Resumo
No presente artigo teórico-empírico, busca-se contribuir para os Estudos Organizacionais trazendo para o debate os movimentos sociais, em especial o movimento agroecológico, que tem se constituído como meio de resistência à hegemonia do agronegócio no Brasil. O estudo estabelece também uma “ponte” teórico-empírica não convencional, neste campo disciplinar, entre estudos em estética e abordagem neogramsciana de discurso em Laclau e Mouffe. Desse modo, à luz dos conceitos de estética e da análise neogramsciana de discurso em hegemonia e antagonismo, investigou-se de que forma as expressões estéticas influenciam a construção da contra-hegemonia no movimento agroecológico brasileiro. A pesquisa adota uma metodologia com enfoque qualitativo na análise de desenhos produzidos por agricultores e agricultoras no III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA), denominados de Painéis de Facilitação Gráfica. Ao final, é possível observar que a estética dos painéis do III ENA permitiu aos agricultores e agricultoras a (re)construção de suas visões de mundo, a divulgação de suas inquietações, realidades e alternativas agrícolas locais, e, principalmente, a orientação de práticas, propostas e legitimação do movimento, que passaram a ser centrais aos valores contra-hegemônicos e na construção de um inimigo comum. A complexidade expressa nas relações construídas nos painéis também ressaltou que a estética pode trazer uma perspectiva efetiva, acessível e sensível na construção das visões de mundo de grupos subalternos. Dessa forma, o movimento agroecológico brasileiro, construído também na perspectiva estética, revela-se como importante ator na resistência à hegemonia do agronegócio e ao modelo capitalista.
Palavras-chave: Movimento Agroecológico; Estética; Discurso; Identidade; Resistência
Resumen
En este trabajo teórico-empírico se intenta contribuir a los estudios organizacionales trayendo a debate los movimientos sociales, especialmente el movimiento agroecológico, que se ha constituido como medio de resistencia a la hegemonía de la agroindustria en Brasil Además, el estudio establece un puente teórico-empírico no convencional entre los estudios de estética y el enfoque neogramsciano del discurso en Laclau y Mouffe. En este contexto, a la luz de los conceptos de la estética y del análisis neogramsciano de la hegemonía del discurso y el antagonismo, se investigó cómo las expresiones estéticas influyen en la construcción de la contrahegemonía en el movimiento brasileño agroecológico. La investigación adopta una metodología con enfoque cualitativo en el análisis de los diseños producidos por agricultores y agricultoras en el III Encuentro Nacional de Agroecología (III ENA), denominados Paneles de Facilitación Gráfica. Al final, llegamos a la conclusión de que la estética de los paneles del III ENA permitió a los agricultores y agricultoras la (re) construcción de su visión de mundo, la divulgación de sus preocupaciones, realidades y alternativas agrícolas locales y, especialmente, la orientación de prácticas, propuestas y legitimación del movimiento que se convirtieron en el centro de los valores contrahegemónicos y la construcción de un enemigo común. La complejidad expresada en las relaciones construidas en los paneles también resaltó que la estética puede aportar perspectivas eficaces, asequibles y sensibles en la construcción de visiones de mundo de los grupos subalternos. Por lo tanto, el movimiento agroecológico de Brasil, también construido en la perspectiva estética, se revela como una importante resistencia a la hegemonía de la agroindustria y al modelo capitalista.
Palabras clave: Movimiento Agroecológico; Estética; Discurso; Identidad; Resistencia
Abstract
This theoretical and empirical article contributes to Organizational Studies by debating social movements, especially the agroecological movement, which has been established as a resistance to the hegemony of agribusiness in Brazil. In addition, the study provides a non-conventional theoretical and empirical “bridge” in this field, including studies in aesthetics and the Neo-Gramscian theory of discourse developed by Laclau and Mouffe. In this context, considering the concepts of aesthetics and a Neo-Gramscian discourse analysis on hegemony and antagonism, the aim of this article is to investigate how the aesthetic expressions influence the Brazilian agroecological movement in building a counter-hegemony in the country’s agriculture practices. The research adopts a qualitative methodological approach from the analysis of drawings produced by farmers in the III National Meeting of Agroecology (III ENA), in graphic facilitation panels. It is possible to observe that the aesthetics in the panels of the III ENA allowed farmers to re-design their worldviews, to disclose their concerns, realities and local agricultural alternatives. The panels helped to provide practical guidance, design proposals and build legitimacy for the movement, elements that became central to the counter-hegemonic values and to build the common enemy. The complexity expressed in the relationships built in the panels also stressed that aesthetics can bring an effective, affordable and sensitive perspective in the construction of worldviews of subaltern groups. Thus, the Brazilian agroecological movement, also built through the aesthetic perspective, is revealed as an important resistance to the hegemony of agribusiness and the capitalist model..
Keywords: Agroecological Movement; Aesthetics; Discourse; Identity; Resistance
“Um “filósofo”, um artista, um homem de gosto, participa de uma concepção do mundo, possui uma linha consciente de conduta moral, contribui assim para manter ou para modificar uma concepção do mundo, isso é, para promover novas maneiras de pensar.” (GRAMSCI, 1982, p. 7)
Introdução
Este estudo origina-se de uma inquietação das autoras em relação à análise sobre formas de resistência construídas pelos movimentos sociais contra a hegemonia vigente na agricultura brasileira. Desse modo, o artigo se volta para a manifestação estética como elemento constituinte do movimento agroecológico, que coloca agricultores e agricultoras na posição de ‘artistas’ diante de suas realidades, dos seus conflitos e contradições da vida. Emerge, então, a preocupação em compreender dimensões organizacionais que englobam elementos materiais e imateriais (como emoções e sentimentos), voltadas para o entendimento da ação dos sujeitos. Tais ações podem ser expressas por meio de instrumentos alternativos àqueles que têm servido tradicionalmente para construir cultura, conhecimento e poder em nossas sociedades.
