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Screening para disfagia orofaríngea

Prezadas editoras,

De acordo com revisão sistemática publicada recentemente na CoDAS( 1Etges CL, Scheeren B, Gomes E, Barbosa LR. Screening tools for dysphagia: a systematic review. CoDAS. 2014;26(5):343-9. ), o screening, que, em Português Brasileiro, significa "rastreamento"( 2Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Rastreamento. Brasília: Ministério da Saúde; 2010. ), possui delineamento metodológico insuficiente nos estudos sobre disfagia orofaríngea (DO). É necessário compreender a DO como um sintoma caracterizado pela combinação de sinais e outros sintomas que colocam o indivíduo em risco nutricional, hídrico e pulmonar, sendo o screening direcionado a identificar indivíduos que reúnem fatores preditivos para esse desfecho e que necessitam de diagnóstico confirmatório( 3Pernambuco LA, Magalhães Junior HV. Aspectos epidemiológicos da disfagia orofaríngea. In: Marchesan IQ, Silva HJ, Tomé MC. Tratado das especialidades em Fonoaudiologia. São Paulo: Guanabara Koogan; 2014. p. 7-14. ).

O instrumento de screening para DO deve ser rápido, de baixo custo, minimamente invasivo e de fácil administração por qualquer profissional de saúde( 4American Speech-Language-Hearing Association [Internet ]. Frequently asked questions on swallowing screenings [cited 2012 Aug 12 ]. Available from: http://www.asha.org/uploadedFiles/FAQs-on-SwallowingScreening.pdf
http://www.asha.org/uploadedFiles/FAQs-o...
). Na avaliação clínica, um profissional especializado deverá ser capaz de confirmar o diagnóstico, indicar encaminhamentos e definir o planejamento terapêutico a partir de análise da biomecânica da deglutição orofaríngea.

A incompreensão sobre a distinção entre rastreamento e avaliação clínica é evidente quando se observa nos instrumentos de screening a frequente inserção de condutas que só poderiam ser interpretadas adequadamente por profissional habilitado, que, no Brasil, é o fonoaudiólogo. O instrumento de rastreamento para DO deve contemplar itens passíveis de administração e interpretação multidisciplinar. Quem executa o rastreamento deve evitar qualquer decisão terapêutica baseada apenas no resultado do teste e deve adotar como conduta imediata o encaminhamento do indivíduo que falhou para confirmação diagnóstica.

Para evitar interpretações equivocadas dos resultados, recomendamos aos pesquisadores que sempre esclareçam previamente a definição do construto a ser identificado pelo screening. Dessa forma, minimiza-se o risco de propor um instrumento cujo desfecho seria DO, mas que, na verdade, identifica, por exemplo, um distúrbio miofuncional orofacial.

Salientamos também que traduzir e adaptar um instrumento de screeningnão significa que ele produz interpretações válidas e confiáveis sobre o desfecho( 5Muñiz J, Elosua P, Hambleton RK. Directrices para la traducción y adaptación de los tests: segunda edición. Psicothema. 2013;25(2):151-7. ). Isso só será possível após a obtenção de evidências de validade e confiabilidade, além das medidas de acurácia, a saber: sensibilidade, especificidade, valor preditivo positivo e negativo e razão de verossimilhança do resultado do teste positivo ou negativo( 3Pernambuco LA, Magalhães Junior HV. Aspectos epidemiológicos da disfagia orofaríngea. In: Marchesan IQ, Silva HJ, Tomé MC. Tratado das especialidades em Fonoaudiologia. São Paulo: Guanabara Koogan; 2014. p. 7-14. , 6Speyer R. Oropharyngeal dysphagia screening and assessment. Otolaryngol Clin North Am. 2013;46(6):989-1008. ). Essas medidas são calculadas ao comparar os resultados do teste com um procedimento padrão-ouro. Na ausência deste, compara-se com a condição clínica do indivíduo no momento da administração do teste (consistência clínica), substituindo as medidas de sensibilidade e especificidade pela copositividade e conegatividade, respectivamente( 3Pernambuco LA, Magalhães Junior HV. Aspectos epidemiológicos da disfagia orofaríngea. In: Marchesan IQ, Silva HJ, Tomé MC. Tratado das especialidades em Fonoaudiologia. São Paulo: Guanabara Koogan; 2014. p. 7-14. ).

Verificamos que há evidências da contribuição do rastreamento para a identificação precoce de indivíduos com DO; entretanto, chamamos a atenção para a necessidade de melhor apropriação dos conceitos teóricos e metodológicos inerentes à elaboração dos protocolos e obtenção de suas propriedades psicométricas.

REFERENCES

  • 1
    Etges CL, Scheeren B, Gomes E, Barbosa LR. Screening tools for dysphagia: a systematic review. CoDAS. 2014;26(5):343-9.
  • 2
    Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Rastreamento. Brasília: Ministério da Saúde; 2010.
  • 3
    Pernambuco LA, Magalhães Junior HV. Aspectos epidemiológicos da disfagia orofaríngea. In: Marchesan IQ, Silva HJ, Tomé MC. Tratado das especialidades em Fonoaudiologia. São Paulo: Guanabara Koogan; 2014. p. 7-14.
  • 4
    American Speech-Language-Hearing Association [Internet ]. Frequently asked questions on swallowing screenings [cited 2012 Aug 12 ]. Available from: http://www.asha.org/uploadedFiles/FAQs-on-SwallowingScreening.pdf
    » http://www.asha.org/uploadedFiles/FAQs-on-SwallowingScreening.pdf
  • 5
    Muñiz J, Elosua P, Hambleton RK. Directrices para la traducción y adaptación de los tests: segunda edición. Psicothema. 2013;25(2):151-7.
  • 6
    Speyer R. Oropharyngeal dysphagia screening and assessment. Otolaryngol Clin North Am. 2013;46(6):989-1008.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Mar-Apr 2015

Histórico

  • Recebido
    25 Dez 2014
  • Aceito
    16 Jan 2015
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