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Corpo e linguagem: repercussões em um caso de disfagia

RESUMO

Preenchido por tecidos e órgãos, o corpo é referenciado pela biologia e pela medicina a partir de sua arquitetura anatômica e biomecânica. Sabe-se, contudo, que há diferentes modos de compreender o corpo humano. Partindo do pressuposto de que se trata do corpo do ser que fala, a teoria e clínica psicanalítica nos mostra que o corpo é enlaçado pelo sujeito, atravessado pela linguagem e afetado pela palavra. No campo dos distúrbios de deglutição, mesmo que se aponte para as repercussões da ruptura no prazer alimentar e da privação de emoções gustativas, discussões teórico-clínicas que impliquem a relação entre corpo e linguagem são ainda incipientes. Esse trabalho objetivou discutir as consequências clínicas para o cuidado do sujeito disfágico de se levar em consideração a relação entre corpo e linguagem. A exposição do caso clínico revelou que marcas do acometimento neurológico colocaram em relevo a vulnerabilidade imposta pelo confronto radical com os efeitos da perda da condição corporal anterior, colocando o sujeito frente a um mal-estar que avançou na medida em que a perda do corpo implicou na perda de sua posição na linguagem e no enlace social que envolve o ato de comer. Diante desse cenário, foi fundamental para a eficácia do cuidado a abertura para o diálogo e para a escuta como ações clínicas norteadoras da aplicação de tecnologias dirigidas ao funcionamento orgânico. Esse passo só foi possível porque houve o reconhecimento de que o corpo humano ultrapassa a concepção de biomáquina já que é corpo falante.

Descritores:
Corpo; Linguagem; Disfagia; Apraxia; Terapia Fonoaudiológica

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