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Sistema de mercado de auditoria: uma análise a respeito dos papéis da confiança baseada nos estudos do macromarketing e da governamentalidade

Sistema de mercado de auditoría: un análisis de las funciones de la confianza basado en los estudios de macromarketing y gubernamentalidad

Resumo

O presente ensaio traz uma análise a respeito da confiança e das relações de poder no sistema de mercado de auditoria. Utilizando a teoria do macromarketing sobre sistemas de mercado e os estudos sociológicos sobre governamentalidade, analisa o papel da confiança como técnica de governamentalidade, mecanismo social e objeto de mercado. O contexto do fenômeno se verifica nos serviços ofertados pelas empresas de auditoria, com ênfase nos demonstrativos contábeis, que geram confiança nos mercados e, dessa forma, interferem nos processos estratégicos e na modelagem dos sistemas de mercado. Estratégica nas relações de poder nos sistemas de mercado, a confiança perpassa o fator intrínseco de mecanismo social e se torna um escasso instrumento para a governança dos sistemas, transformando-se num atributo de estimado valor no mercado. Por fim, espera-se que as contribuições dos distintos papéis da confiança sejam relevantes para outros estudos no campo do macromarketing.

Palavras-chave:
Sistema de mercado; Auditoria; Confiança; Governamentalidade; Legitimidade

Resumen

Este ensayo proporciona un análisis de las relaciones de confianza y poder en el sistema de mercado de auditoría. Utilizando la teoría del macromarketing sobre sistemas de mercado y estudios sociológicos sobre gubernamentalidad, se analiza el papel de la confianza como mecanismo social, técnica de gubernamentalidad y objeto de mercado. El contexto del fenómeno se puede ver en los servicios que ofrecen las empresas auditoras, con énfasis en los estados contables, que generan confianza en los mercados, interfiriendo así en los procesos estratégicos y el consecuente modelamiento de los sistemas de mercado. Al ser tan estratégica en las relaciones de poder, que operan dentro de los sistemas de mercado, la confianza permea el factor intrínseco de mecanismo social, y se convierte en un instrumento escaso para la gobernanza de los sistemas, convirtiéndose en un activo de valor estimado dentro del mercado. Finalmente, se espera que los aportes de los diferentes roles de la confianza sean relevantes para otros estudios en el campo del macromarketing.

Palabras clave:
Sistema de mercado; Auditoría; Confianza; Gubernamentalidad; Legitimidad

Abstract

This essay analyzes trust and power relations in the audit marketing system. Using macromarketing theory on marketing systems and sociological studies on governmentality, the role of trust as a social mechanism, governmentality technique, and market object is analyzed. The context of the phenomenon can be seen in the services offered by auditing companies, with an emphasis on accounting statements, which generate confidence in the markets, thus interfering in strategic processes and the consequent modeling of marketing systems. Being so strategic in power relations, which operate within marketing systems, trust permeates its intrinsic factor and social mechanism and becomes a scarce instrument for the governance of systems, becoming an asset of estimated value within the market. Finally, it is expected that the contributions of the different roles of trust may be potential for other studies in the field of macromarketing.

Keywords:
Marketing system; Audit; Trust; Governmentality; Legitimacy

INTRODUÇÃO

Nos mercados, muitas transações ocorrem apoiadas apenas em relações de confiança e, em geral, são realizadas com a participação de agentes intermediadores altamente capacitados, que asseguram a veracidade de informações essenciais, minimizando os riscos de perdas dos participantes do mercado. Nos bastidores dessas transações entre agentes do mercado, há sempre uma dimensão social envolvendo uma relação de confiança (Baker & Jones, 2011Barker, A., & Jones, A. (2011, November 29). ‘Big four’ accountants face audit reform. The Financial Times. https://www.ft.com/content/a4f58dba-1a89-11e1-ae4e-00144feabdc0
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; Crepaldi, 2013Crepaldi, S. A.(2013). Auditoria contábil: teoria e prática. Atlas.; Zanini, 2016Zanini, M. T. F. (2016). Confiança: o principal ativo intangível de uma empresa. FGV.), a qual se estabelece com base em vínculos sociais de pessoas com comportamento regular, honesto, cooperativo, bem como em normas e crenças compartilhadas entre os participantes no mercado (Fukuyama, 1996Fukuyama, F. (1996). Trust: the social virtues and a creation of prosperity. Free Press Paper Back.; Layton, 2014Layton, R. A. (2014). Formation, growth, and adaptive change in marketing systems. Journal of Macromarketing, 35(3), 302-319.; Peyrefitte, 1999Peyrefitte, A. (1999). Sociedade da confiança: ensaios sobre as origens e a natureza do desenvolvimento. TopBooks.).

O elemento central discursivo no mercado de auditoria é a certeza de que o auditor independente é o profissional legitimado a atestar a veracidade acerca dos critérios de contabilização de empresas. Nesse contexto, as empresas de auditoria prestam serviços oferecendo opiniões alicerçadas na confiança que lhes é legitimada pela legalidade governamental concedida e pela ação social derivada das regras institucionais internas advindas de um tipo de costume que leva à denominada ordem legítima (Almeida & Lemes, 2013Almeida, N. S. D., & Lemes, S. (2013). Evidências do entendimento de quatro pronunciamentos contábeis por auditores independentes do Brasil. Revista de Administração Contemporânea, 17(1) 83-105.; Crepaldi, 2013Crepaldi, S. A.(2013). Auditoria contábil: teoria e prática. Atlas.).

A confiança é reconhecida como um atributo básico no mercado de auditoria (Mueller et al., 2015Müeller, F., Carter, C., & Whittle, A. (2015). Can audit (still) be trusted?Organization Studies, 36(9), 1171-1203.). O primeiro artigo da série Mind the Gap publicado pelo Instituto de Auditoria Independente no Brasil (Ibracon, s/dIbracon. (s/d). Mend the gap series. http://www.ibracon.com.br/sib/gc/upload/1678900189.pdf
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), em 2023, inicia com a narrativa de que a auditoria independente é uma agregadora de confiança e credibilidade ao mercado. Essa afirmativa foi reforçada através do tempo pelos usuários da informação - investidores, reguladores e todos os stakeholders - que necessitam da opinião da auditoria para conduzir seus processos decisórios.

