PERCEPÇÃO DOS PROFISSIONAIS ATUANTES EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SOBRE A CULTURA DE SEGURANÇA DO PACIENTE

RESUMO:

Objetivo:

compreender a percepção dos profissionais atuantes em um hospital universitário sobre a cultura de segurança do paciente.

Método:

estudo descritivo, com abordagem qualitativa, realizado em um hospital universitário do Nordeste do Brasil no mês de janeiro de 2023. Participaram 56 profissionais da equipe multidisciplinar: enfermeiro, farmacêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico, psicólogo e técnico de enfermagem. Os dados foram obtidos por entrevistas semiestruturadas. O conteúdo textual foi submetido à análise lexicográfica e literatura atual e relevante.

Resultados:

foram analisadas cinco classes: percepções acerca da segurança do paciente e a cultura de segurança; ações para fortalecer a segurança do paciente; percepções acerca da atuação do Núcleo de Segurança do Paciente; contribuições para fortalecer a cultura de segurança e atuação profissional na segurança do paciente.

Considerações

finais: a cultura de segurança do paciente no hospital tem trilhado trajetórias promissoras. O estudo pode direcionar intervenções que fortaleçam a cultura de segurança do paciente.

DESCRITORES:
Cultura Organizacional; Gestão da Qualidade Total; Hospital; Profissionais da Saúde; Segurança do Paciente

ABSTRACT

Objective:

to understand the perception of professionals working in a university hospital about the patient safety culture.

Method:

a descriptive study with a qualitative approach, carried out at a university hospital in the Brazilian Northeast region in January 2023. The participants were 56 professionals from the multidisciplinary, namely: nurses, pharmacists, physiotherapists, speech therapists, physicians, psychologists and nursing technicians. The data were obtained through semi-structured interviews. The text content was subjected to lexicographic analysis and against the current and relevant literature.

Results:

five classes were analyzed: Perceptions about patient safety and the safety culture; Actions to strengthen patient safety; Perceptions about the work of the Patient Safety Center; Contributions to strengthening the safety culture; and Professional performance in patient safety.

Final

considerations: the patient safety culture in the hospital has been on a promising path. The study can direct interventions that strengthen the patient safety culture.

DESCRIPTORS:
Organizational Culture; Total Quality Management; Hospital; Health Professionals; Patient Safety

RESUMEN

Objetivo:

comprender la percepción de los profesionales que trabajan en un hospital universitario sobre la cultura de seguridad del paciente.

Método:

estudio descriptivo, con enfoque cualitativo, realizado en un hospital universitario de la región Nordeste de Brasil, en enero de 2023. Participaron 56 profesionales del equipo multidisciplinario: enfermero, farmacéutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, médico, psicólogo y técnico en enfermería. Los datos se obtuvieron mediante entrevistas semiestructuradas. El contenido textual se sometió a análisis lexicográfico y de la literatura actual y relevante.

Resultados:

se analizaron cinco clases: percepciones sobre la seguridad del paciente y la cultura de seguridad; acciones para fortalecer la seguridad del paciente; percepciones sobre el desempeño del Centro de Seguridad del Paciente; aportes para fortalecer la cultura de seguridad y el desempeño profesional en seguridad del paciente.

Consideraciones finales:

la cultura de seguridad del paciente en el hospital ha recorrido una trayectoria prometedora. El estudio puede orientar intervenciones que fortalezcan la cultura de seguridad del paciente.

DESCRIPTORES:
Cultura Organizacional; Gestión de la Calidad Total; Hospital; Profesionales de la Salud; Seguridad del Paciente

HIGHLIGHTS

A cultura organizacional é primordial para a segurança do paciente.

Os profissionais são propagadores da cultura de segurança do paciente.

Há vieses de compreensão da cultura de segurança do paciente.

A gestão é fundamental na cultura de segurança do paciente.

INTRODUÇÃO

A segurança do paciente é considerada um elemento articulador das diferentes dimensões da qualidade dos serviços de saúde, ou ainda, a base sobre a qual as demais dimensões são construídas. Assim, seu aprimoramento é uma das linhas estratégicas de ação no campo da saúde¹. Ela pode ser compreendida como um conjunto de quadro de atividades organizadas que cria: culturas, processos, procedimentos, comportamentos, tecnologias e ambientes na área da saúde, visando reduzir riscos de forma consistente e sustentável e a ocorrência de danos evitáveis, tornar os erros menos prováveis e diminuir o impacto do dano quando este ocorre².

