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Escala de Coping para Fala em Público (ECOFAP): evidências de validade de conteúdo e processos de resposta

Resumo

Objetivo

Apresentar as evidências de validade baseadas no conteúdo e nos processos de resposta da Escala de Coping para a Fala em Público (ECOFAP).

Método

Estudo metodológico de elaboração e validação de instrumento. Seguiu-se o modelo de elaboração de instrumentos com procedimentos teóricos, empíricos e analíticos, baseados nos critérios de validade do Standards for Educational and Psychological Testing (SEPT). O processo de obtenção das evidências de validade baseadas no conteúdo foi realizado em duas etapas: 1) definição conceitual do construto, elaborado com base nos preceitos teóricos da fala em público e da Teoria Motivacional do Coping (TMC); 2) elaboração dos itens e chave de respostas, estruturação do instrumento, avaliação por comitê de dez especialistas, reestruturação dos itens da escala, realizada em três momentos, até a elaboração da versão piloto da ECOFAP. O processo de resposta foi realizado com amostra de conveniência de 30 indivíduos, com e sem dificuldades de fala em público, no campus de uma universidade brasileira, pertencentes a diferentes extratos sociais e profissões. Nesse processo, foram analisadas qualitativamente as reações verbais e não verbais dos respondentes.

Resultados

A primeira versão da ECOFAP, composta por 46 itens, foi avaliada pelos juízes e posteriormente reformulada, resultando em uma segunda versão com 60 itens. Essa segunda versão foi novamente submetida à análise de especialistas e calculado o índice de validade de conteúdo por item. Foram excluídos 18 itens, originando uma terceira versão de 42 itens. As evidências de validade com base nos processos de resposta da versão de 42 itens foram aplicadas em uma amostra de 30 indivíduos, resultando na reescrita de um item e inclusão de mais seis itens, originando a versão piloto da ECOFAP de 48 itens.

Conclusão

A versão piloto da ECOFAP apresenta itens bem estruturados semântica e sintaticamente que representam estratégias de enfrentamento para a fala em público.

Descritores:
Fala; Estudo de Validação; Adaptação Psicológica; Inquéritos e Questionários; Autoteste

Abstract

Purpose

To present the content and response process validity evidence of the Speaking in Public Coping of Scale (ECOFAP).

Methods

A methodological study to develop and validate the instrument. It followed the instrument development method with theoretical, empirical, and analytical procedures, based on the validity criteria of the Standards for Educational and Psychological Testing (SEPT). The process of obtaining content validity evidence had two stages: 1) conceptual definition of the construct, based on theoretical precepts of speaking in public and the Motivational Theory of Coping (MTC); 2) developing items and response keys, structuring the instrument, assessment by a committee with 10 specialists, restructuring scale items, and developing the ECOFAP pilot version. Item representativity was analyzed through the item content validity index. The response process was conducted in a single stage with a convenience sample of 30 people with and without difficulties speaking in public, from the campus of a Brazilian university, belonging to various social and professional strata. In this process, the respondents’ verbal and nonverbal reactions were qualitatively analyzed.

Results

The initial version of ECOFAP, consisting of 46 items, was evaluated by judges and later reformulated, resulting in a second version with 60 items. This second version was again submitted for expert analysis, and the content validity index per item was calculated. 18 items were excluded, resulting in a third version of 42 items. The validity evidence based on the response processes of the 42-item version was applied to a sample of 30 individuals, resulting in the rewriting of one item and the inclusion of six more items, resulting in the pilot version of ECOFAP with 48 items.

Conclusion

ECOFAP pilot version has items with well-structured semantics and syntactic, representing strategies to cope with speaking in public.

Keywords:
Speech; Validation Study; Adaptation Psychological; Surveys and Questionnaries; Self-Testing

INTRODUÇÃO

Falar em público é uma forma de comunicação oral, na qual o falante fica face a face com uma audiência com a intenção de compartilhar ideias, informar, entreter ou persuadir um grupo de pessoas(11 Lucas SE. The art of public speaking. 12th ed. New York. McGraw-Hill Education; 2015. 447 p.) . Falar bem em público envolve ter o que dizer e a habilidade comunicativa de saber o como dizer(22 Behlau M, Barbara M. Comunicação consciente: o que comunico quando me comunico. 1ª ed. Rio de Janeiro : Thieme Revinter; 2022. 160 p.

3 Grilo APS, Oliveira AAP, Puggina ACG. Public speaking: relationship with competency in communication, anxiety and student oratory experiences. Rev Eferm Cent Oeste Min. 2019;9:e3534. http://doi.org/10.19175/recom.v9i0.3534.
http://doi.org/10.19175/recom.v9i0.3534...
-44 Romano CC, Alves LA, Secco IA, Ricz LN, Robazzi ML. The expressiveness of a university professor in his classroom performance: analysis of verbal resources and implications for nursing. Rev Lat Am Enfermagem. 2011;19(5):1188-96. http://doi.org/10.1590/S0104-11692011000500017. PMid:22030584.
http://doi.org/10.1590/S0104-11692011000...
). Muitos oradores, diante de situações de fala em público, se sentem desconfortáveis ou ficam estressados(55 Osório FL, Crippa JA, Loureiro SR. Aspectos cognitivos do falar em público: validação de uma escala de autoavaliação para universitários brasileiros. Arch Clin Psychiatry. 2012;39(2):48-53. http://doi.org/10.1590/S0101-60832012000200002.
http://doi.org/10.1590/S0101-60832012000...
) , reforçando o quanto essa atividade é um dos temores mais prevalentes entre a população mundial(66 Oliveira BLD, Sales HFS, Lima KS, Santos NA, Galdino MKC. Adaptation of the Public Speaking Anxiety Scale (PSAS) for Brazil. Contextos Clín. 2020;13(1):19-35. http://doi.org/10.4013/ctc.2020.131.02.
http://doi.org/10.4013/ctc.2020.131.02...

7 Bodie GD. A racing heart, rattling knees, and ruminative thoughts: defining, explaining, and treating Public Speaking Anxiety. Commun Educ. 2010;59(1):70-105. http://doi.org/10.1080/03634520903443849.
http://doi.org/10.1080/03634520903443849...
-88 Furukawa TA, Watanabe N, Kinoshita Y, Kinoshita K, Sasaki T, Nishida A, et al. Public speaking fears and their correlates among 17,615 japonese adolescentes. Asia-Pac Psychiatry. 2014;6(1):99-104. http://doi.org/10.1111/j.1758-5872.2012.00184.x. PMid:23857766.
http://doi.org/10.1111/j.1758-5872.2012....
). Em contrapartida, sabe-se que a maneira como a pessoa lida com as adversidades reduz ou aumenta a vulnerabilidade ao estresse, interferindo na saúde e no bem-estar(99 Skinner EA, Edge K, Altman J, Sherwood H. Searching for the structure of coping: a review and critique of category systems for classifying ways of coping. Psychol Bull. 2003;129(2):216-69. http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.216. PMid:12696840.
http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.2...
,1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.).

