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Editorial

Publicamos neste último fascículo de 2014 uma seleção interessante de estudos e pesquisas desenvolvidos pelos mais renomados centros acadêmicos do país e um estudo realizado em Portugal.

Os 17 artigos apresentados neste fascículo estão distribuídos da seguinte forma: 13 artigos originais, sendo quatro da área de linguagem, três de motricidade orofacial, dois da área de disfagia, três de audiologia, um da área de voz, uma revisão sistemática, uma prática baseada em evidências e duas comunicações breves.

O primeiro artigo da área de linguagem, de Lindau, Rossi e Giacheti, traduziu e adaptou para o Português Brasileiro o Preschool Language Assessment Instrument - Segunda Edição (PLAI-2). A versão-piloto em Português foi aplicada a 30 sujeitos. A versão brasileira do PLAI-2 permitiu discriminar o desempenho dos participantes de diferentes grupos etários e o escore bruto tende a ser crescente em função do aumento da idade. Foram realizados os ajustes necessários e a adaptação atendeu às equivalências teórica, semântica e cultural. O segundo artigo, de Santos, Chiossi, Soares, Oliveira e Chiari, comparou o desempenho de deficientes auditivos e ouvintes em provas de fluência verbal semântica e fonológica. O artigo mostrou que os deficientes auditivos de menor escolaridade evocam um número inferior de palavras pela pista semântica e fonológica em relação aos ouvintes e que o nível de escolaridade é relevante para o estudo de fluência verbal em deficientes auditivos. O terceiro artigo da área de linguagem, dos autores Vieira, Marques, Cáceres-Assenço e Befi-Lopes, comparou a ocorrência de rupturas de fala durante a produção de narrativas em escolares com DEL e seus pares cronológicos. A pesquisa concluiu que a ocorrência de rupturas de fala durante a produção de narrativas foi maior em escolares com DEL do que seus pares cronológicos, sendo que as rupturas classificadas como não gagas foram mais frequentes para essa população. O último trabalho da área de linguagem, de autoria de Alves e Castro, Reis, Baptista e Celeste, teve como objetivo analisar a comparação da fluência de fala de falantes do Português brasileiro com a de falantes do Português europeu e concluiu que os terapeutas da fala podem utilizar em Portugal a mesma avaliação de fluência de fala utilizada no Brasil, principalmente no que se refere às disfluências comuns e gagas, tendo cuidado apenas no que se refere à velocidade de fala.

O primeiro artigo da área de motricidade orofacial, de Zuculo, Kanap e Pinato, investiga e correlaciona o padrão sono-vigília e a qualidade de vida em crianças e adolescentes com paralisia cerebral (PC) e grupo controle. Foram aplicados cinco questionários da área e os resultados mostraram que 60,5% dos indivíduos com PC apresentam distúrbios do sono e déficit nos aspectos de qualidade de vida. Conclui-se que a alteração de sono afeta diretamente o bem-estar dos indivíduos com PC. O segundo artigo desta área, de autoria de Bautzer e Guedes, teve o objetivo de verificar as razões dos processos terapêuticos longos ou sem sucesso de pacientes com fissura labiopalatina na dificuldade de fala. As crianças foram divididas em dois grupos, com fissura isolada e com manifestações de transtorno de leitura e escrita. Foram aplicados testes de fala e linguagem. A conclusão foi que a malformação pode dificultar o processo de aquisição de fala e linguagem, prolongando o processo terapêutico. O terceiro artigo de motricidade orofacial, de Macedo e Bianchini, teve o objetivo verificar características miofuncionais orofacias em adultos jovens e analisar os dados de exame clínico de indivíduos com e sem queixa. Os participantes foram divididos em dois grupos, com e sem queixa, e avaliados por três fonoaudiólogos. Na avaliação clínica, concluiu-se que as principais alterações referem-se a modificações dos movimentos mandibulares, padrões de mastigação e de deglutição. Vários itens da avaliação não diferem do grupo sem queixa, devendo ser cuidadosamente analisados.

O primeiro artigo da área de disfagia, de autoria de Mancopes, Gonçalves, Costa, Favero, Drozdz, Bilheri e Schumacher, teve o objetivo de correlacionar o motivo do encaminhamento para o serviço de Fonoaudiologia de um hospital com os resultados da avaliação clínica e objetiva do risco de disfagia. É um estudo retrospectivo, com análise de banco de dados. Conclui-se que há correlação entre a avaliação clínica, objetiva e a diferença média entre as variáveis do motivo de encaminhamento, demonstrando a importância da associação entre os dados do histórico do paciente e os resultados da avaliação clínica e exames complementares. O segundo artigo desta área, de autoria de Uchimura, Barcelos, Paiva, Crespo e Mourão, teve como objetivo avaliar a localização de cápsulas gelatinosas duras no disparo da fase faríngea em adultos assintomáticos. Os sujeitos foram submetidos à videofluoroscopia da deglutição e ingeriram cápsulas duras de diferentes tamanhos. Conclui-se que o tamanho da cápsula influencia a localização do disparo da fase faríngea e que as cápsulas menores iniciam a fase faríngea em uma região mais anterior do que as maiores.

