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O ARREFECIMENTO DA POLARIZAÇÃO AFETIVA: análise dos discursos dos governadores no Twitter na campanha eleitoral de 2022

THE WANING OF AFFECTIVE POLARIZATION: analysis of governors’ speeches on Twitter in the 2022 electoral campaign

LE REFROIDISSEMENT DE LA POLARISATION AFFECTIVE: analyse des discours des gouverneurs sur Twitter lors de la campagne électorale 2022

Resumos

Neste artigo analisamos como se deu a polarização na campanha eleitoral para governador em 2022 em torno das duas figuras políticas tensionadoras, Bolsonaro e Lula. Para tanto foram analisadas todas as publicações realizadas no Twitter durante a campanha eleitoral de primeiro turno pelos governadores brasileiros. A questão central é, como os governadores estaduais se posicionaram na disputa eleitoral regional em consonância com os alinhamentos na disputa eleitoral nacional? A captura dos tweets foi feita a partir do software Netlytic. Para a análise dos dados foi utilizada estatística descritiva a partir do Excel e análise dos discursos a partir do aplicativo Iramutec para linguagem R. A partir da pesquisa concluímos que, diferentemente da polarização vista no nível nacional, nas campanhas estaduais houve um arrefecimento do tensionamento e uma reacomodação dos discursos das elites políticas no sentido de evitar fricções e abordar a temática políticas públicas.

Polarização; Eleições 2022; Twitter; Lula; Bolsonaro


In this article, we analyze how the polarization occurred in the electoral campaign for governor in 2022 around the two tensioning political figures, Bolsonaro and Lula. For this purpose, all publications made on Twitter during the first round electoral campaign by Brazilian governors were analyzed. The central question is, how did the state governors position themselves in the regional electoral dispute in consonance with the alignments in the national electoral dispute? The tweets were captured using the Netlytic software. For data analysis, descriptive statistics were used from Excel and speech analysis from the Iramutec application for R language. From the research, we concluded that, unlike the polarization seen at the national level, in state campaigns there was a cooling of tension and a rearrangement of the discourses of the political elites in order to avoid friction and address the issue of public policy.

Polarization; Elections 2022; Twitter; Lula; Bolsonaro


Dans cet article, nous analysons comment la polarisation s’est produite dans la campagne électorale pour le poste de gouverneur en 2022 autour des deux personnalités politiques tendues, Bolsonaro et Lula. Pour cela, toutes les publications faites sur Twitter lors de la campagne électorale du premier tour par les gouverneurs brésiliens ont été analysées. La question centrale est de savoir comment les gouverneurs des États se sont positionnés dans le contentieux électoral régional en accord avec les alignements du contentieux électoral national? Les tweets ont été capturés à l’aide du logiciel Netlytic. Pour l’analyse des données, des statistiques descriptives ont été utilisées à partir d’Excel et l’analyse de la parole de l’application Iramutec pour le langage R. De la recherche, nous avons conclu que, contrairement à la polarisation observée au niveau national, dans les campagnes d’État, il y avait un refroidissement de la tension et un réarrangement des discours des élites politiques afin d’éviter les frictions et d’aborder la question des politiques publiques.

Polarisation; Élections 2022; Twitter; Lula; Bolsonaro


INTRODUÇÃO

Diversos esforços estão sendo empreendidos para compreender as eleições gerais brasileiras de 2022, após o processo turbulento de crescimento da antipolítica e aumento da polarização afetiva constatado nas eleições municipais de 2016 e nas eleições gerais de 2018. Considerando que as mídias sociais digitais assumiram um papel proeminente nesses pleitos eleitorais marcados pelos discursos antipolítica, é fundamental analisar como esses elementos apareceram ou se omitiram nas eleições 2018.

Neste artigo nos detemos a analisar como se deu a polarização no Brasil na campanha eleitoral para governador em 2022. Para tanto serão analisadas todas as publicações realizadas no Twitter durante a campanha eleitoral de primeiro turno pelos governadores brasileiros em 2022. A importância da análise tem a ver com a intensidade das tensões, e até mesmo rivalidade que exacerbou para o campo da violência, que circundaram as candidaturas dos principais candidatos à presidência, foram eles Jair Messias Bolsonaro do Partido Liberal (PL) que tentava a reeleição e Luiz Inácio Lula da Silva, representando o Partido dos Trabalhadores (PT) e que tentava seu terceiro mandato.

A questão central é, como os governadores estaduais se posicionaram na disputa eleitoral regional em consonância com os alinhamentos na disputa eleitoral nacional? Ou seja, o foco deste texto é, portanto, mapear o discurso publicizado por cada governador incumbente até o momento da eleição e verificar se antagonismos e alinhamentos, em relação ao então presidente da república, Jair Bolsonaro, puderam ser percebidos no momento da campanha eleitoral a partir dos discursos no Twitter dos 27 governadores.

O critério de corte para a análise dos discursos será a polarização entre os discursos e assuntos mais publicizados durante a campanha dos dois candidatos em questão à presidência. A justificativa para esta análise pode ser estruturada em dois pontos. O primeiro diz respeito à situação política do país. Desde a sua redemocratização, 1988, o Brasil possui uma longa trajetória de polarização nas eleições presidenciais, com a tradicional disputa entre o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o PT. Contudo, esse cenário sofre uma ruptura a partir da eleição de Jair Bolsonaro em 2018, que representa a chegada ao poder de uma ideologia radical de direita. Cabe destacar nesse período que Luiz Inácio Lula da Silva, o principal oponente a Jair Bolsonaro, estava impossibilitado de concorrer ao pleito, o que exigiu do PT uma reestruturação na sua campanha em detrimento de um nome pouco1 1 De acordo com pesquisas Datafolha feitas em setembro de 2018, logo depois do indeferimento da candidatura de Luís Inácio Lula da Silva, Fernando Haddad era o candidato à presidência da república menos conhecido pelo eleitorado entre os mais bem colocados na disputa (eram eles Ciro Gomes, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin, Jair Bolsonaro, Marina Silva). Fonte https://datafolha.folha.uol.com.br/eleicoes/2018/09/1981890-cresce-conhecimento-sobre-haddad.shtml#:~:text=Apesar%20da%20alta%20na%20taxa%20de%20conhecimento%2C%20Haddad,de%20ouvi%20falar%20e%208%25%20n%C3%A3o%20a%20conhecem. Acesso em 20 de outubro de 2023. conhecido entre a população, Fernando Haddad. Com o resultado eleitoral positivo para Jair Bolsonaro, o país entrou numa onda de fortalecimento de medidas políticas autoritárias e violentas. Situação que remete ao segundo ponto da justificativa deste trabalho: a ampliação da polarização política no sentido negativo. A polarização política ocorrida no Brasil vai em direção aquilo que Chantal Mouffe (2015)MOUFFE, Chantal. Sobre o político. 1ª edição [2005]. São Paulo: Martins Fontes, 2015. chama de antagonismo político, em que questões políticas inevitáveis tomam uma dimensão extremamente negativa. As diferenças políticas entre os indivíduos e seus posicionamentos passam a ser vistas como irremediáveis, e as pessoas com posturas diferentes, ou divergentes, são colocadas numa dimensão “nós” e “eles” de inimizade. O “outro” passa a ser “aquilo” que deve ser anulado ou excluído, assim não havendo espaço para o debate, mas um caminho para a ampliação da intolerância e, por consequência, violência. Considerando essas duas dimensões, a ampliação da violência política no país e a perspectiva teórica que coloca essa situação como um obstáculo à democracia, que este estudo se desenvolve.

O interesse em observar as fricções polarizantes trazidas ao jogo político por Jair Bolsonaro nos discursos dos governadores brasileiros tem a ver com a importância dessas figuras no sistema federalista brasileiro. Governadores de estado possuem posição central na articulação entre municípios e a União, intermediando interesses eleitorais e políticos das elites políticas estaduais (Abrucio, 1998; Leite; Santos, 2010). Ademais, governadores podem coordenar bancadas estaduais para representar os interesses do estado nas Câmaras dos Deputados. O governador pode articular os parlamentares do seu estado quando temas e pautas importantes ao estado são debatidas no parlamento (Melo; Anastasia, 2005MELO, Carlos Ranulfo; ANASTASIA, Fátima. A Reforma da Previdência em dois tempos. Dados - Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Vol. 48, no 2, 2005, pp. 301 a 332. Disponível em https://www.scielo.br/j/dados/a/xCNwqRkRKBvSMBbFQzkcmgJ/?format=pdf⟨=pt. Acesso em 01 de jul. 2023.
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). A despeito das competências constitucionais limitadas dos governadores no que diz respeito à produção de políticas públicas, estes são importantes formuladores e executores de políticas públicas nas áreas de saúde, educação e segurança pública (Tomio, Ricci, 2018). Destaca-se o protagonismo dos governadores junto às forças de segurança pública, que são estadualizadas, e no contexto aqui analisado foram capturadas pelo bolsonarismo (Macedo; Cedro, 2021MACEDO, Henrique de Linica; CEDRO, André Sales dos Santos. Militarização e bolsonarização na segurança pública: heranças do autoritarismo no Brasil? In: SÁ, Thiago Antônio de Oliveira (org.). Extremo: o mandato Bolsonaro. Curitiba: Kotter Editorial, 2021. pp. 57-74; Vieira; Oliveira, 2021VIEIRA, Ludmila; OLIVEIRA, Valéria. "Eu quero que o povo se arme": a política de segurança pública de Bolsonaro In: AVRITZER, Leonardo; KERCHE, Fábio; MARONA, Marjorie (orgs.). |Governo Bolsonaro: retrocesso democrátic e degradação política. Belo Horizonte: Autêntica, 2021. pp. 327-341). Portanto, compreender o efeito da polarização política sobre os discursos desses importantes atores políticos no contexto das eleições de 2022 pode permitir que compreendamos as possibilidades para a democracia no Brasil.