O conjunto de estratégias que o indivíduo utiliza como resposta para se adaptar e enfrentar situações estressoras é denominado coping (1111 Lazarus RS, Folkman S. Stress, appraisal and coping. New York: Springer Publishing Company; 1984.). Entre os modelos teóricos de coping, destaca-se tradicionalmente o modelo de Lazarus e Folkman(1111 Lazarus RS, Folkman S. Stress, appraisal and coping. New York: Springer Publishing Company; 1984.), utilizado como referencial teórico por muitos estudos(1212 Pimentel CE, Vargas MM, Almeida TO, Maynart VAP, Figueiredo SMCT. Evidências de validade e precisão da Escala de Coping através de Ouvir Música. Psico-USF. 2012;179(1):141-51. http://doi.org/10.1590/S1413-82712012000100015.
http://doi.org/10.1590/S1413-82712012000...
,1313 Oliveira G, Zambon F, Vaiano T, Costa F, Behlau M. Versões reduzidas para protocolo clínico de enfrentamento das disfonias. CoDAS. 2016;28(6):828-32. http://doi.org/10.1590/2317-1782/20162015177. PMid:27982248.
http://doi.org/10.1590/2317-1782/2016201...
). Esse modelo compreende duas categorias: coping focado no problema (estratégias que visam atuar na situação que originou o evento estressor) e coping focado na emoção (estratégias regulatórias para modificar a resposta emocional do indivíduo em relação à situação estressora) e que podem ser utilizadas isolada ou simultaneamente, para enfrentamento da situação estressora(1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.).

A partir do trabalho de Lazarus e Folkman(1111 Lazarus RS, Folkman S. Stress, appraisal and coping. New York: Springer Publishing Company; 1984.) surgiram outros modelos de Coping, entre eles, destaca-se a Teoria Motivacional do Coping (TMC)(1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.,1414 Skinner EA, Zimmer-Gembeck M. Coping and the development of regulation: new directions for child and adolescent development. San Francisco: Jossey-Bass; 2009. pp. 5-17

15 Skinner EA, Edge K. Parenting, motivation, and the development of coping. Lincoln: University of Nebraska Press; 2002. p. 77-143.
-1616 Skinner EA, Zimmer-Gembeck MJ. The development of coping. Annu Rev Psychol. 2007;58(1):119-44. http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58.110405.085705. PMid:16903804.
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). Na TMC as respostas de coping são compreendidas como ações autorregulatórias, desenvolvidas a partir de padrões de comportamentos, associadas às características temperamentais, qualidade dos vínculos, e ao contexto em que o sujeito está inserido(99 Skinner EA, Edge K, Altman J, Sherwood H. Searching for the structure of coping: a review and critique of category systems for classifying ways of coping. Psychol Bull. 2003;129(2):216-69. http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.216. PMid:12696840.
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,1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.,1414 Skinner EA, Zimmer-Gembeck M. Coping and the development of regulation: new directions for child and adolescent development. San Francisco: Jossey-Bass; 2009. pp. 5-17

15 Skinner EA, Edge K. Parenting, motivation, and the development of coping. Lincoln: University of Nebraska Press; 2002. p. 77-143.
-1616 Skinner EA, Zimmer-Gembeck MJ. The development of coping. Annu Rev Psychol. 2007;58(1):119-44. http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58.110405.085705. PMid:16903804.
http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58....
).

A TMC organiza o coping em um modelo estrutural hierárquico de três níveis: 1) nível inferior (respostas de coping); 2) nível intermediário (estratégias de coping) e 3) nível superior (inclui 12 categorias/famílias de coping: “resolução de problemas”, “busca de informações”, “desamparo”, “fuga”, “autoconfiança”, “busca de apoio”, “delegação”, “isolamento”, “acomodação”, “negociação”, “submissão”, “oposição”. Cada uma dessas categorias/famílias de enfrentamento se relaciona a um tipo de avaliação cognitiva do evento estressor, uma necessidade básica e um processo adaptativo(99 Skinner EA, Edge K, Altman J, Sherwood H. Searching for the structure of coping: a review and critique of category systems for classifying ways of coping. Psychol Bull. 2003;129(2):216-69. http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.216. PMid:12696840.
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,1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.).

A avaliação cognitiva do evento estressor pode ser classificada como um desafio, quando o indivíduo acredita que é possível lidar com o evento estressor ou como uma ameaça quando ele percebe a situação como um prejuízo psicológico(1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.,1111 Lazarus RS, Folkman S. Stress, appraisal and coping. New York: Springer Publishing Company; 1984.).

As necessidades básicas do modelo da TMC podem ser relacionadas a competência, vínculo e autonomia. A competência refere-se ao desejo humano de conquistar objetivos e ser efetivo nas interações sociais. A necessidade de estabelecer vínculos refere-se ao processo de manter relacionamentos interpessoais próximos e criar laços confiáveis para se sentir valorizado e a autonomia refere-se a liberdade para realizar escolhas nas interações com o ambiente(99 Skinner EA, Edge K, Altman J, Sherwood H. Searching for the structure of coping: a review and critique of category systems for classifying ways of coping. Psychol Bull. 2003;129(2):216-69. http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.216. PMid:12696840.
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,1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.,1414 Skinner EA, Zimmer-Gembeck M. Coping and the development of regulation: new directions for child and adolescent development. San Francisco: Jossey-Bass; 2009. pp. 5-17

15 Skinner EA, Edge K. Parenting, motivation, and the development of coping. Lincoln: University of Nebraska Press; 2002. p. 77-143.
-1616 Skinner EA, Zimmer-Gembeck MJ. The development of coping. Annu Rev Psychol. 2007;58(1):119-44. http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58.110405.085705. PMid:16903804.
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).

No modelo, são considerados três processos adaptativos definidos como interpretações individuais sobre a situação potencialmente estressora. O processo adaptativo autorreferencial, coordenação das ações e das contingências no ambiente está relacionado à necessidade psicológica de ter competência. O processo adaptativo coordenação da confiança e dos recursos sociais disponíveis está relacionado à necessidade de vínculo. O processo adaptativo coordenação das preferências e opções disponíveis para fazer escolhas relaciona-se à necessidade psicológica humana básica de autonomia(99 Skinner EA, Edge K, Altman J, Sherwood H. Searching for the structure of coping: a review and critique of category systems for classifying ways of coping. Psychol Bull. 2003;129(2):216-69. http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.216. PMid:12696840.
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10 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.
-1111 Lazarus RS, Folkman S. Stress, appraisal and coping. New York: Springer Publishing Company; 1984.).