No contexto nacional, o Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) foi instituído por meio da Portaria N.º 529 do Ministério da Saúde, de primeiro de abril de 2013, tendo como objetivo geral contribuir para a qualificação do cuidado em todos os estabelecimentos de saúde do território nacional. Dentre as estratégias de implementação do PNSP, destaca-se a promoção da cultura de segurança do paciente com ênfase no aprendizado e aprimoramento organizacional³.

Nesse sentido, cabe citar a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n.º 36, instituída pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), que propôs a criação do Núcleo de Segurança do Paciente (NSP) nos serviços de saúde. Destaca-se o importante papel do NSP nas instituições para executar ações do Plano de Segurança do Paciente (PSP)⁴.

O NSP propõe, sobretudo, minimizar a ocorrência de danos e Eventos Adversos (EAs) direcionados aos pacientes que necessitam de cuidados, fornecendo mais qualidade ao serviço prestado e incentivando as notificações dos incidentes⁵.

Nesse ínterim, a cultura de segurança do paciente é resultado de valores individuais e grupais, atitudes, percepções, competências e padrões de comportamento que determinam o compromisso, o estilo e a capacidade para a gestão em saúde e segurança de uma organização⁶.

Destaca-se que o desenvolvimento de uma cultura de segurança é fundamental para qualquer esforço sustentável em direção ao aprimoramento da segurança do paciente. Assim, uma cultura de segurança tem que se incutir nas atitudes, crenças, valores, técnicas e práticas de trabalhadores de saúde, gerentes e líderes de organizações de saúde. Enfatiza-se que uma forte cultura é essencial para reduzir danos ao paciente e crucial para promover um ambiente de trabalho seguro para os profissionais de saúde².

Nesse cenário, os danos causados ao paciente por cuidados inseguros são um grande e crescente desafio global de saúde pública e uma das principais causas de morte e incapacidade em todo o mundo. A maioria destes danos ao paciente é evitável. Assim, o Plano de Ação Global para a Segurança do Paciente 2021-2030 da Organização Mundial da Saúde (OMS) traçou sete objetivos estratégicos, do qual se destaca o objetivo estratégico dois: sistemas de alta-confiabilidade².

O objetivo estratégico dois deste plano recomenda desenvolver e manter uma cultura de respeito, abertura e transparência que promova o aprendizado, e não a culpa e punição, dentro de cada organização de prestação de cuidados ao paciente². Nesse sentido, elucidar a compreensão dos profissionais acerca da cultura de segurança do paciente é essencial para mapear estratégias que criem uma cultura positiva e forte na instituição.

Nessa perspectiva, o aprimoramento da cultura de segurança exige um esforço de todo o sistema de saúde, que envolve amplas ações visando à melhoria dos processos, segurança ambiental e gestão de risco⁷.

Destaca-se o importante papel da gestão em saúde no levantamento regular da cultura de segurança da organização, identificando lacunas e introduzindo abordagens inovadoras². Compreende-se que a percepção dos profissionais atuantes no serviço se constitui fundamental para promover a cultura de segurança do paciente, uma vez que estes são os principais propagadores.

Destarte, o estudo tem como questão norteadora: Qual a percepção dos profissionais atuantes em um hospital universitário sobre a cultura de segurança do paciente? Diante disso, objetiva-se compreender a percepção dos profissionais atuantes em um hospital universitário sobre a cultura de segurança do paciente.

MÉTODO

Trata-se de um estudo do tipo descritivo com abordagem qualitativa realizado com os profissionais atuantes em um Hospital Universitário do Nordeste do Brasil. O modelo amostral se deu por conveniência. No processo de amostragem, buscou-se representatividade das diferentes categorias profissionais, nos turnos matutino e vespertino. Não foram coletados dados dos profissionais do turno noturno devido à indisponibilidade da equipe de pesquisa. Desse modo, participaram 56 profissionais da equipe multidisciplinar que desenvolviam atividades nos diversos setores do hospital.