Além desta introdução o presente artigo está organizado em quatro seções. A primeira seção apresenta a evolução do sistema partidário brasileiro nos últimos 28 anos, destacando dois momentos. O primeiro momento compreende um período de 20 anos, entre 1994-2014, marcado pela estabilidade de polarização entre PSDB e PT na disputa à presidência da República. O segundo período (2015-2022) é caracterizado pela desestruturação da competição ao cargo à Presidência da República em função da emergência da extrema-direita como opção viável eleitoralmente. O objetivo deste debate é destacar que a emergência da extrema direita como opção política, e, por sua vez, o aumento da distância entre os pólos da disputa, é consequência de um contexto antipolítico e antipartidário. O período é caracterizado por um fluxo contínuo de mudanças entre os partidos políticos e reacomodação das elites partidárias e por uma polarização política centrífuga, onde alguns partidos brasileiros se afastam do centro ideológico em direção à direita (Bolognesi; Ribeiro; Codato, 2023). Ademais, a seção verifica os impactos deste momento sobre as eleições subnacionais num contexto onde a eleição geral anterior de 2018 foi considerada uma eleição disruptiva (Abranches, 2019ABRANCHES, Sérgio H. Polarização radicalizada e ruptura eleitoral. In: Vários Autores. Democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje. São Paulo: Companhia das letras, 2019. pp. 11-34) reconfigurando uma nova e acirrada polarização e com amplo uso de mídias sociais. A segunda seção aborda os aspectos da polarização política nas mídias sociais digitais, com foco para a rede social Twitter, principal fonte dos discursos dos governadores, analisados neste trabalho. A terceira seção descreve os procedimentos metodológicos. Considerou-se todos os tweets dos governadores de estado do Brasil durante o período eleitoral até o primeiro turno, quantificando o total de postagens, citações à Lula e/ou Bolsonaro e principais palavras citadas. A quarta seção é de natureza empírica, empreendendo as análises dos tweets dos governadores através do aplicativo Iramuteq para linguagem R como ferramenta. Assim, primeiramente apresenta-se as estatísticas descritivas para, então, apresentar as análises de conteúdo. O foco é perceber se discursivamente a polarização política fica evidenciada. Por fim, as considerações finais ressaltam os principais achados e limitações do artigo.

ALINHAMENTOS PARTIDÁRIOS, ESTABILIDADE E RUPTURAS PARA GOVERNADORES NO BRASIL

Para cumprir os objetivos propostos no artigo, passo fundamental é entender a estruturação do sistema partidário brasileiro, uma vez que, o processo de polarização afetou de maneira significativa diversos partidos, fazendo com que partidos que exerciam um certo protagonismo fossem suplantados por outros que assumem um discurso mais radical à direita.

Melo (2007)MELO, Carlos Ranulfo. Nem tanto ao mar nem tanto a terra: elementos para uma análise do sistema partidário brasileiro. In: MELO, Carlos Ranulfo; SÁEZ, Manuel Alcántara. A democracia brasileira: balanço e perspectiva pra o século 21. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. pp. 267-302 apresenta uma evolução do atual sistema brasileiro em três etapas. O primeiro momento tem como marco a reforma partidária de 1979, empreendida pelos militares e, que dá origem a cinco partidos a saber, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), o Partido Democrático Social (PDS), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Democrático Trabalhista e o PT. O período é caracterizado por uma dinâmica bipartidária com o protagonismo do PMDB e do PDS. O período seguinte (1987-1994) é caracterizado pela superação desta dinâmica bipartidária com o surgimento de novas legendas. A título de exemplo, o Partido da Frente Liberal (PFL) surge de uma cisão do PDS e o PSDB de uma fissura do PMDB de 1988 a 1994. O autor entende o período como sendo de reacomodação das elites políticas. O fato é que esta segunda etapa é marcada pelo aparecimento e desaparecimento de legendas partidárias, o que remete a uma certa instabilidade. O terceiro momento se inicia com as eleições de 1994 e vai perdurar até as eleições presidenciais de 2014. O terceiro momento é caracterizado pela polarização para a disputa presidencial em torno do PSDB e PT. O argumento de Melo (2007)MELO, Carlos Ranulfo. Nem tanto ao mar nem tanto a terra: elementos para uma análise do sistema partidário brasileiro. In: MELO, Carlos Ranulfo; SÁEZ, Manuel Alcántara. A democracia brasileira: balanço e perspectiva pra o século 21. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. pp. 267-302 é que a dinâmica da principal competição eleitoral passa a estruturar o sistema partidário.

Portanto, 1994 e 2014, ou seja, durante 20 anos, o sistema partidário brasileiro apresentou uma estruturação importante que possibilitou uma estabilidade em relação ao período anterior (1988-1994). A literatura aponta que a sequência de eleições presidenciais foi responsável por estabilizar nosso sistema partidário (Melo, 2007MELO, Carlos Ranulfo. Nem tanto ao mar nem tanto a terra: elementos para uma análise do sistema partidário brasileiro. In: MELO, Carlos Ranulfo; SÁEZ, Manuel Alcántara. A democracia brasileira: balanço e perspectiva pra o século 21. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007. pp. 267-302; Melo, 2010; Melo, 2022MELO, C. R. Nau sem rumo? O sistema partidário brasileiro pós-democratização. Revista USP, [S. l.], n. 134, p. 75-90, 2022. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.i134p75-90. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/202416. Acesso em: 14 jun. 2023.
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; Limongi; Cortez, 2010LIMONGI, Fernando e CORTEZ, Rafael. As Eleições de 2010 e o Quadro Partidário. Novos Estudos, n. 88, 2010. pp. 21-37. Disponível em: . Acesso em 14 jun. 2023.; Melo; Câmara, 2012MELO, Carlos Ranulfo; CÂMARA, Rafael. Estrutura da competição pela Presidência e consolidação do sistema partidário no Brasil. Dados - Revista de Ciências Sociais, vol. 55, núm. 1, 2012, pp. 71-117. Disponível em:. Acesso em: 14 jun. 2023.; Lavareda; Fernandes, 2020LAVAREDA, Antonio; FERNANDES, Antônio. Um ciclo de eleições críticas: 2018 começou em 2016.In: LAVAREDA, Antônio; TELLES, Helcimara (orgs.). Eleições municipais: novas ondas na política. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2020. cap. 1), pois foram os partidos políticos que estruturaram a competição eleitoral em torno do cargo de Presidente da República. A disputa se concentrou em torno do PSDB e do PT de forma moderada, caracterizando uma polarização centrípeta. Dito de outra forma, os dois partidos passaram a disputar o eleitor mediano ao se firmarem como alternativas de policies.2 2 Entre 1994 e 2014 o PT e PSDB receberam 81% dos votos válidos nas eleições presidenciais (MELO, 2022). Além disso, o PFL3 3 Em 2007 o PFL altera seu nome para Democratas (DEM). foi o parceiro preferencial da coalizão das duas administrações de FHC (PSDB) e o PMDB, em função do tamanho de sua bancada no Congresso Nacional, era considerado um partido pivotal. Em linhas gerais a estrutura da competição pelo controle do executivo (Mair, 1996MAIR, Peter. Party Systems and Structures of Competition. In: LEDUC, Laurence; NIEMI, Richard; NORRIS Pippa (orgs.), Comparing Democracies: Elections and Voting in Global Perspective. London: Sage Publications. 1996.; 2006) exerceu efeito positivo estabilizando e estruturando o sistema partidário (Melo; Câmara, 2012MELO, Carlos Ranulfo; CÂMARA, Rafael. Estrutura da competição pela Presidência e consolidação do sistema partidário no Brasil. Dados - Revista de Ciências Sociais, vol. 55, núm. 1, 2012, pp. 71-117. Disponível em:. Acesso em: 14 jun. 2023.).

