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Diversidade, singularidade, sustentabilidade e decolonização: avanços na pesquisa científica nacional

Esta é a nossa primeira edição de 2022 e, por isso, iniciamos renovando os nossos votos de muita saúde, paz e momentos felizes a todos os nossos leitores, autores, avaliadores e assistentes, sem os quais o Cadernos EBAPE.BR não existiria.

Reiteramos que nossa revista está aberta a pesquisas empíricas, ensaios teóricos, estudos de caso e resenhas bibliográficas. Não discriminamos nenhum olhar ontológico ou escolha epistemológica; todavia entendemos que nossas pesquisas e reflexões devam contribuir para a construção de uma sociedade e organizações mais diversas, sustentáveis e democráticas; desvelando, por exemplo, as nuances das organizações ortodoxas, construídas sobre os pilares da hierarquia, da qual tanto dependem e que, na prática, reduzem os trabalhadores (alguns dos quais se julgam livres e inteligentes), cognitivo e emocionalmente, a crianças (Diefenbach, 2020Diefenbach, T. (2020). The democratic organisation: democracy and the future of work. Abingdon, UK: Routledge.).

A rigor, as empresas são “[...] o braço armado do pensamento econômico dominante” (Aktouf, 2004Aktouf, O. (2004). Pós-globalização, administração e racionalidade econômica: a síndrome do avestruz. São Paulo, SP: Ed. Atlas., p. 124), bem como a reificação de um playground contemporâneo para “perpetradores anti-sociais” (Diefenbach, 2015Diefenbach, T. (2015). Hierarchy and organisation: toward a general theory of hierarchical social systems. New York, NY: Routledge., p. 223), donos de personalidades autoritárias (Adorno, 2002Adorno, T. (2002). Aesthetic theory. London, UK: Continuum.; Fromm, 2013Fromm, E. (2013). Escape from freedom. New York, NY: Open Road/Integrated Media.), que produzem e são produzidos pela exigência de cultuar a obediência. Por isso, não podemos nos esquivar de nossa responsabilidade como acadêmicos; pois, mesmo entre nós, há gerentes ineptos e líderes disfuncionais cognitivo, emocional, social e, em especial, moralmente limitados e distorcidos (Parker, 2021Parker, M. (2021, Fevereiro). Democracy to come, in the seminar room. Organization.Recuperado de https://doi.org/10.1177/1350508421995757 ).

Desse modo, nos últimos dois anos, observamos uma linha de convergência entre os estudos e avanços científicos publicados, que dialogam e apresentam, sob diferentes perspectivas e abordagens ontológicas e epistemológicas, avanços com relação a pesquisas produzidas no Brasil sobre diversidade, singularidade, sustentabilidade e decolonização, temas emergentes e necessários em nossa evolução como academia e sociedade.

Buscamos instigar estas discussões em diversas áreas; por isso, o Cadernos EBAPE.BR está aberto a números temáticos; assim, aproveitamos a oportunidade para convidar a todos à submissão de propostas. Qualquer dúvida, não hesitem em nos contatar diretamente. Ficaremos muito felizes.

Em 2021, os professores Russel Belk, Luís Pessôa e Vitor Lima organizaram uma chamada de trabalhos intitulada Uncertain consumption practices in an uncertain future, para qual houve nove submissões, das quais cinco foram aceitas.

Já para a edição Gerenciamento de projetos e infraestrutura nos países em desenvolvimento e economias emergentes, conduzida pelos editores-convidados Lavagnon Ika, Marcos Lopez Rego, Vered Holzman e Nuno Gil, recebemos 17 submissões, as quais ainda se encontram em processo de avaliação.

