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Para: Abordagem de cuidados neurocríticos apoiada por monitorização cerebral multimodal após lesão cerebral aguda

Ao Editor

Lemos com interesse o estudo retrospectivo e unicêntrico de Monteiro et al. sobre os desfechos e a mortalidade de 389 pacientes com traumatismo craniencefálico (TCE) ou hemorragia subaracnóidea (HSA) de acordo com o nível de monitoramento cerebral (padrão, avançado) em uma unidade de cuidados neurocríticos (UCN, Grupo 1) e uma unidade de terapia intensiva (UTI) geral (UTI geral, Grupo 2).( 11 Monteiro E, Ferreira A, Mendes ER, Silva SR, Maia I, Dias CC, et al. Neurocritical care management supported by multimodal brain monitoring after acute brain injury. Crit Care Sci. 2023;35(2):196-202. )A gravidade da doença foi avaliada na admissão ao serviço de emergência utilizando o instrumento Simplified Acute Physiology Score II (SAPS II).( 11 Monteiro E, Ferreira A, Mendes ER, Silva SR, Maia I, Dias CC, et al. Neurocritical care management supported by multimodal brain monitoring after acute brain injury. Crit Care Sci. 2023;35(2):196-202. )O monitoramento cerebral multimodal avançado com autorregulação e abordagem na UCN foi associado a melhores desfechos em relação ao monitoramento cerebral padrão na UTI geral.( 11 Monteiro E, Ferreira A, Mendes ER, Silva SR, Maia I, Dias CC, et al. Neurocritical care management supported by multimodal brain monitoring after acute brain injury. Crit Care Sci. 2023;35(2):196-202. )O estudo é impressionante, mas alguns pontos precisam ser discutidos.

A maior limitação do estudo é que fatores além do nível de monitoramento e tipo de UTI não foram adequadamente incluídos na avaliação. Os desfechos de TCE e HSA dependem não apenas do tipo e da qualidade do monitoramento cerebral na UTI, mas de diversos outros fatores de influência. Alguns desses fatores incluem o tipo e a gravidade de TCE e HSA, o tratamento para TCE e HSA, as comorbidades, a comedicação, o histórico familiar e a genética. Além disso, em pacientes com HSA, é necessário esclarecer se a hemorragia é aneurismática ou não aneurismática. Em caso de aneurisma, é importante saber se foi embolizado ou ressecado. O desfecho da HSA também pode depender do escore inicial de Hunt-Hess e se há sangue dentro dos ventrículos, bem como da idade, de comorbidades, da localização do aneurisma, da presença de vasoespasmos, da presença ou ausência de acidente vascular cerebral e dos medicamentos em uso. Nos casos de TCE, o desfecho pode depender bastante se o paciente foi submetido à cirurgia ou não. O escore SAPS II pode não ser suficiente para avaliar a gravidade do TCE ou da HSA.

A segunda limitação é que o número de pacientes com TCE e HSA no Grupo 1 e no Grupo 2 não foi especificado.( 11 Monteiro E, Ferreira A, Mendes ER, Silva SR, Maia I, Dias CC, et al. Neurocritical care management supported by multimodal brain monitoring after acute brain injury. Crit Care Sci. 2023;35(2):196-202. )Saber a proporção de TCE e HSA em cada um desses grupos é crucial, pois o desfecho de cada um pode variar significativamente, assim como o tipo de monitoramento. Portanto, a proporção dos dois em cada grupo pode influenciar os resultados.

A terceira limitação é que o escore de Hunt-Hess não foi relatado para indivíduos com HSA.( 11 Monteiro E, Ferreira A, Mendes ER, Silva SR, Maia I, Dias CC, et al. Neurocritical care management supported by multimodal brain monitoring after acute brain injury. Crit Care Sci. 2023;35(2):196-202. )Essa informação é crucial, pois avalia a gravidade da HSA de forma mais acurada do que a escala de coma de Glasgow (ECG).

A quarta limitação é que pacientes da UTI geral tiveram pontuação média significativamente menor na ECG e pontuação significativamente maior no SAPS II na admissão do que pacientes da UCN. Por isso, não se pode descartar que a obtenção de melhores desfechos em pacientes da UCN foi influenciada por esse viés de seleção inicial e não estava relacionada ao tipo e nem à qualidade do monitoramento cerebral. Essa possibilidade deve ser discutida. Além disso, pacientes da UCN que receberam monitoramento padronizado e pacientes de UCN que receberem monitoramento avançado também apresentaram pontuação menor na ECG.

A quinta limitação é que não há discussão sobre os efeitos colaterais do monitoramento invasivo. Quanto mais invasivo for o monitoramento cerebral, maior será a probabilidade de efeitos colaterais, como infecção, deslocamento de sonda, necessidade de reimplante ou falha nos registros de eletroencefalograma.

Em resumo, esse estudo tem limitações que colocam os resultados e suas interpretações em questão. Abordar esses problemas reforçaria as conclusões e melhoraria a qualidade do estudo. Antes de concluir que o monitoramento cerebral avançado na UCN melhora os desfechos e a mortalidade em pacientes com TCE e HSA, as coortes comparadas devem ser homogeneizadas em relação à gravidade inicial da doença e a outros fatores que influenciam os desfechos.

  • Declaração de ética
    O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em 4 de novembro de 2022. O consentimento informado foi obtido para publicação dos dados médicos e das imagens dos casos médicos.

REFERENCES

  • 1
    Monteiro E, Ferreira A, Mendes ER, Silva SR, Maia I, Dias CC, et al. Neurocritical care management supported by multimodal brain monitoring after acute brain injury. Crit Care Sci. 2023;35(2):196-202.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    22 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    14 Nov 2023
  • Aceito
    18 Nov 2023
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