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Por que o escore Sequential Organ Failure Assessment precisa ser atualizado?

O escore Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) foi desenvolvido há quase 30 anos. Rapidamente, tornou-se um dos sistemas de pontuação mais utilizados em terapia intensiva, tanto para a prática clínica quanto para a pesquisa,(11 Vincent JL, Moreno R, Takala J, Willatts S, De Mendonca A, Bruining H, et al. T. On behalf of the Working Group on Sepsis-Related Problems of the European Society of Intensive Care Medicine. Intensive Care Med. 1996;22(7):707-10.,22 Moreno R, Vincent JL, Matos R, Mendonça A, Cantraine F, Thijs L, et al. The use of maximum SOFA score to quantify organ dysfunction/failure in intensive care. Results of a prospective, multicentre study. Working Group on Sepsis related Problems of the ESICM. Intensive Care Med. 1999;25(7):686-96.) e continua sendo uma das pontuações mais citadas em nossa especialidade. Desde sua descrição original, houve mudanças substanciais na prática clínica que atualmente o SOFA precisa abordar. O manejo clínico mudou e foram introduzidos novos medicamentos e dispositivos. Há uma ênfase maior no suporte não invasivo, como a ventilação não invasiva e o oxigênio nasal de alto fluxo; uma escolha mais ampla de medicamentos cardiovasculares; e mais uso de técnicas extracorpóreas, como a terapia de substituição renal e a oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO). Por esses motivos, decidimos atualizar a pontuação e torná-la mais adequada para uso com estratégias de manejo atuais, novos medicamentos e dispositivos.(33 Moreno R, Rhodes A, Piquilloud L, Hernandez G, Takala J, Gershengorn HB, et al. The Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) Score: has the time come for an update? Crit Care. 2023;27(1):15.)

A pontuação foi desenvolvida para ser fácil de usar e precisava atender a vários princípios orientadores:(11 Vincent JL, Moreno R, Takala J, Willatts S, De Mendonca A, Bruining H, et al. T. On behalf of the Working Group on Sepsis-Related Problems of the European Society of Intensive Care Medicine. Intensive Care Med. 1996;22(7):707-10.)

  1. Deve ser um descritor de disfunção de órgãos individuais e não um preditor do estado vital na alta hospitalar para grupos heterogêneos de pacientes para os quais existem outras pontuações (por exemplo, Acute Physiology and Chronic Health Evaluation [APACHE] e Simplified Acute Physiology Score [SAPS]). As pontuações de cada sistema de órgãos não têm a intenção de refletir o risco de mortalidade comparável em outros sistemas.

  2. Reconhecer que a disfunção/insuficiência orgânica é um processo, não um evento, não devendo ser considerada simplesmente "presente" ou "ausente", mas um contínuo; a pontuação deve caracterizar a piora da disfunção orgânica.

  3. A pontuação total deve incluir subescores de diferentes órgãos para permitir a avaliação de cada órgão individualmente.

  4. As variáveis devem ser obtidas de forma rápida e rotineira em todas as instituições.

  5. O número de variáveis deve ser mantido baixo, tornando o cálculo o mais simples possível e incentivando a pontuação diária para monitorar trajetórias e descrever o curso temporal da doença no paciente.

Para essa atualização do escore SOFA, os princípios acima serão mantidos, e será acrescentado um novo conjunto de princípios:

  1. A metodologia empregada para atualizar a pontuação SOFA deve refletir as práticas mais modernas, incluindo o processo Delphi, revisões sistemáticas e validação externa em relação a vários registros e bancos de dados de países desenvolvidos e de baixa e média renda.

  2. Será considerada a inclusão de dois novos órgãos/sistemas à pontuação: os sistemas imunitário e digestório.

  3. As variáveis escolhidas devem se aplicar a todos os países, independentemente das variações na disponibilidade e no uso de medicamentos e dispositivos. Cada grupo de trabalho deve incluir pelo menos um membro de um país de baixa e média renda.

  4. A pontuação deve ser desenvolvida para ser prontamente calculada com base em prontuários eletrônicos de saúde e prontuários impressos.

Algumas variáveis da pontuação SOFA original podem ser mantidas se ainda representarem os indicadores de função mais prontamente disponíveis e confiáveis daquele órgão/sistema. Por outro lado, outras exigirão uma revisão significativa para refletir as práticas atuais de manejo.

Atualmente, 60 intensivistas em todo o mundo estão envolvidos no desenvolvimento da pontuação SOFA-2, incluindo aqueles com conhecimento especializado em metodologia, revisões sistemáticas e análises de bancos de dados. Pretendemos lançar uma versão preliminar em março de 2024 e uma versão final no outono do mesmo ano. Portanto, incentivamos fortemente estudos prospectivos que incluam mais validação externa e a inclusão do SOFA-2 em outras atividades epidemiológicas e de pesquisa.

REFERENCES

  • 1
    Vincent JL, Moreno R, Takala J, Willatts S, De Mendonca A, Bruining H, et al. T. On behalf of the Working Group on Sepsis-Related Problems of the European Society of Intensive Care Medicine. Intensive Care Med. 1996;22(7):707-10.
  • 2
    Moreno R, Vincent JL, Matos R, Mendonça A, Cantraine F, Thijs L, et al. The use of maximum SOFA score to quantify organ dysfunction/failure in intensive care. Results of a prospective, multicentre study. Working Group on Sepsis related Problems of the ESICM. Intensive Care Med. 1999;25(7):686-96.
  • 3
    Moreno R, Rhodes A, Piquilloud L, Hernandez G, Takala J, Gershengorn HB, et al. The Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) Score: has the time come for an update? Crit Care. 2023;27(1):15.

Editado por

Editor responsável: Jorge Ibrain Figueira Salluh

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    08 Abr 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    10 Dez 2023
  • Aceito
    13 Dez 2023
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