adultos, com o objetivo de difundir práticas educacionais atreladas à cultura do povo, comprometidas com a alfabetização e conscientização (Kreutz, 1979). , entre outros, protagonizando movimentos de alfabetização dos trabalhadores no país, onde os círculos de cultura2 2 O círculo de cultura é uma estratégia formulada por Freire para uma prática educativa conscientizadora. A partir do diálogo em roda, objetiva-se que os sujeitos em colaboração problematizem o mundo, desvelando suas contradições e buscando formas para superar estruturas de dominação, tomando-se o estar no mundo e com o mundo, em um processo de práxis, humanização e emancipação (Fiori, 1987). tomaram uma grande proporção. Freire assumiu, em 1964, a Coordenação do Programa Nacional de Alfabetização, do Ministério da Educação, trabalho que foi interrompido pelo golpe militar que o levou ao exílio. Porém, suas iniciativas e realizações foram sementes, ainda que precisassem ser cultivadas de maneira clandestina no Brasil da ditadura militar. Não obstante, Freire permaneceu formulando, criando, ensinando e debatendo suas concepções mundo afora. Com a anistia política do fim dos anos 1970, retornou ao Brasil em 1980, com novas experiências e força para (re)criar e (re)conhecer o país, “[...] contribuindo como professor, escritor, político e orientador de todos nós, de forma original e destacada, para a renovação do pensamento pedagógico nacional e universal” (Nosella, 2008Nosella, P. (2008). Paulo Freire: orgulho dos educadores brasileiros. EccoS. Revista Científica, 9(1), 173-182. http://dx.doi.org/10.5585/eccos.v9i1.493.
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, p. 180), sempre engajado na educação como prática da liberdade e de conscientização junto a homens e mulheres oprimidos/adaptados, para tornarem-se sujeitos no mundo, com o mundo e com os outros, para a inserção3 3 Freire (2000, 1987) coloca a necessidade de os sujeitos não estarem somente no mundo, ocupando o lugar como seres a-históricos, mas estarem com o mundo e com os outros, sendo capazes de intervir na realidade concreta e constitui-la historicamente. Assim, isso implica na inserção (como seres de ética, decisão, escolha, curiosidade, transformação – práxis), em contraponto à adaptação (como seres que consideram a realidade imutável). .

1.2 Terapia ocupacional social e a busca por um quefazer crítico

A terapia ocupacional chega ao Brasil em meados de 1950, no Rio de Janeiro e São Paulo, antes como formação técnica e depois como profissão (Reis & Lopes, 2018Reis, S. C. C. A. G., & Lopes, R. E. (2018). O início da trajetória de institucionalização acadêmica da terapia ocupacional no Brasil: o que contam os(as) docentes pioneiros(as) sobre a criação dos primeiros cursos. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 26(2), 255-270. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoAO1154.
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). Orientou-se como um curso dirigido à reabilitação em saúde, envolvendo intervenções junto a sujeitos com deficiências físicas, em um contexto de acordos de cooperação internacional, sob coordenação da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), desde o fim da década de 1940, especialmente preocupados com demandas da produção capitalista (Monzeli et al., 2019Monzeli, G. A., Morrison-Jara, R., & Lopes, R. E. (2019). Histórias da terapia ocupacional na América Latina: a primeira década de criação dos programas de formação profissional. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 27(2), 235. http://dx.doi.org/10.4322/2526-8910.ctoao1631.
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). Nesse percurso, também consolidou sua participação em torno do uso do trabalho e da ocupação na dimensão da intervenção psiquiátrica, junto a indivíduos com transtornos mentais, no âmbito de instituições totais, existentes no Brasil desde o fim do século XIX (Soares, 1991Soares, L. B. T. (1991). Terapia ocupacional: lógica do capital ou do trabalho? São Paulo: Hucitec.). Dessa maneira, a profissionalização da terapia ocupacional se voltou tanto para a reabilitação da função/capacidade/incapacidade corporal quanto para o trabalho/ocupação/atividades como recurso na clínica psiquiátrica e para o desempenho funcional/ocupacional.

Tais parâmetros para as ações da profissão, que se estabelecem historicamente como hegemônicas, alicerçam-se em processos da mediação saúde-doença, do saber da clínica biomédica-psicológica, arcabouço que leva a uma perspectiva reducionista quando voltado a problemas sociais, acarretando sua medicalização e/ou psicologização (Barros et al., 2007Barros, D. D., Lopes, R. E., & Galheigo, S. M. (2007). Terapia ocupacional social: concepções e perspectivas. In A. Cavalcanti & C. R. C. Galvão (Eds.), Terapia ocupacional: fundamentação & prática (pp. 347-353). Rio de Janeiro: Guanabara Koogan.).