Em situações de fala em público, as estratégias de enfrentamento podem auxiliar o indivíduo a lidar melhor com a situação estressora(11 Lucas SE. The art of public speaking. 12th ed. New York. McGraw-Hill Education; 2015. 447 p.,33 Grilo APS, Oliveira AAP, Puggina ACG. Public speaking: relationship with competency in communication, anxiety and student oratory experiences. Rev Eferm Cent Oeste Min. 2019;9:e3534. http://doi.org/10.19175/recom.v9i0.3534.
http://doi.org/10.19175/recom.v9i0.3534...
,1717 Maldonado I, Reich M. Estrategias de afrontamiento y medo a hablar em público en estudiantes universitários a nível de grado. Cienc Psicol. 2013;7(2):165-8. http://doi.org/10.22235/cp.v7i1.1058.
http://doi.org/10.22235/cp.v7i1.1058...
,1818 Marinho ACF, Medeiros AM, Pantuza JJ, Teixeira LC. Autopercepção de timidez e sua relação com aspectos da fala em público. CoDAS. 2020;32(5):e20190097. http://doi.org/10.1590/2317-1782/20202019097. PMid:33053085.
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). Alguns exemplos dessas estratégias são, estudar o conteúdo do que será apresentado, treinar a fala em público para outras pessoas, buscar apoio com colegas ou investir em assessorias comunicativas(11 Lucas SE. The art of public speaking. 12th ed. New York. McGraw-Hill Education; 2015. 447 p.

2 Behlau M, Barbara M. Comunicação consciente: o que comunico quando me comunico. 1ª ed. Rio de Janeiro : Thieme Revinter; 2022. 160 p.
-33 Grilo APS, Oliveira AAP, Puggina ACG. Public speaking: relationship with competency in communication, anxiety and student oratory experiences. Rev Eferm Cent Oeste Min. 2019;9:e3534. http://doi.org/10.19175/recom.v9i0.3534.
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,1717 Maldonado I, Reich M. Estrategias de afrontamiento y medo a hablar em público en estudiantes universitários a nível de grado. Cienc Psicol. 2013;7(2):165-8. http://doi.org/10.22235/cp.v7i1.1058.
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18 Marinho ACF, Medeiros AM, Pantuza JJ, Teixeira LC. Autopercepção de timidez e sua relação com aspectos da fala em público. CoDAS. 2020;32(5):e20190097. http://doi.org/10.1590/2317-1782/20202019097. PMid:33053085.
http://doi.org/10.1590/2317-1782/2020201...
-1919 Hancock AB, Stone MD, Brundage SB, Zeigler MT. Public speaking attitudes: does curriculum make a difference? J Voice. 2010;24(3):302-7. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2008.09.007. PMid:19481418.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2008.09....
). Embora essas e outras estratégias sejam preconizadas pela literatura, não se encontrou instrumentos que autoavaliassem as estratégias de enfrentamento para fala em público(2020 Marinho ACF, Medeiros AM, Lima EP, Teixeira LC. Instrumentos de avaliação e autoavaliação da fala em público: uma revisão integrativa da literatura. Audiol Commun Res. 2022;27:e2539. http://doi.org/10.1590/2317-6431-2021-2539.
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). Os instrumentos de autopercepção existentes são poucos, entre eles a Self-Statements During Public Speaking – SSPS (55 Osório FL, Crippa JA, Loureiro SR. Aspectos cognitivos do falar em público: validação de uma escala de autoavaliação para universitários brasileiros. Arch Clin Psychiatry. 2012;39(2):48-53. http://doi.org/10.1590/S0101-60832012000200002.
http://doi.org/10.1590/S0101-60832012000...
) que avalia a dimensão cognitiva da fala em público, a Public Speaking Anxiety Scale – PSAS(66 Oliveira BLD, Sales HFS, Lima KS, Santos NA, Galdino MKC. Adaptation of the Public Speaking Anxiety Scale (PSAS) for Brazil. Contextos Clín. 2020;13(1):19-35. http://doi.org/10.4013/ctc.2020.131.02.
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) que mensura os componentes comportamentais, cognitivos e fisiológicos da ansiedade ao falar em público e a Personal Report of Public Speaking Apprehensionp- PRPSA(2020 Marinho ACF, Medeiros AM, Lima EP, Teixeira LC. Instrumentos de avaliação e autoavaliação da fala em público: uma revisão integrativa da literatura. Audiol Commun Res. 2022;27:e2539. http://doi.org/10.1590/2317-6431-2021-2539.
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) que avalia o nível de desconforto ou nervosismo que os indivíduos experimentam ao enfrentar situações de fala diante de uma audiência, incluindo o medo de ser julgado.

Desta forma, propusemos uma escala de coping, voltada para avaliação da fala em público: Escala Coping para Fala em Público (ECOFAP). A escala foi elaborada segundo o referencial teórico da Fala em Público e o referencial teórico da TMC(99 Skinner EA, Edge K, Altman J, Sherwood H. Searching for the structure of coping: a review and critique of category systems for classifying ways of coping. Psychol Bull. 2003;129(2):216-69. http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.216. PMid:12696840.
http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.2...
,1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.,1414 Skinner EA, Zimmer-Gembeck M. Coping and the development of regulation: new directions for child and adolescent development. San Francisco: Jossey-Bass; 2009. pp. 5-17

15 Skinner EA, Edge K. Parenting, motivation, and the development of coping. Lincoln: University of Nebraska Press; 2002. p. 77-143.
-1616 Skinner EA, Zimmer-Gembeck MJ. The development of coping. Annu Rev Psychol. 2007;58(1):119-44. http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58.110405.085705. PMid:16903804.
http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58....
). Esse modelo teórico foi escolhido devido à abrangência da TMC para os mecanismos de autorregulação, uma vez que esse construto é influenciado por processos genéticos, fisiológicos e sociais específicos dos ciclos vitais.

O desenvolvimento da ECOFAP seguiu os passos metodológicos necessários à sua validade e robustez científica. Todas as etapas de validação e confiabilidade do instrumento foram seguidas, de acordo com o Standards for Educational and Psychological Testing (SEPT), manual que orienta a elaboração e validação de testes, e que preconiza a apresentação de cinco evidências de validade: conteúdo do teste; processos de resposta; estrutura interna; relação com outras variáveis e evidências baseadas nas consequências dos testes(2121 AERA: American Educational Research Association. American Psychological Association. National Council on Measurement in Education. Standards for educational and psychological testing. New York: AERA; 2014.).