Como critérios de inclusão, foram estabelecidos: ser profissional atuante no hospital há no mínimo um ano, visto a necessidade de possuir experiência para responder às perguntas realizadas nas entrevistas. Excluíram-se os profissionais que estavam afastados do cargo por qualquer motivo.

A coleta de dados ocorreu no mês de janeiro de 2023. Foram realizadas entrevistas individuais seguindo um instrumento de coleta de dados. As respostas foram registradas em gravação com consentimento prévio dos participantes como forma de armazená-las para posterior análise.

A coleta de dados foi conduzida utilizando um instrumento desenvolvido para esta pesquisa, que objetivou investigar as seguintes questões: compreensão acerca da segurança do paciente; compreensão acerca da cultura de segurança do paciente; ações que o profissional realiza para contribuir com o fortalecimento da cultura de segurança; percepção sobre a atuação do NSP no hospital; e opinião sobre o que pode melhorar para fortalecer a cultura de segurança no hospital.

As questões do instrumento foram elaboradas com o propósito de direcionar as entrevistas com os profissionais da equipe multidisciplinar, de modo a elucidar suas compreensões acerca da cultura de segurança do paciente no hospital da pesquisa e suas percepções em relação ao NSP. Nesse sentido, guiou-se com base na perspectiva da OMS para instaurar a cultura de segurança do paciente no desenvolvimento e prestação de cuidados envolvendo os trabalhadores de saúde².

Destaca-se que a instituição de saúde que foi local da pesquisa dispõe de um setor de gestão da qualidade e vigilância em saúde que desenvolve ações de segurança do paciente. Os membros deste setor são integrantes do NSP do hospital.

As entrevistas aconteceram em locais definidos por cada participante, a fim de não atrapalhar sua espontaneidade. Antes do início das entrevistas, os profissionais receberam esclarecimentos sobre a pesquisa e os aspectos éticos, assinando previamente o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e preenchimento do Termo de Autorização para Gravação de Voz e/ou Registro de Imagens (fotos e/ou vídeos).

O conteúdo textual decorrente das entrevistas foi transcrito e analisado com auxílio do software Interface de R pour les Analyses Multidimensionnelles de textes et de Questionnaires (IRAMUTEQ^®). Para isso, elaborou-se uma planilha de variáveis para a construção do corpus textual.

O IRAMUTEQ^® é um dos diversos softwares de uso livre e com fonte aberta, caracterizando-se como um método informatizado para análise de dados e textos, o qual visa compreender a estrutura e organização de um discurso. Esse software é desenvolvido na linguagem de Python e sua funcionalidade tem como base a estrutura de outro software, sendo este o R⁸. Além disso, é indicado para análise de dados qualitativos que compõe abundantemente o volume textual.

Dentro desse contexto, foram utilizadas a Classificação Hierárquica Descendente e a análise de similitude como métodos de tratamento dos dados. Cada texto (n=56) foi caracterizado pela variável: categoria profissional. A análise do corpus proveniente da transcrição das 56 entrevistas denotou 8.874 ocorrências de palavras, apresentadas em 1.334 formas distintas. O corpus corresponde ao conjunto de textos analisados, em que cada entrevista consolidou um texto.

O software gera classes com base na análise de semelhança dos seus vocábulos, bem como na análise multivariada com as variáveis de interesse estudadas. A contextualização de cada classe ocorre por meio da análise do próprio pesquisador, através da recuperação dos textos nos quais os vocábulos típicos foram utilizados. Assim, a interpretação e análise dos dados foram realizadas baseando-se na literatura atual e pertinente acerca da temática.

A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da instituição com parecer n.º 5.724.266.

RESULTADOS

Foram analisadas as percepções de 56 profissionais da equipe multidisciplinar atuante em um Hospital Universitário acerca da cultura de segurança do paciente (Tabela 1).

Nesta pesquisa, por meio da Classificação Hierárquica Descendente, foram analisados 246 segmentos de texto, retendo 77,64% do total dos textos para elucidação das classes. Na Figura 1, visualiza-se o dendrograma que denota as cinco classes advindas das partições de conteúdo.