A percepção dos limites para lidar com os problemas sociais a partir do binômio saúde-doença se inicia timidamente na década de 1970, quando a terapia ocupacional começa sua inserção no campo social (instituições prisionais ou para jovens em conflito com a lei, abrigo de crianças e adolescentes pobres, asilos para idosos pobres), deparando-se com novas demandas, em que as perspectivas da reabilitação física ou psiquiátrica se mostram inadequadas e reducionistas, fazendo emergir a terapia ocupacional social (Barros et al., 2002Barros, D. D., Ghirardi, M. I. G., & Lopes, R. E. (2002). Terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(3), 95-103. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v13i3p95-103.
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). Esse campo de saberes e práticas tem como base duas perspectivas teóricas: a compreensão crítica sobre a questão social no Brasil, ou seja, os problemas relacionados à desigualdade social que limitam a participação social e a cidadania de vários grupos em vulnerabilidade, colocando a terapia ocupacional social com a intencionalidade de superar o papel profissional de adaptador social e forjar-se como articulador social; e o posicionamento pela inadequação dos saberes biomédico, psicológico e do binômio saúde-doença para articular sua atuação com sujeitos e grupos populacionais em processos de ruptura de redes sociais de suporte, trazendo outros referenciais teóricos-metodológicos à tona, mais próximos das ciências humanas e sociais (Lopes & Malfitano, 2016Lopes, R. E., & Malfitano, A. P. S. (2016). Traçados teórico-práticos e cenários contemporâneos: a experiência do METUIA/UFSCar em terapia ocupacional social. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Eds.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 297-305). São Carlos: EdUFSCar.).

Assim, questiona-se fortemente o papel político e técnico dos profissionais com relação a problemáticas sociais, pontua-se a recusa a uma atuação reprodutora das lógicas de opressão e desigualdades e a defesa de uma outra, que engendre o terapeuta ocupacional enquanto articulador social com compromisso técnico-político junto a homens e mulheres subalternizados, em prol da democratização de direitos e do exercício da cidadania (Lopes, 2016Lopes, R. (2016). Cidadania, direitos e terapia ocupacional. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Eds.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 29-48). São Carlos: EdUFSCar.). Para isso, tomam-se suportes epistemológicos advindos das ciências sociais, humanas, da educação e da própria terapia ocupacional social, para um posicionamento teórico e prático frente àquelas problemáticas, que envolvem, dialeticamente, sujeitos individuais e coletivos e as contradições e desigualdades sociais e culturais, no Brasil. Configuram-se, nesse processo, referenciais teóricos que fundamentem a práxis terapêutico-ocupacional social (Barros et al., 2002Barros, D. D., Ghirardi, M. I. G., & Lopes, R. E. (2002). Terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(3), 95-103. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v13i3p95-103.
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).

Ademais, compreende-se a terapia ocupacional social como uma perspectiva, um campo de produção crítica de ações e reflexões – quefazer/práxis, que desestabiliza a hegemonia da terapia ocupacional técnico-científica (em seu sentido reducionista, marcado pelo que se toma como neutralidade política) (Galheigo, 2009Galheigo, S. M. (2009). Narrativas contemporâneas: significado, diversidade e contexto. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 20(1), 8-12. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v20i1p8-12.
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). Esse ponto de vista contribui para a necessidade de sulear a terapia ocupacional, a partir do momento que se constitui uma abordagem com base nas necessidades sociais, culturais e geopolíticas do Brasil. Sulear é um termo que Paulo Freire utiliza em Pedagogia da Esperança (Freire, 1992Freire, P. (1992). Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.), dando força à enunciação de uma perspectiva do Sul, rompendo o silenciamento que marca os países colonizados e/ou periféricos com relação ao ordenamento mundial, que importaram modelos sob hegemonia de países economicamente centrais, com grande predomínio anglo-saxão, inclusive na terapia ocupacional.

Logo, é possível dizer que a terapia ocupacional social procura se anunciar partindo das necessidades e demandas desse Sul histórico, econômico, cultural, e, portanto, socialmente colocado, tomando-se, especificamente, o Brasil. Parafraseando Freire em Educação como prática da liberdade, a terapia ocupacional social assentada na emergência das problemáticas sociais nacionais, procura forjar um projeto profissional, negando-se a transplantar soluções inadequadas e inoperantes aos problemas do contexto, vendo-o criticamente. Conclui-se que, de forma integrada, acrescida e crítica, esse campo “[...] ganha, pouco a pouco, consciência de suas possibilidades, como resultado imediato de sua inserção no seu mundo e da captação das tarefas de seu tempo ou da visão nova dos velhos temas” (Freire, 2016Freire, P. (2016). Educação como prática da liberdade. São Paulo: Paz e Terra., p. 73).