Para 2022, temos mais quatro chamadas em aberto. Debatendo a escravidão negra nos Estudos em Gestão e Organização de perspectivas decoloniais e afrodiaspóricas, organizada pelos professores Cintia Araújo, Alex Faria, Jair Santos e Nidhi Srinivas, com prazo de submissões de artigos até 28 de fevereiro de 2022. Trabalho, migrações e mobilidade: um diálogo lusófono, com os editores-convidados Andrea Oltramari, Carlos Lopes, Duval Fernandes, Inês Raimundo, João Peixoto e Maria José Tonelli, cujo envio dos resumos expandidos tem prazo até 30 de abril de 2022. Liderança: revisitando e reformulando as grandes questões da teoria e da prática, organizada por Juliana Mansur, Gustavo Tavares, Urszula Lagowska e Liliane Furtado, tem prazo de submissão de artigos até 01 de agosto de 2022. Pensamento crítico versus pensamento organizacional, organizada pelos professores Fernando G. Tenório, Ana Paula Paes de Paula, Andres Abad e Ariston Azevedo, com prazo de submissão de artigos até 02 de dezembro de 2022.

Neste primeiro editorial, gostaríamos também de compartilhar com vocês as boas novas de 2021. Com muita satisfação, fomos aprovados na chamada editorial 2021 do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que tem como objetivo apoiar a editoração e publicação de periódicos científicos brasileiros de alta especialização nas suas diversas áreas de conhecimento. Este é um resultado que reforça o compromisso do Cadernos EBAPE.BR com a política editorial e seriedade em seus processos de publicação científica.

No final de 2021, tivemos a divulgação anual do Fator de Impacto (FI) das revistas nacionais, por meio da Scientific Periodicals Electronic Library (SPELL), indexador e repositório de artigos científicos gerenciado pela ANPAD. O fator de impacto SPELL mensura o quanto os artigos de um periódico cadastrado na base são citados por artigos em outros periódicos que também fazem parte do seu repositório. O Cadernos EBAPE.BR atingiu o FI de 0,675 e está entre as cinco principais revistas de Administração, considerando o “Impacto de cinco anos sem autocitação”. Se considerarmos o “Impacto de dois anos sem autocitação”, este fator cai para 0,469, mas ainda permanecemos entre os dez primeiros colocados.

Em 2021, tivemos a honra e o prazer de dar as boas-vindas aos novos membros do nosso conselho editorial: os professores Russel Belk (York University/Schulich School of Business, Toronto, Canadá), Lavagnon Ika (University of Ottawa/Telfer School of Management, Canadá), Vered Holzman (The Academic College of Tel Aviv-Yaffo, Israel) e Gazi Islam (Grenoble École de Management, França).

No sentido de contribuir com exemplos empíricos para as nossas aulas, bem como aproximar o mundo corporativo da academia, criamos a seção Estudos de Casos & Ensino, destinada a apresentações de casos empíricos, acompanhados de notas de ensino ou pesquisa.

Além disso, a partir de 2022, o Cadernos EBAPE.BR passará a ser bimestral. Com isso, esperamos proporcionar uma maior celeridade ao processo editorial e à publicação dos artigos científicos em suas versões finais, além da publicação em early-view já utilizada pela revista. Atualmente, o tempo médio entre a submissão e a decisão editorial final é de 4 meses, enquanto o tempo médio entre a submissão e a publicação está em 9 meses.

Gráfico 1
Evolução do tempo médio (2017-2021)

Com relação às estatísticas de 2021, recebemos um total de 253 submissões: 237 de autores brasileiros e 16 de autores estrangeiros - Portugal (4), México (3), Estados Unidos (3), Chile (1), Bélgica (1), Colômbia (3), Peru (2) e Canadá (1). Constam deste total as cinco submissões recebidas na modalidade fast track pela divisão de GPR/EnANPAD 2021. Em termos de gênero, 43% dos autores declararam gênero masculino e 57%, feminino. Destas submissões, 59 foram escritas em inglês e uma em espanhol.

Nos últimos doze meses, publicamos 76 artigos em cinco edições. Tivemos 197 autores representando 67 instituições brasileiras e sete internacionais.

No que se refere às taxas de rejeição na etapa de desk review, tivemos uma média de 49% (maior em comparação a 2020, com 36%). A taxa de rejeição pós-avaliação ad hoc atingiu 39% (menor que os 47% de 2020). Assim, nossa taxa de aceite para publicação está em torno de 35%.