Tabela 1
Distribuição dos participantes segundo categoria profissional. Natal, RN, Brasil, 2023

Categoria profissional	n	%
Técnico de Enfermagem	20	35,71
Enfermeiro	19	33,92
Fisioterapeuta	6	10,71
Psicólogo	4	7,14
Farmacêutico	3	5,35
Fonoaudiólogo	2	3,57
Médico	2	3,57
Total	56	100,00

• Fonte: Os autores (2023).

Figura 1
Dendrograma da Classificação Hierárquica Descendente da percepção dos profissionais atuantes em um Hospital Universitário acerca da cultura de segurança do paciente. Natal, RN, Brasil, 2023

A classe um foi intitulada “Percepções acerca da segurança do paciente e a cultura de segurança”, responsável por 28,2% dos segmentos de texto analisados do corpus. As palavras compreender e importante denotam a concepção dos profissionais acerca da segurança do paciente e cultura de segurança, o qual a compreende como importante e essencial no serviço de saúde.

Compreendo a segurança do paciente no hospital como necessária e extremamente importante. Compreendo a cultura de segurança no hospital como crescente. Acredito que não é perfeita, mas tem melhorado e vejo isso não como um problema do hospital, mas sim como um problema global. (Farmacêutica)

Compreendo a segurança do paciente no hospital como muito importante para evitar quedas, erros médicos e erros da enfermagem. Compreendo a cultura de segurança como muito positiva no hospital. (Técnica de Enfermagem)

Compreendo a segurança do paciente no hospital como fundamental para que o paciente se sinta certo de que nada, para além do agravo que o trouxe para cá, irá interferir no seu processo de cuidado. Compreendo a cultura de segurança como necessária, importante e fundamental, e não facultativa. (Psicólogo)

As palavras cuidado e paciente denotaram a compreensão que os profissionais evidenciaram ter no tocante à importância da segurança do paciente para um cuidado seguro e com maior qualidade.

Compreendo a segurança do paciente no hospital como um cuidado desde a elaboração e análise da prescrição até a administração de medicamentos. Engloba tudo isso e outros cuidados. Cada profissional tem as suas particularidades, isso é algo importante que deve ser feito continuamente e acompanhado diariamente. (Farmacêutica)

Compreendo a segurança do paciente como um aspecto essencial na instituição hospitalar para o paciente ser bem cuidado, tenha sua demanda de saúde resolvida e não esteja em risco na instituição de saúde. (Psicóloga)

O vocabulário da classe dois permitiu contextualizar as “Ações para fortalecer a segurança do paciente”, responsável por 23,6% dos dados textuais analisados. As palavras melhorar, capacitação, ação e feedback da classe evidenciaram as ações que podem ser utilizadas para fortalecer a segurança do paciente no hospital da pesquisa.

Na minha opinião, o que pode melhorar para fortalecer a segurança do paciente no hospital é a continuidade de ações de educação permanente com maior frequência e pontuar melhor os indicadores com as equipes. (Fisioterapeuta)

Na minha opinião, o que pode melhorar para fortalecer a segurança do paciente no hospital é a inserção dos integrantes do NSP, na prática, nos setores. (Enfermeira)

Na minha opinião, o que pode melhorar para fortalecer a segurança do paciente no hospital é que o NSP possa realizar feedbacks de retorno dos indicadores por setor, realizar mais capacitações e estar mais junto aos setores. (Enfermeira)

A classe três foi intitulada “Percepções acerca da atuação do NSP”, responsável por 20,4% dos segmentos de texto analisados do corpus. As palavras atuação, núcleo, setor e visita remetem às percepções dos profissionais entrevistados acerca da atuação do setor de segurança do paciente no hospital.