Pontuada por tais parâmetros, a questão que nos mobiliza nesta produção é: como os referenciais freireanos podem informar a práxis da terapia ocupacional social? A seguir, delineamos algumas respostas possíveis a essa questão com foco em três conceitos, que nos parecem potentes, sendo eles: educação como prática da liberdade, diálogo e conscientização.

É fato que os escritos de Freire não fixam conceitos isolados, há uma dialética em todas as suas formulações, concepções, denúncias e anunciações (dentro de uma categoria se anuncia uma diversidade de outras), porém, compreende-se que o exercício de localizar categorias é necessário para que o desdobramento da teoria no âmbito da terapia ocupacional social fique mais rigoroso e possa, de fato, conformar-se como um referencial conceitual. Todavia, é importante dizer que a busca pela categorização de alguns conceitos é mais para entender sua radicalidade e jamais para sectarizar ou reduzir seu alcance original.

2 Educação Como Prática da Liberdade, Diálogo e Conscientização: Práxis para a Produção do Inédito-Viável

Dada a complexidade das obras de Freire, sua proposição de uma educação como prática da liberdade4 4 Cabe destacar a ênfase que damos à necessidade de consolidar uma educação como prática da liberdade como uma práxis que deve ser intencionada para a liberdade. Assim, direciona-se, projeta-se e implica-se para a liberdade dos sujeitos, pois a educação não é, em si, libertadora, sendo necessário que ela esteja, de forma consciente, orientada para tal. vem sendo trabalhada e discutida por diversos campos do conhecimento. Esse conceito é colocado enquanto perspectiva de uma práxis progressista, pautada na emancipação dos sujeitos que vivenciam processos de opressão e desumanização, em contraposição a uma educação bancária, alienada, a serviço da ética do mercado (Freire, 1981Freire, P. (1981). Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra.). O deslocamento dessa prática calcada na liberdade afirma a dialogicidade, superando a dominação e a perspectiva antidialógica dos processos educativos bancários, que têm o outro como sujeito passivo do processo.

Aqui se entende esse conceito concebendo o papel do terapeuta ocupacional social como agente de ação educativa, na dimensão ética-política e técnica, que pode perpassar sua práxis nos diferentes setores de serviços, como na educação, na assistência social, na justiça, entre outros. Logo, essa ação não se restringindo somente ao lócus da educação na escola, já que, para Freire, o sentido da educação como prática da liberdade perpassa todos os processos do encontro e do fazer com o outro, onde um e outro são sujeitos ativos.

A ação para a liberdade se configura como tal, se for autenticamente reflexiva, procurando, de forma constante, o desvelamento da realidade e a emersão das consciências para uma compreensão crítica dessa realidade concreta, a problematização da realidade que perpassa os sujeitos tem centralidade (Freire, 1987Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.). Para melhor compreensão da educação como prática da liberdade e sua contribuição para a terapia ocupacional social, serão expostos pontos chaves iniciais para uma ação profissional pautada na educação como prática da liberdade: o compromisso ético-político; a criticidade-problematização; a democratização; e a rigorosidade técnico-científica.

Na chave do compromisso ético-político, pressupõe-se a superação do viés da neutralidade, entendendo que as condições de poder que geram a exclusão social é resultado de relações sociais engendradas na e para a desigualdade estrutural e em opções políticas, ou seja, o terapeuta ocupacional deve ser vigilante sobre as diretividades de suas práticas, tomando-se o questionamento: sua práxis se realiza “[...] a favor de quê e de quem, contra o quê e contra quem [?]” (Freire, 2005Freire, P. (2005). A educação na cidade. São Paulo: Cortez., p. 28, grifos nossos). Sua resposta implica o imperativo ético para se posicionar de forma progressista (ou não), assumindo-se como agente articulador de transformação (ou não), que impõe a responsabilidade e requer a indissociabilidade entre ação técnica e política (Basaglia & Ongaro-Basaglia, 1977Basaglia, F., & Ongaro-Basaglia, F. (1977). Los crimines de la paz: investigación sobre los intelectuales y los técnicos como servidores de la opresión. Madrid: Siglo XXI.; Malfitano, 2005Malfitano, A. P. S. (2005). Campos e núcleos de intervenção na terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 16(1), 1-8. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v16i1p1-8.
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).

A chave da criticidade-problematização orienta a ação terapêutico-ocupacional que procura desvelar [...] a razão de ser das coisas” (Freire, 1992Freire, P. (1992). Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra., p. 51), em um processo de interrogação da realidade, trazendo à tona o que está ocultado por ideologias contraditórias e dominantes. O terapeuta ocupacional e os sujeitos para os quais direciona sua ação são agentes dessa iluminação a partir de seus saberes; isso pressupõe a problematização dos sujeitos e de suas relações com o mundo, fortalecendo uma consciência intencionada para a leitura crítica da dialética social, tanto de seus aspectos macro como microssociais, mas, sobretudo, das possibilidades e limitações em torno da inserção social da população-alvo da intervenção, lançando-se mão de estratégias que favoreçam o desenvolvimento de uma curiosidade crítica, indócil (Freire, 1996Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.).