Alguns estudos já foram conduzidos com o objetivo de mensurar o grau de confiança nos demonstrativos contábeis desde o início do projeto de internacionalização da contabilidade (Maia et al., 2012Maia, H. A., Formigoni, H., & Silva, A. A. (2012). Empresas de auditoria e o compliance com o nível de evidenciação obrigatório durante o processo de convergência às normas internacionais de contabilidade no Brasil. Revista Brasileira de Gestão de Negócios, 14(44), 335-352.; Qaid et al., 2022Qaid, M. M. A. J. Q., Wadgule, M., & Khaled, M. S. D. (2022). Determinants of audit quality in governmental institutions. Studies in Economics and Business Relations, 3(1), 1-16.). Há alguns que defendem que as maiores empresas de auditoria independente, conhecidas na esfera econômica como big four - Ernst Young (EY), KPMG, Delloite e PricewaterhouseCoopers (PwC) -, atingiram um nível de qualidade de informações elevado quando comparadas com outras organizações de auditoria de menor porte, sendo mais competitivas no mercado em decorrência da maior confiança oferecida aos clientes (Braunbeck, 2010Braunbeck, G. O. (2010). Determinantes da qualidade das auditorias independentes no Brasil (Tese de Doutorado). Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.; Dehkordi & Makarem, 2011Dehkordi, H. F., & Makarem, N. (2011). The effect of size and type of auditor on audit quality. International Research Journal of Finance and Economics, 80, 121-137. https://ssrn.com/abstract=2290621).

O mercado de auditoria pode ser considerado um sistema ao ser analisado pela lente teórica do macromarketing, que, segundo Hunt (1981Hunt, S. D. (1981). Macromarketing as a multi-dimensional concept. Journal of Macromarketing, 1(1) 7-8.), é o campo que estuda os sistemas de mercados e suas relações com a sociedade, os quais podem ser entendidos, de forma resumida, como sistemas de bens, serviços e significados que atuam na coesão do sistema como um todo (Kadirov & Varey, 2011Kadirov, D., & Varey, R. J. (2011). Symbolism in marketing systems. Journal of Macromarketing, 31(2), 160-171.; Layton, 2019Layton, R. (2019). Marketing systems: looking backward, sizing up and thinking ahead. Journal of Macromarketing, 39(2), 208-224.; Sauerbronn et al., 2022Sauerbronn, J. F. R., Berardinelli, R., & Silva, K. P. (2022). A construção dos sistemas de mercado na perspectiva do macromarketing. Revista Interdisciplinar de Marketing, 12(2), 158-170.).

A confiança como mecanismo social está presente no mercado, transitando nas multiplicidades de discursos quando se quer expressar uma espécie de ética. No sistema de mercado de serviços de auditoria, as relações de poder são fundamentais, e o que a constitui é a confiança (Mueller et al., 2015Müeller, F., Carter, C., & Whittle, A. (2015). Can audit (still) be trusted?Organization Studies, 36(9), 1171-1203.). As empresas que prestam serviços de auditoria competem entre si, fazem uso de mecanismos sociais e estão ancoradas por estruturas. Essas características são suficientes para afirmar que há um sistema de mercado de auditoria (Dixon, 1984Dixon, D. F. (1984). Macromarketing: a social systems perspective. Journal of Macromarketing, 4(2), 4-17.; Layton, 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.) no qual a confiança determina o grau de legitimidade da empresa que presta o serviço. Essa confiança vai ser compartilhada não apenas entre a contratante e a empresa de auditoria e o agente, mas também entre a contratante e todos os seus diversos públicos com base numa opinião consubstanciada em relatório.

O relatório é, em essência, o documento no qual o auditor emite sua opinião acerca da adequação das demonstrações contábeis da empresa auditada à estrutura de relatório financeiro aplicável segundo avaliação das conclusões da auditoria (Almeida & Lemes, 2013Almeida, N. S. D., & Lemes, S. (2013). Evidências do entendimento de quatro pronunciamentos contábeis por auditores independentes do Brasil. Revista de Administração Contemporânea, 17(1) 83-105.; Crepaldi, 2013Crepaldi, S. A.(2013). Auditoria contábil: teoria e prática. Atlas.). Fundamentados no grau de confiança desse relatório, os agentes do sistema de mercado tomarão suas decisões estratégicas.

No que tange a essas dinâmicas de sistema de mercado, um aporte relevante da pesquisa em macromarketing é a teoria MAS, proposta por Layton (2014Layton, R. A. (2014). Formation, growth, and adaptive change in marketing systems. Journal of Macromarketing, 35(3), 302-319., 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.). O autor, como fruto de seus estudos sobre o comportamento dos sistemas de mercado, propõe uma divisão em três áreas: (M) se refere aos mecanismos sociais que estabelecem as relações entre os agentes no mercado; (A) descreve os campos de ação desses agentes em que os mercados são sítios para transações e mudanças; e (S) se relaciona com as estruturas criadas para organizar e estabilizar os sistemas. A ideia delineia modelos representativos como sistemas capazes de produzir funcionalidade econômica no macromarketing.

Mediante os contextos de sistema de mercado, mecanismo social, mercado de auditoria e jogo de poder, que funcionam de acordo com a comunicação entre agentes, o presente ensaio traz uma análise a respeito da confiança e das relações de poder no sistema de mercado de serviços de auditoria, relevante em termos econômicos e sociais, diante das expectativas atribuídas ao trabalho de auditoria independente. O desenvolvimento é dividido em cinco seções.

