Resumo em Português:
Resumo: A relação de Nietzsche com a imagem de Burckhardt da Renascença foi um meio de praticar a história. Nietzsche compartilhava com Burckhardt a preferência pela tipologia, a crença de que a verdade é alcançada intuitivamente e diz respeito à identidade interna de todas as coisas, e a preferência por grandes objetos e indivíduos históricos. E compartilhava com ele precisamente porque duas de suas influências comuns mais significativas foram Goethe e Schopenhauer. Para além disso, argumento que existem algumas disjunções menores e algumas mais significativas em sua abordagem da historiografia da Renascença. Por último, realizo um esboço do que podemos chamar de a questão do motivo: que a proposta de Burckhardt em construir a Renascença era de fato bem oposta ao olhar mais radical de Nietzsche sobre a história.Resumo em Inglês:
Abstract: Nietzsche’s relationship with Burckhardt’s image of the Renaissance was a way of practicing history. Nietzsche shared with Burckhardt the preference for typology, the belief that truth is reached intuitively and concerns the inner identity of all things, and for great cultural historical objects and individuals. And he shared it with him in some part precisely because two of their most significant common influences were Goethe and Schopenhauer. Beyond this, I argue that there are a few minor and a few more significant disjunctions in their approach to the historiography of the Renaissance. I address what we might call the question of motive: that Burckhardt’s purpose in construing the Renaissance was in fact quite opposed to Nietzsche’s more radical gaze upon history.Resumo em Português:
Resumo: Segundo Lou Salomé, a filosofia de Nietzsche é essencialmente autobiográfica e é melhor compreendida como um tipo de confissão pessoal, memórias ou autorretrato. Na minha opinião, no entanto, essa abordagem está radicalmente equivocada, e a evidência textual mostra, na verdade, o contrário do que Salomé pensa. Nessas passagens, Nietzsche está na verdade criticando filósofos anteriores por cometeram um erro cognitivo falsificador, quando se projetaram, a si mesmos e seus preconceitos, na realidade como um todo.Resumo em Inglês:
Abstract: According to Lou Salomé, Nietzsche’s philosophy is essentially autobiographical and is best understood as a kind of personal confession, memoir, or self-portrait. In my view, however, this approach is radically mistaken and the textual evidence actually shows the opposite of what Salomé thinks. In these passages, Nietzsche is actually criticizing past philosophers for committing a falsifying cognitive error when they projected themselves and their personal prejudices into all of reality.Resumo em Português:
Resumo: Esse artigo sustenta uma interpretação específica da “crítica da moral” nietzschiana a partir do exame de passagens em que Nietzsche utiliza variações dessa expressão, extraindo daí seis critérios que qualquer candidato a crítico deve atender. A partir disso, rejeito diversas interpretações alternativas em favor daquela segundo a qual Nietzsche critica a moral, entendida como um conjunto de práticas, mostrando o significado dessas práticas e as falhas em seu funcionamento.Resumo em Inglês:
Abstract: This paper argues for a specific interpretation of Nietzsche’s “critique of morality” by examining the passages in which Nietzsche uses versions of that phrase, and extracting from them six criteria that any plausible candidate for critique must meet. On this basis, I reject several alternative interpretations in favor of one in which Nietzsche is criticizing morality, considered as a set of practices, by showing the meaning of these practices and their failures in functioning.Resumo em Português:
Resumo: Neste artigo, pretendo esclarecer o desenvolvimento da consideração a respeito da objetividade em Nietzsche em suas obras publicadas e autorizadas. Na presente pesquisa, notou-se que Nietzsche, de forma explícita, estabelece uma diferença entre dois tipos de objetividade. O que aqui chamarei de objetividade tipo 1 é aquela que o filósofo alemão frequentemente critica, a saber, a objetividade como pura contemplação desinteressada. A objetividade tipo 2 é o tipo ao qual Nietzsche se refere na Genealogia da Moral como “futura ‘objetividade’”. Tendo esclarecido quais são as objeções de Nietzsche à objetividade tipo 1, explicarei seu ponto de vista acerca da objetividade tipo 2, mostrando como o tipo 2, ou a “futura ‘objetividade’”, deve sua concepção ao projeto de espírito livre do filósofo.Resumo em Inglês:
Abstract: In this paper, I aim to clarify the development of Nietzsche’s account of objectivity in his published and authorized works. In the available scholarship, it has been noted that Nietzsche explicitly differentiates between two types of objectivity. What I shall here call type 1 objectivity is the type that Nietzsche often criticizes, namely objectivity as pure disinterested. Type 2 objectivity is the type that Nietzsche refers to in On the Genealogy of Morality as “future ‘objectivity’”. Having clarified what Nietzsche’s objections to type 1 objectivity are, I will explain his view of type 2 objectivity, showing how type 2 or “future ‘objectivity’” is indebted in its conception to Nietzsche’s free spirit project.Resumo em Português:
Resumo: Neste artigo eu analiso alguns momentos da influência e recepção de Nietzsche entre a Europa e a América (nomeadamente em Martin Heidegger, Giovanni Papini e Josiah Royce) através de uma perspectiva pragmatista, a fim de mostrar como um monismo seletivo e um pluralismo realista emergem de suas interpretações de Nietzsche. Com base nesta reconstrução teórica e historiográfica, enfatizo que Nietzsche, tanto por meio de seu monismo como de seu pluralismo, pode questionar qualquer suposta irreversibilidade no campo da moral. Ao reconhecer a possibilidade de mudança do sujeito, de reverter a única irreversibilidade superficial de seu Dasein, o pragmatismo de Nietzsche neste sentido representa uma grande conquista teórica, indispensável para a definição de um novo paradigma bio-antropológico, no qual a identidade pode coexistir efetivamente com diferença.Resumo em Inglês:
Abstract: In this article I analyse some moments of Nietzsche’s reception and influence between Europe and America (namely in Martin Heidegger, Giovanni Papini and Josiah Royce) from a pragmatist perspective, in order to show how a selective monism and a realist pluralism emerge from their interpretations of Nietzsche. On the basis of this historiographic and theoretical reconstruction, I emphasize that Nietzsche, through both his monism and his pluralism, can question any presumed irreversibility in the moral field. By recognising the subject’s possibility of change, of reversing the only superficial irreversibility of its Da-sein, Nietzsche’s pragmatism in this sense represents a great theoretical achievement, indispensable for the definition of a new bio-anthropological paradigm, in which identity can effectively coexist with difference.Resumo em Português:
Resumo: É importante para a sociedade a luta contra a estupidez, porque o estúpido é constitutivamente destrutivo. Mas aquele que luta contra a estupidez, própria e alheia, é, sobretudo, tradicionalmente, o filósofo. Vamos constatar a presença dessa luta em Nietzsche, e perscrutar a relevância que teria em sua obra, em geral pouco ressaltada. Nietzsche se une à linhagem clássica da denúncia da estupidez, extremando-a ao modulá-la nos termos de seu perspectivismo como incapacidade de “sair” da perspectiva única. Além disso, procederemos a descobrir uma classe de estupidez que acompanha a sabedoria como sua sombra necessária e que seria a que nos abre, diante do cristianismo paulino e erasmista, a possibilidade de uma ciência alegre. Por outro lado, a estupidez cósmica teria o bonito nome de “necessidade”, e o dionisíaco do pensamento do eterno retorno radica sobretudo no amor fati, que em nosso caso se traduziria como afirmação e ainda amor da estupidez. Por isso Nietzsche dirá que a sabedoria dionisíaca é o princípio da maior estupidez possível.Resumo em Inglês:
Abstract: It is important for society to fight against stupidity because the stupid is constitutively destructive. But the one who fights against stupidity, his own and that of others, is, above all, traditionally the philosopher. Let us note the presence of this struggle in Nietzsche, and realise the relevance it would have in his work, which in general is little emphasised. Nietzsche joins the classical line of denouncing stupidity, although he does so to an extreme by modulating it in terms of his perspectivism as an inability to “get out” of the single perspective. Moreover, he is going to discover a kind of stupidity that accompanies wisdom as its necessary shadow and that would be the one that opens for us, in the face of Pauline and Erasmist Christianity, the possibility of a joyful science. On the other hand, cosmic stupidity would have the beautiful name of “necessity”, and the Dionysian aspect of the thought of the eternal return lies above all in the amor fati, which in our case would be translated as affirmation and even love of stupidity. That is why Nietzsche will say that Dionysian wisdom is the principle of the greatest possible stupidity.Resumo em Português:
Resumo: No labirinto hermenêutico do pensamento de Nietzsche, ainda falta um capítulo dedicado à reconstrução de sua reflexão acerca da imprensa moderna. Mas, passando em revista seus escritos, pode-se notar como a crítica mordaz aos jornais acompanha-lhe ao longo de todas as fases de sua vida. O jornalismo sempre está na mira de suas visadas polêmicas, haja vista que, para ele, representa um tema realmente sócio-cultural. O filósofo dá provas de ser um observador acurado das influências do jornalismo sobre a cultura e a sociedade de sua época: seu olhar oscila entre considerações teóricas a respeito da relação cultura/sociedade e observações fenomenologicamente mais concretas acerca da influência da media sobre o dia-a-dia de seus contemporâneos. Trata-se de uma batalha que atravessa sua vida inteira, mas que é composto, lamentavelmente, por um material quantitativamente limitado, prenhe de rancor pessoal: tudo aquilo que Nietzsche nos legou acerca do mundo jornalístico acha-se disperso sob a forma de passagens concisas, cujo tom, quase sempre, é excessivo. No entanto, essa fragmentação e esse pathos convertem-se no único caminho rumo à reconstrução da polêmica nietzschiana em relação a imprensa escrita. Mas, ainda que fugazes, esses elementos parecem fornecer uma imagem de Nietzsche como alguém assaz consciente da frequente convergência entre a vivência da modernidade e a experiência com jornais. A extemporaneidade de tal encontro revela a “interseção fenomenológica” de um aspecto fundamental da modernidade, o qual ainda permanece extremante relevante e problemático.Resumo em Inglês:
Abstract: In the hermeneutics’ maze of Nietzsche’s thought, a chapter dedicated to the reconstruction of his reflection about modern press is still missing. But scanning his works, it can be noted how the passionate diatribe against newspapers accompanies him through all his life stages. Journalism never leaves his polemical sights since it represents a real social-cultural issue to him. He proves to be an accurate observer of their influence in culture and society of his time: his eye swings between theoretical considerations about the culture-journalism relationship and more concrete phenomenological observations about the influence of media on the daily lives of his contemporaries. A lifetime battle which has regrettably settled in a limited amount of material, filled with personal grudge: everything Nietzsche has left us about the newspapers’ world, is scattered in short passages, whose tone is almost always excessive. This fragmentation and this pathos become, however, the only path to follow to reconstruct Nietzsche’s polemic towards printed press. Fleeting brushworks they are, from which it seems to appear an image of Nietzsche as very aware of the frequent matching between the experience of modernity and the experience of newspapers. His untimeliness shows a vibrant “phenomenological cross section” of a fundamental aspect of modernity, so far still extremely relevant and problematic.Resumo em Português:
Resumo: O artigo explora as considerações de Nietzsche sobre o pintor renascentista Rafael Sanzio, que são raras no conjunto da obra do filósofo, entretanto permeia todas as fases do seu processo de desenvolvimento intelectual. A abordagem, nos mais das vezes, é de cunho positivo, havendo resquícios de censura com relação à timidez do artista em promover uma transvaloração do Cristianismo, o que soa como certa ambiguidade. O momento mais fecundo da abordagem ocorre no período intermediário, no qual, Nietzsche valoriza o Humanismo renascentista e as obras de Rafael ilustram bem as características do Renascimento que ele valoriza.Resumo em Inglês:
Abstract: The article explores the considerations of Nietzsche on the Renaissance painter Raphael Sanzio, who are rare in the set of the work of the philosopher, however permeates all the phases of his intellectual development process. The approach, more often than is positive, with remnants of censorship with respect to the artist’s timidity in promoting a transvaluation of Christianity, which sounds as a certain ambiguity. The most fruitful moment of the approach occurs in the intermediate period, in which Nietzsche values the Renaissance humanism and the works of Rafael illustrate the characteristics of the Renaissance he values.Resumo em Português:
Resumo: Este artigo procura entender, a partir do pensamento tardio de Nietzsche, as razões pelas quais pode-se observar aspectos do niilismo na ópera Parsifal, de Wagner. Dadas as copiosas considerações de Nietzsche a respeito de Parsifal, é possível identificá-la ao niilismo, sobretudo ao incompleto. Além do que, se a negação do mundo está identificada à moral, ao ascetismo, à fé cristã, à castidade e à compaixão, são esses os elementos que norteiam a obra wagneriana de 1882 e que, por seu turno, caracterizam-na como uma espécie de niilismo estético.Resumo em Inglês:
Abstract: This paper aims to understand from Nietzsche’s late thinking the reasons why we can observe aspects of nihilism in the opera Parsifal, by Wagner. Given the several considerations by Nietzsche regarding Parsifal, it is possible to identify it with nihilism, especially with the incomplete one. Besides that, if the denial of world is identified to moral, to asceticism, to Christian faith, to chastity and to compassion, these are the elements that guide the Wagnerian work from 1882 and which, in turn, characterize it as a kind of aesthetical nihilism.