Três grandes blocos partidários que se organizaram em torno das eleições presidenciais. O primeiro bloco de centro-direita é composto pelo PSDB, DEM e o Partido Popular Socialista (PPS). O segundo bloco é composto por PT, Partido Socialista Brasileiro (PSB), o PDT e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB) sendo este bloco de viés de centro-esquerda. Por fim, um bloco formado por partidos office seeking, ou seja, partidos que buscam cargos e recursos junto ao governo (Wolinetz, 2004WOLINETZ, S. B. Classifying Party Systems: Where Have All the Typologies Gone? Winnipeg: Memorial University of Newfoundland, 2004.), portanto, partidos sempre dispostos a integrar coalizões. Figuram as seguintes legendas neste terceiro bloco: PMDB, PTB, o Partido Progressista (PP) e o Partido da Republicano Brasileiro (PRB).

A eleição presidencial de 2014 foi a última em que a polarização PT versus PSDB pôde ser observada. Melo (2022)MELO, C. R. Nau sem rumo? O sistema partidário brasileiro pós-democratização. Revista USP, [S. l.], n. 134, p. 75-90, 2022. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.i134p75-90. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/202416. Acesso em: 14 jun. 2023.
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elenca alguns fatores que podem ser mobilizados para entender o fim do ciclo de estabilidade. O primeiro deles diz respeito às estratégias adotadas pelos outros partidos diante da dinâmica bipolarizada pela disputa presidencial e do federalismo vigente no Brasil, o que enseja jogos aninhados nas arenas estaduais com a principal disputa. Alguns partidos priorizaram disputas pelos cargos executivos nos estados, sobretudo o PMDB nacionalmente, o que lhe conferia bancadas numerosas no Congresso Nacional e o PSB no Nordeste4 4 Entre 1994 e 2014 o PSB governou os estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará. (MELO, 2022). e, alguns outros priorizaram a eleição de mandatos parlamentares para se credenciarem como prováveis parceiros de coalizão (Melo, 2022MELO, C. R. Nau sem rumo? O sistema partidário brasileiro pós-democratização. Revista USP, [S. l.], n. 134, p. 75-90, 2022. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.i134p75-90. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/202416. Acesso em: 14 jun. 2023.
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). Nas palavras de Melo (2022MELO, C. R. Nau sem rumo? O sistema partidário brasileiro pós-democratização. Revista USP, [S. l.], n. 134, p. 75-90, 2022. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.i134p75-90. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/202416. Acesso em: 14 jun. 2023.
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: 83): “A composição do sistema partidário no Congresso passou a refletir a agregação de distintas competições estaduais. Tal somatório passaria a funcionar como um poderoso vetor no sentido da fragmentação (...)”.

Assim sendo, a eleição presidencial de 2018 pode ser considerada disruptiva (Abranches, 2019ABRANCHES, Sérgio H. Polarização radicalizada e ruptura eleitoral. In: Vários Autores. Democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje. São Paulo: Companhia das letras, 2019. pp. 11-34), uma vez que ela encerra o ciclo de disputas entre o PT e o PSDB, caracterizada pela competição moderada entre os partidos. Entretanto, sinais de mudanças do sistema partidário já haviam sido percebidos nas eleições municipais de 2016 (Lavareda, Fernandes, 2020; Lavareda, Telles, 2020; Silva, Silame, 2021). Portanto, a emergência de candidaturas que diziam representar uma “nova política”, se faz presente nas eleições municipais de 2016, o que permite alguns analistas enquadrarem 2016 e 2018 como um contexto de eleições disruptivas (Lavareda, Fernandes, 2020).

Vários candidatos diziam representar uma “nova política”, nas eleições de 2016. Estes candidatos não se consideravam políticos e seus discursos enfatizavam uma lógica gerencialista de eficiência de mercado aplicado ao setor público, pela não realização de acordos inter e intrapartidários para obtenção de governabilidade e por um discurso moralista anticorrupção (Lavareda, Fernandes, 2020; Telles et. al, 2020). Em linhas gerais a “nova política” tece críticas aos políticos profissionais, a formação de coalizões, as relações entre partidos/políticos e empresas e a ineficiência do Estado. Portanto, o discurso da “nova política” é uma reação às denúncias de corrupção que monopolizavam os noticiários, sobretudo o escândalo do Petrolão, investigado no âmbito da Operação Lava-Jato (Telles et. al., 2020).

O aumento das candidaturas com discurso anti-política foi marcante nas eleições brasileiras, como elementos de polarização afetiva, conjuntural (Telles, Freitas, 2022). Tanto as eleições municipais de 2016 quanto as eleições presidenciais de 2018 foram marcadas pelo sentimento de rejeição à “velha política” que se traduz em um sentimento antipolítico e antipartidário. Ademais, o antipetismo também passa a ser uma característica distintiva no pleito eleitoral, uma vez que foram nas administrações do PT que ocorreram as as Jornadas de junho de 2013, às denúncias de corrupção na Petrobras, a recessão econômica do biênio 2015-2014, as pedaladas fiscais que serviram de mote para o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (Melo, 2022MELO, C. R. Nau sem rumo? O sistema partidário brasileiro pós-democratização. Revista USP, [S. l.], n. 134, p. 75-90, 2022. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.i134p75-90. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/202416. Acesso em: 14 jun. 2023.
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; Limongi, 2023LIMONGI, Fernando. Operação Impeachment: Dilma Rousseff e o Brasil da Lava Jato. São Paulo: Editora Todavia, 2023.). Fato também importante, e que contribuiu para alimentar o antipetismo, foi a prisão do ex-presidente Lula em 2018 quando este liderava as pesquisas de intenções de voto para as eleições de 2018 no contexto da Operação Lava Jato5 5 Posteriormente o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a incompetência e a imparcialidade do Juiz Sérgio Moro na condução dos trabalhos da Lava-Jato, o que resultou na nulidade dos processos contra o ex-presidente Lula (PT) que ficou preso por 580 dias. (Telles et al., 2020; Melo, 2022MELO, C. R. Nau sem rumo? O sistema partidário brasileiro pós-democratização. Revista USP, [S. l.], n. 134, p. 75-90, 2022. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.i134p75-90. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/202416. Acesso em: 14 jun. 2023.
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).

POLARIZAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL E O REARRANJO DOS PARTIDOS

A literatura sobre polarização política caracteriza-a normalmente a partir da radicalização da disputa partidária e desse posicionamento na identificação positiva ou negativa do eleitorado com os partidos políticos ou ainda, que a polarização política parte de um caráter afetivo e não necessariamente ideológico (Belo, 2023, p. 44-45). Segundo Belo (2023) é possível constatar uma polarização política no Brasil ancorada no binômio petismo versus antipetismo.

Lavareda e Telles (2022), ao analisarem os resultados das eleições municipais de 2020, que lançam luz sobre as eleições gerais seguintes (2022) afirmam que o contexto da pandemia de COVID-19 arrefeceu as forças da onda da anti-política, dos outsiders e das eleições críticas e reafirmou a legitimidade dos líderes já testados pelo eleitorado e fortaleceu os partidos tradicionais, o que marca o retorno da polarização partidária (Silva, Silame, 2020; Lavareda, Alves, 2022; Telles, Freitas, 2022).

Ao longo do processo eleitoral de 2018, a candidatura à Presidência da República do Deputado Federal Jair Bolsonaro pelo Partido Social Liberal (PSL) se mostrou viável e alijou da disputa o PSDB. Desta forma, as eleições de 2018 inauguram uma nova dinâmica da estrutura da competição presidencial, caracterizada pela emergência da extrema direita como alternativa eleitoral à centro-esquerda. Portanto, a disputa pelo principal cargo da república que de 1994 a 2014 apresentou uma dinâmica centrípeta, assume uma polarização centrífuga, com o aumento da distância entre os pólos e, assim, um aumento da radicalização (Abranches, 2019ABRANCHES, Sérgio H. Polarização radicalizada e ruptura eleitoral. In: Vários Autores. Democracia em risco? 22 ensaios sobre o Brasil hoje. São Paulo: Companhia das letras, 2019. pp. 11-34).

Semelhantemente ao período que vai de 1989 a 1993, pode-se dizer que o sistema partidário brasileiro está se reorganizando e as elites partidárias se reacomodando, o que pode ser considerado um momento de fluxo. Destacam-se algumas mudanças: i) Em 2016 o Partido Trabalhista Nacional (PTN) muda seu nome para Podemos e em 2022 o Partido Social Cristão (PSC) é incorporado à legenda; ii) Em 2017 o PMDB altera o seu nome retirando o P se tornado apenas o Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e o Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB) muda seu nome para Avante; iii) Em 2018 o Partido Ecológico Nacional (PEN) mudou seu registro para Patriota; iv) Em 2019 dois partidos mudaram de nome, o PPS passou a se chamar Cidadania em 2019 e o PRB mudou seu nome para Republicanos; v) Em 2019 o Partido da República retoma seu nome de origem Partido Liberal (PL);6 6 Em 2006 o PL mudou seu nome para PR. e vi) Em 2022 o PSL se funde ao DEM e surge o União Brasil.