Logo após a introdução, é apresentada uma discussão a respeito dos conceitos de governamentalidade e governança, a qual aponta de que modo a confiança serve como técnica de governamentalidade e é capaz de formatar mercados. A terceira seção traz uma apresentação da teoria MAS e destaca a importância dos mecanismos sociais para o funcionamento estável de sistemas de marketing. Na quarta, é analisado o papel da confiança como mecanismo social que dá estabilidade ao sistema de mercado de auditoria, permitindo estabilidade do sistema de mercado de auditoria e uma licença para operar outros sistemas de mercado. Por fim, a quinta seção traz as considerações finais.

A CONFIANÇA COMO TÉCNICA DE GOVERNAMENTALIDADE E GOVERNANÇA

O conceito de governamentalidade surgiu durante as aulas de Foucault (2010Foucault, M. (2010a). A coragem da verdade. WMF.) nos anos 1978 e 1979. Nessa época, ele se preocupava em detalhar um governo político, de modo a aprofundar a discussão enfática sobre as formas de governar. Desse modo, expandiu o significado da palavra “governamentalidade”, definindo-a como uma arte de governar segundo um conjunto de técnicas essenciais aos sujeitos para o exercício de poder. Essa temática que Foucault buscou analisar abrange as questões de subjetividade e a formação do Estado como única perspectiva, com o objetivo de tratar das estruturas que organizam o campo social (Lemke, 2017Lemke, T. (2017). Foucault, governamentalidade e crítica. Filosófica Politeia.).

Por volta da metade do século XVIII, a governamentalidade foi analisada por Foucault sob o prisma liberal, chamada por alguns autores de governamentalidade liberal. O mercado passou a ser visto como o local e o mecanismo de formação da verdade sobre o Estado e sobre a arte de governar. Houve uma queda da intervenção do Estado no mercado, a fim de que a verdade fosse produzida e instaurada como regra à prática governamental, de maneira que o mercado é que deveria formar o preço natural das coisas. Assim, as noções de governamentalidade e arte de governar são sinônimas para Foucault (Alcadipani, 2008Alcadipani, R. (2008). Dinâmicas de poder nas organizações: a contribuição da governamentalidade. Comportamento organizacional e gestão, 14(1) 97-114., p. 101), podendo ser aplicáveis a todos os agentes do sistema.

As formas de poder são absorvidas entre os membros do corpo social como um antídoto inescusável para o bem-estar empresarial e profissional. Neste estudo, ressaltam-se o poder soberano, aquele piramidal, podendo ser identificado como o poder hierárquico, e o poder disciplinar, aquele que tem a incumbência de defender a sociedade com o adestramento para produzir um indivíduo eficiente, eficaz e efetivo (Foucault, 2010Foucault, M. (2010a). A coragem da verdade. WMF.). O poder não atua em conformidade com a lógica binária de dominadores versus dominados (Foucault, 2022Foucault, M. (2022). Nascimento da biopolítica. Edições 70.; Lemke, 2017Lemke, T. (2017). Foucault, governamentalidade e crítica. Filosófica Politeia.), e sim como uma relação entre agentes.

O poder são relações entre os indivíduos, os quais podem conduzir a conduta de outro (Foucault, 1980Foucault, M. (1980). Power/Knowledge. Pantheon Books.; 2010Foucault, M. (1999). Ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Loyola.). Trata-se de um exercício de governo, no sentido amplo do termo. Pode-se governar uma sociedade, mas também uma pessoa, ao determinar sua conduta. Isso é a governamentalidade, entendida como um conjunto de técnicas que permitem que o poder se exercite (Castro, 2021Castro, E. (2021). Introdução a Foucault. Autêntica.; Foucault, 2010Foucault, M. (2010a). A coragem da verdade. WMF., 2022Foucault, M. (2022). Nascimento da biopolítica. Edições 70.). Os participantes do sistema de mercado se valem das técnicas de governamentalidade (TG), que se moldam e remoldam de acordo com a ética e a atuação do sujeito/agente. Nesse jogo, o sujeito (governante) será o que detém mais TG e, consequentemente, poder (Figura 1).

Quando se faz a menção de que, quanto maior o TG, maior será a capacidade de poder, entende-se que cada TG carrega em si algum tipo de poder, os quais, ao se juntarem, criam uma expansão. A confiança é considerada uma TG porque as relações no mercado estão pautadas nela, no sentido de que a ausência de confiança implica uma dissolução de transações. Assim, o sujeito que tem confiança detém poder. Caso seja acrescentada mais TG a ele, seu poder será expandido. Já as práticas de governança (Layton, 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.) são construídas a partir do sujeito que já detém o poder, aquele que está no topo da pirâmide (Figura 1). Elas estão relacionadas com a gestão do poder adquirido na forma de governamentalidade.

Nesse contexto, se há uma relação entre agentes, e se essas relações acontecem em sítio definido por mecanismos sociais com a ajuda de estruturas criadas especificamente para organizar o mercado em sistemas, então, as conexões de Foucault e Layton fazem sentido na história porque ambos descrevem uma arte de governar. Para Layton, a governança. Para Foucault, a governamentalidade.

Figura 1
Técnicas de governamentalidade e práticas de governança

Segundo Foucault (1980Foucault, M. (1980). Power/Knowledge. Pantheon Books., 2000, 2002Foucault, M. (2002). Vigiar e punir: nascimento da prisão. Vozes., 2010Foucault, M. (2010a). A coragem da verdade. WMF., 2022Foucault, M. (2022). Nascimento da biopolítica. Edições 70.), o funcionamento das relações de poder no campo social tem como ponto de ancoragem uma relação de força estabelecida em dado momento. Assim, são apresentadas duas premissas para criar essa relação. A primeira seria a forma de repressão, sendo o poder algo que reprime a natureza, os sentimentos, um grupo, uma classe e as pessoas em geral. A segunda seria a que compreende o poder como uma relação de combate, de enfrentamento ou de guerra, devendo a política ser analisada “como uma guerra continuada” por meios não bélicos.