A chave da democratização perpassa a ação a partir do momento que o terapeuta ocupacional, na práxis conjunta, rompe com a hierarquia de poderes e saberes, fundada no autoritarismo, e busca forjar uma ação baseada na tolerância e no respeito pela opção de cada sujeito e de suas múltiplas formas de existir materialmente e subjetivamente. Porém, sempre exercendo a função de desafiar os sujeitos a problematizar suas opções e condições, sem impor formas de se conceber a vida, mas evidenciando seu saber técnico sobre determinados aspectos da vida cotidiana (Freire, 2013Freire, P. (2013). À sombra desta mangueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra., 1987Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.).

Já a chave da rigorosidade técnico-científica se estabelece pela necessidade do profissional exercer sua intervenção sem perder o rigor de sua ação de núcleo técnico e cientifico, filiado ao uso de estratégias, recursos e tecnologias que devem estar a serviço dessa intervenção, sendo competente no seu agir profissional. Seria contraditório e, nesse referencial, insustentável forjar uma prática direcionada para a liberdade de forma licenciosa ou espontaneísta.

Essas chaves podem direcionar a ação terapêutica-ocupacional social para a liberdade, sendo que exemplificamos, a seguir, a construção de Oficinas de Atividades, Dinâmicas e Projetos5 5 A proposta da Oficina de Atividade, Dinâmicas e Projetos desloca-se da centralidade da atividade imediata/isolada/estática, evocando a ideia de fazer/processo com a atividade, na qual dinâmicas se estabelecem e projetos podem ser sonhados. “Por intermédio desse instrumento de trabalho, sobre o qual o terapeuta ocupacional deve ter domínio, pode-se conhecer o universo imediato dos sujeitos, ampliando significativamente a possibilidade de criação de vínculos e com isso gerar oportunidades para uma atuação profissional que contribua para a construção conjunta de planos e projetos [...]. A utilização da atividade possibilita o aprendizado e o reconhecimento de necessidades do sujeito e o desenvolvimento da capacidade deste para buscar soluções próprias e criativas para suas questões. Criam-se potencialmente espaços de experimentação e aprendizagem, concebendo cada participante como ser ativo no processo de construção de subjetividade, um ser da práxis, da ação e da reflexão” (Lopes et al., 2014, p. 595). (Lopes et al., 2014Lopes, R. E., Malfitano, A. P. S., Silva, C. R., & Borba, P. L. O. (2014). Recursos e tecnologias em terapia ocupacional social: ações com jovens pobres na cidade. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 22(3), 591-602. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2014.081.
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) como espaços que podem viabilizar práticas para a liberdade.

Segundo Lopes et al. (2014Lopes, R. E., Malfitano, A. P. S., Silva, C. R., & Borba, P. L. O. (2014). Recursos e tecnologias em terapia ocupacional social: ações com jovens pobres na cidade. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 22(3), 591-602. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2014.081.
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, p. 595), a “[...] terapia ocupacional social utiliza as atividades como um recurso mediador do trabalho de aproximação, acompanhamento, apreensão das demandas e fortalecimento dos sujeitos individuais e coletivos, para os quais direciona sua ação”. Nesse sentido, a Oficina pode tornar possível o encontro intersubjetivo, com a finalidade de articular a busca de ampliação de reconhecimento social do sujeito ou grupos, voltando-se para suas necessidades em nível micro e macrossocial. Ademais, é espaço de convivência, experimentação, constituição subjetiva, do encontro, do fazer junto, a partir de atividades, dinâmicas e projetos que proporcionam um momento de quefazer – ação e reflexão, que se voltem para a vida dos sujeitos, para pensar sua atuação no mundo, e para formular soluções em relação a processos de desumanização, construindo possibilidades de vida (Malfitano, 2016Malfitano, A. P. S. (2016). Contexto social e atuação social: generalizações e especialidades na terapia ocupacional. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Eds.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 117-133). São Carlos: EdUFSCar.).