Minha percepção sobre a atuação do NSP no hospital é que, dentre outros lugares em que trabalhei, apesar de existir alguns erros, o NSP do hospital é muito bom. Porém, vejo que o setor não é tão presente na rotina dos setores. (Enfermeira)

Minha percepção sobre a atuação do NSP no hospital é que tem se intensificado bastante. Tenho visto uma preocupação por parte do núcleo em estar sempre atualizando os profissionais, colocando informes nas televisões e fazendo abordagem direta nos setores, bem como, oferecendo palestras. (Técnico de Enfermagem)

Minha percepção sobre a atuação do NSP no hospital é de o núcleo ser bastante atuante. Geralmente os vejo no setor fazendo visita de leito a leito e orientando os pacientes. (Psicóloga)

Minha percepção sobre a atuação do NSP no hospital é o setor ser bastante atuante e ter muita qualidade. Existe o selo de qualidade EBSERH em que um dos requisitos está voltado para a segurança do paciente. (Médico)

No tocante à classe quatro, denominada “Contribuições para fortalecer a cultura de segurança do paciente”, responsável por 16,7% dos segmentos de texto analisados do corpus, as palavras preciso, buscar, seguro e notificar denotaram percepções que os sujeitos da pesquisa demonstraram ter ações que precisam de melhorias para uma cultura de segurança forte na instituição.

Contribuo para a cultura de segurança por meio de atualizações e discussões com outros colegas, a fim de tentar buscar que todos falem a mesma língua. (Enfermeira)

Ainda existe certa resistência de alguns profissionais e as recomendações nem sempre são aceitas. É preciso melhorar a cultura de segurança no que se refere à classe médica, uma vez que existe uma cultura de soberania faltando sensibilidade à causa de segurança do paciente. (Farmacêutica)

Compreendo que a cultura de segurança no hospital precisa ser estimulada diariamente nas equipes. Além disso, é preciso convencer, mostrar o quanto a questão do cuidado seguro se reverte para a segurança do profissional. (Enfermeira)

Compreendo, com relação à cultura de segurança no hospital, que os profissionais não têm o hábito de notificar. Sentem medo, uma vez que acreditam que serão punidos. (Fisioterapeuta)

Por fim, a classe cinco, denominada “Atuação profissional na segurança do paciente”, que englobou 14,1% dos segmentos textuais, destacou os vocábulos lesão, pulseira, queda e identificação, revelando, portanto, elementos que os profissionais identificam no dia a dia profissional para contribuir com a segurança do paciente e que relacionaram com a cultura de segurança.

Contribuo com a cultura de segurança através do meu dia a dia profissional, bem como, nas condutas para prevenir lesão por pressão, minimizar o risco de quedas, enfim, indicadores que vão contribuir para o melhor desempenho do serviço e a recuperação do paciente. (Fisioterapeuta)

Identifico-me, observo a pulseira de identificação, oriento sobre o risco de queda e me mostro disponível. Enfim, tento dar orientações básicas. (Técnica de Enfermagem)

Através da análise da classe cinco, questiona-se o possível viés de entendimento dos profissionais no que concerne à cultura de segurança do paciente no hospital, uma vez que relacionam suas atividades diárias com a cultura de segurança.

A análise de similitude sintetiza as classes destacadas, em que os termos hospital, cultura de segurança, atuação, segurança do paciente e paciente organizam à percepção da equipe multidisciplinar acerca da segurança do paciente e da cultura de segurança do paciente nos diversos setores do hospital (Figura 2).

Figura 2
Imagem da Análise de Similitude sobre o corpus “Percepção dos profissionais atuantes em um Hospital Universitário acerca da cultura de segurança do paciente”. Natal, RN, Brasil, 2023

As palavras em evidência colocam em realce: as ações realizadas para promover a segurança do paciente (vocábulos ligados à palavra hospital), como promover a segurança do paciente (através da cultura de segurança), por intermédio de quem (vocábulos ligados à palavra atuação, que remete ao NSP do hospital), o que se busca (a segurança do paciente) e por meio de quais ações dos profissionais (vocábulos ligados à palavra paciente).

DISCUSSÃO

As percepções dos profissionais que participaram da pesquisa mostraram-se consonantes com a ideia de que a cultura de segurança é um componente crítico para a adesão às práticas seguras no cuidado de saúde e redução de riscos desnecessários em serviços de saúde⁹.

Outrossim, destaca-se que alguns autores questionam o motivo pelo qual os profissionais de saúde avaliam negativamente o clima de segurança nas instituições. Assim, acreditam que um dos motivos pode ser ocasionado pelo fato de os estudos focarem em apenas uma área específica do hospital, abordando apenas uma categoria de sujeitos¹⁰. Com isso, este estudo pode contribuir para preencher essa lacuna, visto que abordou diferentes categorias profissionais e diversos setores.