Gráfico 2
Evolução das submissões e rejeições (2017-2021)

Iniciamos esta primeira edição de 2022 com o artigo “As diversidades da diversidade: revisão sistemática da produção científica brasileira sobre diversidade na administração (2001-2019)”. Aline Mendonça Fraga, Renato Koch Colomby, Catia Eli Gemelli e Vanessa Amaral Prestes, ao analisar a multiplicidade da diversidade revelada pela pluralidade teórica e empírica, encontraram como resultados, entre outros, a (in)definição e a abrangência do conceito; a incipiência de autoria e de instituição de referência; e as (in)visibilidades de certos marcadores sociais em face da amplitude do conceito e do tema.

Eduardo Vivian da Cunha e Washington Jose de Sousa apresentam o artigo “Administração e indígenas no Brasil: conhecimento e interesse na pesquisa stricto sensu ”, cujo objetivo é delimitar categorias analíticas da pesquisa em temáticas indígenas. Os autores expõem quatro classes de pesquisa: “universidade e acesso de minorias ao ensino superior”, “terra e conflitos”, “organizações, gestão e sustentabilidade” e “organização sociopolítica indígena, Estado e políticas públicas”, que revelam a diversidade nas escolhas epistemológicas da pesquisa de temática indígena na área de Administração, com vieses hermenêutico, empírico-analítico e crítico.

Em “Gestão de organizações culturais: singularidades, abordagens e paradoxo como perspectiva teórica”, Fabiana Pimentel Santos e Eduardo Davel descrevem a produção acadêmica sobre o tema e demarcam um horizonte conceitual-teórico fecundo para estimular pesquisas futuras. Os autores apresentam, portanto, três categorias integradoras da produção acadêmica: perspectivas sobre questões centrais na pesquisa sobre organizações culturais (técnico-operacional e política), singularidades dessas organizações (hipersensibilidade, hipertensão e hiperincerteza) e o paradoxo como um eixo teórico-conceitual crucial para melhorar o conhecimento sobre as organizações culturais.

Mariana Mayumi Pereira de Souza e Ana Paula Paes de Paula apresentam o ensaio teórico intitulado “Por uma teoria crítica das tecnologias de gestão: a ambivalência da tecnologia, a moldura Feenbergiana e a possibilidade da racionalização subversiva”, no qual discutem a possibilidade de tecnologias de gestão por outra base ideológica, trazendo o posicionamento de autores clássicos e contemporâneos. As autoras argumentam que a teoria de Andrew Feenberg pode contribuir para avançar no pensamento sobre a práxis crítica da gestão enquanto tecnologia e apontam para a necessidade de articulação das tecnologias no campo da gestão com outros sistemas tecnológicos libertadores, integrando um projeto político mais amplo.

Em “Moda Sustentável: uma análise sob a perspectiva do ensino de boas práticas de sustentabilidade e economia circular”, escrito por Leonice Troiani, Simone Sehnem e Luciano Carvalho, os autores analisam a inserção das premissas de sustentabilidade e economia circular na formação de alunos do ensino superior. Como contribuição, o estudo oferece aos coordenadores e gestores educacionais subsídios na reestruturação dos projetos pedagógicos dos cursos para a inserção de disciplinas específicas que enfatizem práticas de sustentabilidade e economia circular contemporâneas e emergentes.

Laira Gonçalves Adversi e Rene Eugenio Seifert, no artigo “Limites ao crescimento econômico e à eficiência técnica em organizações alternativas: suficiência e convivencialidade”, investigam uma associação comunitária cujo modo de organizar evidenciou um desalinhamento com o modelo organizacional dominante. Os autores trazem a discussão sobre a necessidade de definições mais precisas quanto à diferenciação entre organizações convencionais e alternativas, visto que algumas características que a literatura atribui às organizações alternativas são apropriadas pelo modelo dominante.