Neste artigo, mostraremos as evidências de validade do conteúdo e processo de resposta(2222 Carretero-Dios H, Perez C. Standards for the development and review of instrumental studies: considerations about test selection in psychological research. Int J Clin Health Psychol. 2007;7:863-82.,2323 Pernambuco LA, Espelt A, Magalhães HV Jr, Cavalcanti RVA, Lima KC. Recommendations for elaboration, transcultural adaptation and validation process of tests in Speech, Hearing and Language Pathology. CoDAS. 2017;29(3):e20160217. PMid:28614460.). A validade baseada no conteúdo está relacionada ao formato das questões/itens, incluindo estrutura sintática e semântica(2323 Pernambuco LA, Espelt A, Magalhães HV Jr, Cavalcanti RVA, Lima KC. Recommendations for elaboration, transcultural adaptation and validation process of tests in Speech, Hearing and Language Pathology. CoDAS. 2017;29(3):e20160217. PMid:28614460.

24 Pasquali L. Psicometria. Rev Esc Enferm USP. 2009;43(spe):992-9. http://doi.org/10.1590/S0080-62342009000500002.
http://doi.org/10.1590/S0080-62342009000...

25 Pasquali L. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. p. 37-157.
-2626 Alexandre NMC, Coluci MZO. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Cien Saude Colet. 2011;16(7):3061-8. http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006. PMid:21808894.
http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000...
) e os procedimentos necessários para pontuá-los(2525 Pasquali L. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. p. 37-157.,2626 Alexandre NMC, Coluci MZO. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Cien Saude Colet. 2011;16(7):3061-8. http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006. PMid:21808894.
http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000...
). O processo de resposta consiste na aplicação da versão do instrumento, reformulada, após consenso entre juízes especialistas, em diferentes estratos da população-alvo, para verificar o desempenho dos respondentes.

Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi apresentar as evidências de validade do instrumento ECOFAP, baseadas no conteúdo e nos processos de resposta.

Método

Estudo metodológico de elaboração e validação de instrumento. Seguiu-se o modelo de elaboração de instrumentos proposto por Luíz Pasquali(2424 Pasquali L. Psicometria. Rev Esc Enferm USP. 2009;43(spe):992-9. http://doi.org/10.1590/S0080-62342009000500002.
http://doi.org/10.1590/S0080-62342009000...
,2525 Pasquali L. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. p. 37-157.) , que contempla procedimentos teóricos, empíricos e analíticos, atendendo aos critérios de validade orientados pelo Standards for Educational and Psychological Testing (SEPT) (2121 AERA: American Educational Research Association. American Psychological Association. National Council on Measurement in Education. Standards for educational and psychological testing. New York: AERA; 2014.). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) sob o parecer número 5.735.670/2022.

O construto teórico da ECOFAP foi elaborado com base nos preceitos teóricos da fala em público e da TMC(99 Skinner EA, Edge K, Altman J, Sherwood H. Searching for the structure of coping: a review and critique of category systems for classifying ways of coping. Psychol Bull. 2003;129(2):216-69. http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.216. PMid:12696840.
http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.2...
,1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.,1414 Skinner EA, Zimmer-Gembeck M. Coping and the development of regulation: new directions for child and adolescent development. San Francisco: Jossey-Bass; 2009. pp. 5-17

15 Skinner EA, Edge K. Parenting, motivation, and the development of coping. Lincoln: University of Nebraska Press; 2002. p. 77-143.
-1616 Skinner EA, Zimmer-Gembeck MJ. The development of coping. Annu Rev Psychol. 2007;58(1):119-44. http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58.110405.085705. PMid:16903804.
http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58....
). O processo de obtenção das evidências de validade baseadas no conteúdo foi realizado em duas etapas: 1) metodologia para a elaboração dos itens e 2) metodologia de avaliação de juízes especialistas. O processo de obtenção de evidências de validade baseadas nos processos de resposta foi realizado em uma única etapa intitulada: 1) Etapa de validação da resposta com indivíduos com e sem dificuldades de fala em público.

Evidências de validade baseada no conteúdo

  1. Primeira etapa: metodologia para a elaboração dos itens

  • Fontes para elaboração dos itens:

  1. Revisão integrativa da literatura sobre os instrumentos de avaliação da fala em público por Marinho et al.(2020 Marinho ACF, Medeiros AM, Lima EP, Teixeira LC. Instrumentos de avaliação e autoavaliação da fala em público: uma revisão integrativa da literatura. Audiol Commun Res. 2022;27:e2539. http://doi.org/10.1590/2317-6431-2021-2539.
    http://doi.org/10.1590/2317-6431-2021-25...
    ).

  2. Consolidado sobre o construto da fala em público, alicerçado na experiência clínica dos autores, profissionais com mais de 10 anos de experiência.

  3. Alinhamento do item de acordo com as bases conceituais do modelo estrutural da TMC(99 Skinner EA, Edge K, Altman J, Sherwood H. Searching for the structure of coping: a review and critique of category systems for classifying ways of coping. Psychol Bull. 2003;129(2):216-69. http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.216. PMid:12696840.
    http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.2...
    ,1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.,1414 Skinner EA, Zimmer-Gembeck M. Coping and the development of regulation: new directions for child and adolescent development. San Francisco: Jossey-Bass; 2009. pp. 5-17

    15 Skinner EA, Edge K. Parenting, motivation, and the development of coping. Lincoln: University of Nebraska Press; 2002. p. 77-143.
    -1616 Skinner EA, Zimmer-Gembeck MJ. The development of coping. Annu Rev Psychol. 2007;58(1):119-44. http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58.110405.085705. PMid:16903804.
    http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58....
    ).

  4. Entrevistas com pessoas que apresentam dificuldades para falar em público em atendimento fonoaudiológico para aperfeiçoamento comunicativo em uma clínica-escola de uma universidade pública brasileira.

  5. Definição sintática e semântica dos itens, segundo os 10 critérios de Pasquali(2525 Pasquali L. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. p. 37-157.).

    1. 1

      Critério comportamental: o item deve expressar um comportamento.

    2. 2

      Objetividade: facilidade na identificação da resposta.

    3. 3

      Simplicidade: o item deve expressar ideia única.

    4. 4

      Clareza: ser compreensível por todos os estratos da população alvo. Evitar frases longas

    5. 5

      Relevância: a frase/ expressão deve ser capaz de avaliar o construto em questão.

    6. 6

      Precisão: cada item deve ser distinto dos demais.

