Proposição de requisitos para o desenvolvimento de um simulador de treinamento para julgamento perceptivo-auditivo da voz

Paiva, Maxsuel Alves Avelino de; Machado, Liliane dos Santos; Lopes, Leonardo Wanderley

doi:10.1590/2317-1782/20232022209pt

RESUMO

Objetivo

identificar um conjunto de requisitos para o desenvolvimento de um simulador de treinamento perceptivo-auditivo (TPA) a partir da experiência de docentes que realizam o TPA.

Método

Trata-se de um estudo transversal, descritivo, com abordagem quantitativa. Vinte e dois docentes responderam um questionário online contendo 31 itens relacionados ao TPA, envolvendo itens sobre o perfil profissional, condições para o TPA nos cursos de graduação e pós-graduação em Fonoaudiologia, estrutura do TPA, avaliação do efeito do TPA.

Resultado

observou-se que existe variação nos procedimentos de TPA realizados no Brasil. Os principais requisitos indicados pelos respondentes para o TPA envolvem o uso de vozes sintetizadas nos momentos iniciais, seguindo para vozes humanas posteriormente; a utilização de tarefas de fala com vogais sustentadas e fala encadeada; a inserção de informações complementares tais como o gênero, idade, profissão do falante e a espectrografia do sinal vocal; treinamento com tempo mínimo de seis horas; a avaliação do efeito do treinamento pela comparação da concordância intra e inter-juizes pré e pós treinamento; a adição dos parâmetros de grau geral de desvio vocal, rugosidade, soprosidade e tensão; a utilização de escalas contínuas e numéricas validadas; e ser realizado a partir do segundo ano de graduação.

Conclusão

embora haja uma variabilidade da resposta dos especialistas, foi identificado um conjunto mínimo de requisitos indicados para a realização de TPA com novos juízes.

Descritores:
Voz; Qualidade da Voz; Percepção Auditiva; Treinamento; Simulação

[1] Conflito de interesses: nada a declarar.