Neste artigo, o movimento social da agroecologia no Brasil é tomado como objeto de investigação. O movimento agroecológico emerge no país na década de 80 em oposição ao agronegócio com a disseminação do conhecimento de práticas agrícolas alternativas. Trata-se de uma resposta à crescente preocupação com a deterioração ambiental e a exclusão social de agricultores familiares face à modernização agrícola (NORGAARD, 1984). Para este movimento, a agroecologia como prática agrícola possui um método de cultivo cujo foco está na gestão do agroecossistema e não no uso de insumos externos, o que, por sua vez, cria uma barreira à crescente dependência de tecnologias agrícolas introduzidas na chamada “Revolução Verde” (ROSSET, MACHIN SOSA, ROQUE JAIME et al., 2011; HOLT-GIMENEZ e ALTIERI, 2013). Dessa forma, a agroecologia no país representa um movimento contra-hegemônico, que visa resistir às práticas do agronegócio (hegemonia agrícola do país).
Diante do exposto, a proposta neste artigo é investigar como as expressões estéticas, utilizadas como metodologia de mobilização e produção de conhecimento, influenciam na construção de uma contra-hegemonia agrícola pelo movimento agroecológico brasileiro.
Como marco teórico que servirá de base para as reflexões deste estudo, serão adotadas a abordagem neogramsciana de discurso e as teorias voltadas para a estética e as organizações. Laclau e Mouffe (2001) desenvolveram uma teoria do discurso neogramsciana tendo como base dois conceitos-chave: hegemonia e antagonismo. A hegemonia atua como situação político-social com uma determinada ideia sobre o que é a realidade. Dela fazem parte alianças contingentes de forças que atravessam as esferas do Estado e da economia e se apoiam na sociedade civil como “cimento” para que ela se estabeleça (KLIMECHI e WILLMOTT, 2011). Segundo Misoczky, Flores e Böhm (2008, p. 182), a hegemonia “[...] revela que é impossível a existência de apenas um tipo de organização social [...] e que as sementes de mundos organizacionais diversos estão ao nosso redor”. Já o conceito de antagonismo é também fundamental para esta abordagem de discurso, uma vez que os antagonismos presentes nas relações de poder permanecem mesmo com uma suposta “estabilização” da ordem social. Ou seja, os movimentos sociais se valem de antagonismos (criação de um inimigo comum) como forma de se opor ao discurso hegemônico (LACLAU e MOUFFE, 2001).
No Brasil, a partir do ano 2000, cresce o número de pesquisas teórico-empíricas relacionadas à estética visando à análise das organizações (CSILLAG, 2003; LEAL, 2000; 2002; 2007; LEAL, WOOD e CSILLAG, 2001; XAVIER e CARRIERI, 2014). Strati (1999) aponta a estética como elemento-chave da vida organizacional, considerando-a como uma forma de conhecimento humano que engloba o julgamento estético para avaliar se algo é adequado ou não, prazeroso ou não, ou, ainda, se é indiferente ou nos ‘envolve’.
O autor italiano Gagliardi (1996) aponta três perspectivas com experiência estética na análise organizacional: a) conhecimento sensível, e em oposição ao conhecimento intelectual; b) forma desinteressada de expressão da ação social, sem objetivo instrumental explicitado; e c) forma de comunicação (contrária à conversa ou ao diálogo) que pode expressar sentimentos não explicitados ou codificados nas bases até então conhecidas. Gagliardi (1996) destaca a profunda influência da dimensão estética sobre a organização, assim como a escassez de estudos nesse tema, que decorre da prevalência de métodos analíticos ditos e tidos como precisos e passíveis de mensuração em Estudos Organizacionais (ver BURREL, 1992).
Assim, o presente estudo busca contribuir, tanto teoricamente quanto empiricamente, para este campo disciplinar, estabelecendo uma “ponte” teórico-empírica não convencional entre estética e abordagem neogramsciana de discurso em Laclau e Mouffe (2001). É necessário reforçar que tanto Gramsci quanto Laclau e Mouffe não se propuseram a estudar profundamente a estética. No entanto, os autores argumentam que agência, dinamismo e poder encontram-se integrados e que agência e estrutura são partes de um processo histórico específico na formação de discursos hegemônicos. Desse modo, esse tipo de análise de discurso traz elementos que possibilitam a investigação da estética como ferramenta na construção de um conhecimento/saber “comum”, refletido na identidade do movimento social por meio de um processo de competição contínua de materialidades e estruturas discursivas.
Tal tarefa é evidentemente arriscada por se tratar de fenômeno contemporâneo, em curso. Um risco que talvez seja necessário quando se considera o compromisso das ciências sociais com a construção do conhecimento - que depende da capacidade de interpretar o presente. Além disso, é preciso levar em conta que a compreensão dos fenômenos organizacionais contemporâneos demanda abordagens que sejam capazes de escapar a definições instrumentais (contra a corrente positivista-funcionalista dominante) sobre as organizações e, consequentemente, dos modelos comumente utilizados em suas análises. Faz-se necessário, portanto, “[...] construir teorias que autorizem o novo, que não o mutilem em incomparáveis mapas de conceitos marcados pela tradição dominante [...] uma viagem em que se possa deixar o usual para trás, sem estar certo de onde se vai chegar” (MISOCZKY e AMANTINO-DE-ANDRADE, 2005, p. 230).
Como forma de organizar ideias e análises, este artigo foi estruturado em seis seções. A presente introdução é seguida de tópico que trata da abordagem neogramsciana de discurso e movimento agroecológico. Na terceira seção, são examinadas as possibilidades da abordagem estética na compreensão de organizações, particularmente dos movimentos sociais. A quarta seção traz o desenho metodológico do trabalho; e a quinta, as análises com base nos painéis de facilitação gráfica produzidos por agricultores e agricultoras do movimento agroecológico. Retomando os objetivos e as principais contribuições da pesquisa teórico-empírica para os Estudos Organizacionais, a última seção apresenta as considerações finais do artigo.
