Editorial
Neste ano de 2008 podemos observar, pelo menos de forma sistemática, o surgimento de diversos eventos, relativamente pequenos em tamanho mas grandes em sua natureza. Os eventos a que me refiro têm em comum a preocupação com o resgate de autores brasileiros para pensar os problemas de nosso contexto e de nosso tempo. Não utilizarei este espaço para justificar teoricamente o sentido disso, o que pode ser lido em vários textos com mérito acadêmico reconhecido. Entretanto, gostaria de chamar atenção para o momento em que a centralidade da produção nacional volta à cena.
Parece haver um descontentamento generalizado com a falta de pertinência sócio-cultural dos estudos que nossa área vem produzindo. Isso se deve a utilização indiscriminada de perspectivas teóricas que foram concebidas para solucionar problemas de outros contextos. Quando aplicadas ao nosso, essas teorias acabam por produzir resultados inúteis à solução das questões que inicialmente pretendiam atacar.
Nesse sentido, os eventos a que me referi buscam resgatar a obra de autores que pensaram o Brasil de forma profunda e responsável para que, a partir de discussões e análises criteriosas, se possa realizar a devida apropriação de suas idéias para a área de Administração.
O Simpósio "O Brasil em Evidência: a utopia do desenvolvimento", que ocorre em novembro e dezembro deste ano nas dependências da Fundação Getúlio Vargas, por exemplo, tem como objetivo rememorar a obra de Josué de Castro, em comemoração ao centenário de seu nascimento, bem como resgatar autores de reconhecida importância para a construção do pensamento crítico nacional, como Celso Furtado, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes, Guerreiro Ramos, Milton Santos, Theotônio dos Santos, Nelson Werneck Sodré, Octavio Ianni e Paulo Freire.
Outro evento que merece destaque foi o seminário ocorrido no IBGE para discussão sobre a criação de indicadores para a área da cultura no Brasil. O encontro contou com pesquisadores, formuladores de políticas públicas e outros interessados em que se desenhe um conjunto de indicadores para avaliação do impacto da cultura na economia que seja apropriado à nossa realidade e não uma mera reprodução do que já é feito na França e no Canadá.
Em dezembro, em Florianópolis, na Universidade Federal de Santa Catarina, ocorrerão duas oficinas cujo tema central volta a ser a apropriação da obra de pensadores do Brasil para a área de Administração. Na seqüência, no início do segundo semestre de 2009, ocorrerá em Porto Alegre um evento que tem por objetivo ampliar esta discussão para uma abrangência latino-americana, valorizando o momento de articulação e de avanços nos processo de integração regional.
Em dezembro, de 2009, acontecerá mais uma edição do Colóquio Internacional sobre Poder Local que se constitui em um espaço já tradicional para a reflexão e compartilhamento de trabalhos preocupados com temas relacionados com questões de nosso contexto, com um foco especial em aspectos sociais e loco-regionais.
Antes de apresentar os trabalhos que compõem o último número de 2008 dos Cadernos EBAPE, gostaria de lembrar aos nossos leitores, aos membros do Conselho Editorial e a toda nossa equipe, que completamos cinco anos de existência como revista científica eletrônica. No decorrer desse tempo dedicamos nossos esforços a melhoria contínua de nossa publicação, procurando sempre atender às demandas da nossa área pela divulgação de conhecimento com pertinência sócio-cultural. Encerro de forma otimista, como convém ao clima de final de ano e início de ano novo, esperando que os eventos mencionados no neste editorial e outros que certamente surgirão, além dos já consagrados, venham a contribuir para o contínuo desenvolvimento da nossa revista, da nossa área de atuação e do nosso país.
Neste número da revista contamos com artigos que trabalham sobre uma diversidade de temas. No primeiro artigo Ernesto Gantman e Carlos Rodrigues comparam analiticamente a evolução do conhecimento administrativo na República Argentina e na Espanha, chamando atenção para importação de conhecimento, bem como para o caráter gerencialista da disciplina. No segundo artigo Laura Baga, Pedro Lincoln e Bruno Souza discutem o papel central dos fatores relacionais na formação de redes de consultoria organizacional. João Paulo Tinoco e Teresia Diana Macedo-Soares analisam, no terceiro artigo, o lock-in estratégico em relacionamentos interorganizacionais a partir do caso da DATAPREV. O quarto artigo é de autoria de Rogério Sobreira. O autor realiza uma avaliação do Acordo de Basiléia II, indicando avanços em relação ao primeiro Acordo, mas ressalvando que suas regras não podem ser aplicadas para instituições públicas, particularmente aos bancos de desenvolvimento. No quinto artigo Euripedes Falcão Vieira discute as certezas e incertezas na evolução do pensamento e sua relação com o que chama de razão existencial. Deise Ferraz e Neusa Cavedon, no sexto artigo, apresentam e analisam a inclusão e exclusão social a partir de depoimentos das praticantes da economia popular solidária. No sétimo artigo Luciano Rossoni e Rivanda Teixeira discutem a interação dos relacionamentos com os recursos e a legitimidade no processo de criação de uma organização social. O trabalho de Márcio Gomes de Sá e Guilherme Moura, no oitavo artigo, discute a experiência de aprendizado do aluno a partir da crítica discente e da reflexão docente sobre ela. Sua reflexão acabou levando a reestruturação da metodologia de trabalho em uma disciplina de Análise Organizacional. No nono artigo Ana Heloisa Lemos e Mário Pinto apresentam uma pesquisa sobre a empregabilidade dos administradores em relação ao perfil demandado pelas empresas. No artigo que encerra o último número de 2008, Isao Yamato e Sylvia Vergara apresentam um estudo sobre a longevidade e a ética da corporação japonesa.
A todos uma boa leitura e um ótimo final de ano.
Marcelo Milano Falcão Vieira
Editor
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
04 Jul 2012 -
Data do Fascículo
Dez 2008
