Resumo
O artigo argumenta que os movimentos feministas emergentes no contexto das lutas políticas contemporâneas da América Latina – como Ni Una Menos – permitem uma reconceituação do político, junto com seus sujeitos e objetos. A singularidade desses movimentos se baseia na maneira como eles conseguiram vincular os assassinatos comuns dos corpos das mulheres às extraordinárias alianças entre diferentes movimentos sociais. Uma inspeção mais minuciosa dessas experiências contínuas que mobilizam diferentes arenas rizomáticas de enredos políticos – como a internet e as ruas – nos permite ver como os apegos e movimentos feministas latino-americanos podem redefinir as práticas democráticas e construir diferentes formas de comunidade. Ao resistir ao que é percebido como ‘uma guerra contra as mulheres na América Latina,’ esses movimentos permitem compreender o funcionamento de uma necropolítica de gênero, que liga a morte das mulheres ao funcionamento da política moderna e das subjetividades modernas. Ao fazê-lo, eles politizam não apenas as vidas (e, portanto, as vozes) das mulheres que lutam no/para o político, mas também as mortes (e, portanto, os silêncios) sobre os quais o político foi construído. Além disso, ao politizar o papel do corpo na arena política e ética, esses movimentos abrem nossos imaginários políticos às possibilidades de novos apegos, filiações e articulações que não são subsumidos sob categorias e valores universais abstratos, nem limitados a identitários e, portanto, legalistas. afirmações do político. Seguindo esses argumentos, defendo que as articulações feministas contemporâneas na América Latina contestam de forma produtiva a validade do ‘humano’ ‘abstrato,’ universal e moderno para pensarmos futuros políticos alternativos. Ao politizar a materialidade e a corporificação juntamente com a linguagem e o discurso como produtivos de ontologias políticas, as feministas abrem o espaço para reivindicar a função política do corpo feminino.
Palavras-chave
América Latina; corpo; feminismo; política democrática; resistência política; feminicídio