No artigo “Construção de intervenções a partir da aprendizagem experiencial para promover a educação para a sustentabilidade no ensino da gestão”, Nathália Rigui Trindade, Marcelo Trevisan, Lisiane Célia Palma e Maíra Nunes Piveta aplicam a Teoria da Aprendizagem Experiencial (TAE) por meio da construção de intervenções, visando à promoção da Educação para a Sustentabilidade. A pesquisa avança na compreensão de como abordagens construtivistas da aprendizagem podem levar a uma nova proposta de aprendizagem em gestão, capaz de colaborar com o desenvolvimento sustentável.

No ensino teórico “Do espírito do capitalismo ao espírito empreendedor: a consolidação das ideias acerca da prática empreendedora em uma abordagem histórico-materialista”, Janaynna de Moura Ferraz e Deise Luiza da Silva Ferraz discutem sobre as “abordagens críticas no empreendedorismo”, contribuindo para o aprofundamento da crítica à prática empreendedora, situando-a diante do estágio de desenvolvimento das forças produtivas em seu percurso histórico, e não apenas circunscrita ao realismo capitalista que delimita a ação humana ao agir de modo individualista, concorrencial ou liberal.

Em “Decolonizando business history: o caso da historiografia Unilever”, de Alexandre Faria e Jaeder F. Cunha, os autores investigam a negação da América Latina pela historiografia da Unilever (HU) coproduzida pela área de business history (BH). Argumentam que a institucionalização do campo de business history pelo mundo anglo-americano como uma virada pós-imperial é informada por dinâmicas interimperiais e radicalização do binarismo Norte-Sul, ambas protagonizadas pela área de imperial history.

Carlos César de Oliveira Lacerda apresenta sua resenha bibliográfica “Desfazendo silêncios e estereótipos sobre diferenças nos estudos organizacionais da cidade” sobre o livro “Diferenças e territorialidades na cidade.

Nesta edição, contamos ainda com dois Estudos de Casos & Ensino. Primeiro, Mel Girão apresenta o caso “Qualicorp: a dura realidade e a necessidade de repensar a governança corporativa”. A autora descreve a história de uma administradora de benefícios envolvida em um escândalo de corrupção em virtude de uma delação premiada, buscando, criar estratégias que revertam os danos à sua reputação diante de clientes, parceiros e opinião pública em geral, bem como motivar e mobilizar os colaboradores que permaneceram na empresa, garantindo sua capacidade de reter e atrair talentos.

No segundo caso apresentado, “Ethos do trabalho no Agreste das Confecções”, por Elisabeth Cavalcante dos Santos, Ana Márcia Batista Almeida Pereira e Diogo Henrique Helal, os autores buscam levar a reflexão sobre as repercussões da ausência do Estado e da fragmentação das narrativas sobre trabalho para os trabalhadores da região. O caso para ensino é adaptado do documentário “Estou me guardando para quando o carnaval chegar”, dirigido por Marcelo Gomes e lançado em 2019.

Boa leitura a todos!

Prof. Dr. Hélio Arthur Reis Irigaray

Editor-chefe

Prof. Dr. Fabricio Stoker

Editor Adjunto

REFERÊNCIAS

  • Adorno, T. (2002). Aesthetic theory London, UK: Continuum.
  • Aktouf, O. (2004). Pós-globalização, administração e racionalidade econômica: a síndrome do avestruz São Paulo, SP: Ed. Atlas.
  • Diefenbach, T. (2015). Hierarchy and organisation: toward a general theory of hierarchical social systems New York, NY: Routledge.
  • Diefenbach, T. (2020). The democratic organisation: democracy and the future of work Abingdon, UK: Routledge.
  • Fromm, E. (2013). Escape from freedom New York, NY: Open Road/Integrated Media.
  • Parker, M. (2021, Fevereiro). Democracy to come, in the seminar room. OrganizationRecuperado de https://doi.org/10.1177/1350508421995757

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Mar 2022
  • Data do Fascículo
    Jan-Feb 2022
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