Abordagem Neogramsciana e Movimento Agroecológico
Na abordagem neogramsciana de discurso, como previamente ressaltado, agência, dinamismo e poder encontram-se integrados, proporcionando um contínuo dinamismo de diferentes campos de lutas (OTTO e BÖHM, 2006; KLIMECHI e WILLMOTT, 2011). A agricultura, como campo de lutas aqui estudado, é formada por redes de atores (organizações não governamentais - ONGs -, organizações governamentais, agentes estatais, cooperativas de produtores rurais, organizações privadas, movimentos sociais, e outros), materialidade e estruturas discursivas que competem pelos próprios interesses. No âmbito desse campo da agricultura, investigou-se o movimento social da agroecologia como resistência à hegemonia do agronegócio.
As lentes teóricas neogramscianas em Laclau e Mouffe (2001), com raízes no pensamento marxista, assumem a centralidade das lutas que as relações capitalistas de produção geram para a política contemporânea. Ao longo do desenvolvimento de sua teoria, Laclau e Mouffe inspiraram-se e apropriaram-se de conceitos do filósofo marxista Antonio Gramsci. Há muitas críticas a essa apropriação: muitos distinguem as ideias de Laclau e Mouffe da visão de Gramsci (ALCÁNTARA, 2016). Considerados como pós-marxistas - por elaborarem releituras da tradição marxista clássica e questionamentos sobre a adequação destas à sociedade contemporânea -, Laclau e Mouffe têm pontos de aproximação com a abordagem gramsciana: a) duas abordagens privilegiam o momento da articulação política e concebem as relações sociais em torno da disputa pela hegemonia; b) reconhecem que a hegemonia não é exercida sobre toda a sociedade; c) defendem a criação de uma nova hegemonia baseada na aliança dos grupos subalternos (ALVES, 2010).
O principal ponto de ruptura entre tais abordagens, contudo, está no fato de que para Gramsci a hegemonia remete à unidade de todo o bloco histórico1, enquanto para Laclau e Mouffe tal situação é impossível. Gramsci considera possível a instauração do socialismo e de uma sociedade sem classes, em que partido e atividade política desapareceriam; para Laclau e Mouffe, contudo, não há possibilidade de uma reconciliação final, uma vez que o antagonismo é constitutivo do social e representa um caráter aberto e incompleto (ALVES, 2010).
Em uma posição diferente em relação ao marxismo econômico, Laclau e Mouffe se desprendem do pressuposto de que a base material necessariamente define a superestrutura ideológica (ANDRÉE, 2011). Ao contrário, esta abordagem de discurso encoraja estudos voltados para as “relações de força” (material, institucional e discursiva) e suas conexões nos três níveis de atividade política mutuamente constitutiva: a ordem global, a sociedade civil e o Estado (GILL, 1998).
Desse modo, torna-se fundamental a compreensão do conceito de hegemonia, uma vez que representa uma importante referência à obra de Gramsci (1971), segundo a qual, com base em tal conceito torna-se possível a compreensão da revolução socialista no mundo, assim como seu fracasso. Argumenta-se que a hegemonia se refere a uma forma de “poder consentido” que possibilita a identificação de pessoas e suas instituições políticas e sociais, contrastando com formas coercitivas de dominação. Assim sendo, a hegemonia dá-se quando o consentimento é atingido, ou seja, quando o poder torna-se assegurado por meio de um tipo de liderança (ou autoridade) intelectual, moral e política (SPICER e BÖHM, 2007; LEVY, 2008).
Essa hegemonia é incompleta, transitória e historicamente específica, o que possibilita o surgimento de resistências e oposições (GRAMSCI, 1971; LACLAU e MOUFFE, 2001; MORTON, 2000). Mittelman (2000, p. 184) destaca que: “Diferentes contextos históricos irão produzir diferentes formas de hegemonia com um conjunto diferente de atores”. Portanto os conceitos de discurso e poder estão intimamente relacionados com o conceito de resistência em estudos neogramscianos. A resistência emerge como oposição a projetos de cunho universalístico e homogeneizador (exemplos: o consumismo, a globalização neoliberal), com diferentes formas de ação (GILLS, 2000).
Logo, em um contexto de hegemonia “aparentemente” consolidada, qualquer discurso dominante permanecerá também necessariamente incompleto em processo coletivo dinâmico de luta hegemônica, no qual diferentes atores continuamente articulam outros diferentes discursos cuja função é resistir ou sustentar o discurso dominante na hegemonia vigente. Ou seja, no processo de formação hegemônica, há também um processo de consentimento e de oposição, que molda e é moldado por articulações discursivas no interior da sociedade civil (LACLAU e MOUFFE, 2001).
Assim, como um desafio à estabilidade hegemônica na agricultura brasileira, diferentes discursos se inserem em um jogo de lutas na sociedade civil para reforçar a necessidade de uma agricultura de base mais ecológica - como no caso da agroecologia -, de forma a se opor à hegemonia vigente do agronegócio (FONTOURA e NAVES, 2016). Portanto a categoria “discurso” na perspectiva neogramsciana tem por intuito ressaltar que toda configuração social é significativa e que o sentido de um dado evento social não está dado de antemão, não lhe é inerente, só aparece num sistema de relações discursivas (ALVES, 2010).
Assim como destacado anteriormente, segundo a teoria neogramsciana de discurso, a sociedade civil compreende o local onde a hegemonia é consentida, reproduzida, sustentada, canalizada e, ao mesmo tempo, onde forças contra-hegemônicas e emancipatórias podem emergir (MORTON, 2000; LEVY e EGAN, 2003; GILL, 2003; SPICER e BÖHM, 2007; LEVY, 2008; LACLAU e MOUFFE, 2001). Para Gramsci (1971, p. 306), a sociedade civil representa “[...] o conjunto de organizações comumente chamadas de ‘privadas’” (o que inclui atores empresariais e sindicatos, em contraste com os conceitos de Hegel sobre a sociedade civil).
Embora na hegemonia a completa estabilidade nunca seja alcançada, certo alinhamento específico de forças e um período de pequenas perturbações podem acontecer, sendo ajustados e incorporados, talvez sem nenhum impacto sobre a estrutura total. É justamente nos momentos de descontinuidade e mudança que fissuras se abrem e geram um efeito cascata de reconfiguração de todo o sistema (LEVY e EGAN, 2003). Isso se dá quando a legitimidade da classe dirigente entra em colapso diante de um fracasso político, contexto em que vozes das demandas incipientes de atores subordinados podem emergir.