Dessa forma, pode-se argumentar que os partidos estão se adequando às mudanças nas regras eleitorais e contextuais decorrentes da polarização afetiva, mas o fato é que PSDB e PMDB, partidos que foram estruturantes, no período de maior estabilidade do nosso sistema partidário perderam o seu protagonismo. Melo (2020) ressalta que o PSDB perdeu seu status de representante antipetista para a extrema direita. O MDB não consegue mais eleger as grandes bancadas estaduais que o colocava na condição de ator pivotal no Congresso Nacional. O PT por ter uma base social mostrou-se resiliente e deve permanecer como um dos polos da disputa para a presidência nos próximos pleitos, uma vez que venceu as eleições presidenciais de 2022 ao derrotar o Bolsonarismo e elegeu a segunda maior bancada da Câmara dos Deputados.

Provavelmente, o contraponto ao petismo virá da extrema-direita. Contudo, é difícil apontar um partido que ocupe este espaço, uma vez que o Bolsonaro nunca construiu vínculos partidários fortes. Lembremos, Bolsonaro elegeu-se presidente em 2018 pelo PSL, se desfiliou em 20197 7 Entre 2019 e 2021, Bolsonaro tentou criar um partido em torno de si. Contudo, não conseguiu o número de assinaturas necessárias para criar o Aliança pelo Brasil. e disputou a reeleição pelo PL tendo se filiado em 2021. Antes de se eleger presidente, Bolsonaro foi filiado a outras oito agremiações políticas.8 8 Partidos aos quais Bolsonaro já foi filiado: PDC (1988-1993); PP (1993); PPR (1993-1995); PPB (1995-2003); PTB (2003-2004); PFL (2004-2005); PP (2005-2016) e; PSC (2016-2018) Desta forma, o Bolsonarismo se expressa muito mais como um movimento/ideologia organizado nas redes sociais e é capaz de mobilizar uma base autoritária e reacionária9 9 Sequer é possível garantir que Bolsonaro seja o candidato da extrema direita nas eleições de 2026, uma vez que existem processos na Justiça Eleitoral que podem torná-lo inelegível nos próximos 8 anos. (Melo, 2022MELO, C. R. Nau sem rumo? O sistema partidário brasileiro pós-democratização. Revista USP, [S. l.], n. 134, p. 75-90, 2022. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.i134p75-90. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/202416. Acesso em: 14 jun. 2023.
https://www.revistas.usp.br/revusp/artic...
; Sá, 2021SÁ, Thiago Antônio de Oliveira. Masoquistas aplaudem o sádico: o apoio autodestrutivo da torcida bolsonarista. In: SÁ, Thiago Antônio de Oliveira (org.). Extremo: o mandato Bolsonaro. Curitiba: Kotter Editorial, 2021. pp 233-255.; Silame, Trindade, 2021).

Se no plano nacional a situação do quadro partidário é cercada de incertezas e faz-se necessário, portanto, o acúmulo de eleições para perceber como se dará a acomodação das elites políticas, nos estados pode-se supor algum efeito desta desestruturação sobre as competições locais, mesmo considerando a existência de subsistemas partidários (Lima Júnior, 1983). Subsistemas partidários são resultados da combinação do federalismo, com multipartidarismo e com o voto proporcional em lista aberta em distritos de alta e média magnitude. Sua consequência é a configuração de sistemas partidários locais que não necessariamente guardam relação com o sistema partidário estruturado em torno das eleições presidenciais. Entretanto, observar a estrutura da competição nos estados para a disputa ao cargo de governador pode evidenciar os padrões nas diversas unidades da federação. Portanto, assume-se que a capacidade dos diversos partidos estruturarem a competição política em torno do cargo ao governo do estado varia de estado para estado, apresentando configurações diversas (Silame, 2018SILAME, Thiago. Assembleias Legislativas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul: política de recrutamento para as comissões permanentes. Curitiba: Appris Editora, 2018.).

Ao analisar as eleições para governadores dos estados brasileiros nas duas últimas décadas, observamos uma mudança dos padrões de polarização. Se antes essa polarização era marcada pelo partidarismo (Silame, 2018SILAME, Thiago. Assembleias Legislativas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul: política de recrutamento para as comissões permanentes. Curitiba: Appris Editora, 2018.; Tomio, Ricci, 2018), o agravamento da crise da representação (Silva, 2022SILVA, Joscimar. Desconfiados, conectados e indignados: atitudes políticas, mídias sociais digitais e eleições no Brasil, México e Peru. Revista Debates: UFRGS, v. 16, n.1, 2022.) abriu espaço para que discursos anti-política entrassem na cena eleitoral (Baptista et al, 2021).

Ao analisar as eleições para governadores dos estados brasileiros em 2022, é fundamental questionar se houve a continuidade da polarização afetiva das eleições 2018 ou se há um retorno da proeminência partidária na disputa, compreendendo as dimensões conjunturais da disputa eleitoral em torno do pleito.

Tomadas isoladamente cada uma das eleições para os cargos de governadores nos 26 estados e Distrito Federal (DF) durante o período de estabilidade do sistema partidário brasileiro (1994-2014) temos um total de 162 observações. A disputa direta entre PSDB e PT pela governadoria ocorreu em 17 ocasiões sendo 02 disputas no Acre (AC) e no Ceará (CE), 03 no Mato Grosso do Sul (MS), Minas Gerais (MG), Pará (PA) e em São Paulo (SP), e uma disputa no Rio Grande do Sul (RS), o que corresponde a 10,49% das observações. Se considerarmos também o DEM, principal parceiro da coalizão nacional do PSDB, em disputas contra o PT, tem-se 27 disputas, o que corresponde a aproximadamente 16,67% dos casos. Sendo que das 10 disputas entre PT e DEM, 5 aconteceram no estado da Bahia (BA), 3 disputas no estado de Sergipe (SE) e 1 no AC e Piauí (PI). Confirmando a sua posição pivotal no sistema político brasileiro, o MDB, durante o período de 1994 a 2014 se mostrou competitivo em 73 disputas, o que corresponde a 45,06% das observações.

Ao se considerar a colocação dos partidos em primeiro ou segundo lugar nas eleições para o governo de estado como uma proxy de competitividade no período de 1994-2014, temos 324 possibilidades. Os partidos PMDB, PSDB e PT, figuram nesta situação em 179 ocasiões, o que corresponde a 55,25% das possibilidades. A Tabela 1 mostra a quantidade de vezes que cada um dos partidos esteve em primeiro ou segundo nas eleições nos estados. Ao se considerar os partidos satélites à dinâmica PSDB e PT no plano nacional, tem-se aproximadamente 86% das observações.

Tabela 1
Quantidade de vezes que os partidos figuraram em primeiro ou segundo lugar nas eleições para o governo de estado entre 1994-2014

Algumas situações particulares chamam a atenção. Pode-se dizer que na BA durante o período considerado o PFL/DEM aparece competitivamente em todas as disputas. Uma explicação plausível para a força do partido no estado é a força da influência do Carlismo.10 10 O Carlismo advém do nome do importante político baiano Antônio Carlos Magalhães (1927-2007) que exerceu diversos cargos políticos da República com destaque para os cargos de Governador da Bahia e de Senador Federal. O Carlismo pode ser entendido, segundo Dantas (2003, pág 213) como “uma política baiano-nacional nascida de aspirações modernizantes de uma elite regional, nos marcos da chamada revolução passiva brasileira e na perspectiva de um autoritarismo instrumental. Adota, como diretriz, simultânea atuação na política institucional, na estrutura da administração pública e na interface destas com o mercado e, como estratégia, a sustentação regional da ordem social competitiva, ligando-se, pragmaticamente, ao campo político liberal”. Há ainda elementos de transmissão de herança política relacionada a transferência de capital político entre familiares e correligionários. Outro fato interessante relacionado à BA é que o PT é o principal antagonista no estado. Portanto, pode-se dizer que a Bahia apresenta uma estrutura da competição em torno do PT e do PFL/DEM.

Outro fato interessante é a hegemonia do PSDB no estado de São Paulo (SP). Os candidatos tucanos venceram todas as eleições no período de 1994-2014. O PSDB também está presente de forma competitiva em Minas Gerais (MG), tendo eleito o governador em 4 eleições de 6 disputadas. O PT e o PMDB são os principais adversários no estado. No estado de Pernambuco (PE) o PSB também se mostra muito competitivo em função da força política do ex-governador Miguel Arraes. Como já mencionado acima, o partido é competitivo na região nordeste. No estado de Goiás (GO) PSDB e PMDB em boa medida estruturam a competição. A disputa para a governadoria no estado do Rio Grande do Sul (RS) é amplamente competitiva. Entre 1994 e 2014 nenhum governador conseguiu se reeleger. A estrutura da competição gira em torno de três partidos: PT, PMDB e PSDB. No estado do Rio de Janeiro (RJ), o PMDB apresenta um relativo protagonismo (Silame, 2018SILAME, Thiago. Assembleias Legislativas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul: política de recrutamento para as comissões permanentes. Curitiba: Appris Editora, 2018.).