Para que a governamentalidade seja uma forma de governo eficaz, a legitimidade exerce uma função contributiva para os sujeitos, pois ela é um sistema interativo de crenças e valores entre as instituições e a sociedade. Segundo Weber (2022Weber, M. (2022). Economia e sociedade. Biblioteca 70., p. 67), a legitimidade pode ser reconhecida em duas formas: jurídica, advinda do direito, e por convenção (costumes). A segunda, por sua vez, pode ser subdividida de três maneiras: afetiva, por devotamento sentimental; axiológico-racional, pela crença em sua validade absoluta como expressão de valores supremos vinculatórios - por exemplo, os valores morais e estéticos -; e religiosa, pela fé que se tem na dependência entre a posse de um bem salvífico e sua observância.

Com essa visão de Weber (2002Weber, M. (2022). Economia e sociedade. Biblioteca 70.), fica evidente como as TG estimulam as relações de poder. A legitimidade transmite confiança, a qual gera legitimidade. Como TG, ambas estão interligadas, embora tenham significados distintos. A análise do seguinte aforismo pode auxiliar nesse entendimento: “A beleza da mulher está no corpo esguio, nos cabelos longos e no sorriso brilhante.” Suponha que, nesse exemplo, a legitimidade ocorra por convenção. Seria plausível que esse padrão de beleza feminina se tornasse predominante, tornando-se o modelo desejado por boa parte das mulheres e, consequentemente, afetando o sistema de mercado.

Desse modo, o sistema de mercado poderia sofrer mutações e ser remodelado, principalmente nos aspectos micro, como o aumento do consumo de tratamentos de beleza, de medicamentos emagrecedores, de suplementos para tratamento capilar, de clareamento dental, entre outros. Quem tem poder para definir o padrão de beleza define os produtos que serão demandados. Para Foucault (2022Foucault, M. (2022). Nascimento da biopolítica. Edições 70., p. 40), a natureza humana é algo que passa sob e pelo próprio exercício da governamentalidade. Em resumo, é sua hipoderme substancial ou a outra face de algo somente visível aos governantes, que é a própria ação deles.

A noção de docilidade que une ao corpo analisável o corpo manipulável (Foucault, 2002Foucault, M. (2002). Vigiar e punir: nascimento da prisão. Vozes., p. 134) observa o exercício de poder de forma crítica, em busca de captar se ele existe por acaso ou se um sujeito faz alguma coisa em nome dele de maneira não fundamentada (Lynch, 2018Lynch, R. A. (2018). Michel Foucault: conceitos fundamentais. Vozes.). A produção de um sujeito dócil e moldável está presente mais em governança porque ela se preocupa em saber como o poder é exercido. No entanto, a governamentalidade, como técnica de poder, é um atributo intrínseco do sujeito ou desenvolvida durante a construção social. Então, a partir da governamentalidade, da alma do sujeito, o poder é constituído - relações que, em macromarketing, pela teoria MAS, são tratadas como mecanismos sociais.

TEORIA MAS E MECANISMOS SOCIAIS

As trocas voluntárias praticadas desde os estágios mais primitivos da humanidade são realizadas com o objetivo de melhorar a qualidade de vida. De modo similar, o aperfeiçoamento das formas de trabalho - divisão de tarefas e especialização - deu origem à ascensão da produtividade em nível mais eficiente, culminando na expansão de bens e serviços à disposição dos consumidores (Layton, 2014Layton, R. A. (2014). Formation, growth, and adaptive change in marketing systems. Journal of Macromarketing, 35(3), 302-319., 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572., 2017Layton, R. (2017). Can macromarketing learn from 40,000 years of history?Journal of Macromarketing, 37(3), 334-335., 2019Layton, R. (2019). Marketing systems: looking backward, sizing up and thinking ahead. Journal of Macromarketing, 39(2), 208-224.). Diante disso, os sistemas de mercado emergem como resultado das relações de troca ligadas às normas sociais que estabelecem limites e práticas capazes de provocar o ordenamento comportamental entre os diversos atores (Hutt et al., 1986Hutt, M. D., Mokwa, M. P., & Shapiro, S. J. (1986). The politics of marketing: analyzing the parallel political marketplace. Journal of Marketing, 50(1), 40-51.; Layton, 2007Layton, R. A. (2007). Marketing systems: a core macromarketing concept. Journal of Macromarketing, 27(3), 227-242.).

Em relação a sistemas de mercado, Layton (2007Layton, R. A. (2007). Marketing systems: a core macromarketing concept. Journal of Macromarketing, 27(3), 227-242., p. 230, tradução nossa) apresenta o conceito:

Um sistema de mercado é uma rede de indivíduos, grupos e/ou entidades ligados direta ou indiretamente por meio de participação sequencial ou compartilhada para troca voluntária. Em conjunto, criam, reúnem, transformam e disponibilizam sortimentos de produtos, serviços, experiências e ideias, fornecidos em resposta à demanda do cliente.

Os sistemas de mercado são ajustados por instrumentos governamentais e políticos que definem as normas e os limites de atuação (Hutt et al., 1986Ibracon. (s/d). Mend the gap series. http://www.ibracon.com.br/sib/gc/upload/1678900189.pdf
http://www.ibracon.com.br/sib/gc/upload/...
). Pode-se observar que os mercados vêm sendo moldados com base nas relações de poder manifestadas por seus agentes. Essa perspectiva aproxima as propostas de Foucault (2021) sobre o entendimento das relações de poder com as de Layton (2014Layton, R. A. (2014). Formation, growth, and adaptive change in marketing systems. Journal of Macromarketing, 35(3), 302-319.), que tratam dos mecanismos sociais de definição de sistemas de mercado, e as de Shultz et al. (2017Shultz, C. J., Rahtz, D. R., & Sirgy, M. J.(2017). Distinguishing flourishing from distressed communities: vulnerability, resilience and a systemic framework to facilitate well-being. In R. Phillips, & C. Wong(Eds.), Handbook of community well-being research(pp. 403-421). Springer.), que explicam o papel das instituições catalisadoras (governo, empresas e ONGs). Na prática, o funcionamento dos mercados não é explicado de forma completa pelas teorias econômicas (Cochoy, 2014).

