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Reflexões sobre a Violência Divina: Fórum sobre a Atualidade da ‘Crítica da Violência’ de Benjamin em seu Centenário, Parte III

Resumo

Walter Benjamin publicou seu influente ensaio ‘Crítica da Violência’ / ‘Zur Kritik der Gewalt’ em 1921, e o trabalho tem incomodado e provocado pensadores de várias disciplinas por mais de um século. Este Fórum reúne um grupo de estudiosos em filosofia, ciência política, relações internacionais e estudos jurídicos para refletir sobre a atualidade do ensaio de Benjamin para a teoria crítica contemporânea. Melany Cruz, Kaveh Ghoreishi e Sara Minelli envolvem Benjamin na ‘violência divina’. Como observa Cruz, o linchamento no México contemporâneo tornou-se um fenômeno recorrente nas mídias nota roja. Devido à sua brutalidade, as percepções do linchamento foram reduzidas a uma forma de crime incivilizado e irracional. Em oposição a essa perspectiva, Cruz teoriza a dimensão política da violência do linchamento ao se basear em Benjamin e argumenta que tal violência simbolicamente e afetivamente dramatiza a suspensão da ‘mera vida’ na qual as comunidades que realizam os linchamentos estão imersas nas condições atuais do México neoliberal. Dessa forma, é possível afirmar que o linchamento, nos termos de Benjamin, constitui uma forma de violência divina que tem a capacidade de revelar e comunicar a necessidade de acabar com a condição provocadora de medo e raiva da ‘mera vida’. Na segunda seção, Ghoreishi e Minelli propõem uma leitura do ‘divino’ em oposição à ‘violência mítica’ que destaca os elementos radicais de algumas lutas contemporâneas ao interpretar alguns exemplos de greve que ocorreram no Curdistão iraniano (Rojhilat) nos últimos quarenta anos. Eles entendem a ‘greve geral’ revolucionária considerada por Benjamin como o que Jesi chamou de ‘suspensão do tempo’, interrompendo as relações econômicas e sociais ‘normais’. Nesse sentido, as greves gerais no Curdistão podem ser ditas como encerrando a temporalidade mitológica da opressão. Essas lutas, nas quais novas formas de coletividade surgiram e foram experimentadas, devem, portanto, ser vistas como antecipações da ‘violência divina’ que põe fim à “violência mítica”.

Palavras-chave
Walter Benjamin; violência política; linchamento; violência divina; México; emoções políticas; Curdistão; greve; Georges Sorel

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