Além disso, na abordagem de discurso neogramsciana em Laclau e Mouffe (2001), a constituição de um “inimigo” é essencial para a construção da identidade de um movimento social - é pré-condição para sua existência. Isso se dá porque, embora a estabilização da ordem social promovida pela hegemonia sempre vá implicar uma forma de exclusão (MOUFFE 1999), isso não significa erradicação do antagonismo, exclusão daqueles que não se subscrevem a ela (MOUFFE, 2013). Logo, a fim de se identificar, é preciso delinear-se por meio de um “outro”, “[...] o que não somos, e do qual somos superiores” (OTTO e BÖHM; 2006, p. 10). As relações antagônicas são, dessa forma, vistas como “radicais”, mas com o reconhecimento mútuo da legitimidade entre os adversários (MOUFFE, 2013).
As vozes subordinadas têm encontrado espaço nas ações dos movimentos sociais que “[...] representam forças sociais organizadas, aglutinam as pessoas não como força-tarefa de ordem numérica, mas como campo de atividades e experimentação social, e essas atividades são fontes geradoras de criatividade e inovações socioculturais” (GOHN, 2011, p. 336).
Esse processo pode ser observado no movimento agroecológico, no qual agricultores, ONGs, ambientalistas e outros atores constroem juntos redes de articulação social que estabelecem atividades políticas para grupos que visam resistir a práticas hegemônicas na agricultura brasileira; no caso, o agronegócio. Essas dinâmicas buscam, por elas mesmas, desenvolver “relações hegemônicas” para resistir à hegemonia (LEVY e EGAN, 2003).
Apenas na década de 90, especialmente nos Estados Unidos e nos países da América Latina, o termo agroecologia passa a ser usado para descrever um movimento, para expressar uma nova forma de observar a agricultura e suas relações com a sociedade. Diferentes movimentos sociais compartilham a defesa de um modelo agrícola voltado para a agroecologia (WEZEL, BELLON, DORÉ et al., 2009). Na América Latina a agroecologia expande-se como movimento camponês e indígena de resistência produzindo inovações tecnológicas, cognitivas e sociopolíticas e tem sido relacionadas a novos cenários políticos no Equador, Bolívia e Brasil (RUIZ-ROSADO, 2006).
No Brasil, a agroecologia consolida-se como movimento de resistência à hegemonia do agronegócio, tendo sido estabelecida no país desde a adoção das práticas da Revolução Verde (DELGADO, 2008; FONTOURA e NAVES, 2016). O agronegócio, como hegemonia, encontra-se diretamente associado ao capital estrangeiro, ao controle, à monocultura, à biotecnologia, assim como a uma estrutura fechada e mecanizada, altamente hierarquizada e masculinizada (WELCH, 2005). A sua popularização e seu estabelecimento no meio rural implicam a imposição de modos de vida, tanto no campo como na cidade, de tal forma que os processos sociais passam invariavelmente pelo agronegócio.
Logo, com o objetivo de desafiar a hegemonia do agronegócio, diferentes atores no movimento agroecológico desenvolvem seus discursos hegemônicos de resistência, em e entre as suas próprias operações, articulando “cadeias de equivalência” que englobam a construção de identidades, estratégias de ação e ideologias comuns (BÖHM, SPICER e FLEMING, 2008). Assim, a análise de discurso neogramsciana em Laclau e Mouffe (2001) permite-nos compreender as práticas de resistência do movimento agroecológico no campo de lutas da agricultura brasileira.
Estética e Organização
A relação mais imediata ao termo estética remete ao conceito de belo; o que reflete, no entanto, apenas parte de um debate filosófico sobre ciência e a utilização desse termo, que vem ganhando espaço nos Estudos Organizacionais nas últimas décadas (LOPES, SOUZA, IPIRANGA, 2014). Historicamente a estética apresenta duas fases importantes. A primeira vigorou até o seu estabelecimento como ciência filosófica, em 1750. Nesta fase, a teoria da beleza era conjugada à doutrina normativa da arte. Já a segunda fase vigora desde a data anteriormente mencionada até a contemporaneidade; nela a estética é paulatinamente substituída pela prioridade do juízo de gosto. A estética passa a analisar o vivido, tal como nos estudos voltados para a percepção e para a experiência estética do sujeito, ou seja, para a inspiração criadora - como, por exemplo, indagações filosóficas -, que tende a resguardar a subjetividade. Cada vez mais, a estética, como dimensão da ação humana, vem sendo construída por meio da integração com os demais modos de apreender, ver e interagir com a realidade. A estética passa, então, a ampliar a análise e a compreensão do fenômeno humano e social (LEAL, 2007).
Strati (1992) destaca as possibilidades da estética para a análise organizacional, dada a sua importância como uma das formas de conhecimento, que proporciona riqueza, singularidade e subjetividade. Nos anos 70 e 80, prevaleciam nos estudos em estética abordagens que concebiam as organizações no plano racional e instrumental, relegando sua dimensão subjetiva (GAGLIARDI, 2009). Com o tempo, emergiram abordagens focadas na apreensão do ‘sensível’, do imaterial, das emoções, dos sentimentos; enfim, abordagens voltadas para a ação dos sujeitos.
Segundo Wood e Csillag (2001), a estética surge, então, como recurso fundamental para analisar alguns “mistérios” da vida organizacional. Como apontado na introdução deste artigo, Gagliardi (1990) defende que a forma como apreendemos a realidade ao nosso redor é fundamentalmente definida por experiências sensoriais. Para o autor, a estética constitui simultaneamente: a) um tipo de conhecimento sensorial (que se contrapõe o conhecimento intelectual); b) uma forma expressiva de ação, sem finalidade instrumental explicitada; e c) uma forma de comunicação capaz de partilhar sentimentos e conhecimento tácito, que não são explicitados ou codificados nas bases até então conhecidas.