Os mecanismos sociais atuam como fio condutor da interação dos agentes para o compartilhamento de necessidades, para a cooperação de funcionalidades e para competirem entre si. Essas relações de força são frequentemente exercidas para obter poder em disputas hierárquicas coopetitivas quando os entendimentos comuns e a comunicação entre os agentes são necessários para trocas voluntárias (Layton, 2008Layton, R. A. (2008). The search for a dominant logic: a macromarketing perspective. Journal of Macromarketing, 28(3), 215-227., 2014Layton, R. A. (2014). Formation, growth, and adaptive change in marketing systems. Journal of Macromarketing, 35(3), 302-319., 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.).

Por fim, em decorrência de todas essas dinâmicas, o sistema poderá evoluir ou regredir, na medida em que os agentes sejam bem ou mal atendidos pela forma como o sistema foi moldado. Caso o sistema de mercado não atenda às expectativas dos agentes, estes o abandonarão, e o sistema poderá entrar em colapso (Müller et al., 2023Müller, M. L.; Sauerbronn, J. F. R.; Fonseca, M. J. (2023). Submissão e autonomia: proposições acerca da posição de consumidores no sistema de mercado de imóveis de Porto Alegre. Revista ADM.Made, 26, 53-70.). O mecanismo social pode ser compreendido como a relação estabelecida entre os participantes do mercado, a qual pode ser de poder, configurando a atuação no campo social. Assim, pensar que a confiança faz aumentar o poder de agência no mercado de auditoria explica o porquê de serem poucas as empresas que oferecem esses serviços e da grande disputa por esse poder.

Figura 2
Formação, crescimento e adaptação em sistemas de mercado

As relações de força e de poder são transcorrentes nesses sistemas diante da suposição de que tudo está interligado (Müller et al., 2023Müller, M. L.; Sauerbronn, J. F. R.; Fonseca, M. J. (2023). Submissão e autonomia: proposições acerca da posição de consumidores no sistema de mercado de imóveis de Porto Alegre. Revista ADM.Made, 26, 53-70.). A explicação da teoria MAS se baseia na ideia de que cada participante, de forma individual, carrega uma ética de instintos, compostos por competências evoluídas, linguagem e comunicação; um conjunto complexo de crenças, decorrente da experiência de vida e fundamentado em entendimentos, normas, princípios e práticas sociais culturalmente estabelecidas, aceitáveis ou impostas; padrões de comportamento que reproduzem instintos de sobrevivência e senso de utilidade, empatia pelos outros, intelectualidade, competência para fazer planejamentos, consciência das imposições do ambiente socioeconômico e da história; e, por fim, discernimento do surgir progressivo de infraestruturas físicas tangíveis e intangíveis, figurativas e geradas pelo funcionamento dos sistemas sociais com o passar do tempo (Layton, 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572., p. 564).

Para o autor, é nessa diversidade entre os participantes, mediante atuação dos agentes envolvidos na troca econômica, que emergem os sistemas de mercado em todos os níveis, do micro ao macro, nas comunidades sociais, conforme apresentado na Figura 2.

O funcionamento dos mecanismos sociais é observado pelos agentes no sistema de mercado, e as transformações que acontecem nele, em muitos casos, trazem benefícios aos agentes, como vantagens nas trocas econômicas, especializações, crescimento e escala, além de inovação estratégica e gerenciamento de riscos (Layton, 2014Layton, R. A. (2014). Formation, growth, and adaptive change in marketing systems. Journal of Macromarketing, 35(3), 302-319.). Com o objetivo de aprimorar os benefícios e instigados por interesses intrínsecos, os agentes entram em operação, e os poderes políticos, sociais e econômicos são remodelados no tempo em que o mercado e as estruturas sociais emergem como consequência dessas ações dos agentes (Hunt, 1981Hunt, S. D. (1981). Macromarketing as a multi-dimensional concept. Journal of Macromarketing, 1(1) 7-8.; Layton, 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.; Müller & Sauerbronn, 2022Müller, M. L., & Sauerbronn, J. F. R. (2022). Observando as bordas do mercado: uma análise a respeito de como instituições e sistemas normativos formatam os sistemas de marketing. In Anais do 46ºEncontro da Anpad, Maringá, PR, Brasil.).

O sistema de mercado se encontra estável quando as relações entre os participantes estão estabelecidas, quando as regras e a governança interna ou externa são conhecidas e quando as redes de negócios são convencionadas. Nesse cenário, os participantes se agrupam em titulares, aqueles que detêm o poder e são beneficiários das coisas; competidores, os que buscam formas de competir com os titulares; e entidades de governança, que procuram manter o status quo interna e externamente (Layton, 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.).

O colapso, no entanto, é uma possibilidade real quando os entendimentos, as regras e, muitas vezes, as instituições começam a ruir em virtude das pressões externas, graças a forças internas ligadas a áreas políticas, sociais ou religiosas. Layton (2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.) aponta os mercados paralelos do pós-guerra na Alemanha como exemplo disso.

Embora existam semelhanças estruturais e funcionais nos sistemas de mercado, cada um deles difere em detalhes. Num contexto histórico, é essencial, dada a diversidade inerente aos sistemas de mercado, identificar com cuidado os participantes, os grupos e as entidades que compõem os sistemas, as variedades oferecidas, as propostas de valor feitas, os entendimentos, as normas, as regras, as instituições, a infraestrutura e os artefatos que fazem parte da configuração do sistema e do ambiente (Layton, 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.), tornando-os únicos e identificáveis.