    7. 7

      Variedade: variar a linguagem utilizada, o uso dos mesmos termos confunde as frases e dificulta diferenciá-las, formular os itens, como metade na afirmativa e metade na negativa.

    8. 8

      Modalidade: não utilizar expressões extremas como “péssimo” e “excelente”.

    9. 9

      Tipicidade: frases com expressões típicas do atributo;

    10. 10

      Credibilidade: item não deve parecer incoerente, sem propósito ou inapropriado à faixa etária para a qual se destina.

A quantidade de itens do construto seguiu a orientação proposta por Pasquali(2525 Pasquali L. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. p. 37-157.), que preconiza que um instrumento deve ter no mínimo vinte itens. Os verbos iniciais dos itens da ECOFAP foram formulados para representar uma ação/esforço. Cada uma das doze famílias de coping deveria ter pelo menos dois itens.

  1. Segunda etapa: metodologia de avaliação dos juízes especialistas

A primeira versão da ECOFAP, elaborada com 46 itens, foi analisada por um comitê de juízas especialistas, composto por dez profissionais, cinco fonoaudiólogas e cinco psicólogas, seguindo as premissas do Método Delphi, que tem por objetivo reunir e sistematizar, por consenso, opiniões de especialistas sobre determinado tema(2626 Alexandre NMC, Coluci MZO. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Cien Saude Colet. 2011;16(7):3061-8. http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006. PMid:21808894.
http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000...

27 Gallardo RY, Olmos RC. The Delphi method and the investigation in health services. Cienc Enferm. 2008;14:9-15.
-2828 Keeney S, Hasson F, McKenna H. Consulting the oracle: ten lessons from using the Delphi technique in nursing research. J Adv Nurs. 2006;53(2):205-12. http://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006.03716.x. PMid:16422719.
http://doi.org/10.1111/j.1365-2648.2006....
).

As juízas eram naturais de vários estados brasileiros. As juízas, fonoaudiólogas eram especialistas em voz, doutoras, com experiência clínica na área da voz profissional há mais de cinco anos. As cinco juízas psicólogas, eram doutoras e pesquisadoras experientes no construto coping.

O recrutamento dos juízes aconteceu, no período de dezembro de 2021 a junho de 2022, com o envio de uma carta convite, enviada por email, na qual estavam anexados o link do formulário Google Forms, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE, constando os objetivos do estudo e as orientações para análise do material com as instruções para o julgamento de cada item proposto pelos pesquisadores.

Passos para avaliação das juízas

  1. Avaliar a pertinência teórica do item, ou seja, se o conteúdo do item representava o construto que ele pretendia medir. O avaliador deveria marcar sua resposta em uma escala Likert, com pontuação de 3 para adequado, 2 para indeciso e 1 para inadequado.

  2. Avaliar a pertinência textual do item, ou seja, se o item apresentava adequação semântica, vocabulário e expressava a ideia que se queria avaliar. O avaliador deveria marcar sua resposta em uma escala Likert, com pontuação de 3 para adequado, 2 para indeciso e 1 para inadequado.

  3. Justificar a avaliação e propor modificações para cada item julgado como inadequado.

  4. Classificar o item em uma das 12 famílias de coping da TMC: “resolução de problemas”, “busca de informações”, “desamparo”, “fuga”, “autoconfiança”, “busca de apoio”, “delegação”, “isolamento”, “acomodação”, “negociação”, “submissão”, “oposição”. Ressalta-se que os itens foram aleatorizados para evitar viés de seleção.

  5. Indicar se o item poderia representar mais de uma família de coping, em caso positivo a juíza deveria informar qual família poderia representar.

  6. Após todas as sugestões e comentários dos avaliadores, os pesquisadores realizaram as modificações necessárias e organizaram a segunda versão da ECOFAP, que novamente passou pela avaliação das juízas, seguindo os mesmos passos avaliativos. A segunda versão foi enviada com 60 itens.

Após a segunda avaliação do comitê de especialistas, a ECOFAP foi readequada de acordo com os comentários e analisada quantitativamente. Os itens da escala foram alocados em um banco de dados e foi calculado o Índice de Validade de Conteúdo por item (IVC-I) pelo número de juízas concordantes com o item dividido pelo número total de avaliadores. Foram aceitos apenas itens com IVC-I com valores > de 0,78, seguindo os preceitos teóricos de Polit et al.(2929 Polit D, Beck CT, Owen S. Is the CVI an acceptable indicator of content validity? Appraisal and recommendations. Res Nurs Health. 2007;30(4):459-67. http://doi.org/10.1002/nur.20199. PMid:17654487.
http://doi.org/10.1002/nur.20199...
) Essa análise foi realizada no programa estatístico SPSS versão 25.0. Pela análise realizada 18 itens foram excluídos originando uma terceira versão de 42 itens.

Evidências de validade baseadas nos processos de resposta

Nesse processo de evidência verifica-se se há falhas na formulação e dificuldades de compreensão dos itens, e avalia-se se as questões do instrumento estão adequadas em vários estratos da população. Esse processo foi construído em uma única etapa:

  1. Etapa de validação da resposta com indivíduos com e sem dificuldades de fala em público

A terceira versão da ECOFAP, com 42 itens, foi avaliada por uma amostra de conveniência, representada na Tabela 1. A amostra foi composta por 30 pessoas, entre 18 e 40 anos, frequentadores de uma universidade brasileira. A maioria dos participantes era do sexo feminino (66,6%), com ensino superior incompleto (53,2%), autorrelatou ter dificuldades para falar em público (73,3%). Em relação a profissão a maior parte era formada por universitários (43,3%), seguida de secretários e técnicos administrativos (24,7%), professores universitários (21,5%) e porteiros (10,7%).

Tabela 1
Características sociodemográficas e autorrelato de dificuldades para falar em público (n=30)

A coleta aconteceu no mês de julho do ano de 2022. Foram incluídos na amostra indivíduos maiores de 18 anos, de ambos os sexos e alfabetizados. Todos os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TCLE, constando os objetivos do estudo e as orientações para o julgamento de cada item proposto pelos pesquisadores. Para controlar possíveis vieses, todas as entrevistas foram realizadas por dois voluntários fonoaudiólogos. Antes de aplicar o instrumento, os pesquisadores forneceram um treinamento para os fonoaudiólogos voluntários, explicando o objetivo dessa etapa de validação, e orientando quanto a detecção de dificuldades operacionais, como tempo de aplicação do instrumento, reações não verbais dos entrevistados (expressões faciais, dúvida, impaciência, manifestações de ansiedade e linguagem corporal) e sugestões dos participantes. Tais características deveriam ser registradas pelos fonoaudiólogos voluntários logo após aplicação de cada pergunta qualitativamente, sem utilização de escores.

