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Resposta para: Associação entre área de secção transversa do reto femoral e excursão diafragmática com o desmame de pacientes com traqueostomia na unidade de terapia intensiva

Prezado editor,

Agradecemos a crítica interessante e atenciosa fornecida por Finsterer et al. na carta ao editor sobre nosso artigo intitulado "Associação entre área de secção transversa do reto femoral e excursão diafragmática com o desmame de pacientes com traqueostomia na unidade de terapia intensiva".(11 Vieira FN, Bertazzo RB, Nascimento GC, Anderle M, Coelho AC, Chaise FO, et al. Association between rectus femoris cross-sectional area and diaphragmatic excursion with weaning of tracheostomized patients in the intensive care unit. Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(4):452-60.) Gostaríamos de abordar as preocupações levantadas e fornecer esclarecimentos adicionais sobre determinados aspectos de nosso estudo.

Vale ressaltar que existem questões conceituais inerentes à realização de um estudo clínico observacional. Nossa coorte é uma amostra representativa de pacientes graves submetidos a desmame prolongado da ventilação mecânica, de acordo com as melhores práticas nesse campo. Nesses pacientes, o sucesso do desmame ventilatório depende de diversas variáveis, inclusive da função diafragmática. Além disso, nossos resultados sugerem haver uma associação entre a área muscular periférica e o sucesso do desmame ventilatório. Nenhum modelo existente na literatura pode prever adequadamente a probabilidade de um paciente evoluir para a necessidade de ventilação prolongada(22 Clark PA, Lettieri CJ. Clinical model for predicting prolonged mechanical ventilation. J Crit Care. 2013;28(5):880.e1-7.) devido à variabilidade clínica e fisiopatológica que contribui para essa condição clínica.

Reconhecemos que vários fatores influenciam a área da secção transversa do reto femoral e a excursão diafragmática, o que representa um desafio para a padronização dessas medidas. Por outro lado, a adaptabilidade dessas variáveis em resposta a condições clínicas específicas leva a considerar se elas podem efetivamente funcionar como indicadores de desfecho nessa população. Considerando as possíveis variáveis de confusão que afetam o desfecho (sucesso ventilatório) postulado por Finsterer et al., muitas das quais são difíceis de medir na prática clínica, realizamos uma análise multivariada usando regressão logística para avaliar a associação entre as medidas e o desfecho. A análise multivariada pode mostrar qual dos vários fatores que estão sendo avaliados está mais fortemente associado a um desfecho e fornece uma medida da magnitude da influência potencial.(33 Tolles J, Meurer WJ. Logistic regression: relating patient characteristics to outcomes. JAMA. 2016;316(5):533-4.) Ela também tem a capacidade de "ajustar" os fatores de confusão, ou seja, fatores que estão associados a outras variáveis preditoras e ao desfecho, de modo que a medida da influência do preditor de interesse não seja distorcida pelo efeito do fator de confusão.(33 Tolles J, Meurer WJ. Logistic regression: relating patient characteristics to outcomes. JAMA. 2016;316(5):533-4.) Um artigo publicado anteriormente nesta revista fornece recomendações importantes sobre a leitura crítica de estudos de coorte.(44 Suzumura EA, Oliveira JB, Buehler AM, Carballo M, Berwanger O. [How to critically assess intensive care cohort studies?]. Rev Bras Ter Intensiva. 2008;20(1):93-8.)

Reconhecemos que nosso estudo é limitado por seu desenho unicêntrico. No entanto, é importante observar que a maioria dos estudos nesse campo são unicêntricos(55 Hadda V, Kumar R, Khilnani GC, Kalaivani M, Madan K, Tiwari P, et al. Trends of loss of peripheral muscle thickness on ultrasonography and its relationship with outcomes among patients with sepsis. J Intensive Care. 2018;6:81.) ou, no máximo, estudou populações de alguns centros.(66 Puthucheary ZA, Rawal J, McPhail M, Connolly B, Ratnayake G, Chan P, et al. Acute skeletal muscle wasting in critical illness. JAMA. 2013;310(15):1591-600.) Nosso estudo concentrou-se em uma população muito específica, mas clinicamente relevante (pacientes críticos crônicos ventilados por traqueostomia), o que justifica a abordagem unicêntrica que é comumente adotada nessa área. Essa é uma área de pesquisa ainda bastante promissora, com várias lacunas a serem abordadas em novos estudos. Estudos colaborativos nessa área são necessários e bem-vindos.

REFERENCES

  • 1
    Vieira FN, Bertazzo RB, Nascimento GC, Anderle M, Coelho AC, Chaise FO, et al. Association between rectus femoris cross-sectional area and diaphragmatic excursion with weaning of tracheostomized patients in the intensive care unit. Rev Bras Ter Intensiva. 2022;34(4):452-60.
  • 2
    Clark PA, Lettieri CJ. Clinical model for predicting prolonged mechanical ventilation. J Crit Care. 2013;28(5):880.e1-7.
  • 3
    Tolles J, Meurer WJ. Logistic regression: relating patient characteristics to outcomes. JAMA. 2016;316(5):533-4.
  • 4
    Suzumura EA, Oliveira JB, Buehler AM, Carballo M, Berwanger O. [How to critically assess intensive care cohort studies?]. Rev Bras Ter Intensiva. 2008;20(1):93-8.
  • 5
    Hadda V, Kumar R, Khilnani GC, Kalaivani M, Madan K, Tiwari P, et al. Trends of loss of peripheral muscle thickness on ultrasonography and its relationship with outcomes among patients with sepsis. J Intensive Care. 2018;6:81.
  • 6
    Puthucheary ZA, Rawal J, McPhail M, Connolly B, Ratnayake G, Chan P, et al. Acute skeletal muscle wasting in critical illness. JAMA. 2013;310(15):1591-600.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    01 Jan 2024
  • Aceito
    19 Jan 2024
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