SISTEMA DE MERCADO DE AUDITORIA E A CONFIANÇA

O primeiro auditor provavelmente foi um proficiente guarda-livros a serviço do mercado italiano do século XV ou XVI que, pela reputação de sua sabedoria, passou a ser consultado por outros sobre a escrituração de suas transações. Acredita-se que o termo “auditar” tenha aparecido nos fins do século XIII, na Inglaterra, durante o reinado de Eduardo I. A palavra “auditoria” vem do latim audire, que significa “aquele que ouve” (Crepaldi, 2013Crepaldi, S. A.(2013). Auditoria contábil: teoria e prática. Atlas.; Martins et al., 2012Martins, E., Diniz, J. A., & Miranda, G. J. (2012). Análise avançada das demonstrações contábeis: uma abordagem crítica. Atlas.).

Os serviços de auditoria estão associados a um sistema de mercado e são construídos sob mecanismos sociais, cuja função é promover a interação entre os participantes (Layton, 2009, 2014, 2015). Assim, considera-se a confiança um mecanismo social com uma característica importante: conceder poder a um participante do mercado. Logo, os agentes estão engajados na disputa para obtê-la. Sua atuação se constitui a partir das relações sociais, sobretudo por meio do discurso que estabelece as interações pessoais ou força a estabelecer relações que gerem confiança.

Layton (2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.) afirma que os mecanismos sociais visam explicar o fundamento de um sistema de mercado e os campos de ação interligados em diversas categorias (Peterson, 2013Peterson, M. (2013). Sustainable enterprise: a macromarketing approach. Sage Publications.), que têm como objetivo tratar da coevolução de ideias, das ações e das práticas sociais responsáveis pelo funcionamento de um sistema de mercado e por dar vida ao campo de ação dos participantes. As ações no campo ocorrem por meio de variações aleatórias e por outras planejadas em ideias, de comportamentos e de práticas sociais submetidas a processos de seleção individual ou grupal, seguidas de replicação e compartilhamento (Layton, 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.). Em especial, algumas categorias são mecanismos geradores de confiança que levam ao desenvolvimento de entendimentos do grupo - por exemplo, legitimação, ação coletiva e surgimento de líderes (Layton, 2014Layton, R. A. (2014). Formation, growth, and adaptive change in marketing systems. Journal of Macromarketing, 35(3), 302-319., 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.).

Figura 3
Desenvolvimento dos serviços de auditoria

Os mecanismos sociais elementares que geram um sistema de mercado abarcam, necessariamente, uma ética darwiniana composta por crença, normas e institucionalidade; uma comunicação que seja capaz de produzir confiança ou cooperação entre os participantes; os beneficiários reconhecidamente diante das relações de poder, ou seja, aqueles que levam vantagem na troca de valor, na especialidade, na hierarquia, na decisão estratégica e na prudência sobre os riscos e a infraestrutura de redes e o ambientalismo de sistemas complexos emergentes (Layton, 2014Layton, R. A. (2014). Formation, growth, and adaptive change in marketing systems. Journal of Macromarketing, 35(3), 302-319., 2015). Esses mecanismos são responsáveis pelas mutações nas dinâmicas de mercado e, em muitos casos, podem gerar complicações imprevisíveis e apresentar brechas de mercado (Layton, 2014Layton, R. A. (2014). Formation, growth, and adaptive change in marketing systems. Journal of Macromarketing, 35(3), 302-319.; Redmond, 2018Redmond, W. (2018). Marketing systems and market failure: a macromarketing appraisal. Journal of Macromarketing, 38(4), 415-424.). Desse modo, a confiança é um dos mecanismos sociais capazes de moldar e remoldar o sistema de mercado de auditoria mediante seu discurso disseminado no campo social. As empresas confiam na opinião do auditor e tomam decisões a partir dessa opinião, consubstanciada em relatório regulamentado pelas normas de auditoria.

Layton (2019Layton, R. (2019). Marketing systems: looking backward, sizing up and thinking ahead. Journal of Macromarketing, 39(2), 208-224.) mostra o caminho percorrido desde que apresentou a teoria MAS, observando alguns fatores que carecem de diligência: a ascensão do interesse econômico na criação de redes complexas de troca, os mecanismos sociais que favorecem as crescentes organizações em rede e o poder em exercício contínuo, que influencia os campos de ação dos agentes e suas consequências para o aperfeiçoamento dos mercados. Nesse cenário, a qualidade do trabalho de auditoria realizado parece ser idônea.

O mercado de auditoria age como uma espécie de paraquedas, no sentido previdente, concedendo aos clientes um nível de confiança suficientemente razoável para a tomada de decisões testificadas segundo um exame profundo das demonstrações contábeis, reduzindo as possibilidades de perdas financeiras iminentes na economia. Ademais, pressupõe-se que essa confiança se torna cíclica quando demonstrada a competência ao corpo societário em suas demandas com a obtenção de empréstimos das mais conceituadas instituições de crédito, resultando em potenciais parcerias para investimentos conjuntos (Barker & Jones, 2011Barker, A., & Jones, A. (2011, November 29). ‘Big four’ accountants face audit reform. The Financial Times. https://www.ft.com/content/a4f58dba-1a89-11e1-ae4e-00144feabdc0
https://www.ft.com/content/a4f58dba-1a89...
; Bhaskar & Flower, 2019Bhaskar, K., & Fower, J. (2019). Disruption in the audit market: the future of the big four. Routledge.; Gow & Kells, 2018Gow, I. D., & Kells, S. (2018). The big four. Trobe University Press, Black Inc.).