Sob o viés de Freire (1987)Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra., esse fazer nas Oficinas pode se colocar enquanto uma práxis para a liberdade, na medida em que se tornar, de fato, espaço de trocas e diálogos para engendrar invenções e (re)criação do cotidiano dos sujeitos, para “[...] defesa da autonomia, da cidadania e do direito e pela busca de novas estratégias de construção e/ou fortalecimento dos coletivos” (Galheigo, 2016Galheigo, S. M. (2016). Terapia ocupacional social: uma síntese histórica acerca da constituição de um campo de saber e prática. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Eds.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 49-68). São Carlos: EdUFSCar., p. 65), que são limitados em suas vivências de cotidiano e inserção social, assumindo esse espaço crítico, político, democrático, de forma a fomentar a possibilidade de mudança (Freire, 2013Freire, P. (2013). À sombra desta mangueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra.).

A educação como prática da liberdade “[...] deve ser compreendida como um momento, ou um processo, ou uma prática onde estimulamos as pessoas a se mobilizar ou a se organizar para adquirir poder” (Shor & Freire, 1986Shor, I., & Freire, P. (1986). Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra., p. 27), assim, a prática profissional precisa ter também como foco o conflito, “[...] a parteira da consciência” (Shor & Freire, 1986Shor, I., & Freire, P. (1986). Medo e ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra., p. 106). A explicitação dos conflitos individuais-coletivos é um desafio a ser enfrentado, para os sujeitos formularem movimentos de negociação cultural, social e relacional, pautados pela ampliação e facilitação da participação social, pelos projetos de futuro, pelo pertencimento social e, portanto, pelo fortalecimento das redes sociais de suporte e do acesso a bens e direitos sociais (Barros et al., 2002Barros, D. D., Ghirardi, M. I. G., & Lopes, R. E. (2002). Terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(3), 95-103. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v13i3p95-103.
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; Barros, 2004Barros, D. D. (2004). Terapia ocupacional social: o caminho se faz ao caminhar. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 15(3), 90-97. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v15i3p90-97.
http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
). Ou seja, no enfrentamento de conflitos produzidos nas inserções sociais individuais e coletivas, em busca da cidadania plena, entendendo que o exercício da cidadania se coloca a partir do momento que os sujeitos estão intervindo na sociedade, decidindo, escolhendo, avaliando, fazendo, tomando a História nas mãos, em prol da justiça social (Freire, 2001Freire, P. (2001). Política e educação: ensaios. São Paulo, Cortez.).

Desse modo, “[...] compreendendo o terapeuta ocupacional como alguém capacitado para criar estratégias conjuntas de ampliação de oportunidades” (Malfitano, 2016Malfitano, A. P. S. (2016). Contexto social e atuação social: generalizações e especialidades na terapia ocupacional. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Eds.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 117-133). São Carlos: EdUFSCar., p. 123), dentro do reconhecimento da vocação ontológica e histórica do Ser mais dos sujeitos, entende-se que a estrutura contraditória e deformadora do sistema socioeconômico e cultural (da ética do mercado, da colonização, da opressão) condiciona os sujeitos, mas não os determina, reconhecendo a História como possibilidade (Freire, 2013Freire, P. (2013). À sombra desta mangueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra., 1996Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.), colocando a intervenção profissional a serviço da “invenção democrática de nossa sociedade” (Freire, 2013Freire, P. (2013). À sombra desta mangueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra., p. 54, grifos do autor).

A educação como prática da liberdade se articula diretamente com os conceitos de dialogicidade e conscientização, de forma dependente. A prática dialógica implica dois processos essenciais para a terapia ocupacional social:

  1. 1

    O investimento nas relações e no encontro para construção do vínculo: a práxis terapêutico-ocupacional mediada pelo fazer/pensar/construir/formular/projetar junto com os sujeitos implica o “[...] reconhecimento do outro, de encontro com a alteridade” (Barros et al., 2002Barros, D. D., Ghirardi, M. I. G., & Lopes, R. E. (2002). Terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(3), 95-103. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v13i3p95-103.
    http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-614...
    , p. 200). Esses são movimentos essenciais para a construção de vínculo, entendido aqui como uma relação de respeito e confiança entre sujeitos e terapeuta ocupacional social. O respeito e confiança são bases para o diálogo, mas não acontecem a priori, fazem parte de um processo que é resultante do estar junto para a composição de momentos de pronúncia e denúncia do mundo, intencionados para a transformação (Freire, 1987Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.).

Assim, a alteridade para a constituição do vínculo em perspectiva freireana pressupõe o diálogo, o encontro intersubjetivo, a intercomunicação, dentro de um mundo de comunicação, no qual um corpo consciente (intencionado ao mundo, à realidade) fala sobre a realidade e mediatiza a relação, estabelecendo uma relação dialética-comunicativa, em que não há sujeitos passivos ou isolados, mas sempre no encontro e no dizer a palavra. “O sujeito pensante não pode pensar sozinho; não pode pensar sem a co-participação de outros sujeitos no ato de pensar sobre o objeto. Não há um ‘penso’, mas um ‘pensamos’.”(Freire, 1983Freire, P. (1983). Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra., p. 45).