Depois que cada pergunta foi respondida pelo participante, em escala Likert de 0 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente), o avaliador questionou sobre a clareza do item, perguntando: “Você entendeu a pergunta?” e solicitou que o respondente repetisse a questão como ele tinha entendido “Por favor, repita a pergunta do jeito que você entendeu”. Quando a resposta tinha algum elemento diferente da proposta original, transcreveu-se a resposta no momento da entrevista. O uso dessa estratégia de paráfrase permitiu analisar a compreensão do que foi solicitado, possibilitando modificações.

Após a aplicação da ECOFAP, os pesquisadores se reuniram com os voluntários e avaliaram qualitativamente, cada item quanto à compreensão, reações não-verbais e aplicabilidade por parte dos respondentes classificando-os como adequados, quando não foi necessário realizar ajustes e inadequados, quando o item não foi compreendido de forma satisfatória. Os autores da ECOFAP fizeram as modificações que julgaram necessárias, em consenso, elaborando uma nova versão da ECOFAP.

Após a análise quali e quantitativa obteve-se a terceira versão da ECOFAP que os autores intitularam de versão piloto. A versão piloto foi formada por 48 itens e foi avaliada por indivíduos com e sem dificuldades de fala em público na etapa de validação baseadas nos processos de resposta.

RESULTADOS

Os resultados apresentam as evidências de validade baseadas no conteúdo do teste e nos processos de resposta da ECOFAP.

No Quadro 1 visualiza-se 24 itens avaliativos propostos pelos pesquisadores, categorizados nas seis famílias de coping relacionadas à avaliação cognitiva da situação estressora como desafio, e os comentários do comitê de especialistas sobre cada item. Os itens 1,3,4,5,9,10, 16 foram considerados adequados pelo comitê de especialistas. Os itens 2,7,8,13,17 e 18 também foram considerados adequados, mas os juízes propuseram modificações sintáticas. Os itens 6,11,12,14,15,19-24 foram considerados inadequados, não representando uma estratégia de coping.

Quadro 1
Itens avaliativos 1ª versão ECOFAP, relacionados à avaliação cognitiva da fala em público como um desafio (n=24)

No Quadro 2 visualiza-se os outros 22 itens avaliativos da primeira versão da ECOFAP, categorizados nas seis famílias de coping relacionadas a avaliação da fala em público com uma ameaça e os comentários do comitê de especialistas sobre cada item. As juízas avaliaram os itens 36,37,38,40 como adequados. Os itens avaliativos 25,27,41 também foram considerados adequados, mas sugeriram-se modificações. Os itens 26 a 35, 39, 42 a 46 foram considerados inadequados, não representando uma estratégia de coping.

Quadro 2
Itens avaliativos 1ª versão ECOFAP, relacionados à avaliação cognitiva da fala em público como ameaça (n=22)

Nas Tabelas 2 e 3 visualiza-se a segunda versão da ECOFAP de 60 itens. Na Tabela 2 visualiza-se 30 itens reescritos após sugestões do comitê de juízes especialistas, classificando nas 6 famílias de coping relacionadas a avaliação da situação estressora como desafio, com os comentários da segunda rodada de avaliação e o índice de validade de conteúdo por item (I-ICV). Os itens 2, 3, 4, 6, 7, 9, 10, 11, 12, 18, 19, 21, 22, 23, 26, 27, 29 e 30 foram bem avaliados apresentando I-ICV representativos, e os itens avaliativos 1, 5, 8, 13, 16, 17, 20, 24, 25, 28 foram considerados inadequados e foram retirados.

Tabela 2
Itens avaliativos da 2ª versão da ECOFAP categorizado nas famílias de coping ligadas a avaliação como desafio, com comentários e índice de validade do conteúdo por item (n=30)
Tabela 3
Itens avaliativos 2ª versão ECOFAP categorizado nas famílias de coping ligadas a avaliação como ameaça, com comentários e índice de validade do conteúdo por item (n=30)

Na Tabela 3 temos 30 itens restantes da segunda versão da ECOFAP reescritos após sugestões do comitê de juízes especialistas, classificados nas 6 famílias de coping relacionadas a avaliação da situação estressora como ameaça, com os comentários da segunda rodada de avaliação e o índice de validade de conteúdo por item (I-ICV). As juízas classificaram os itens 31 a 34, 36, 37, 41, 42, 44, 45, 47, 48, 49, 50, 51, 52, 54, 56, 57, 58 e 60 como adequados e apresentaram I-ICV representativos. Os itens avaliativos 35, 38, 39, 43, 46, 53, 55 e 59 foram considerados inadequados, com baixo I-ICV.

O Quadro 3 apresenta a versão piloto da ECOFAP com 48 itens. Essa versão foi elaborada a partir da reestruturação da segunda versão da ECOFAP e aplicação do instrumento na amostra de conveniência de 30 pessoas, descrita no método desse artigo para obter evidências de validade baseadas nos processos de resposta.

Quadro 3
Itens avaliativos da versão piloto da ECOFAP nas famílias de coping (n=48)

Após aplicação os pesquisadores, em consenso, avaliaram cada questão, categorizando como adequadas as que não precisaram fazer ajustes e inadequadas as questões que não foram compreendidas de maneira satisfatória. O item “Leio sobre como falar em público” foi reescrito “Leio sobre como falar bem em público”. Os itens “Visualizo-me falando bem”,Procuro sugestões de como os colegas lidam com a situação”, “Concentro-me em alguma coisa boa que possa vir dessa situação”, “Esclareço para todos que não me saio bem nessa atividade”, “Peço que alguém fale em meu lugar” e “Digo a mim mesmo que minha apresentação vai dar errado” foram acrescentados como opinião dos participantes.

DISCUSSÃO

Os resultados mostraram as evidências de validade baseadas no conteúdo e nos processos de resposta da ECOFAP. Estas evidências foram primordiais para ajustar os aspectos teóricos, contextuais, semânticos e sintáticos das versões iniciais da ECOFAP. Autores recomendam que a apresentação das etapas de validade baseadas no conteúdo e nos processos de resposta sejam divulgadas antes de se prosseguir para investigação das outras etapas de evidência de validade do instrumento, o que confere o rigor metodológico necessário à construção de instrumentos(2121 AERA: American Educational Research Association. American Psychological Association. National Council on Measurement in Education. Standards for educational and psychological testing. New York: AERA; 2014.).

