Tabela 1
Participantes da pesquisa.
Pesquisadora:
E aí Chiquinha Gonzaga, o que você sente quando desenha?
Shakespeare:
Ela sente amor, tia.
Chiquinha Gonzaga:
Eu sinto, tipo assim, eu me inspirei nesse desenho, cada coração da gente tem um tamanho diferente, alguns são fechados, tristes e eu fiz coração aberto, que são os corações alegres.
Pesquisadora:
Vou passar para o próximo desenho.
Cora Coralina:
Ahh! É do Eduardo Kobra.
Eduardo Kobra:
Só podia ser, tia.
Shakespeare:
É do bem e do mal.
Eduardo Kobra:
É, é do bem e do mal.
Pesquisadora:
É Eduardo Kobra? Me explica o desenho, então.
Eduardo Kobra:
É assim: é o lado sombrio que você sabe de onde vem e o lado bom. A borboleta é do lado sombrio?
Eduardo Kobra:
É.
Pesquisadora:
O Lado sombrio vem de onde?
Shakespeare:
Muito criativo.
Eduardo Kobra:
O lado sombrio vem, é...
Cora Coralina:
Vem da tristeza.
Eduardo Kobra:
O lado sombrio vem lá debaixo.
Pesquisadora:
Debaixo onde?
Eduardo Kobra:
Lá debaixo, tia, você sabe. Lá debaixo da terra.
Ruth Rocha:
Do capeta, pronto! Fala logo essa palavra logo.
Eduardo Kobra:
A gente tem o lado ruim e o lado bom que vem de Deus né.
Pesquisadora:
E você, o que você acha que te representa mais?
Eduardo Kobra:
O meu jeito é como essa árvore aí, do jeito que você tá vendo.
Pesquisadora:
Os dois lados? Você se sente mais desse lado ou desse lado?
Eduardo Kobra:
Desse lado aqui, que tem o periquito.
Pesquisadora:
Aqui vocês fazem o quê? Vocês cantam, vocês dançam, tem umas coisas que vocês gostam mais de fazer do que outras. [...] Se eu der, por exemplo, assim, 5 minutos para vocês fazerem uma poesia...
Eduardo Kobra:
Isso é coisa de menina, nois não consegue.
Pesquisadora:
Olha só o que o Eduardo falou, poesia é coisa de menina.
Van Gogh:
Não tem nada a ver.
Eduardo Kobra:
Poesia é coisa de romance.
Steve Jobs:
Nada a ver.
Pesquisadora:
Espera aí, deixa só eu perguntar um negócio. Então me fala, Eduardo, o que é coisa de menino?
Shakespeare:
É futebol, é luta.
Ruth Rocha:
Eu jogo futebol.
Eduardo Kobra:
É videogame sem se preocupar de lavar a casa, lavar as vasilhas...
Pesquisadora:
Vamos pensar um pouquinho sobre isso? Quem tem obrigação de lavar a casa e lavar as vasilhas é só as meninas?
Steve Jobs:
Todo mundo tem que colaborar.
Van Gogh:
Então, Eduardo, se você for morar em uma casa e morar sozinho, você vai deixar a casa toda bagunçada?
Shakespeare:
Eu vou.
Eduardo Kobra:
Eu vou pro hotel, que é muito melhor.
Van Gogh:
E se você não tiver dinheiro?
Eduardo Kobra:
Aí eu vou morar na rua, [ele ri] melhor que lavar vasilha.
Pesquisadora:
Eduardo, lá na sua casa, mora você, sua mãe e mais cinco irmãos né? Quem é que toma conta? Só sua mãe?
Eduardo Kobra:
Dos moleques lá, tudo? Eu e minha mãe. Tem que ser isso, eu brigo, mas a minha mãe faz eu lavar a casa. Tipo assim oh, eu faço uma gambira com eles. Se ficarem quietos, eu deixo assistirem televisão; se não ficarem quietos, vai para o quarto e fica de joelhos.
Pesquisadora:
E eles ficam de joelhos?
Eduardo Kobra:
Fica de joelhos, porque eu mando, é uma ordem.
Pesquisadora:
E o que você acha disso?
Eduardo Kobra:
Uma bondade para ajudar minha mãe.
Pesquisadora:
E as meninas ajudam?
Cora Coralina:
As meninas são as que mais ajudam.
Ana Botafogo:
Quando eu chego em casa, eu lavo louça, enxugo louça, limpo a casa, banho meus irmãos; eu lavo o banheiro, varro a frente de casa...
Chiquinha Gonzaga:
Ô Tia, tem alguns meninos que trabalham bastante, mas as meninas trabalham mais que os meninos no sentido da casa.
Shakespeare:
Só que não.
Chiquinha Gonzaga:
No sentido da casa.
Shakespeare:
Ah, no sentido da casa, né?