No Brasil, cresce o número de trabalhos teórico-empíricos abrangendo a dimensão estética em análise organizacional (LEAL, 2000; 2002; 2007; WOOD e CSILLAG, 2001; TAVARES e KILIMNIK, 2007; SCHIAVO, 2010; OLIVEIRA, 2012; IPIRANGA, LOPES, SOUZA et al., 2013; LOPES, SOUZA e IPIRANGA, 2014; LOPES, IPIRANGA e JÚNIOR, 2015). Tais estudos visam articular a dimensão subjetiva, com ênfase na estética, associando-a à arte, ao conhecimento tácito e à aprendizagem, à noção de experiência e pessoalidade, ao entendimento do cotidiano organizacional, à criatividade, às racionalidades, à gestão e à cultura organizacional. Além disso, Xavier e Carrieri (2014) destacam, em seu estudo sobre a estética marxista, que a produção artística como reflexo da realidade possui potencial transformador da vida social.
Sousa e Romagnoli (2012) reafirmam o potencial da estética para, mediante diferenças, criar, renovar concepções sobre as coisas e resistir às forças que obstruem as emergências do devir e que insistem em nos modelar e homogeneizar. Nesse caso, forças hegemônicas e contra-hegemônicas poderiam reproduzir-se também por meio da estética, construindo identidades.
Embora não seja contemplada em profundidade na abordagem neogramsciana de discurso em Laclau e Mouffe, a relação entre política e estética também aparece na obra de Gramsci e nas elaborações de seus comentadores - o que também inspirou as autoras na produção do presente estudo. Para Mussi (2009), o ponto de partida para pensar a relação entre política e estética nos Quaderni está no estudo empreendido por Gramsci sobre aspectos de vida literária dos séculos XIX e XX (especialmente nos cadernos 21 e 23), sendo o centro da investigação a atitude popular diante das artes em geral, e em especial da literatura, como uma resposta a necessidades estéticas e filosóficas historicamente determinadas. A autora lembra que a experiência estética no capitalismo é compreendida por Gramsci como movimento de aspiração coletivo exercido pelos indivíduos, reproduzindo as palavras do original: “à ‘bela’ e interessante aventura, em oposição à ‘feia’ e revoltante que se dá em condições impostas por outros, não escolhidas (Gramsci, Q.21, §13, p. 2133)”. (MUSSI, 2009, p. 6).
Gramsci reconhece a intimidade entre política e atividade estética em toda atividade social, que envolveria uma esfera da consciência humana herdada, “[...] superficialmente explícita ou verbal, acolhida sem crítica, e outra capaz de unir os homens na transformação prática da realidade, ou seja, como um artifício de ‘elo’ em profundidade” (MUSSI, 2009, p. 6).
Na perspectiva gramsciana, a estética revela-se, portanto, como espaço da manifestação das concepções de mundo de grupos sociais, independentemente da posição que ocupam na sociedade. Se o conhecimento existe no momento da sociabilidade, se ele se manifesta nas formas de pensamento e se materializa nos artifícios humanos, ele é corpo e alma do que Gramsci conceitua como “concepção de mundo”. Em termos gramscianos, concepção de mundo tem referência no próprio mundo, resulta do pensamento e da materialização do “processo de vida real” (BEZERRA e PAZ, 2007, p. 14).
A estética compreendida, portanto, como algo presente em todas as atividades humanas, algo sensível, capaz de capturar quem observa determinada obra, e processo social historicamente construído, traz possibilidades ricas para pensar os fenômenos sociais de organização, linguagem e de transformação social. Como destacado por Gramsci (1981), a filosofia está contida na própria linguagem, no senso comum e no bom senso no sistema de crenças, opiniões, modos de ver e de agir e nas manifestações da religião e cultura popular.
Laclau reconhece a importância das tradições populares como um dos elementos ideológicos da resistência à opressão. Da perspectiva desse autor, nos discursos ideológicos de resistência e de mudança em relação ao bloco no poder, há elementos de tradições de luta popular que são incorporados em movimentos revolucionários: “São elementos invariáveis, e que são sempre evocados como forma de mobilização contra o poder hegemônico das classes e dos grupos hegemônicos” (MOTTA e SERRA, 2014, p. 139).
Assim, a estética se constituiria em uma possibilidade de manifestação das visões de mundo de grupos sociais subalternos (organizações), uma forma de construção de conhecimento (STRATI, 1992), uma forma de ação dos sujeitos (GAGLIARDI, 2009) e, ao mesmo tempo, como possibilidade de interpretação dessas manifestações para aqueles que não fazem parte desses grupos. As manifestações estéticas - compreendidas como discursos - trazem, portanto, um potencial transformador da vida social (XAVIER e CARRIERI, 2014), guardam possibilidades de construção de hegemonia, na medida em que permitem a consolidação de visões de mundo que se contrapõem àquelas dominantes. Assim, no presente estudo, parte-se das manifestações estéticas do movimento agroecológico (capturadas como discurso), em suas lutas contra-hegemônicas, tendo por base a perspectiva estética, para compreender essas manifestações. Em outras palavras, visa-se estabelecer uma ponte entre a abordagem neogramsciana de discurso e uma análise de expressões estéticas em movimentos sociais na construção de resistência, ou de uma contra-hegemonia.
Metodologia
A presente pesquisa adota uma metodologia com enfoque qualitativo (DENZIN e LINCOLN, 2011; VIEIRA, 2004), com abordagem de discurso neogramsciana em Laclau e Mouffe (2001). Nesse caso, a tarefa do analista do discurso é explorar as diferentes formas de articulação e rearticulação de discursos que favorecem o surgimento de identidade (DELLAGNELO, BÖHM e MENDONÇA, 2014). Desse modo, foram analisadas as formas de articulação, expressas nos painéis de facilitação, dos elementos de território, a definição de inimigo comum, a resistência que contribui para a construção de identidade. Mais do que identificar esses elementos, o trabalho analisa, por meio da manifestação estética, como eles se constroem e se articulam visando à construção de hegemonia.