Não é intuito da seção passar em revista todas as eleições nos estados durante o período, mas evidenciar, à partir da menção à algumas disputas, que os principais partidos que estruturam a disputa nacional também vertebram disputas locais. Portanto, PSDB, PT, DEM e PMDB são protagonistas no período. Contudo, os efeitos do discurso antipolítica e antipartido, também se fazem sentir nas eleições para os governos de estado em 2018 e 2022. São eleições também caracterizadas pela emergência de candidaturas competitivas de extrema direita, atreladas ao Bolsonarismo e pelo embotamento dos partidos protagonistas do período anterior.

Em 2018, Bolsonaro foi eleito pelo PSL, partido até então sem muita expressão. Nestas eleições o partido venceu em Rondônia (RO), Roraima (RR) e Santa Catarina (SC), além de ter ficado em segundo lugar nos estados de Alagoas (AL) e Espírito Santo (ES). Nos 20 anos anteriores o PSL só figurou duas vezes entre os primeiros e segundos colocados na eleição para governador. Destaca-se também, nas eleições de 2018, as vitórias de Wilson Witzel (PSC) no RJ, de Romeu Zema (NOVO) em MG e João Dória (PSDB) em SP e Ratinho Jr. (PSD) no PR todos defendendo o discurso antipolítica.

Os partidos que estruturavam a competição nacional, o PSDB e o PT, elegeram respectivamente 3 e 4 governadores. Os tucanos elegeram os governadores de Mato Grosso do Sul (MS), SP e RS. Já o PT elegeu os governadores da BA, CE, PI e Rio Grande do Norte (RN). O PT ficou em segundo no AC e o PSDB em quatro estados (CE, MG, RO e RR). O MDB elegeu os governadores de AL, Distrito Federal (DF) e PA e ficou em segundo nos estados GO, Maranhão (MA) e RS. O DEM elegeu os governadores de GO e Mato Grosso (MT) e ficou em segundo na BA, PA e RJ.

Nas eleições de 2022 o PL foi o partido pelo qual Bolsonaro disputou as eleições presidenciais. O PL elegeu dois governadores no RJ e SC. Além disso, se mostrou competitivo nos estados do ES, GO, PA, RS e RO. No período anterior o PL só havia se mostrado competitivo em uma ocasião. Ademais, o partido REPUBLICANOS, pertencente à coalizão de Bolsonaro,11 11 Adiante no artigo os apoios partidários conferidos aos candidatos presidenciais no segundo turno serão melhor explorados. elegeu os governadores de SP e Tocantins (TO).

O PT e o PSDB elegeram respectivamente 4 e 3 governadores. O PT elegeu os governadores da BA, CE, PI e RN. Os tucanos elegeram os governadores do estado de MS, PE e RS. Destaque para Eduardo Leite que foi eleito em 2018 e se elegeu novamente em 2022 no RS, caracterizando uma espécie de reeleição no RS.12 12 Leite havia renunciado ao mandato de governador em março de 2022 com pretensões de se lançar candidato à Presidência da República pelo PSDB. O PT ficou em segundo nas disputas para o governo de AC, PR, SC, SE e SP. O PSDB figurou em segundo apenas no estado da Paraíba (PB). O MDB elegeu os governos do AL, DF e PA e ficou em segundo no AM e RR. Por fim, o União Brasil se mostrou competitivo em 8 disputas, tendo vencido as eleições para o governo do estado do AM, GO, MT e RO e ficado em segundo em outras 4 disputas (AL, BA, CE e PI).

POLARIZAÇÃO, DISCURSOS E TWITTER

Em termos do debate sobre polarização e mídias sociais digitais, Sunstein (2017)SUNSTEIN, Cass R. #republic: divided democracy in the age of social media. Princeton: Princeton University Press, 2017. 309p. argumenta que estas têm provocado um aumento da radicalização nos usuários ao reforçar determinadas visões de mundo e ofertar conteúdos filtrados conforme perspectivas pré-definidas, ou seja, os usuários recebem conteúdos aos quais estão propensos a acreditar e se retroalimentam do mesmo tipo de conteúdo. Dessa forma, podemos classificar esse tipo de polarização gestado ou amplificado nas mídias sociais digitais como polarização afetiva, já que não está diretamente vinculada ao caráter ideológico da identificação partidária.

Ott (2017)OTT, Brian L. The age of Twitter: Donald J. Trump and the politics of debasement. Critical studies in media communication, v. 34, n. 1, p. 59-68, 2017. vai afirmar categoricamente que estamos vivendo a Era do Twitter, ou seja, estaríamos vivendo mais uma revolução comunicacional com a ascensão do Twitter e outras mídias sociais. Mídias sociais são serviços disponibilizados na web que, permitem que indivíduos construam um perfil público, ou semi-público, interajam como outros usuários com os quais têm conexão e visualizem e naveguem por sua lista de conexões e de outros, dentro do sistema (Boyd; Ellison, 2007BOYD, Danah M.; ELLISON, Nicole B. Social network sites: Definition, history, and scholarship. Journal of computer-mediated Communication, v. 13, n. 1, p. 210-230, 2007.). A forma como os sites de redes sociais permitem a visibilidade e a interação das redes sociais, além de permitir a manutenção dos laços estabelecidos no mundo offline, é o que os diferencia das outras formas de comunicação mediada pelo computador (Recuero, 2009RECUERO, Raquel. Redes sociais na internet, difusão de informação e jornalismo: elementos para discussão. Metamorfoses jornalísticas, v. 2, p. 1-269, 2009.). A possibilidade dessa maior visibilidade e construção de conexões oferecidas pelas mídias sociais casou muito bem com as demandas abertas nas democracias contemporâneas, são essas, mais transparência, accountability e responsividade dos governantes.

O Twitter, especificamente, é uma rede social com grande potencial para ampliar o debate público e facilitar essa conectividade social (Maireder, Aussehofer, 2013). Desde que foi lançado, em março de 2006, o Twitter cresceu rapidamente. Este, que é um microblog (Mendes, 2014MENDES, Luciana Carla Kwiatkoski Baumann. A produção jornalística e as mídias sociais: a utilização do Facebook e do Twitter na construção da notícia. Dissertação de mestrado, Universidade de Brasília, 2014.) em que a maioria dos usuários só pode postar 280 caracteres, ou seja, que possibilita apenas conteúdos curtos, como frases, pequenos comentários, imagens ou links para vídeos (Stieglitz, Dang-Xuan, 2013), faz com que suas três principais características sejam simplicidade, impulsividade e incivilidade (Ott, 2017OTT, Brian L. The age of Twitter: Donald J. Trump and the politics of debasement. Critical studies in media communication, v. 34, n. 1, p. 59-68, 2017.). No caso do Brasil, o Twitter, em 2022, foi apenas a 8ª mídia social mais usada pela população que tem acesso à internet.13 13 Segundo dados do portal Statista, as mídias sociais mais usadas no Brasil no 3º trimestre de 2022 pelas audiências online foram Whatsapp (93,4%), Instagram (89,8%), Facebook (86,8%), Tiktok (65,9%) Facebook Messenger (65,1%). Telegram (59%), Kwai (55,8%), Twitter (47,7%), Pinterest (46,4%), Linkedin (36,5%). Link: https://www.statista.com/statistics/1307747/social-networks-penetration-brazil/ Acesso em 12 de junho de 2023 Contudo a importância do Twitter, no caso da comunicação política institucional, não pode ser contabilizada apenas por uma análise fria dos dados acerca dos usuários registrados, isso porque esta tem sido a rede que globalmente políticos profissionais e instituições políticas têm usado para expor suas opiniões e ações políticas, transformando suas respectivas contas no Twitter em canais oficiais para informar os cidadãos, seus pares (De Almeida, Gomes, 2021) e a imprensa. No Brasil um caso paradigmático nos chamou ainda mais atenção para o uso político do Twitter para o estabelecimento de comunicação direta entre políticos e sociedade, esta foi a Comissão de Inquérito Parlamentar da Pandemia (CPI da Pandemia) instaurada no Senado Federal em 2021. Naquele momento foi possível ver claramente o relacionamento entre representantes e representados através do Twitter, sendo os discursos postados nessa mídia social por seus usuários, muitas vezes usados para corroborar argumentação dos senadores, para apoiar opiniões, para auxiliar na formulação de perguntas e até na checagem de fatos (De Almeida; Dias, 2022DE ALMEIDA, Helga do Nascimento; DIAS, MARIO SERGIO ARAUJO. E com vocês os internautas: Uma análise sobre os dois primeiros meses da CPI da Pandemia no âmbito das mídias sociais. CADERNO ELETRÔNICO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, v. 10, p. 78-100, 2022.). Além disso, é importante ressaltar que o impacto de tweets feitos por políticos muitas vezes é subestimado, mas essas mensagens podem ser amplificadas em um curto espaço de tempo, principalmente quando recebem atenção da mídia nacional (Sustein, 2017). Portanto, o Twitter muitas vezes é usado como motor de polarização. Isso porque a mera exposição de posições políticas por figuras políticas importantes cria polarização nesta mídia social (Sustein, 2017), dado que é reverberado fortemente nas mídias tradicionais e em outras mídias digitais. Obama em 2012 e Trump em 2016 são exemplos de figuras políticas que usaram estrategicamente o Twitter para estimular a polarização política (Sustein, 2017). Já Aruguete et al (2020), ao estudarem a polarização nas eleições de Bolsonaro no Twitter, afirmam que no Brasil as eleições tem estado extremamente polarizadas, sendo que as mídias sociais apresentam destaque nesse cenário, criando assim ambientes de mídia também polarizados (Aruguete et al, 2020). Pela sua importância política, os discursos dos governadores no Twitter serão o foco deste trabalho.

