Homenagem à primeira geração do GEN: A amizade como um caso sério da filosofia

Os Cadernos Nietzsche homenageiam três nomes que há muito vêm contribuindo decisivamente para os estudos e a pesquisa Nietzsche no Brasil: Vânia Dutra Azeredo, André Itaparica e Wilson Frezzatti Jr. Para expressar o reconhecimento pelo trabalho que têm realizado, algo mais do que necessário a fazer, como insistiu Scarlett Marton ao propor a homenagem numa das reuniões da Comissão Editorial, este número da revista traz trabalhos de pesquisadores que dialogaram direta ou indiretamente com cada um dos homenageados.

Tendo a questão da moral e da ética como centrais, Vânia Dutra de Azeredo interpreta a filosofia de Nietzsche a partir de uma chave pouco explorada. O seu primeiro livro, Nietzsche e a dissolução da moral (Azeredo, 2000), escrutina o conceito nietzschiano de moral; o segundo, Nietzsche e a aurora de uma nova ética (Azeredo, 2008), a partir de uma abordagem ampla da ética, traz uma nova diretriz para a filosofia de Nietzsche. Trabalhando igualmente pensadores alemães, em particular Habermas, e franceses, sobretudo Foucault e Deleuze, Vânia Dutra de Azeredo publicou Nietzsche e a condição pós-moderna (Azeredo, 2013). Mantém ainda atividades editoriais, dirigindo a importante coleção “Nietzsche em perspectiva”, que tem publicado inúmeros trabalhos sobre a filosofia nietzschiana.

Com preocupações de natureza epistêmicas, que visa a unir questões das ciências naturais com as ciências humanas e a filosofia, André Luís Mota Itaparica, em seu Estilo e moral em Nietzsche (Itaparica, 2002) e Idealismo e realismo em Nietzsche (Itaparica, 2019), realiza um trabalho sobre temas clássicos da história do pensamento, não deixando de atualizar a problemática e a sua importância para o conhecimento em nossos dias. Tem se dedicado também em traduzir obras de Nietzsche, como a Segunda Consideração Extemporânea, obras de interlocutores, como a A origem dos sentimentos morais, de Paul Rée, e comentadores de Nietzsche.

Trabalhando a interface entre a filosofia de Nietzsche e teorias científicas que foram relevantes para o filósofo, Wilson Antonio Frezzatti Júnior tem realizado um trabalho que não apenas preenche lacunas na bibliografia sobre Nietzsche, mas sobretudo inaugura um campo de pesquisa dos mais férteis. Nesta direção, publicou Nietzsche contra Darwin (Frezzatti Jr., 2014), mas também A fisiologia de Nietzsche: a superação da dualidade cultura/biologia (Frezzatti Jr., 2006), Nietzsche e a psicologia francesa do século XIX (Frezzatti Jr., 2019), além de ter se dedicado à tradução de obras relevantes, como As doenças da personalidade, de Théodule Ribot.

Membros da primeira geração do GEN, Vânia Dutra de Azeredo, André Luís Itaparica e Wilson Frezzatti Júnior enriquecem a pesquisa Nietzsche brasileira interpretando o filósofo a partir de diferentes perspectivas e contribuindo, por conseguinte, de forma decisiva, para abrir e consolidar importantes vias de acesso ao pensamento nietzschiano.

Para dar o tom desta homenagem, as palavras de Olímpio Pimenta, que por razões diversas não pôde contribuir para este número da revista, mas que não deixou de se manifestar numa carta aberta, pode muito bem descrever o débito da pesquisa Nietzsche para com estes três importantes pesquisadores:

“Caríssimos Vânia, André e Wilson,

A amizade entre os da filosofia é um caso sério. Aqueles com quem compartilhamos estudos, afetos, visões e realizações enquanto nos tornamos o que damos conta em termos filosóficos têm lugar especial na nossa vida.

Ao invés de revisitar paisagens teóricas do universo Nietzsche, onde se reconhece a presença orientadora de intervenções dos três, preferi evocar situações em que andamos juntos. Isso sim, sempre em movimento - como são diligentes os colegas do GEN. Salas, auditórios, cantinas, depois a rua, cidades diferentes, pessoas de toda parte, explorando a vida e as leituras filosóficas in vivo. É o que faz tão calorosa a lembrança de vocês nessa hora de homenagens. Sem os encontros e as conversas e sem as iniciativas formidáveis do grupo a que deram ânimo, o cenário teria sido muito menos colorido e decisivo para a formação de muita gente, dentre os quais estou.

Como se vê, a gratidão pelas alegrias do convívio e pelo aprendizado contínuo em comum deram o tom dessa carta. Espero que encontre em vocês disposição parecida” (Belo Horizonte, 31/12/2021).

Referências:

• AZEREDO, V. D. Nietzsche e a dissolução da moral São Paulo/ Ijuí: Discurso/Ed. da Unijuí, 2000.
• _______. Nietzsche e a aurora de uma nova ética. São Paulo: Humanitas, 2008.
• _______. Nietzsche e a condição pós-moderna São Paulo: Humantias, 2013.
• FREZZATTI Jr, A. W. Nietzsche contra Darwin 2ª. ed. São Paulo: Loyola, 2014.
• _______. A fisiologia de Nietzsche: a superação da dualidade cultura/biologia São Paulo: Humanitas, 2006.
• _______. Nietzsche e a psicologia francesa do século XIX São Paulo: Humanitas, 2019.
• ITAPARICA, A. L. M. Estilo e moral em Nietzsche São Paulo/ Ijuí: Discurso/Ed. da Unijuí 2002.
• _______. Idealismo e realismo em Nietzsche São Paulo: Ed. UNIFESP, 2019.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  01 Abr 2022
• Data do Fascículo
  Jan-Apr 2022