BLOCO 1 - PERFIL PROFISSIONAL
ITENS		*RESPOSTA DOS ENTREVISTADOS*
1	Qual o seu grau máximo de formação?	Doutorado (n=13, 59,1%)
		Pós-doutorado (n=9, 40,9%)
2*	Para qual público você desenvolve/aplica treinamento perceptivo-auditivo da Voz?	Graduação (n=19, 86,4%)
		Especialização em Voz (n=7, 31,8%)
		Pós-graduação Stricto Sensu (n=9, 40,9%)
		Cursos livre (n=5, 22,7%)
		Residência (n=1, 4,5%)
3	Se leciona na graduação, o treinamento perceptivo-auditivo para avaliação da qualidade vocal faz parte do conteúdo de algum componente curricular obrigatório?	Sim (n=15,68,2% )
		Não (n=1, 4,5%)
		NA (n=6, 27,3%)
4*	Tipo de instituição em que ensina?	Pública (n=18, 81,9%)
		Particular (n=4, 18,2%)
		Fundação (n=1, 4,5%)
5	UF da instituição?	São Paulo (n=10, 45,5%), Paraíba (n=3, 13,6%), Pernambuco (n=3, 13,6%), Minas Gerais (n=2, 9,1%), Rio de Janeiro (n=2, 9,1%), Distrito Federal (n=1, 9,1%) e Rio Grande do Norte (n=1, 9,1%)
6	Tempo de docência em anos?	Mais de 10 anos (n=18, 81,1%)
		Menos de 10 anos (n=4, 18,2%)
BLOCO 2) CONDIÇÕES PARA O TREINAMENTO PERCEPTIVO-AUDITIVO
ITENS		*RESPOSTA DOS ENTREVISTADOS*
1	Em que ano do curso de Graduação os alunos recebem o treinamento perceptivo-auditivo na instituição que você atua?	A partir do 2º ano (n=21, 95,5%)
2	Você considera que há um melhor momento do curso ao longo da graduação para oferecer um programa de treinamento perceptivo-auditivo para os estudantes de Fonoaudiologia?	Sim (n=15, 68,2%)
		Todos afirmam que deve ser realizado a partir do segundo ano da graduação
		Não (n=7, 31,8%)
3	Existe algum pré-requisito para os alunos iniciarem este treinamento na instituição que você atua?	Sim (n=10, 45,5%)
		Não (n=12, 54,5%)
BLOCO 3) ESTRUTURA DO TREINAMENTO PERCEPTIVO-AUDITIVO
ITENS		*RESPOSTA DOS ENTREVISTADOS*
1*	Durante o treinamento perceptivo-auditivo você associa alguma outra informação sobre a voz apresentada?	Idade (n=18, 81,1%)
		Gênero (n=18, 81,1%)
		Queixa principal (n=14, 63,6%)
		Espectrograma (n=11, 50%)
		Exame laríngeo (n=10, 45,4%)
2	Qual o total de horas de treinamento em sala de aula?	Menos de 2h (n=2, 9,1%)
		Entre 2 e 4h (n=5, 22,7%)
		Entre 4 e 6h (n=3, 13,6%)
		Entre 6 e 8h (n=5, 22,7%)
		Mais de 8h (n=4, 18,1%)
		Outros (n=3, 13,6%)
3	As vozes utilizadas no treinamento são humanas e/ou sintetizadas?	Humanas (n=17, 77,3%)
		Humanas e Sintetizadas (n=5, 22,7%)
4	Quantidade de vozes que você utiliza no treinamento?	Até 20 vozes (n=8, 36,4%)
		Entre 21 e 40 vozes (n=7, 31,8%)
		Mais de 50 vozes (n=7, 31,8%)
5*	Que tarefas de fala você utiliza para o treinamento?	Contagem de números (n=21, 95,5%)
		Frases do CAPE-V (n=17, 77,3%)
		Fala espontânea (n=17, 77,3%)
		Vogal “a” (n=15, 68,2%)
		Vogal “é” (n=12, 54,5%)
6	Você utiliza o instrumento CAPE-V (Kempster et al.(¹⁶16 Kempster GB, Gerratt BR, Abbott KV, Barkmeier-Kraemer J, Hillman RE. Consensus auditory-perceptual evaluation of voice: development of a standardized clinical protocol. Am J Speech Lang Pathol. 2009;18(2):124-32. http://dx.doi.org/10.1044/1058-0360(2008/08-0017). PMid:18930908. http://dx.doi.org/10.1044/1058-0360(2008... )) no treinamento perceptivo-auditivo?	Sim (n=18, 81,8%)
		Não (n=4, 18,2%)
7	Você utiliza o instrumento GRBAS (Hirano(¹⁷17 Hirano M. Clinical examination of voice. New York: Springer Verlag; 1981.)) no treinamento perceptivo-auditivo?	Sim (n=20, 90,9%)
		Não (n=2, 9,1%)
8	Você utiliza a Escala de Desvio Vocal - EDV (Yamasaki et al.(¹⁸18 Yamasaki R, Madazio G, Leao SHS, Padovani M, Azevedo R, Behlau M. Auditoryperceptual evaluation of normal and dysphonic voices using the voice deviation scale. J Voice. 2017;31(1):67-71. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2016.01.004. PMid:26873420. http://dx.doi.org/10.1016/j.jvoice.2016.... )) no treinamento perceptivo-auditivo?	Sim (n=13, 59,1%)