As expressões estéticas do movimento agroecológico no Brasil estabeleceriam uma relação entre os elementos, de tal modo que estes pudessem afetar a criação de uma identidade comum, bem como fortalecê-la. O discurso, então, emergiria também da prática articulatória em torno das expressões estéticas (MUSSI, 2009). Aqui tratamos a agroecologia como discurso macro, ou principal discurso articulado pelo movimento social. A consolidação desse discurso, por sua vez, depende da articulação e rearticulação de diferentes discursos de menor impacto dentro do movimento.
Desse modo, foram analisadas as expressões estéticas do movimento agroecológico retratadas nos painéis de facilitação gráfica do III Encontro Nacional de Agroecologia (III ENA). Estes painéis constituem elementos metodológicos utilizados pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA) com o objetivo de estimular o debate por parte dos diferentes grupos presentes no evento, de forma a democratizar o acesso às discussões e informações e registrar os resultados desses processos, a saber: “Utilizando uma linguagem gráfica e de fácil entendimento, a metodologia tem o objetivo de facilitar a visualização das questões debatidas. Os produtos da facilitação constituem também um interessante registro da síntese das discussões” (ANA, 2015).
Como um dos interesses da organização é divulgar suas propostas, todos os painéis foram digitalizados e divulgados em sua página na internet, o que facilitou o seu acesso. No III ENA foram produzidos painéis relativos aos eixos: Plenárias, Sessões Territoriais, Seminários Temáticos, Plenária de Abertura, Plenária das Mulheres e Plenária de Encerramento (ANA, 2015). No entanto, neste artigo foram analisados apenas alguns dos painéis de facilitação gráfica produzidos nas sessões territoriais, que manifestam as peculiaridades de linguagem, símbolos e visões de mundo dos diferentes grupos. Jomalinis (2014) destaca que o III ENA fez um chamado a um olhar sobre a agroecologia partindo dos territórios; desta vez sob um olhar de “ação coletiva”. Além disso, optou-se pela seleção dos painéis cuja visualização estava completa e em condições de inserção neste trabalho, quais sejam: Painel de facilitação gráfica do Sertão do São Francisco (figura 1), Painel de facilitação gráfica da Chapada do Apodi-RN (figura 2), Painel de facilitação gráfica da Região Sul (figura 3) e Painel de facilitação gráfica da Chapada do Araripe-PE (figura 4).
Análise dos Dados
Os painéis analisados foram produzidos em sessões temáticas organizadas territorialmente com diferentes grupos agroecológicos. Ressaltamos que a utilização do termo “territorial” pelo movimento - em lugar de regional, por exemplo - tem um sentido de resistência para os seus membros, na medida em que propõem e defendem outra referência que envolva espaço, ecologia, cultura e história para se localizar determinada experiência agroecológica. O termo território, como discurso articulado pelo movimento, é, portanto, evidenciado pela dimensão estética e destaca a dinamicidade da relação linguagem/ação na abordagem neogramsciana.
Diferentemente da forma como outros atores entendem o conceito de território, esse discurso tem como intuito visibilizar as disputas existentes e os distintos atores que as compõem: desloca-se o foco das experiências individuais e de suas tecnologias e se acendem os holofotes sobre o contexto no qual as experiências localizam-se (JOMALINIS, 2014, p. 3).
Não se trata, portanto, de partir de um conceito geral de território, mas de refletir, discutir, expressar e compartilhar os conteúdos e significados do território, tendo por base a experiência conjunta e particular de diferentes grupos sociais. É assim que eles “[...] realizam diagnósticos sobre a realidade social, constroem propostas. Atuando em redes, constroem ações coletivas que agem como resistência à exclusão e lutam pela inclusão social” (GOHN, 2011, p. 336).
A luta desses grupos sociais por reconhecimento, legitimação e legalização dos territórios nos quais vivem é um dos pontos importantes retratados nas facilitações gráficas. Esse processo envolve, ao mesmo tempo, diagnóstico contextual e identificação dos grupos - etapas importantes para a construção da resistência.
A figura 1mostra a articulação de ‘território’ - em disputa e demandada como um direito -, que pode ser conquistada por meio da agroecologia. Usando desenhos, números e palavras, agricultoras e agricultores do Sertão do São Francisco expressam, de forma complexa e articulada, suas experiências, sentimentos, ameaças e ideias. Evidenciam a oposição ao modelo hegemônico do agronegócio e sua forma de manifestação no Sertão de São Francisco que se manifesta em megaeventos e megaempreendimentos, coordenados por grandes empresas, cujas ações levam ao aumento da degradação ambiental (seca e desmatamento). Além disso, seus sistemas produtivos utilizam venenos nas monoculturas que, por sua vez, se configuram como riscos à saúde humana (câncer, autismo, por exemplo). Assim, ficam claros os conflitos destacados na figura 1. Instigados por esses conflitos, os atores sociais reforçam sua identidade de resistência apontando caminhos e alternativas. À essa estratégia, Gohn (2013) chama de “fazeres propositivos”, importantes elementos identificadores dos movimentos sociais, expressos no potencial agroecológico que se realiza por meio do saber alternativo e popular, no manejo territorial e ecológico, no direito ao território e ao desenvolvimento, à inclusão das mulheres, e o direito à reforma agrária. As articulações sintetizadas nas manifestações gráficas definem relações antagônicas entre agronegócio (e suas diversas manifestações) e os agricultores agroecológicos. A relação antagônica impossibilita a constituição de identidades plenas, na medida em que a presença do Outro impede a constituição do eu (ALVES, 2010).
Há, portanto, nestas manifestações estéticas, um conteúdo complexo e dinâmico - que elabora um diagnóstico, mas também vislumbra o futuro - sem que necessariamente tenham sido utilizados palavras ou formatos social e culturalmente legitimados pelos dominantes. O técnico, o intelectual, o agricultor e trabalhador rural, o adulto ou até mesmo a criança podem acessar esse conhecimento com facilidade e também modificá-lo. Identifica-se aqui o que Leal (2002, p.7) classifica como onipresença do “estético”, que o tornaria, nas palavras do autor, “(...) um fator poderoso de alcance vital”.