O primeiro artigo da área de audiologia, de autoria de Samuel, Goffi-Gomez, Bittencourt, Tsuji, Brito, teve como objetivo verificar a efetividade da programação remota do Implante Coclear (IC) por meio dos níveis de estimulação e resultados nos testes de percepção de fala e audiometria em campo livre. Foram selecionados 12 pacientes implantados há, no mínimo, 12 meses. Após a programação, foram aplicados diversos testes audiométricos e comparados os resultados da programação remota com os da programação presencial. Houve diferença estatística na média dos níveis mínimos em três eletrodos e máximos em um eletrodo. O segundo artigo da área, de autoria de Moret, Belvilacqua, Zabeu, Morettin e Stefanini, teve o objetivo de avaliar a perspectiva dos pais em relação ao IC sobre a evolução da criança usuária do IC. Estudo transversal, com amostra final composta por 50 pais/responsáveis por crianças usuárias de IC. Aplicou-se o questionário "Crianças com implante colear: perspectivas dos pais", que permite a quantificação da perspectiva. Os resultados apontam para boas expectativas dos pais em relação à comunicação, independência e participação social da criança após a cirurgia de IC, sendo esse questionário uma ferramenta útil para uso na prática clínica. O terceiro artigo da área de audiologia, das autoras Villa e Zanchetta, teve objetivo de estudar habilidades auditivas temporais de ordenação e resolução em crianças sem e com antecedentes de otite média com efusão precoce e recorrente, e as respostas em função da idade. As crianças foram divididas em dois grupos, de acordo com a ocorrência ou não de episódios de otite média. Os grupos foram divididos em subgrupos por faixa etária e todos realizaram testes temporais. Concluiu-se que episódios de otite média com efusão, ainda no primeiro ano de vida, e persistentes na idade pré-escolar e escolar influenciam negativamente as habilidades temporais avaliadas.

O único artigo da área de voz, de autoria de Dajer, Nunes, Cordeiro, Hachiya, Tsuji, Simões-Zenari, Souza e Nemr, teve o objetivo de propor e verificar a exequibilidade de programa de intervenção fonoaudiológica em sujeitos com sinais de presbilaringe, com ou sem queixa vocal. Os sujeitos participaram do Programa Vocal Cognitivo associado a técnicas vocais. Eles tiverem melhora da qualidade vocal e redução dos sinais de presbilaringe na laringoscopia. O estudo concluiu que o programa é exequível, bem delineado e não há necessidade de ajustes para continuidade do projeto.

A revisão sistemática, da área de linguagem, de autoria de Navas, Ferraz e Borges, teve o objetivo de verificar a natureza universal da hipótese do déficit de processamento fonológico para dislexia. A revisão incluiu 187 artigos dos últimos dez anos nos quais o déficit de processamento fonológico foi explorado em vários idiomas e com todos os sistemas de escrita. Concluiu-se que a hipótese do processamento fonológico foi considerada como explicação para dislexia em vários idiomas e sistemas de escrita.

O artigo de práticas baseadas em evidências, de autoria de Barberena, Brasil, Melo, Mezzomo, Mota e Keske-Soares, teve como objetivo apresentar estudos recentes que utilizam ultrassonografia na Fonoaudiologia, evidenciando aplicabilidade dessa técnica nas diferentes subáreas. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica na qual foram selecionados artigos dos últimos cinco anos com estudo em humanos. A análise foi descritiva e separada para cada subárea da Fonoaudiologia. Conclui-se que diferentes pesquisas se voltaram ao emprego da ultrassonografia na Fonoaudiologia. Estas confirmam novas possibilidades de uso desse instrumento para diagnóstico e para novas possibilidades avaliativas e terapêuticas.

A primeira comunicação breve, de autoria de Dassie-Leite, Delazeri, Baldissarelli, Weber, Lacerda Filho, teve o objetivo de obter os índices de autoavaliação vocal de indivíduos sem queixa de voz e relacioná-los às variáveis referentes a gênero, profissão e faixa etária. Participaram 136 profissionais da voz e 465 não profissionais da voz. Os indivíduos responderam ao questionário de identificação e aos protocolos QVV, IDV e PPAV. Concluiu-se que o tipo de instrumento utilizado e as variáveis de gênero e profissão podem influenciar o resultado da autoavaliação vocal. A segunda comunicação breve, de autoria de Rocha, Moreti, Amin, Madazio e Behlau, teve como objetivo validar para o Português brasileiro o protocolo Evaluation of the Ability to Sing Easily (EASE). Os autores verificaram equivalência cultural do EASE aplicando sua versão traduzida em 41 cantores brasileiros, realizando modificações em alguns itens. Eles chegaram a sua versão traduzida com adequada equivalência cultural, EASE-BR. A validação desse instrumento está em andamento.