A opinião do auditor constante no relatório não depende de qualquer autorização da empresa auditada, de modo que ele não precisa de autorização da entidade para discordar de suas demonstrações contábeis e assim se manifestar no relatório. Em muitos casos, o auditor pode até sugerir que a entidade modifique as demonstrações contábeis e a empresa pode concordar em fazer tais alterações sugeridas. A opinião do auditor não tem a intenção de atestar a boa ou má prática de gestão da empresa, o desempenho, o compromisso ético de seus gestores ou outras circunstâncias, e sim de atestar a fidedignidade das demonstrações contábeis, com o objetivo de aumentar o grau de confiança dos usuários dessas informações (Almeida, 2012Alcadipani, R. (2008). Dinâmicas de poder nas organizações: a contribuição da governamentalidade. Comportamento organizacional e gestão, 14(1) 97-114.; Crepaldi, 2013Crepaldi, S. A.(2013). Auditoria contábil: teoria e prática. Atlas.; Marion & Ribeiro, 2017Marion, J. C., & Ribeiro, O. M. (2017). Introdução à contabilidade gerencial. Saraiva.).

A respeito dos mecanismos sociais, Foucault (1999Foucault, M. (1999). Ordem do discurso: aula inaugural no Collège de France, pronunciada em 2 de dezembro de 1970. Loyola., 2019, 2022Foucault, M. (2022). Nascimento da biopolítica. Edições 70.) demonstra intensa preocupação sobre as coisas, os sujeitos, e a forma como eles podem viver num ambiente de dominação por efeito das relações de força e de poder constantes nas esferas governamentais, nas instituições e, consequentemente, na economia. Layton (2014Layton, R. A. (2014). Formation, growth, and adaptive change in marketing systems. Journal of Macromarketing, 35(3), 302-319., 2015Layton, R. A. (2015). Macromarketing, marketing systems, and the framing of marketing history. Journal of Historical Research in Marketing, 7(4), 549-572.) percebe que as pessoas coabitam os sistemas de mercados e que esses sistemas são operados por agentes responsáveis por definir o comportamento humano, dando-lhes direcionamento, moldando suas orientações acerca de quem são, do que fazem e de como devem tocar suas vidas. Face a esse argumento, recorre-se à proposta de Dixon (1984Dixon, D. F. (1984). Macromarketing: a social systems perspective. Journal of Macromarketing, 4(2), 4-17.), que aponta que o sistema de mercado funciona como um complexo mecanismo social composto de estruturas e papéis decorrentes da demanda, da satisfação e do abastecimento de bens e serviços.

Esse mecanismo coordena a rede de produção e as dinâmicas internas e externas suportadas no mercado, ressaltando uma forma diferente de ser e de pensar inserida numa ontologia de mercado. Nesse aspecto, trata-se mais de um tipo de relação entre governantes e governados do que de uma técnica dos governantes com relação aos governados (Foucault, 2022Foucault, M. (2022). Nascimento da biopolítica. Edições 70., p. 278). Como Peterson (2013Peterson, M. (2013). Sustainable enterprise: a macromarketing approach. Sage Publications.) observou, não existem grandes barreiras entre mercado e sistemas sociais; eles estão interligados porque os mecanismos sociais são elementos inerentes aos participantes dos mercados.

Figura 4
Sistema de mercado de auditoria, legitimidade e governamentalidade

Atualmente, os serviços de auditoria têm sido o meio de evidenciação mais eficiente e eficaz para assegurar os níveis de confiança nos sistemas de controle da administração empresarial, uma vez que eles têm a capacidade de promover maior tranquilidade aos investidores e ao governo. De acordo com a Norma Brasileira de Contabilidade Profissional de Auditoria Independente (NBC PA 01), o auditor tem características fundamentadas na imparcialidade, no ceticismo profissional, na integridade, no sigilo profissional e na confiança, tornando-se habilitado regularmente para examinar os processos contábeis - e os administrativos, quando necessário - de empresas e, ao final, emitir uma opinião por meio de relatório consubstanciado. As principais vantagens ofertadas pelas empresas de auditoria são a independência e a confiança nas informações prestadas, por não haver vínculo empregatício do auditor com a empresa auditada (Almeida, 2012Alcadipani, R. (2008). Dinâmicas de poder nas organizações: a contribuição da governamentalidade. Comportamento organizacional e gestão, 14(1) 97-114.; Almeida & Lemes, 2013Almeida, M. C. (2006). Auditoria. Atlas.; Arnold, 2012Arnold, P. J. (2012). The political economy of financial harmonization: the East Asian financial crisis and the rise of international accounting standards. Accounting, Organizations and Society, 37(6), 361-381.; Crepaldi, 2013Crepaldi, S. A.(2013). Auditoria contábil: teoria e prática. Atlas.; Homero, 2015Marion, J. C., & Ribeiro, O. M. (2017). Introdução à contabilidade gerencial. Saraiva.; Marion & Ribeiro, 2017Marion, J. C., & Ribeiro, O. M. (2017). Introdução à contabilidade gerencial. Saraiva.; Niyama, 2005Niyama, J. K. (2005). Contabilidade internacional. São Paulo.).

Como a auditoria examina todas as operações da empresa que impactam as áreas financeira e contábil, identificando a melhor forma de conduzir o planejamento e a gestão fiscal e tributária, oportunizando a gestão dos riscos inerentes à atuação no mercado, é possível afirmar que essa atividade se consolidou como um instrumento estratégico nos processos de tomada de decisão, no intuito de potencializar os lucros e as atividades das organizações (Almeida & Lemes, 2013Almeida, N. S. D., & Lemes, S. (2013). Evidências do entendimento de quatro pronunciamentos contábeis por auditores independentes do Brasil. Revista de Administração Contemporânea, 17(1) 83-105.; Padoveze, 2006Padoveze, C. L. (2006). Contabilidade gerencial: um enfoque em sistema de informação contábil. Atlas.).