Sob essa ótica, o terapeuta ocupacional social assume um compromisso para o estabelecimento de uma relação dialógica, na compreensão profunda das necessidades e histórias de vida do outro. É via para forjar uma prática pautada na colaboração (Freire, 1987Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.), que se dá com o entendimento de como vivem indivíduos e coletivos, objetiva e subjetivamente, em dimensão dialógica entre o mundo material e os sentidos e significados atribuídos, vividos e, também, sonhados, em um fazer terapêutico-ocupacional que se aproxima ao círculo de cultura, do encontro intersubjetivo.

  1. 2

    A ação profissional articulada na dimensão territorial, comunitária e cultural: os espaços e cotidianos (formas de se estar no e como o mundo; a circulação; as relações e redes sociais nos territórios da existência; as relações comunitárias; as expressões culturais e os modos de viver) dos sujeitos precisam ser entendidos/apreendidos de forma radical. A prática se dá nas trocas para conhecer essas dinâmicas e seus significados materiais e simbólicos, em que o terapeuta ocupacional “[...] expondo sua leitura de mundo aos grupos [...], aprende com eles [...]. Mais ainda, aprende com os oprimidos as manhas indispensáveis à sua resistência e de que elitistamente se fala às vezes como ‘falta de caráter’ dos deserdados” (Freire, 2013Freire, P. (2013). À sombra desta mangueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra., p. 107).

Portanto, é emergente compreender a verdade do povo, seus modos de inserção social que, muitas vezes, saem de padrões tidos como “normalidade”. Nesse sentido, Malfitano (2016Malfitano, A. P. S. (2016). Contexto social e atuação social: generalizações e especialidades na terapia ocupacional. In R. E. Lopes & A. P. S. Malfitano (Eds.), Terapia ocupacional social: desenhos teóricos e contornos práticos (pp. 117-133). São Carlos: EdUFSCar., p. 123) sinaliza que a ação profissional deve “[...] reconhecer as múltiplas formas de integração, inclusive as marginais e ilegais, e mediar o processo, quase sempre conflitivo, de acesso a alguns bens sociais e as possibilidades de participação autônoma na vida social”, sendo a dialogicidade fundamental para isso. Sendo assim, o profissional depende “[...] da capacidade que tenha de abrir-se à ‘alma’ da cultura onde se deu ou se está dando a experiência [...]. Abrir-se à ‘alma’ da cultura é deixar-se ‘molhar’, ‘ensopar’ das águas culturais e históricas dos indivíduos envolvidos na experiência” (Freire, 2005Freire, P. (2005). A educação na cidade. São Paulo: Cortez., p. 110).

Isso não quer dizer que vai se realizar uma ação terapêutico-ocupacional que aceita tudo sem questionamentos, em uma ingênua confiança (Freire, 1987Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.), mas em uma disponibilidade do profissional para compreender, em seu contexto e história, as experiências dos sujeitos, a fim de se poder construir, juntos, processos de ampliação de alternativas. O desafio é a negociação para a construção conjunta de respostas a demandas postas pelos sujeitos, em que o terapeuta ocupacional social, a partir de seus saberes, engendra e propõe ações, ao mesmo tempo em que população-alvo, dentro de seus saberes e formas de existência, vai igualmente propondo e dialogando sobre suas necessidades, expectativas, saberes e desejos. O conhecimento e o respeito mútuo entre o profissional e o sujeito são essenciais para se estabelecer projetos conjuntos, na partilha e troca de saberes, sendo o diálogo força sustentadora do vínculo, da confiança.

Nos encontros, no diálogo, mediatizados pelas estratégias e recursos da terapia ocupacional social, cabe ao profissional “[...] desafiar os grupos populares para que percebam, em termos críticos, a violência e a profunda injustiça que caracterizam sua situação concreta. Mais ainda, que sua situação concreta não é destino certo [...], algo que não pode ser mudado” (Freire, 1996, p. 31Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.), no sentido de agregar aos saberes, processo de conscientização6 6 De acordo com Guareschi (2000), Freire, na busca pela superação das dicotomias consciência versus ação, falar versus fazer, teoria versus prática, lança inicialmente o conceito de conscienciação, apontando para indissolubilidade entre consciência e ação. Porém, nessa trajetória, alguns colaboradores de Freire começam a empregar o termo conscientização, que favoreceria a tradução para outras línguas, se tornando o conceito mais comum. Ainda, conforme Guareschi (2000), conscienciação não seria o mesmo que conscientização, o primeiro significando a união entre consciência e ação, enquanto que o segundo indicando a ação em si, o ato de conscientizar, posterior à conscienciação. Todavia, com base em nosso estudo dos referenciais, percebe-se que conscientização passa a ser o conceito central para dar conta tanto do ato/ação de conscientizar quanto da inseparabilidade da consciência e ação. . A conscientização ultrapassa a simples tomada de consciência sobre sua realidade contraditória e limitadora, a conscientização é um prolongamento disso, exige reflexão crítica, análise e conhecimento rigoroso da realidade concreta, desocultando verdades escondidas por ideologias dominantes. Ou seja, não é apenas a constatação, mas alcança a raison d’être (razão de ser), que necessita partir dos saberes populares, mas, não obstante, ultrapassá-los. Com a construção de uma rigorosa compreensão do status quo, a conscientização resulta em inserção e participação social, há movimentos que evidenciam os condicionamentos estruturais, mas também oferecem insumos para formular caminhos para o enfrentamento e a transformação (Freire, 2005Freire, P. (2005). A educação na cidade. São Paulo: Cortez.).