Destaque-se que, nos painéis, está presente uma relação forte e dialética entre a construção dos territórios (e todas as suas especificidades) e a agroecologia, como macrodiscurso de resistência do movimento social. Assim, se por um lado, como já assinalado, a articulação em torno do discurso da agroecologia é uma das formas de conquista dos territórios; por outro, pode-se dizer que a riqueza e a identidade agroecológica tornam-se mais fortes à medida que os agricultores e agricultoras de diferentes territórios compartilham suas experiências particulares e estas fortalecem o saber agroecológico e também permitem identificar pontos em comum para a luta.
O início da elaboração crítica é a consciência daquilo que somos realmente, isto é, um ‘conhece-te a ti mesmo’ como produto do processo histórico até o momento presente desenvolvido, que deixou em ti uma infinidade de traços recebidos sem benefício no inventário (GRAMSCI, 1981, p. 12).
É preciso ressaltar que as diferenças entre os territórios existem, mas não configuram obstáculo à construção da identidade do movimento. O território da Chapada do Apodi (figura 2) está em disputa entre mineradoras e grileiros de terras. Esse tipo de conflito não é identificado pelo território da região Sul (PR, SC, RS) (figura 3). O que se verifica, aí, como principal conflito, é a necessidade de desconstrução de conceitos sobre produção e consumo de alimentos na sociedade (chama atenção a ilustração do cérebro nesse painel). Mesmo com tais diferenças, ambos os territórios identificam na agroecologia um caminho “comum” para o enfrentamento da hegemonia do agronegócio no país.
Contudo, para fazer jus à abordagem estética, as diferenças e as aproximações não estão manifestas apenas em palavras, mas, nas cores, nas linhas, nos personagens, na utilização do espaço dos painéis. Para as autoras deste artigo, que se colocam como observadoras, há a captura de um aspecto subjetivo, ao qual não se opõe radicalmente uma racionalidade estrita - como lembra Leal (2003). Na figura 1, por exemplo, destaca-se a ilustração dos cactos que emolduram o título “o nome do território Sertão do São Francisco” como uma forte identidade com as condições ecológicas e climáticas deste território. Observa-se, ainda, a problematização da seca como fenômeno não natural, mas social e historicamente construído.
Além disso, verifica-se a manifestação contra o agronegócio e uso de agrotóxicos e transgênicos (figura 2) em desenhos como caveiras, fantasmas, monstros que representam um projeto de morte. Neles os significados expressos diferem muito daqueles divulgados por empresas nas propagandas do agronegócio. Estão presentes ainda os espaços da feira (figura 1) e da escola (figuras 3 e 4) como abrigos, espaços de segurança, alegria, alimentação, representados nas cores, diversidade e interação. Acessível a todos os participantes, o repertório utilizado nos painéis desconstrói e, ao mesmo tempo, reconstitui a vida social destes sujeitos para além das determinações hegemônicas. O instrumento, a abordagem estética, facilita nesse sentido a articulação desse grupo social em torno de determinada ideia sobre realidade (KLIMECHI e WILLMOTT, 2011), demandada para a construção da contra-hegemonia.
A figura 4traz as pessoas para o centro do debate - com destaque para as mulheres que aparecem em dois momentos - em desenhos fortes e alegres, e cuja importância é reforçada na frase: “esclarecer o papel do agricultor e das mulheres” - uma demanda dos integrantes do território. A questão de gênero tem sido priorizada (está presente também nas figuras 1 e 3) pelo movimento agroecológico, tendo se destacado no III ENA com a frase: “Sem feminismo, não há agroecologia” (ANA, 2015). Esse painel, além de evidenciar a importância da articulação do discurso do feminismo no campo, vale-se com mais ênfase das cores e desenhos, captura com rapidez a atenção e o interesse dos observadores, e sintetiza, com uso da emoção, aspectos que compõem seu cotidiano e que demandariam muitas palavras. Destacam-se, ainda, as expressões dos personagens em diferentes momentos e a utilização de caveiras para ilustrar os impactos dos principais opositores. A resistência, nesse caso, aparece como central, com um punho cerrado contornado de traços que denotam força e poder.
A análise dos discursos expressos nos painéis indica que a abordagem estética constitui-se como meio para a construção das visões de mundo dos agricultores agroecológicos em torno de um discurso macro da agroecologia. Assim, contestam, alteram, desmistificam visões conservadoras e hegemônicas sobre relações sociais e de produção, tanto no campo quanto na cidade, bem como sobre educação, saúde, tecnologia e política. As análises também evidenciam que a estética permite expressar as formas de apropriação desses atores sociais de discursos abordados de forma quase exclusiva pelo campo científico. É o caso, por exemplo, da perda da biodiversidade ou do desaparecimento das abelhas; problemas que têm sido tratados como científicos, mas que os agricultores trazem como dimensões importantes para a construção dos territórios e da agroecologia, como mostram as figuras 1 e 2.
Esse processo de apropriação e reconstrução do conhecimento não ocorre de forma inconsciente. Os sujeitos desse processo entendem sua importância e, nesse sentido, destacam que, para enfrentar os desafios da agricultura e da sociedade brasileira, é preciso superar o modelo convencional de educação. Nos painéis há uma crítica explícita ao fechamento das escolas rurais e ao modelo comum de educação que trata a realidade de acordo com a perspectiva hegemônica. Por isso os atores demandam uma educação original (Figura 1), que permita a criatividade, a formação de lideranças, uma comunicação melhor, e que exercite a arte (Figura 4). Essa proposta de educação se consolidaria na ideia das Escolas Família Agrícola (Figura 4).
Assim, viabiliza-se a construção de uma identidade para o movimento agroecológico nessa diversidade que reflete as trajetórias de vida, experiências, desejos e sentimentos ou, de forma mais sintética, expressa as visões de mundo (GRAMSCI, 1981) de agricultores e agricultoras agroecológicas.
