Resumo
Este artigo pretende desafiar os pressupostos dominantes subjacentes à aplicação de enfoques tradicionais aos processos de construção da paz, para além dos contextos formais das políticas pós-guerra. Analisa a trégua das gangues que ocorreu recentemente em El Salvador, tomando-a como um laboratório privilegiado para repensar entendimentos hegemônicos e práticas de construção da paz, abordando especificamente a importância de superar categorias dicotomizadas como “guerra e paz”, “criminal e político” e “sucesso e fracasso”. Afirma-se que, embora a trégua tenha promovido um discurso voltado a um processo de paz continuado e tenha ampliado o debate público sobre as falhas das políticas pós-guerra e sobre as raízes estruturais da violência, a mesma foi ao mesmo tempo decisivamente enfraquecida pela incapacidade de se superar a dicotomia que justapõe os domínios do político e do criminal. Argumenta-se que um quadro de construção da paz inspirado por um conjunto de perspectivas críticas sobre a guerra e a paz e sobre a natureza do “político” pode, portanto, ser de importância crucial para o futuro das políticas de combate à violência em El Salvador e em outros lugares.
Palavras-chave
El Salvador; Gangues; Trégua; Construção da Paz; Violência; Subjetividade Política; Discursos