[...] sabendo que as condições materiais, econômicas, sociais e políticas, culturais e ideológicas em que nos achamos geram quase sempre barreiras de difícil superação para o cumprimento de nossa tarefa histórica de mudar o mundo, sei também que os obstáculos não se eternizam (Freire, 1996Freire, P. (1996). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra., p. 28).

O terapeuta ocupacional social toma, então, a conscientização como diretiva, que deve ser construída em conjunto com o outro, compondo os saberes populares e o seu próprio fazer técnico, integrando-os em formas de compreender e transformar o mundo, mas indo além, em busca de uma curiosidade epistemológica e metódica (Freire, 2013Freire, P. (2013). À sombra desta mangueira. Rio de Janeiro: Paz e Terra.), para a elaboração de saberes mais críticos, que almejam que os sujeitos fortaleçam suas possibilidades, seus direitos, reconheçam seus deveres, suas potencialidades em viver vidas e cotidianos múltiplos.

Freire (1987)Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra. coloca isso como um processo que desafia e provoca os sujeitos, para vislumbrar o inédito-viável, que emerge dentro das possibilidades de participação e vivências do cotidiano, transpondo as situações-limites (barreiras ou dificuldades de acesso aos bens sociais, fragilidades em suas redes de suporte, impedimentos no exercício de autonomia, na prática do cotidiano, nas atividades significativas) que precisam ser superadas a partir de atos-limites (na negação do dado como condição intransponível).

Assim, como consequência da objetivação das situações-limites, propõem-se práxis transformadoras (atos-limites), o que requer a negociação e a formulação de estratégias, tendo a ação terapêutico-ocupacional potencial para contribuir para a constituição do inédito-viável, em outras palavras, para alcançar o que antes se tinha como inviável, como a vivência justa e digna da existência dentro das dinâmicas sociais e cotidianas.

3 Considerações Finais

Os referenciais freireanos são potentes para pensar e realizar práxis comprometidas com a libertação de sujeitos e grupos subalternizados, oferecendo referências para se compreender relações de opressão e se forjar possibilidades de transformação, podendo o terapeuta ocupacional social utilizar tais conceitos no denunciar e anunciar de um mundo mais justo (com diálogo, liberdade, conscientização, transposição de situações-limites).

As formulações de Paulo Freire são provocadoras para a elaboração de uma práxis de maneira ampliada, porém, não menos rigorosa, possibilitando a compreensão do “[...] movimento do real, da história e da vida em seu contexto” (Barros et al., 2002Barros, D. D., Ghirardi, M. I. G., & Lopes, R. E. (2002). Terapia ocupacional social. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, 13(3), 95-103. http://dx.doi.org/10.11606/issn.2238-6149.v13i3p95-103.
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, p. 102), essencial para sulear a terapia ocupacional social em ações comprometidas com a superação da malvadez do capitalismo, para o fazer de um mundo menos perverso, utilizando suas estratégias em conjunto com os sujeitos para uma emancipação social e pessoal, voltada para humanização.