Considerando o rápido cenário de reconfiguração das forças políticas, expressada no comportamento dos partidos, que moveram à direita do espectro político resultando numa eleição disruptiva em 2018, e compreendendo que as lideranças políticas políticas, em especial os governadores, são lideranças importantes em meio aos partidos, analisar os posicionamentos dos governadores em período eleitoral pode lançar luz sobre posições e tendências de readequações das forças políticas e dos partidos. Como escreveu Roderic Ai Camp (2012AI CAMP, Roderic. Metamorfosis del liderazgo político en México democrático. Ciudad de México: Fondo de Cultura Econômica, 2012., p. 9) “o estudo de cada liderança política é uma maneira indireta de examinar as instituições”. Ou seja, estudar o comportamento das lideranças políticas é uma forma de poder visualizar antecipadamente as possíveis reconfigurações no campo político, especialmente no período eleitoral, onde as mídias sociais digitais são mais utilizadas pelas lideranças políticas.

METODOLOGIA

O objetivo deste artigo é realizar uma análise dos discursos proferidos pelos governadores dos estados brasileiros na rede social Twitter, no contexto das eleições gerais de 2022. A intenção é verificar se tais discursos reverberaram a polarização política nacional. O Twitter será, portanto, a principal fonte de dados para a pesquisa. A raspagem dos dados foi realizada a partir do software Netlytic14 14 Agradecemos ao bolsista de iniciação científica FAPESB/Univasf, Victor Matheus de Araújo, pela consolidação do banco de dados. e capturou 9155 tweets publicados entre o período 16 de agosto de 2023 a 1 de outubro de 2023. A escolha do primeiro turno como recorte temporal deste artigo tem a ver com a possibilidade de realização de uma comparação equânime dos governadores, dado que todos disputaram, ou tiveram indicados que disputaram, o primeiro turno.

Os dados foram coletados e sistematizados em uma matriz de dados do Microsoft Excel considerando o tweet como a unidade de análise. Sendo o banco de dados constituído pelas seguintes variáveis: link da postagem; conta autora da postagem; governador autor da postagem; estado federativo do governador; partido do governador; candidato à reeleição? (sim ou não); obteve sucesso eleitoral ou seu indicado a sucessão obteve sucesso eleitoral? (sim ou não); apoiou Bolsonaro? (sim ou não); a postagem literal; data e hora da postagem; as reações (curtidas) e os compartilhamentos (retweets).

Ao debruçarmos no estudo dos dados inicialmente trouxemos para esse artigo uma série de análises estatísticas descritivas para quantificar a presença dos governadores no Twitter, o nível de engajamento que geraram e o nível de envolvimento dos discursos com as figuras protagonistas das tensões em 2022, Bolsonaro e Lula. Na sequência os tweets foram analisados a partir do método de Reinert no aplicativo Iramuteq para linguagem R. Para uma análise mais clara do texto permaneceram no corpus textual de tweets apenas adjetivos, nomes comuns e verbos. Para uma melhor análise comparada no sentido de nos demonstrar a existência de polarização, categorizamos os governadores entre aqueles que apoiaram Jair Bolsonaro para presidente no pleito de 2022 e aqueles governadores que apoiam Lula.

GOVERNADORES E A POLARIZAÇÃO DOS DISCURSOS NO TWITTER

O primeiro turno das eleições ocorreu no dia 2 de outubro de 2022 e teve como resultado a escolha de quinze governadores em primeiro turno e o encaminhamento para o segundo turno em doze estados e para o cargo de presidente. A disputa acirrada entre os principais candidatos à presidência é observada na pequena diferença no percentual de votos válidos entre eles, de 5,23% (TSE, 2022). Outro ponto de atenção é o fato de que juntos, os demais nove candidatos à presidência, somaram apenas 8,37% dos votos válidos, sendo Simone Tebet (MDB) a terceira mais votada, com 4,16%. Situação que demonstra empiricamente a polarização política pela qual o país está passando. Em relação aos governadores, a Tabela 2 descreve o cenário durante a eleição.

Tabela 2
Governadores brasileiros, biografias partidárias, alinhamentos ao presidente e métricas no Twitter durante a campanha eleitoral de 2022, 2023

Segundo os dados coletados é mais perceptível identificar os governadores que abertamente declararam apoio a Jair Bolsonaro desde o primeiro turno. Enquanto que o apoio a Lula foi mais direto nos estados com segundo turno, exceto nos estados com governadores de partidos de esquerda. Numa comparação por região, observa-se que o Centro-Oeste é onde os governadores mais declararam apoio a Bolsonaro. Seguindo padrão do posicionamento político dos eleitores para presidente, os governadores do Nordeste massivamente se posicionaram contra a candidatura do presidente em exercício. Contudo, cabe destacar que Raquel Lyra (PSDB) e Flávio Mitidieri (PSD), no primeiro e no segundo turno, se mantiveram neutros em relação aos candidatos à presidência. Já dentre os governadores da região norte verifica-se um maior apoio a Jair Bolsonaro, apenas 2 dos 7 governadores não declararam apoio aberto à pessoa em questão. Na região sudeste, a metade dos governadores estavam a favor do presidente, sendo que nas 2 localidades em que não houve apoio do governador vigente ao presidente Bolsonaro houve reeleição. Na região sul, onde os dados eleitorais são mais positivos a Jair Bolsonaro, dois dos três governadores apoiaram abertamente o presidente. No Rio Grande do Sul, não houve reeleição e o candidato eleito tentou se manter neutro em relação ao apoio presidencial até o final do pleito.

Ainda com base na tabela, mas afunilando nossa análise nas postagens no Twitter, observa-se que os governadores da região sudeste e nordeste foram os mais ativos. Em relação a polarização dos discursos dos governadores no Twitter pode-se observar a quantidade de vezes que os candidatos à presidência, Lula ou Bolsonaro, foram citados. É interessante perceber que em 13 estados não houve nenhuma menção a esses candidatos dos tweets feitos pelos governadores, ademais Lula foi citado por 9 governadores e Bolsonaro foi citado por 6 governadores. Esse aspecto da baixa citação das duas figuras políticas tensionadoras de 2022 nos indica algo importante, isso porque esclarece que a polarização política em nível presidencial parece não ser tão acentuada quanto se esperava no nível estadual. Afinal, nos 47 dias de campanha eleitoral, 14 governadores não citaram nenhuma vez o nome dos candidatos à presidência, foram eles, Ronaldo Caiado (GO-União Brasil), Carlos Brandão (MT-Novo), Reinaldo Azambuja (MS-PSDB), Paulo Câmara (PE-PSB), Wellington Dias (PI-PT), Belivaldo Chagas (SE-PSB), Waldez Goes (AP-Solidariedade), Wilson Lima (AM-União), Wanderlei Barbosa (Tocantins), Romeu Zema (MG-Novo), Claudio Castro (RJ-PL), Carlos Moisés da Silva (SC-Republicanos), Ratinho Jr. (PR-PSD), Delegado Ranolfo (RS-PSDB). Aqui chama atenção o caso de Ratinho Jr., governador que esteve em segundo lugar no número de tweets feitos, 1396 postagens, mas que não citou Bolsonaro (seu aliado) ou Lula nenhuma vez.

Além disso, 8 governadores citaram um e/ou outro candidato, mas o fizeram de forma tímida, foram eles, Ibaneis Rocha (DF-MDB) que citou Bolsonaro 1 vez, Camilo Santana (CE-PT) que citou Lula 1 vez, João Azevedo (PB-PSB) que citou Lula 1 vez, Gladson Cameli (AC-PP) que citou Bolsonaro 3 vezes, Helder Barbalho (PA-MDB) que citou Lula 1 vez, Coronel Marcos Rocha (RO-União Brasil) que citou Bolsonaro 2 vezes, Antonio Denarium (RR-PP) que citou Bolsonaro 1 vez e Renato Casagrande (ES-PSD) que citou Lula 1 vez. Aqui chama também atenção governadores que tweetaram muito, como Ibaneis Rocha (1057 tweets), aliado de Bolsonaro, e Helder Barbalho (550 tweets), não apoiador de Bolsonaro, que decidiram estrategicamente mencionar quase nada os presidenciáveis.