		Não (n=9, 40,9%)
9**	Suponha que existam 3 níveis hierárquicos de complexidade para o treinamento perceptivo-auditivo. Indique a ordem dos níveis que você utilizaria no treinamento?	1º Nível: Identificação da presença do desvio vocal
		(n=20, 90,9%)
		2º Nível: Avaliação da qualidade vocal predominante
		(n=15, 68,2%)
		3º Nível: Avaliação do grau geral do desvio vocal (n=12, 54,5%)
10*	Quais parâmetros você inclui no treinamento?	Rugosidade (n=22, 100%)
		Soprosidade (n=22, 100%)
		Tensão (n=22, 100%)
11^#	Como você define para os alunos as características auditivas que são esperadas para uma voz rugosa?	Respostas não específicas ao definir características auditivas ou definem correlatos anatomofisiológicos:
		“Irregularidade vibratória”, “ruído”, “voz suja”, “presença de areia”
12^#	Como você define para os alunos as características auditivas que são esperadas para uma voz soprosa?	Respostas faziam referência a:
		“Qualquer escape de ar audível durante a produção vocal”
13^#	Como você define para os alunos as características auditivas que são esperadas para uma voz tensa?	Respostas não específicas ao definir características auditivas ou definem correlatos anatomofisiológicos:
		“Sensação de aperto”, “esforço vocal”, “hiperfunção vocal”
14	Quantas horas de treinamento você considera que seriam suficientes para melhorar o desempenho (taxa de acertos) e a confiabilidade dos alunos na análise perceptivo-auditiva?	Até 4 horas (n=3, 13,6%)
		Entre 5 e 8 horas (n=5, 22,7%)
		Mais de 8 horas (n=14, 63,3%)
15	Você utiliza algum tipo de jogo ou simulador para treinamento perceptivo-auditivo?	Sim (n=1, 4,5%)
		Não (n=21, 95,5%)
BLOCO 4) AVALIAÇÃO DO EFEITO DO TREINAMENTO PERCEPTIVO-AUDITIVO
ITENS		*RESPOSTA DOS ENTREVISTADOS*
1	Você faz a avaliação da confiabilidade dos alunos na análise perceptivo-auditiva após o treinamento perceptivo-auditivo?	Sim (n=9, 40,9%)
		Não (n=13, 59,1%)
2^#	Como você avalia o efeito do treinamento perceptivo-auditivo sobre o desempenho e a confiabilidade do aluno?	As respostas citam: “Teste de concordância inter e intra-avaliador; observação e discussão das avaliações; Prova formal”
3	Você tem dificuldade para avaliar o efeito do treinamento perceptivo-auditivo? (Caso não faça a avaliação do efeito do treinamento, marque "NA")	Sim (n=5, 22,7%)
		Não (n=6, 27,3%)
		Não avaliam (n=11, 50%)
4#	Pode referir alguma(s) dificuldade(s) para avaliar o efeito do treinamento perceptivo-auditivo?	As dificuldades envolvem: “Falta de parâmetro para comparação; Falta de instrumentos calibradores para treino; Procedimento trabalhoso com teste estatístico”
5	Como você define o "acerto" do aluno quanto ao grau geral do desvio vocal usando o CAPE-V ou a EDV?	Quando a marcação do CAPE-V ou EDV coincide com os valores do juiz de referência ou está 10 mm para mais ou para menos desse valor (n=13, 59,1%)
		Quando a marcação do CAPE-V ou EDV coincide com os valores do juiz de referência ou está 5 mm para mais ou para menos desse valor (n=2, 9,1%)
		Quando a marcação do CAPE-V ou EDV coincide com os valores do juiz de referência, sem margens de erro (n=2, 9,1%)
		Não utilizo o CAPE-V ou EDV (n=4, 18,2%)
		Outro: (n=1, 4,5%)”Nunca utilizei esses critérios”
6	Como você avalia o acerto do aluno na avaliação do grau geral, caso use a escala GRBAS?	Quando coincide (n=10, 45,5%)
		Quando coincide ou está um grau para mais ou para menos (n=10, 45,5%)
		Não utilizo a GRBAS (n=2, 9%)
7	O quanto considera que o treinamento perceptivo-auditivo é importante na formação inicial do aluno de Fonoaudiologia em uma escala de 0 - (não é importante) a 5 - (Muito importante)?	5 (n=19, 86,4%)
		4 (n=2, 9,1%)
		3 (n=1, 4,5%)