Expressamos, mais uma vez, por ocasião deste último número de 2014, nosso sincero reconhecimento e o mais profundo agradecimento a todos os que participaram desse processo, compartilhando conosco a missão de divulgar a ciência que produzimos por meio de um texto coerente, coeso e de fácil leitura. Autores, revisores, editores e leitores têm papeis fundamentais no desenvolvimento e no aperfeiçoamento do projeto de uma publicação científica consistente, que divulgue pesquisa de alta qualidade. Considerando especificamente a realidade brasileira, a CoDAS publica principalmente pesquisas desenvolvidas em programas de pós-graduação, na área das ciências e distúrbios da comunicação humana e disciplinas correlatas, contribuindo, assim, para a aproximação entre a ciência e a sociedade. O conhecimento produzido nos centros de pesquisa só faz sentido se for aplicado à prática e, como consequência, ajudar no próprio aperfeiçoamento da Fonoaudiologia realizada no Brasil, que é inspiradora para muitos outros países. Essa é a principal forma de interação entre a comunidade científica e a atuação profissional, uma das mais fundamentais responsabilidades de nossa sociedade científica, a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa). Publicar um periódico científico que revele os padrões de qualidade e consistência de nossa ciência, disponibilizar informações atualizadas e cientificamente fundamentadas para toda a profissão e registrar, com rapidez, os avanços de nossa produção fazem parte da missão da SBFa e são centrais na defesa da autonomia profissional do fonoaudiólogo.

Falando em nome próprio, Fernanda tem contribuído para essa atividade da SBFa há nove anos, como editora científica e/ou executiva da Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, Jornal da SBFa e agora da CoDAS. Mara tem contribuído de forma fundamental, nas mesmas funções, compartilhando as diferentes posições com a Fernanda e integrando perspectivas diversas no trabalho editorial há cinco anos. Nesse período buscamos aperfeiçoar nosso trabalho, flexibilizando os processos sistemáticos, sem perder de vista os valores éticos, humanos e científicos de nossa atribuição. Sabemos que conseguimos pouco, face ao que ainda merece ser conquistado, mas seguramente contribuímos para a consolidação da principal publicação da Fonoaudiologia brasileira. Não fizemos nada sozinhas; contamos sempre com a colaboração, parceria, confiança e críticas construtivas de incontáveis parceiros. Aprendemos muito, inclusive colocando nossas prioridades e interesses pessoais de lado. Alunos e professores nos ensinaram a analisar seus estudos e a destacar o real avanço que muitas vezes perde-se nos números. Somos extremamente gratas a cada um dos autores, revisores, editores, colaboradores, leitores e críticos que nos proporcionaram esse desenvolvimento pessoal e científico. Voltamos hoje, integralmente, para nossas instituições; Fernanda para a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) e Mara para a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e o Centro de Estudos da Voz (CEV), com a certeza de que nosso olhar será mais aguçado e empático para com os nossos alunos.

Finalmente, entre nós, por inúmeras vezes, expressamos o reconhecimento mútuo pela rara oportunidade de trabalharmos juntas, um encontro casual de duas colegas com especializações tão distantes, que gerou uma relação verdadeira de respeito e amizade. Os periódicos da SBFa são responsáveis também por isso!

Com este último fascículo de 2014, encerramos nosso ciclo editorial, que representa a transição da publicação com secretaria própria para um periódico de bases profissionais, que pode concorrer dignamente com as outras revistas da área, mesmo as internacionais. A equipe que nos sucede recebe uma revista profissional, viva, com fluxo estável de artigos, pareceristas alinhados e conscientes de sua enorme responsabilidade e uma casa editorial atualizada com as melhores práticas do mercado. Desejamos à nova equipe, liderada pelas colegas Dra. Ana Luiza Pinto Navas e Dra. Roberta Gonçalves da Silva, todo o sucesso e voltamos, com carga total, à nossa função de autoras, com a certeza de que somos hoje melhores pesquisadoras, após termos tido o privilégio de vivenciar esse processo com centenas de artigos editados por nós!

Um ótimo 2015 a todos e que nossa tão ansiada indexação ISI possa ser comemorada em breve!

Fernanda Dreux Miranda FernandesMara Behlau

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2014
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