Dos 27 governadores apenas 5 citaram de maneira um pouco mais incisiva os candidatos à presidência, foram eles, Paulo Dantas (AL-MDB), Rui Costa (PT-BA), Carlos Brandão (MA-PSB), Fátima Bezerra (PT-RN) e Rodrigo Garcia (SP-PSDB).

Ressaltamos na próxima tabela como se distribuiu os apoios públicos no Twitter dos governadores brasileiros à Bolsonaro e Lula durante a campanha presidencial a partir do alinhamento dos governadores à Bolsonaro. A primeira observação geral é que, de fato, a maioria dos governadores preferiu não citar publicamente Lula ou Bolsonaro, ou seja, preferiram escolher estrategicamente o não tensionamento. Assim, dos 27 governadores incumbentes, 22 não mencionaram ou mencionaram pouco Lula ou Bolsonaro. O que nos indica uma tática de não envolvimento com a grande polarização eleitoral que se dava no nível nacional naquele momento.

Chama ainda atenção que todos os governadores(a) aliados de Jair Bolsonaro, 13 governadores, preferiram não tensionar a disputa e assim não citaram os presidenciáveis. Esse modus operandi difere muito do que o próprio Jair Bolsonaro fez ao longo da campanha presidencial em 2022, dado que ele, de fato, trabalhou a partir de uma estratégia de fricção, polarização e tensionamento em relação a seu maior opositor, Lula. Certamente essa “não menção” tem explicações políticas e pode dar a entender que o custo de mencionar os polos de disputa, naquele momento, era alto e poderia resultar em perda ou o não ganho de votos. Os governadores não bolsonaristas também, em sua maioria, optaram por não mencionar os candidatos pólos da disputa.

Tabela 3
Quantitativo de Governadores por apoio ou não à Bolsonaro e menções no Twitter a Bolsonaro e Lula durante a campanha eleitoral de 2022, 2023

Considerando que há perfis de governadores mais ativos e outros menos ativos ou, ainda, no caso de governador sem perfil no Twitter, como o caso Mauro Mendes (MT), do Mato Grosso, é importante explanar também o nível de interação com os seguidores dos perfis dos governadores. Para analisar a interação selecionamos duas variáveis: as reações (curtidas) e os compartilhamentos (retweets) feitos por seguidores.

Há uma grande diversidade no nível de participação dos governadores no Twitter durante o primeiro turno da campanha eleitoral, variando de 4 tweets, no caso da governadora Regina Sousa (Piauí), a mais de 33.500 tweets do governador Rodrigo García (São Paulo). Os níveis de interações também apresentam grande variação. Porém, um elemento comum nos tweets com maior interação é a polarização discursiva, expressa nas menções ao oponentes no nível estadual e também menções à disputa nacional e a fase final da campanha. Enquanto o governador Rui Costa (PT) da Bahia e Carlos Brandão (PSB) do Maranhão e a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra (PT), alcançaram os maiores picos citando Lula. O governador do Acre Gladson Cameli (PP) cita o governo Bolsonaro. O governador de Goiás Ronaldo Caiado (UNIÃO), Romeu Zema (NOVO) de Minas Gerais, Cláudio Castro (PL) do Rio de Janeiro e Carlos Moisés (Republicanos) de Santa Catarina e a governadora Izolda Cela do Ceará alcançaram o maior pico de interação ao polemizar as disputas locais.

Ganha destaque também a pauta de políticas públicas, destacadamente os resultados do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) dos estados que, dado o contexto eleitoral, foi apropriado pelos discursos dos governadores da Paraíba, Sergipe e Amazonas em seus perfis no Twitter.

Tabela 4
- Quantitativo de postagens dos governadores e interação dos seguidores

Aprofundando nos discursos dos governadores no Twitter, chama-se atenção para as diferenças das pautas trazidas no momento da campanha eleitoral de 1º turno por aqueles governadores que apoiaram Bolsonaro e aqueles que não apoiaram. Para tanto, foi feita análise do corpus textual a partir do aplicativo Iramuteq para linguagem R, utilizou-se o algoritmo de Reinette para verificar os principais clusters temáticos dos dois grupos de governadores.

O Dendograma 1 demonstra quatro clusters temáticos principais abordados nos tweets daqueles governadores que não apoiaram Bolsonaro nas eleições de 2022. O cluster mais importante, ou seja, aquele que concentra 32,9% (classe 1) reúne palavras como Lula, esperança, gratidão, amigo. O destaque da palavra Lula nos indica o apoio público que os governadores alinhados com o então candidato demonstraram nas redes. O segundo cluster que mais concentrou debates, 30%, (classe 3) reuniu um grupo de palavras que indicam a preocupação dos governadores em falar sobre políticas públicas variadas, vemos “emprego”, “público”, “educação”, “renda”, “segurança”, “imposto”, “pandemia”. Em terceiro lugar, com 22,4% (classe 4) das atividades discursivas identificadas, está um cluster que demonstra a personalização característica das postagens desses governadores. Assim vemos alguns nomes de governadores, como “paulo”, “rodrigo” e ainda outras que demonstram essa tentativa direta de abordar os cidadãos como “junto”, “apoio”, “voto”, “abraço”. Em quarto lugar está um cluster que mobiliza 14,8% (classe 2) das atividades e aborda em grande medida palavras que vão mobilizar a temática infraestrutura e as ações que a circundam, como “entregar”, “inaugurar”, “obra”, “pavimentar”, “equipamento”, “construção” e até a palavra “município”, sendo que esta última parece revelar a preocupação que os governadores demonstraram de se aproximar aos assuntos mais locais para fazer uma ponte com o que está mais próximo do eleitor.

Dendograma 1
Dendograma a partir dos tweets feitos durante a campanha do 1º turno das eleições de 2022 pelos governadores que não apoiaram Bolsonaro, 2023

No Dendograma 2 estão representados os clusters de termos que mais ocorrem entre aqueles governadores que apoiaram Bolsonaro. Inicialmente salta aos olhos que a palavra Bolsonaro não aparece em destaque em nenhum dos clusters, o que pode indicar uma estratégia de não vincular publicamente o ex-presidente às suas respectivas campanhas nas mídias sociais. Essa abordagem pode ter vínculo ao receio dos governadores de perder votos ao declararem claramente sua ligação com Jair Bolsonaro.

Dendograma 2
Dendograma a partir dos tweets feitos durante a campanha do 1º turno das eleições de 2022 pelos governadores que apoiaram Bolsonaro, 2023

O cluster responsável pela maior atividade dos governadores que apoiaram Bolsonaro, com 35,1% das atividades, inclui palavras que indicam políticas públicas, como “público”, “saúde”, “atendimento”, “hospital”, “pandemia”, “educação”. Ou seja, governadores de ambos os grupos utilizaram-se da estratégia de falar de políticas públicas para fazer sua campanha eleitoral nas mídias sociais. Ressalta-se aqui ainda que a palavra “pandemia” esteve presente no dendograma dos dois grupos, isso nos indica que houve uma preocupação em mostrar resultados em relação a esta crise sanitária que os incumbentes tiveram que lidar ao longo do mandato, o que coaduna com a literatura que afirma que respostas claras à pandemia levaram incumbentes a terem maior apoio dos cidadãos (Avritzer, 2020AVRITZER, Leonardo. Política e antipolítica: a crise do governo Bolsonaro. São Paulo: Todavia, 2020. 64p.; Sandes-Freitas et al, 2021; Pereira; Medeiros; Bertholini, 2020.)

O segundo cluster mais importante (classe 3), com 33,7% das atividades, traz várias palavras relativas ao estado do Paraná, como “paraná”, “paranaense”, “curitiba”, “cascavel”, o que apenas ressalta o quanto o governador paranaense, Ratinho Junior, centralizou a pauta em seu estado, quando comparado ao grupo de governadores bolsonaristas. No entanto, novamente ressalta-se que, apesar de se tratar de um governador bastante fiel a Bolsonaro, nas redes sociais de Ratinho Jr. a palavra “Bolsonaro” não se destaca. Ou seja, quando chega o momento da campanha de fato, o apoio a Bolsonaro se dissipa nos discursos no Twitter.

O terceiro cluster mais importante (classe 2), e que contém 31,2% das atividades, reúne palavras semelhantes ao que se viu no terceiro cluster mais importante dos governadores não bolsonaristas (Dendograma 1 - cluster violeta). Algumas palavras centrais são “junto”, “votar”, “apoio”, “amigo”, “unido”, “paz” e “povo. Esse grupo de palavras parece ser um indicativo de tentar fazer um discurso diretamente relacionado ao eleitor e com o objetivo de pleitear seu voto.