A ECOFAP é uma escala de autoavaliação das estratégias de enfrentamento para fala em público. Sabe-se que instrumentos de autoavaliação, auxiliam o sujeito a se questionar sobre determinado aspecto, muitas vezes não relatados espontaneamente e influenciam na prontidão para mudança em relação ao seu problema(3131 Celeste LC, Lima AM, Seixas JMA, Silva MA, Silva EM. Treinamento da performance comunicativa em universitários da área da saúde. Audiol Commun Res. 2018;23(0):e1879. http://doi.org/10.1590/2317-6431-2017-1879.
http://doi.org/10.1590/2317-6431-2017-18...
,3232 Lira AAM, Borrego MC, Behlau M. Autoavaliação dos recursos comunicativos por representantes comerciais e sua relação com o desempenho em vendas. CoDAS. 2019;31(6):e20190067. http://doi.org/10.1590/2317-1782/20192019067. PMid:31721891.
http://doi.org/10.1590/2317-1782/2019201...
). A partir da autoavaliação também é possível verificar a percepção que a pessoa tem sobre a sua capacidade de autorregulação(3333 Almeida AA, Behlau M. Adaptação cultural do Questionário Reduzido de Autorregulação: sugestões de aplicação para área de voz. CoDAS. 2017;29(5):e20160199. http://doi.org/10.1590/2317-1782/20172016199. PMid:28813068.
http://doi.org/10.1590/2317-1782/2017201...
) . Autores discutem que a autorregulação é fundamental no processo de aprendizagem e generalização de novas habilidades, além de ser importante para manejo ou manutenção de comportamentos adquiridos a longo prazo(3434 Vinney LA, Turkstra LS. The role of self-regulation in voice therapy. J Voice. 2013;27(3):390.e1-11. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2013.01.003. PMid:23639733.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2013.01....
) .

A elaboração da ECOFAP se baseou na TMC, de Skinner et al.(99 Skinner EA, Edge K, Altman J, Sherwood H. Searching for the structure of coping: a review and critique of category systems for classifying ways of coping. Psychol Bull. 2003;129(2):216-69. http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.216. PMid:12696840.
http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.2...
,1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.,1414 Skinner EA, Zimmer-Gembeck M. Coping and the development of regulation: new directions for child and adolescent development. San Francisco: Jossey-Bass; 2009. pp. 5-17

15 Skinner EA, Edge K. Parenting, motivation, and the development of coping. Lincoln: University of Nebraska Press; 2002. p. 77-143.
-1616 Skinner EA, Zimmer-Gembeck MJ. The development of coping. Annu Rev Psychol. 2007;58(1):119-44. http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58.110405.085705. PMid:16903804.
http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58....
), que compreende o coping, como uma ação autorregulatória, que monitora o comportamento de resposta a situações estressoras(99 Skinner EA, Edge K, Altman J, Sherwood H. Searching for the structure of coping: a review and critique of category systems for classifying ways of coping. Psychol Bull. 2003;129(2):216-69. http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.216. PMid:12696840.
http://doi.org/10.1037/0033-2909.129.2.2...
,1010 Skinner EA, Wellborn JG. Coping during childhood and adolescence: a motivational perspective. Life-span Development and Behavior. 1994;12:91-133.,1414 Skinner EA, Zimmer-Gembeck M. Coping and the development of regulation: new directions for child and adolescent development. San Francisco: Jossey-Bass; 2009. pp. 5-17

15 Skinner EA, Edge K. Parenting, motivation, and the development of coping. Lincoln: University of Nebraska Press; 2002. p. 77-143.
-1616 Skinner EA, Zimmer-Gembeck MJ. The development of coping. Annu Rev Psychol. 2007;58(1):119-44. http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58.110405.085705. PMid:16903804.
http://doi.org/10.1146/annurev.psych.58....
,3030 Vasconcelos AG, Nascimento E. Teoria Motivacional do Coping: um modelo hierárquico e desenvolvimental. Aval Psicol. 2016;15:77-87. https://doi.org/10.1590/0103-166X2015000200011.
https://doi.org/10.1590/0103-166X2015000...
). Outros estudos, da área da saúde, também utilizaram a teoria TMC para fundamentar o desenvolvimento de instrumentos de coping(3535 Moraes F, Benetti ER, Herr GE, Stube M, Stumm EM, Guido LA. Coping strategies used by nursing professionals in neonatal intensive care. Rev Min Enferm. 2016;20:e966. http://doi.org/10.5935/1415-2762.20160036.
http://doi.org/10.5935/1415-2762.2016003...
,3636 Silveira CM, Bellaguarda ML, Canever B, Costa R, Knihs NS, Caldeira S. Coping da equipe de enfermagem no processo morte-morrer em unidade neonatal. Acta Paul Enferm. 2022;35:eAPE02261. http://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AO02261.
http://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AO0...
).

A versão I da ECOFAP, foi elaborada com 46 itens, divididos entre as famílias e os seus respectivos processos adaptativos, como apresentados nos Quadros 1 e 2. Os itens foram aleatorizados para avaliação dos juízes, evitando o viés de análise(3636 Silveira CM, Bellaguarda ML, Canever B, Costa R, Knihs NS, Caldeira S. Coping da equipe de enfermagem no processo morte-morrer em unidade neonatal. Acta Paul Enferm. 2022;35:eAPE02261. http://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AO02261.
http://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AO0...
). Esse cuidado metodológico é realizado para que não haja uma tendência de o juiz avaliar todos os itens da mesma forma, sem considerar suas diferenças de conteúdo ou formato. Ao aleatorizar a ordem dos itens, cada item é avaliado de forma independente, proporcionando uma análise mais precisa e confiável, evitando-se também a fadiga do avaliador, pois não há um padrão repetitivo na apresentação dos itens(3636 Silveira CM, Bellaguarda ML, Canever B, Costa R, Knihs NS, Caldeira S. Coping da equipe de enfermagem no processo morte-morrer em unidade neonatal. Acta Paul Enferm. 2022;35:eAPE02261. http://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AO02261.
http://doi.org/10.37689/acta-ape/2022AO0...
). Na avaliação qualitativa dos itens, observa-se que a maioria das sugestões foram em relação ao uso da linguagem, verbos e tipo de família de coping. Sabe-se que a linguagem do item precisa ser clara, e os aspectos sintáticos e semânticos da frase devem favorecer coesão e representar apenas uma ideia, compreensível, e direcionada à população alvo(2323 Pernambuco LA, Espelt A, Magalhães HV Jr, Cavalcanti RVA, Lima KC. Recommendations for elaboration, transcultural adaptation and validation process of tests in Speech, Hearing and Language Pathology. CoDAS. 2017;29(3):e20160217. PMid:28614460.

24 Pasquali L. Psicometria. Rev Esc Enferm USP. 2009;43(spe):992-9. http://doi.org/10.1590/S0080-62342009000500002.
http://doi.org/10.1590/S0080-62342009000...
-2525 Pasquali L. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. p. 37-157.).