A questão da identidade é elemento fundamental à construção da resistência na abordagem de discurso neogramsciana (LACLAU e MOUFFE, 2001). A unidade ou identidade em torno do discurso da agroecologia se expressa nas facilitações gráficas nas quais alguns elementos estão sempre presentes, ainda que em posições diferentes. Em todos os painéis a agroecologia é caracterizada como processo que envolve mais do que aspectos produtivos e vinculada a aspectos ecológicos, sociais, organizativos, culturais e educativos. É, portanto, algo diversificado e dinâmico, o que aponta que modelos homogeneizantes são inadequados e incapazes de refletir e trazer soluções para os desafios diagnosticados pelos grupos.
A construção da identidade na resistência passa, por sua vez, pela identificação clara de um inimigo comum (LACLAU e MOUFFE, 1985). Em todos os painéis observam-se referências, muitas vezes detalhadas, das diferentes faces desse inimigo comum.
A educação convencional expressa-se como uma das formas de manifestação desse inimigo na Figura 1, que, por sua vez, reforça a referência na Figura 2 à necessidade de mudar a lógica do sistema tão profundamente enraizada nas mentes das pessoas. Como atores nesse processo, que orquestram esse sistema e que exercitam seus poderes explorando e expropriando os agricultores familiares, veem-se grandes empresas, megaeventos (figura 1), mineração, usinas (Figura 4), agronegócio, grileiros (Figura 3). Trata-se de atores centrais na configuração da sociedade capitalista, que interferem no meio rural e também urbano. A Figura 3 vai além na análise do modelo hegemônico de sociedade, ao apontar também como inimigo o governo e alguns de seus representantes, revelando a histórica (e perniciosa) aliança entre grandes empresas e Estado no Brasil. O inimigo continua sendo o agronegócio, mas a compreensão das ramificações e articulações desse ator leva o movimento agroecológico a se posicionar diante de desafios que envolvem outras instâncias da sociedade, colocando-se também em oposição “[...] a outras expressões do grande capital” (ENA, 2014). Consequentemente articulações com outros movimentos e organizações (como agricultura urbana e Economia Solidária, por exemplo) vêm se fortalecendo.
Por fim, ressaltamos que não se trata apenas de conteúdo. Tem importância fundamental a forma como a comunicação e a construção do conhecimento têm sido tratadas no âmbito do movimento agroecológico. A comunicação do discurso macro da agroecologia, num contexto de grande desigualdade de poder, precisa seguir caminhos particulares. Desse modo, a utilização e valorização da estética têm se mostrado muito positiva na construção de visões de mundo, uma vez que ela atua como canal para que estruturas discursivas e materialidades que fortalecem a identidade do movimento se estabeleçam e sejam disseminadas pelos membros, como na orientação de práticas, na divulgação de propostas, na legitimação do movimento e como possibilidade rica para compreensão de fenômenos sociais contemporâneos. Santos e Hissa (2011, p. 29) afirmam: “[...] a racionalidade estético-expressiva é a racionalidade menos colonizada, mais sub-representada da modernidade: porque ela teve uma transformação aurática, isto é, transformou-se em algo de grande dignidade, mas à custa da sua marginalidade”.
Considerações Finais
Este estudo teve como proposta investigar de que forma as expressões estéticas, utilizadas como metodologia de mobilização e produção de conhecimento, influenciam a construção da contra-hegemonia pelo movimento agroecológico brasileiro. A abordagem estética e a análise neogramsciana de discurso como lentes teóricas constituíram a base para a análise dos painéis de facilitação gráfica produzidos por agricultores e agricultoras agroecológicos no III ENA, realizado em 2014.
Esses painéis se utilizam de desenhos, cores, números e palavras para representar as experiências, ideias e propostas dos agricultores, principalmente no que se refere à definição e conquista de seus territórios. Interpretadas como forma de expressão estética, manifestam especificidades, concepções de mundo particulares de grupos agroecológicos de diferentes territórios que identificam no discurso da agroecologia uma forma de superação dos obstáculos impostos pela hegemonia no campo de lutas da agricultura no Brasil. Por seu turno, o movimento agroecológico pode capturar de forma mais rica, orgânica e complexa as relações e experiências de cada território, que passam a compor o saber agroecológico e, portanto, tornam-se instrumento de luta - direcionada a inimigos definidos (processo fundamental na construção da resistência). Os desenhos dos painéis descrevem diferentes faces do agronegócio e do capitalismo global, que se apresentam conectadas, influentes e reproduzindo a hegemonia que impõe as relações de subalternidade enfrentadas cotidianamente.
A análise dos discursos expressos nos painéis de facilitação gráfica indica que a estética pode trazer uma perspectiva efetiva, acessível e sensível na construção das visões de mundo de grupos subalternos, configurando-se, portanto, uma abordagem importante na luta dos movimentos sociais. Logo, o discurso da agroecologia pelo movimento agroecológico brasileiro, construído na perspectiva estética, revela grande potencial de construção de resistência, priorizando visões de mundo obscurecidas pela própria hegemonia e seus instrumentos.
A aproximação entre as perspectivas da estética e neogramsciana de discurso revela-se rica na compreensão de movimentos sociais (organizações), que, como espaços de resistência, buscam formas de expressão que permitam acesso à participação daqueles que são privados, pela própria estrutura dominante, dos meios de comunicação formais. Para esses, a construção de identidade precisa de novos instrumentos. Mais do que ilustrações, as facilitações gráficas refletem processos de construção e síntese da realidade e estes podem levar à construção da hegemonia.
Na perspectiva teórica dos Estudos Organizacionais, este artigo reforça a importância de estudos sobre movimentos sociais e outras formas de organização que não têm sido tradicionalmente objeto de estudos e pesquisas. Isso pode levar a mudanças no posicionamento dos pesquisadores na área, demandando atenção a manifestações que fogem à perspectiva funcional-racionalista e que dizem muito por si mesmas, reconstruindo significados e relações aparentemente estáveis, como podem captar os observadores das imagens analisadas neste artigo.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
Jun 2017
Histórico
-
Recebido
01 Ago 2016 -
Aceito
11 Abr 2017