Todas as instituições que auferem lucro acima de R$12 milhões ao ano estão sujeitas, pelo regime legal, ao exame de seus demonstrativos contábeis-financeiros por um auditor independente ou uma empresa de auditoria. Essas características visam reforçar a relevância da confiança no sistema de mercado de auditoria e nos demais mercados, tendo em vista a premissa de que todos estão interligados (Layton, 2014Layton, R. A. (2014). Formation, growth, and adaptive change in marketing systems. Journal of Macromarketing, 35(3), 302-319.; Müller & Sauerbronn, 2022Sauerbronn, J. F. R., Berardinelli, R., & Silva, K. P. (2022). A construção dos sistemas de mercado na perspectiva do macromarketing. Revista Interdisciplinar de Marketing, 12(2), 158-170.; Peterson, 2013Peterson, M. (2013). Sustainable enterprise: a macromarketing approach. Sage Publications.).

Assim, a legitimidade contribui de forma fundamental para as instituições, pois demonstra a aplicabilidade e o seguimento de roteiros, regras, normas, procedimentos, valores e modelos internos de segurança. Já para investidores e fornecedores, a legitimidade funciona como mecanismo de segurança a respeito das informações publicadas pelas empresas e tem a capacidade de assessorar o processo decisório, apesar da incerteza real sobre o futuro desempenho financeiro da organização (Zimmerman, 2002Zimmerman, M. A., & Zeitz, G. J. (2002). Beyond survival: achieving new venture growth by building legitimacy. Academy of Management Review, 27(3), 414-431.). Trata-se de um recurso de ordem operacional que as organizações utilizam para ganhar competitividade (Schumann, 1995Suchman, M. C. (1995). Managing legitimacy: strategic and institutional approaches. Academy of Management Review, 30(3), 571-610.).

A depender do sistema de crenças e valores vigentes no ambiente em que essas organizações atuam, determinadas práticas podem contribuir para aumentar ou diminuir o grau de legitimidade, afetando a capacidade de angariar recursos para sua sobrevivência. Consequentemente, elas tendem a se esforçar para serem percebidas como organizações socialmente responsáveis. No caso das empresas de auditoria, o sistema regulatório concedeu um nível elevado de legitimidade, mas o próprio mercado a absorveu, tornando-a social (Weber, 2022Weber, M. (2022). Economia e sociedade. Biblioteca 70.).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A confiança é um fator de coesão dos sistemas de mercado, um dos principais mecanismos sociais de formação e estabilidade. A relação simbiótica da confiança com a legitimidade também a tornam uma TG muito forte quando se pensa nas relações de poder que existem nos campos hierárquicos dos sistemas de mercado.

Por meio do ato discursivo, a opinião consubstanciada do auditor, a confiança é concedida, mais especificamente, no mercado de serviços de auditoria. A transação da confiança é muito difícil porque os detentores da confiança detêm um grau de poder. Graças à escassez das TG, é plausível que a formação de redes de trocas seja uma opção para que os mercados interajam e se moldem. Isso significa que, além de ser um mecanismo social e uma TG, a confiança se torna ainda objeto de mercado, em que as empresas de auditoria atuam de forma soberana.

A estrutura do fenômeno observado abre uma porta para a compreensão mais profunda de ideias e crenças estudadas no campo do macromarketing, mas com ênfase no papel da confiança como objeto de mercado, na forma de mecanismo discursivo. As decisões de investimentos das empresas levam em consideração os relatórios das auditorias frente à confiança que lhes é atribuída. Os investidores utilizam a confiança concedida ao auditor independente, por meio regulamentar, para determinar as estratégias de gestão. Esses investidores empregam capital em empresas pertencentes a variados sistemas de mercados. Cabe pensar na capacidade da confiança de influenciar outros sistemas de mercado, haja vista que a confiança é a expectativa futura que se estabelece de relações sociais hoje disponíveis no mercado.

Ao analisar a confiança sob três diferentes lentes - mecanismo social, TG e objeto de mercado -, este estudo reforçou as dinâmicas nos sistemas de mercado, em que já não se podem separar as relações sociais das relações de mercado. A sociologia, representada neste artigo pela análise das TG, se une aos estudos de mercado em macromarketing para melhor compreender a construção e a estabilização dos sistemas de mercado, seguindo todos os interesses e as capacidades dos agentes envolvidos. Se a confiança é necessária nas relações sociais, que seja construída; se é necessária nos mercados, que seja construída ou comprada.

As empresas de auditoria, representadas por auditores, como argumenta a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC), foram legitimadas para examinar o conjunto de demonstrativos contábeis porque são detentoras do conhecimento e educadas numa ética pautada na verdade. Isso é suficiente para elas serem merecedoras de confiança? Qual dimensão de poder a confiança das empresas de auditoria exibe ao emitir a opinião sobre informações financeiras e contábeis dos clientes? Diante do jogo de poder e das práticas de governamentalidade, como elas funcionam no mercado? O que se propõe com essas perguntas é que elas possam inspirar outros pesquisadores a darem continuidade a estudos nessa área.

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  • DISPONIBILIDADE DE DADOS

    Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.
  • AGRADECIMENTOS - O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior- Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

PARECERISTAS

  • 5
    Rosana Oliveira da Silva (Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro / RJ - Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3971-5217
  • 6
    Francisco Giovanni David Vieira (Universidade Estadual de Maringá, Maringá / PR - Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6204-0855
  • RELATÓRIO DE REVISÃO POR PARES

    O relatório de revisão por pares está disponível neste link: https://periodicos.fgv.br/cadernosebape/article/view/91993/86301

Editado por

EDITOR-CHEFE - Hélio Arthur Reis Irigaray (Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro / RJ - Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9580-7859
EDITOR ADJUNTO - Fabricio Stocker (Fundação Getulio Vargas, Rio de Janeiro / RJ - Brasil). ORCID: https://orcid.org/0000-0001-6340-9127

Disponibilidade de dados

Todo o conjunto de dados que dá suporte aos resultados deste estudo foi publicado no próprio artigo.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    21 Out 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    04 Dez 2023
  • Aceito
    14 Jan 2024
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