Por meio da classe um, os profissionais evidenciaram uma compreensão acerca da segurança do paciente como importante e necessária nas instituições. Os profissionais compreendem a temática para além de cuidados assistenciais, envolvendo o percurso do paciente no hospital, que engloba desde o período de admissão até a alta.

Nessa perspectiva, a classe um evidencia as percepções dos profissionais acerca da cultura de segurança, que consideram crescente na instituição. Os profissionais consideram que a necessidade de melhorias na cultura de segurança se refere a um problema global. Isso faz refletir que o hospital da pesquisa galga os caminhos necessários para fortalecer a cultura de segurança.

Destaca-se o crescente interesse entre indivíduos do setor de saúde em avaliar a cultura geral de segurança do paciente em hospitais¹¹. Associado a isso, recomenda-se que as instituições de saúde realizem regularmente levantamento da cultura de segurança, identifiquem lacunas e adotem abordagens inovadoras para promovê-la como forte nos ambientes de saúde².

De tal modo, a classe dois elenca as ações para fortalecer a segurança do paciente no hospital, utilizando a educação permanente, capacitações aos profissionais e, sobretudo, que o NSP esteja mais inserido nas atividades in loco dos setores.

A educação permanente promove importantes mudanças nas organizações de saúde. Assim, treinamentos, capacitações teóricas e práticas surgem como estratégias para fortalecimento da cultura de segurança do paciente. Destaca-se a importância de ofertar os treinamentos e capacitações segundo as necessidades da equipe¹². Compete ao NSP fomentar atividades que promovam a disseminação de ações voltadas à segurança do paciente.

Articulado a isso, a classe três evidencia as percepções acerca da atuação do NSP, de modo que os profissionais consideram que o setor é presente nas atividades. Foi identificado, em sua maioria, que os profissionais acreditam que a atuação do setor tem sido crescente nos últimos anos. Foi evidenciada certa cobrança quando da presença física mais intensa do NSP nos setores, no entanto, observou-se uma suposição quanto ao núcleo possuir poucos colaboradores para as demandas.

Outrossim, foi observado que a maioria dos sujeitos da pesquisa reconhece a atuação do NSP no hospital e a sua presença quando solicitado. Reconhece, ainda, que o setor realiza diversas ações para os profissionais de saúde da instituição, embora alguns tenham classificado essas ações como insuficientes para as demandas.

Conforme a RDC N.º 36, de 25 de julho de 2013, compete ao NSP a realização de ações para promover a segurança do paciente. Dentre as principais ações, destacam-se: identificação e análise de riscos relacionados à assistência à saúde; implantação de medidas preventivas e corretivas para mitigar esses riscos; monitoramento e análise de eventos adversos; notificação e investigação de danos aos pacientes; e a promoção de uma cultura de segurança por meio de capacitações, treinamentos e fomento à comunicação aberta entre os profissionais de saúde⁴.

As contribuições dos profissionais para fortalecer a cultura de segurança, evidenciadas na classe quatro, de forma geral, mostraram a importância da integração da equipe multiprofissional para que assim as recomendações sejam aceitas. Além disso, é necessário o estímulo dessa cultura, que refletirá no combate às subnotificações por parte dos profissionais.

Uma das falas do sujeito da pesquisa se refere à cultura punitiva, percepção presente em muitas instituições no mundo na visão dos profissionais. Um estudo realizado na Espanha objetivou compreender a percepção dos enfermeiros sobre a cultura de segurança do paciente, evidenciando que os profissionais com mais anos de experiências na profissão temem que os erros marquem seus registros¹³.

Além disso, um estudo realizado na Áustria investigou a cultura de segurança do paciente, e o fator avaliado com menor valor foi a resposta não punitiva ao erro. Ainda, sugeriram que pontuações baixas na dimensão comunicação evidenciavam uma forte cultura de culpa, isso decorrente de vários determinantes, dentre eles, a hierarquia cultural na saúde que leva os profissionais a terem medo de falar¹⁴. Por isso, estimula-se a redução de estruturas hierárquicas, atitudes e comportamentos em toda a organização, promovendo a cultura organizacional².