  • 1
    O Movimento de Cultura Popular (MCP) surgiu vinculado à prefeitura de Recife, em 1960; o Centro Popular de Cultura (CPC) foi criado em 1961, junto à União Nacional dos Estudantes (UNE), no Rio de Janeiro, sendo que depois se difundiu para outros municípios; o Movimento de Educação de Base (MEB), de abrangência nacional, resulta, em 1961, da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), articulado com ações do Governo Federal, entre outros. Esses são movimentos que tiveram como base iniciativas de educadores, políticos, intelectuais, estudantes e de outros movimentos sociais, voltando-se para a produção de uma educação como prática da liberdade junto às classes populares, sobretudo, de jovens e adultos, com o objetivo de difundir práticas educacionais atreladas à cultura do povo, comprometidas com a alfabetização e conscientização (Kreutz, 1979Kreutz, L. (1979). Os movimentos de educação popular no Brasil, 1961-64 (Dissertação de mestrado). Fundação Getúlio Vargas, Rio de Janeiro.).
  • 2
    O círculo de cultura é uma estratégia formulada por Freire para uma prática educativa conscientizadora. A partir do diálogo em roda, objetiva-se que os sujeitos em colaboração problematizem o mundo, desvelando suas contradições e buscando formas para superar estruturas de dominação, tomando-se o estar no mundo e com o mundo, em um processo de práxis, humanização e emancipação (Fiori, 1987Fiori, E. M. (1987). Prefácio. In P. Freire, Pedagogia do oprimido (pp. 5-11). Rio de Janeiro: Paz e Terra.).
  • 3
    Freire (2000Freire, P. (2000). Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP., 1987Freire, P. (1987). Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra.) coloca a necessidade de os sujeitos não estarem somente no mundo, ocupando o lugar como seres a-históricos, mas estarem com o mundo e com os outros, sendo capazes de intervir na realidade concreta e constitui-la historicamente. Assim, isso implica na inserção (como seres de ética, decisão, escolha, curiosidade, transformação – práxis), em contraponto à adaptação (como seres que consideram a realidade imutável).
  • 4
    Cabe destacar a ênfase que damos à necessidade de consolidar uma educação como prática da liberdade como uma práxis que deve ser intencionada para a liberdade. Assim, direciona-se, projeta-se e implica-se para a liberdade dos sujeitos, pois a educação não é, em si, libertadora, sendo necessário que ela esteja, de forma consciente, orientada para tal.
  • 5
    A proposta da Oficina de Atividade, Dinâmicas e Projetos desloca-se da centralidade da atividade imediata/isolada/estática, evocando a ideia de fazer/processo com a atividade, na qual dinâmicas se estabelecem e projetos podem ser sonhados. “Por intermédio desse instrumento de trabalho, sobre o qual o terapeuta ocupacional deve ter domínio, pode-se conhecer o universo imediato dos sujeitos, ampliando significativamente a possibilidade de criação de vínculos e com isso gerar oportunidades para uma atuação profissional que contribua para a construção conjunta de planos e projetos [...]. A utilização da atividade possibilita o aprendizado e o reconhecimento de necessidades do sujeito e o desenvolvimento da capacidade deste para buscar soluções próprias e criativas para suas questões. Criam-se potencialmente espaços de experimentação e aprendizagem, concebendo cada participante como ser ativo no processo de construção de subjetividade, um ser da práxis, da ação e da reflexão” (Lopes et al., 2014Lopes, R. E., Malfitano, A. P. S., Silva, C. R., & Borba, P. L. O. (2014). Recursos e tecnologias em terapia ocupacional social: ações com jovens pobres na cidade. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, 22(3), 591-602. http://dx.doi.org/10.4322/cto.2014.081.
    http://dx.doi.org/10.4322/cto.2014.081...
    , p. 595).
  • 6
    De acordo com Guareschi (2000)Guareschi, P. (2000). Sinais de um novo paradigma. In R. H. E. Campos & P. Guareschi (Eds.), Paradigmas em psicologia social: a perspectiva latino-americana (pp. 207-221). Petrópolis: Vozes., Freire, na busca pela superação das dicotomias consciência versus ação, falar versus fazer, teoria versus prática, lança inicialmente o conceito de conscienciação, apontando para indissolubilidade entre consciência e ação. Porém, nessa trajetória, alguns colaboradores de Freire começam a empregar o termo conscientização, que favoreceria a tradução para outras línguas, se tornando o conceito mais comum. Ainda, conforme Guareschi (2000)Guareschi, P. (2000). Sinais de um novo paradigma. In R. H. E. Campos & P. Guareschi (Eds.), Paradigmas em psicologia social: a perspectiva latino-americana (pp. 207-221). Petrópolis: Vozes., conscienciação não seria o mesmo que conscientização, o primeiro significando a união entre consciência e ação, enquanto que o segundo indicando a ação em si, o ato de conscientizar, posterior à conscienciação. Todavia, com base em nosso estudo dos referenciais, percebe-se que conscientização passa a ser o conceito central para dar conta tanto do ato/ação de conscientizar quanto da inseparabilidade da consciência e ação.
  • Como citar: Farias, M. N., & Lopes, R. E. (2020). Terapia ocupacional social: formulações à luz de referenciais freireanos. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional. Ahead of Print. https://doi.org/10.4322/2526-8910.ctoEN1970
  • Fonte de Financiamento
  • Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) – Código de Financiamento 001 – e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    Oct-Dec 2020

Histórico

  • Recebido
    30 Jun 2019
  • Revisado
    23 Set 2019
  • Aceito
    18 Out 2019
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