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Relatório de conferência

Conference report

(Conference Report) XXVII Congresso da Associação Latino-Americana de Fabricantes de Refratários (ALAFAR), Lima, Peru, Nov. de 1998

O Congresso da ALAFAR, realizado em Lima, Peru no período de 15 a 18 de Novembro de 1998, contou com a presença de aproximadamente 300 participantes, envolvendo delegações de 22 países (Argentina, Austrália, Áustria, Brasil, Chile, Colômbia, Inglaterra, Espanha, França, Alemanha, Grécia, Guatemala, Guiana, Irlanda, México, Peru, Porto Rico, República Dominicana, Estados Unidos, Uruguai e Venezuela).

Surpreendeu positivamente o grande número de participantes nas apresentações técnicas. Em média cada palestra contava com a presença de 150 pessoas, ocupando aproximadamente 80 a 90% do auditório. Considerando que a função ocupacional dos participantes envolve cargos de gerência, diretoria, superintendência e presidência das empresas, ressaltou a avidez por informações, novidades, nichos, além obviamente do interesse em novos negócios.

As palestras geralmente foram de um bom nível, destacando-se aquelas abordando tendência de produtos e do mercado. Claramente, a grande busca era de uma luz no fim do túnel nesta era de incertezas, face a realidade atual. O preço do aço, que em 1997 era de US$270/ton, caiu para o valor de US$140/ton em Novembro de 1998. O Japão reduziu sua produção anual de aço em 26 milhões de toneladas, o que eqüivale a do Brasil em 1998. Espera-se para 1999 uma redução média de 4% na demanda por refratários nos diversos segmentos envolvendo siderúrgicas, indústrias de vidro, cimento, não-ferrosos e petroquímica. Apesar deste quadro dantesco, as causas são claras e não apenas associada a crise econômica global.

Durante estes últimos 20 anos o consumo específico de refratários em siderúrgicas foi reduzido de 30 Kg/ton de aço produzido para 11 Kg/ton de aço. Isto se deve principalmente à melhoria na qualidade dos refratários, novos produtos, alterações nos processos produtivos siderúrgicos, melhorias nos programas de manutenção e aplicação de refratários e na competitividade global.

Falsa interpretação daqueles de outras áreas da cerâmica e vidro que, visualizando a crise que o setor de siderurgia e, consequentemente o de refratários, enfrentam, consideram-se isentos deste maremoto. Este processo começou nos anos 70 na indústria siderúrgica e não é reflexo da crise da bolsa de 1998. Cabe ressaltar que as indústrias siderúrgica e de refratários do Brasil são, respectivamente, o 7o e o 5o maiores produtores mundial. Os centros de pesquisas das siderúrgicas e de algumas indústrias de refratários são os melhores do Brasil em sua área, não ficando nada a dever para as Universidades e, muito menos, para os laboratórios das indústrias nos outros setores cerâmicos. As indústrias siderúrgicas e de refratários são as que mais investiram na educação continuada, incentivando seus pesquisadores a participar de cursos de especialização, mestrado e doutorado. O consumo específico de refratários no Brasil é próximo ao do Japão, e a qualidade do aço e dos refratários são "world class". A onda vem vindo, aqueles que tem olhos, abram e vejam. Se no setor cerâmico, que possui a maior competência e competitividade para enfrentar a crise global, este é o quadro, imagine o que vai acontecer com aqueles que agora começaram a pensar em qualidade. Embora nunca seja tarde, infelizmente vemos muitos pesquisadores e indústrias para os quais predomina o efeito avestruz: põe a cabeça em um buraco e pensam que o mundo é aquilo que querem ver.

Embora o quadro seja assustador, os refrataristas, nesta que é considerada a segunda mais importante reunião na área de refratários no mundo, não estão pessimistas. Sabem o que deve ser feito e que fizeram boa parte da lição de casa no tempo devido.

Algumas considerações gerais estratégicas apresentadas são um verdadeiro paliativo a todos os enfermos:

1. Para enfrentar a globalização precisa-se de pessoas melhor preparadas e habilitadas. Caminho só alcançado com uma melhor educação.

2. Sempre mantenha em mente que é necessário crescer para sobreviver. Caso contrário, você pode não perceber que está, na verdade, morrendo.

3. Mova-se rapidamente e decisivamente para novas matérias-primas, processos de fabricação, pesquisa e projetos de marketing. Após cuidadosa análise, vá em frente e esteja preparado para assumir riscos.

4. Procure nichos de mercado em que possa se especializar.

5. Não se desencoraje pelos vales nos ciclos mundiais e locais na economia. Isto sempre aconteceu e não tem nada a ver com um sensível planejamento e plano de ação a longo prazo. Freqüentemente, a época mais adequada para agir é quando estamos no fundo do poço. Sempre me recordo do que diz o Prof. e Engo Renato Travassos, da Magnesita: "A economia é a ciência com a qual ou sem a qual o mundo é tal e qual".

6. Finalmente, como disse o experiente W. McCracken da F&S International Incorporated: "Sempre tenha em mente aquele empreendedor marítimo chamado Noé, o qual sob difíceis circunstâncias há muito tempo atrás foi o único que teve a inteligência, o bom senso e a coragem de manter sua empresa flutuando enquanto todos os outros sumiram pelo ralo."

Esses pontos, embora simples e sem muita novidade para nossos olhos e ouvidos, não foram mencionados por gurus teóricos desta nova era, presentes neste congresso, mas por pessoas que vivenciam, lutam, reagem, vencem, perdem, reajustam e mantém suas empresas flutuando.

Prof. Dr. Victor Carlos Pandolfelli

Membro do Conselho Editorial da revista Cerâmica

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Jun 2000
  • Data do Fascículo
    Fev 1999
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