A partir das análises acima foi possível entender que governadores fizeram, em suas campanhas políticas, a política mainstream. Ou seja, evitaram o alinhamento aos atores presidenciais polarizadores para não terem que enfrentar desgaste eleitoral e dedicaram-se a falar, em grande medida, de políticas públicas. Esse panorama pode significar que, apesar da polarização exacerbada na disputa nacional, no âmbito dos governos de estado o que se viu foi um arrefecimento da polarização afetiva nos discursos proferidos no Twitter.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscando compreender como os governadores estaduais se posicionaram na disputa eleitoral regional em consonância com os alinhamentos na disputa eleitoral nacional, este artigo analisou todas as publicações realizadas no Twitter durante a campanha eleitoral de primeiro turno pelos governadores brasileiros em 2022.

A importância da análise tem a ver com a intensidade das tensões, e até mesmo rivalidade que exacerbou para o campo da violência, que circundaram as candidaturas dos principais candidatos à presidência: Jair Messias Bolsonaro (PL) que tentava a reeleição e Luiz Inácio Lula da Silva, representando o PT. Esta eleição tem especificidades importantes, como a primeira na atual experiência democrática brasileira onde um incumbente não se reelege à presidência e também, onde um ex-presidente disputa as eleições com o então atual presidente. Além disso, as eleições gerais anteriores, no ano 2018 foram marcadas pelos discursos anti-política, pela polarização e pela eleição de candidaturas antissistema.

O principal achado foi que a polarização política, surpreendentemente, não ocupou um espaço central nas postagens realizadas via Twitter pelos governadores durante as eleições de 2022. Ou seja, a hipótese de que a crescente polarização política possa ser um fator de impacto nos discursos políticos por parte dos candidatos não se mostra efetiva na nossa análise. E uma das justificativas para isso pode ser a própria polarização. Ao observar o resultado eleitoral do primeiro turno para presidente, cuja diferença de votos válidos entre os 2 candidatos mais votados foi inferior a 6% e que os demais candidatos juntos somaram menos de 9%, é possível considerar que o não posicionamento político aberto por parte dos próprios governadores como um mecanismo de proteção.

O que se viu foi uma reacomodação das elites dos estados e um distanciamento dos polos causadores de tensões políticas, Bolsonaro e Lula. A estratégia de não se envolver discursivamente no Twitter com debates que menciona os presidenciáveis, evidencia que, apesar de, no nível nacional, haver grandes fricções, no nível sub-nacional das eleições de 2022, o esforço foi contrário, governadores se esforçaram para voltar o debate à normalidade política. Ademais, 18 governadores disputaram à reeleição, o que em certo sentido, fornece vantagens comparativas na disputa eleitoral (Codato, Cervi, Perissinotto 2013) e permite aos incumbentes evitarem polemizar temas.

A despeito dos achados do presente artigo fornecerem evidências de que, no contexto para a disputa eleitoral para os governos estaduais, a priorização de discursos que ressaltam políticas públicas e que se direcionam diretamente aos eleitores podem ser um indício de arrefecimento da polarização afetiva. Contudo, não podemos fazer maiores generalizações, uma vez que a análise centrou-se apenas nos discursos proferidos no twitter, portanto, não considerando outras plataformas de mídias digitais e nem mesmo outras mídias. Além disso, é necessário um acúmulo de observações das próximas eleições para verificar a sedimentação da elite política que parece estar se acomodando em torno da polarização entre a centro-esquerda e a extrema direita. Outros estudos também devem considerar as preferências do eleitorado diante desta polarização. Sequer é possível afirmar se esta polarização continuará a estruturar a competição pela Presidência da República em 2026.

Acreditamos que a continuidade ou não de uma dinâmica centrífuga das disputas eleitorais, sobretudo para o cargo de presidente, alicerçada na polarização afetiva poderão definir o futuro da democracia no Brasil. Pesquisas futuras poderão indicar se esta polarização se calcifica (Nunes, Traumann, 2023) ou irá se arrefecer.

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  • WOLINETZ, S. B. Classifying Party Systems: Where Have All the Typologies Gone? Winnipeg: Memorial University of Newfoundland, 2004.
  • 1
    De acordo com pesquisas Datafolha feitas em setembro de 2018, logo depois do indeferimento da candidatura de Luís Inácio Lula da Silva, Fernando Haddad era o candidato à presidência da república menos conhecido pelo eleitorado entre os mais bem colocados na disputa (eram eles Ciro Gomes, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin, Jair Bolsonaro, Marina Silva). Fonte https://datafolha.folha.uol.com.br/eleicoes/2018/09/1981890-cresce-conhecimento-sobre-haddad.shtml#:~:text=Apesar%20da%20alta%20na%20taxa%20de%20conhecimento%2C%20Haddad,de%20ouvi%20falar%20e%208%25%20n%C3%A3o%20a%20conhecem. Acesso em 20 de outubro de 2023.
  • 2
    Entre 1994 e 2014 o PT e PSDB receberam 81% dos votos válidos nas eleições presidenciais (MELO, 2022MELO, C. R. Nau sem rumo? O sistema partidário brasileiro pós-democratização. Revista USP, [S. l.], n. 134, p. 75-90, 2022. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.i134p75-90. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/202416. Acesso em: 14 jun. 2023.
    https://www.revistas.usp.br/revusp/artic...
    ).
  • 3
    Em 2007 o PFL altera seu nome para Democratas (DEM).
  • 4
    Entre 1994 e 2014 o PSB governou os estados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Rio Grande do Norte e Ceará. (MELO, 2022MELO, C. R. Nau sem rumo? O sistema partidário brasileiro pós-democratização. Revista USP, [S. l.], n. 134, p. 75-90, 2022. DOI: 10.11606/issn.2316-9036.i134p75-90. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/revusp/article/view/202416. Acesso em: 14 jun. 2023.
    https://www.revistas.usp.br/revusp/artic...
    ).
  • 5
    Posteriormente o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a incompetência e a imparcialidade do Juiz Sérgio Moro na condução dos trabalhos da Lava-Jato, o que resultou na nulidade dos processos contra o ex-presidente Lula (PT) que ficou preso por 580 dias.
  • 6
    Em 2006 o PL mudou seu nome para PR.
  • 7
    Entre 2019 e 2021, Bolsonaro tentou criar um partido em torno de si. Contudo, não conseguiu o número de assinaturas necessárias para criar o Aliança pelo Brasil.
  • 8
    Partidos aos quais Bolsonaro já foi filiado: PDC (1988-1993); PP (1993); PPR (1993-1995); PPB (1995-2003); PTB (2003-2004); PFL (2004-2005); PP (2005-2016) e; PSC (2016-2018)
  • 9
    Sequer é possível garantir que Bolsonaro seja o candidato da extrema direita nas eleições de 2026, uma vez que existem processos na Justiça Eleitoral que podem torná-lo inelegível nos próximos 8 anos.
  • 10
    O Carlismo advém do nome do importante político baiano Antônio Carlos Magalhães (1927-2007) que exerceu diversos cargos políticos da República com destaque para os cargos de Governador da Bahia e de Senador Federal. O Carlismo pode ser entendido, segundo Dantas (2003DANTAS, Fábio. "Surf" nas ondas do tempo: do carlismo histórico ao carlismo pós-carlista. Caderno CRH, Salvador, n. 39, 2003. p. 213-255, pág 213) como “uma política baiano-nacional nascida de aspirações modernizantes de uma elite regional, nos marcos da chamada revolução passiva brasileira e na perspectiva de um autoritarismo instrumental. Adota, como diretriz, simultânea atuação na política institucional, na estrutura da administração pública e na interface destas com o mercado e, como estratégia, a sustentação regional da ordem social competitiva, ligando-se, pragmaticamente, ao campo político liberal”. Há ainda elementos de transmissão de herança política relacionada a transferência de capital político entre familiares e correligionários.
  • 11
    Adiante no artigo os apoios partidários conferidos aos candidatos presidenciais no segundo turno serão melhor explorados.
  • 12
    Leite havia renunciado ao mandato de governador em março de 2022 com pretensões de se lançar candidato à Presidência da República pelo PSDB.
  • 13
    Segundo dados do portal Statista, as mídias sociais mais usadas no Brasil no 3º trimestre de 2022 pelas audiências online foram Whatsapp (93,4%), Instagram (89,8%), Facebook (86,8%), Tiktok (65,9%) Facebook Messenger (65,1%). Telegram (59%), Kwai (55,8%), Twitter (47,7%), Pinterest (46,4%), Linkedin (36,5%). Link: https://www.statista.com/statistics/1307747/social-networks-penetration-brazil/ Acesso em 12 de junho de 2023
  • 14
    Agradecemos ao bolsista de iniciação científica FAPESB/Univasf, Victor Matheus de Araújo, pela consolidação do banco de dados.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    07 Jul 2023
  • Aceito
    03 Dez 2023
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