Nessa perspectiva, objetivou-se que a avaliação nacional da cultura de segurança do paciente em hospitais do Brasil no ano de 2021 realizasse a autoavaliação da cultura de segurança utilizando o E-Questionário de Cultura de Segurança Hospitalar, sistema desenvolvido e administrado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).

Os resultados evidenciaram a resposta não punitiva para erros como uma dimensão avaliada como frágil⁹. Isso faz refletir acerca da necessidade de os gestores implementarem estratégias para fortalecer a cultura de segurança nos hospitais, e isso só será possível analisando os potenciais de melhorias na perspectiva dos profissionais.

A classe cinco, por sua vez, denota a atuação que os profissionais identificam como contribuição para a cultura de segurança do paciente.

Dentro desse contexto, uma pesquisa realizada com enfermeiros assistenciais e gestores em um hospital do interior paulista identificou que a cultura de segurança do paciente na perspectiva dos profissionais ainda é vaga e tem como foco o modelo curativo¹⁵.

De tal modo, os resultados demonstraram que os sujeitos da pesquisa atribuem suas práticas profissionais à cultura de segurança do paciente, com ações tais como prevenir lesões por pressão, minimizar o risco de quedas e observar pulseira de identificação do paciente. Isso faz refletir acerca da necessidade de educar e treinar os profissionais quanto à cultura de segurança do paciente, a fim de promover conscientização e compreensão acerca da temática. Antes de promover uma cultura positiva na instituição e justa, a equipe precisa compreender o conceito.

Destaca-se que para a promoção da cultura de segurança do paciente é de suma importância que os administradores hospitalares e gerentes de unidades criem um ambiente de apoio onde a equipe se sinta à vontade para expressar suas preocupações e sugestões¹⁶. Nessa perspectiva, a liderança no âmbito do setor de saúde é a chave para o desenvolvimento da segurança do paciente enquanto cultura⁷.

Em síntese, a gestão em saúde possui papel essencial na cultura de uma organização, sobretudo no mapeamento desta cultura e as estratégias para promovê-la. Com isso, é fundamental que os gestores envolvam ativamente os profissionais de saúde, os quais são importantes propagadores da cultura de segurança.

Enquanto limitações do estudo, tem-se que o estudo refletiu a realidade do hospital estudado, não sendo possível generalizar. Além disso, trata-se de uma temática subjetiva, a qual foi fortemente influenciada pela cultura de segurança da instituição estudada.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As percepções dos profissionais participantes da pesquisa se mostraram consonantes com os objetivos da segurança do paciente. Demonstraram-se como promovedores da segurança do paciente, entendendo-a como transversal, que permeia todas as áreas e processos relacionados ao cuidado em saúde. De igual modo, ocuparam-se em evidenciar que a cultura de segurança do paciente em sua instituição de ensino tem trilhado trajetórias promissoras e consistentes.

Articulado a isso, os profissionais denotaram compreender a cultura de segurança como o caminho a ser percorrido para fomentar a segurança do paciente. Em contrapartida, identificou-se um possível viés de compreensão em relação ao termo cultura de segurança do paciente. Elucidou-se que os profissionais associam suas atividades diárias às contribuições para a cultura de segurança do paciente na instituição.

Desse modo, torna-se pertinente replicar a pesquisa em outros ambientes de saúde e em todos os turnos, de modo que os resultados possam ser ampliados e estratégias possam ser traçadas para promover uma cultura de segurança do paciente forte em cada instituição de pesquisa.

O estudo pode contribuir para a gestão em saúde, uma vez que poderá permitir o desenvolvimento de estratégias de treinamento e educação direcionadas. Além disso, com os dados do estudo, a gestão poderá direcionar e implementar intervenções específicas para fortalecer a cultura de segurança e promover uma mudança de cultura organizacional que valorize a segurança do paciente.

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Editado por

Editora associada:

Dra. Luciana Nogueira

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  22 Jul 2024
• Data do Fascículo
  2024

Histórico

• Recebido
  03 Set 2023
• Aceito
  01 Mar 2024