Nesta vertente, alguns termos precisaram ser revisados, como por exemplo, substituir o termo “assessorias” por treinamentos ou cursos. Observa-se que 20 itens da I versão foram avaliados como inadequados, por não representarem estratégias de coping para lidar com a fala em público e sim um sentimento. Os verbos desses itens precisaram ser revistos para se configurarem como uma ação regulatória para se adaptar e enfrentar situações estressoras.

Estudos descrevem as dificuldades na elaboração dos itens de um instrumento e na classificação dos itens dentro das 12 famílias de coping da TMC(3737 Silva AMB, et al. Scale of Coping with Pain for Dancers (COPAIN-Dancer): construction and validity evidences. Rev Psicol. 2019;37(1):159193. http://doi.org/10.18800/psico.201901.006.
http://doi.org/10.18800/psico.201901.006...
) . Sabe-se que o processo de elaboração dos itens é um processo árduo, de rigor metodológico e que muitas vezes, depende do olhar de um especialista de fora do processo, o que reforça a importância dessa fase de validação do conteúdo. Após os comentários e sugestões na I versão, os autores se reuniram, discutiram e realizam um novo ajuste. Itens foram reformulados, ou retirados e outros foram incluídos e também reclassificados em outras famílias. Todas essas modificações só foram possíveis devido aos comentários dos especialistas, o que impulsionou os autores a reestruturar os itens, assim como observado em outros estudos na literatura(3737 Silva AMB, et al. Scale of Coping with Pain for Dancers (COPAIN-Dancer): construction and validity evidences. Rev Psicol. 2019;37(1):159193. http://doi.org/10.18800/psico.201901.006.
http://doi.org/10.18800/psico.201901.006...
,3838 Pernambuco LA, Espelt A, Magalhães HV Jr, Lima KC. Screening for Voice Disorders in Older Adults (RAVI)-part I: validity evidence based on test content and response processes. J Voice. 2016;30(2):246.e9-17. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2015.04.008. PMid:25979792.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2015.04....
).

Na versão II da ECOFAP de 60 itens (Tabelas 2 e 3) observa-se uma maior aceitação dos juízes, com pequenas sugestões. Nesta fase se realizou uma avaliação quali e quantitativa. A avaliação quantitativa é recomendada para embasar a tomada de decisão dos pesquisadores quanto aos ajustes do instrumento, caracterizando a concordância entre os juízes através da análise de índice de validade de conteúdo(2424 Pasquali L. Psicometria. Rev Esc Enferm USP. 2009;43(spe):992-9. http://doi.org/10.1590/S0080-62342009000500002.
http://doi.org/10.1590/S0080-62342009000...

25 Pasquali L. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. p. 37-157.
-2626 Alexandre NMC, Coluci MZO. Validade de conteúdo nos processos de construção e adaptação de instrumentos de medidas. Cien Saude Colet. 2011;16(7):3061-8. http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000800006. PMid:21808894.
http://doi.org/10.1590/S1413-81232011000...
). Os resultados mostram que a grande maioria dos itens apresentou índice de validade de conteúdo (I-ICV) com alto grau de concordância, o que mostra que os itens estavam bem redigidos e seguiram adequadamente as etapas de validação para esse fim.

Na versão III da ECOFAP (Quadro 3), os 48 itens foram definidos a partir do resultado da análise do índice de validade de conteúdo, seguido de aplicação de estudo piloto em estratos diversificados da população-alvo e opiniões dessa população. Estudos apontam que investigar as evidências de validade baseadas no processo de resposta complementam as evidências de validade baseadas no conteúdo do teste, sendo altamente relevante para realizar ajustes no instrumento, baseados em reações verbais e não verbais da população alvo(2323 Pernambuco LA, Espelt A, Magalhães HV Jr, Cavalcanti RVA, Lima KC. Recommendations for elaboration, transcultural adaptation and validation process of tests in Speech, Hearing and Language Pathology. CoDAS. 2017;29(3):e20160217. PMid:28614460.,3838 Pernambuco LA, Espelt A, Magalhães HV Jr, Lima KC. Screening for Voice Disorders in Older Adults (RAVI)-part I: validity evidence based on test content and response processes. J Voice. 2016;30(2):246.e9-17. http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2015.04.008. PMid:25979792.
http://doi.org/10.1016/j.jvoice.2015.04....
). Nesta etapa foram sugeridos acréscimos de 5 itens e um item foi reescrito. Consideramos pertinentes as mudanças para cumprir os critérios de simplicidade propostos por Pasquali, adequando a linguagem a população-alvo(2424 Pasquali L. Psicometria. Rev Esc Enferm USP. 2009;43(spe):992-9. http://doi.org/10.1590/S0080-62342009000500002.
http://doi.org/10.1590/S0080-62342009000...
,2525 Pasquali L. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. 1ª ed. Porto Alegre: Artmed; 1999. p. 37-157.).

As limitações desse estudo estão relacionadas a ausência de estudo de validade de critério (comparação com medida externa), validade de construto (análise da estrutura fatorial), fidedignidade (estabilidade temporal por meio de teste-reteste e consistência interna) e estabelecimento de ponto de corte com significado clínico.

Ressaltamos que a primeira, segunda e a versão piloto aqui apresentadas não são a versão final da ECOFAP. A escala ECOFAP ainda passará pela etapa de investigação de evidências da estrutura interna, analisando-se as características psicométricas do instrumento. Uma vez concluído o processo de validação da ECOFAP, ela poderá ser aplicada nas assessorias e pesquisas fonoaudiológicas como instrumento de autopercepção e autorregulação da fala em público. Acredita-se que a escala poderá auxiliar a condução das assessorias e como medidas de desfecho nas pesquisas científicas.

CONCLUSÃO

A ECOFAP é uma escala de autoavaliação das estratégias de enfrentamento para fala em público elaborada e obtida pelas evidências de validade baseadas no conteúdo do teste e nos processos de resposta. Apresenta itens com estruturas semântica e sintática adequadas e que representam o construto teórico de autorregulação da fala em público. Ressalta-se a importância dessas evidências serem consideradas por pesquisadores para utilizarem instrumentos confiáveis e apropriados para uma população alvo.

AGRADECIMENTOS

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG, pelo auxílio à pesquisa.

  • Trabalho realizado no Programa de Pós-graduação em Ciências Fonoaudiológicas (Doutorado), Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG - Belo Horizonte (MG), Brasil.
  • Fonte de financiamento: FAPEMIG (5.24/223.13706).

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Maio 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    06 Ago 2023
  • Aceito
    20 Nov 2023
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