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Editorial

Escrever este editorial às vésperas do Dia do Fonoaudiólogo, acrescentado ao fato de que estamos finalizando o primeiro ano da CoDAS, faz com que seja inevitável uma reflexão mais ampla sobre os rumos da nossa ciência e sua relevância para a fundamentação da prática profissional. Só a estreita relação entre esses dois polos permite a valorização social da pesquisa, dando-lhe significado pela aplicação prática, e a consolidação da clínica, sustentada no conhecimento científico.

Os 17 artigos apresentados neste último fascículo de 2013 estão distribuídos da seguinte forma: 12 artigos originais, sendo cinco da área de audiologia, três da área de fala e linguagem, três da área de voz e um da área de saúde coletiva; três revisões sistemáticas e duas comunicações breves, que novamente trazem contribuições relevantes e reforçam a diversidade peculiar à Fonoaudiologia. Contudo, de modo ainda mais interessante, diversos deles abordam os aspectos multidisciplinares que caracterizam tanto a abrangência como o desafio de produzir conhecimento nessa ciência.

Os artigos "Potencial Cognitivo Auditivo - P300 como indicador de evolução terapêutica em escolares com Dislexia do Desenvolvimento", de Alvarenga, Araújo, Ferraz e Crenitte, e "Bilinguismo e habilidades de processamento auditivo: desempenho de adultos em tarefas dicóticas", de Gresele, Garcia, Torres, Santos e Costa, abordam a interface entre as áreas de Audiologia e Linguagem em estudos com amostras relevantes e resultados significativos. Ainda nessa área, Buriti, Oliveira e Muniz apresentam o estudo "Perda auditiva em crianças com HIV/AIDS", que investigou a audição de 23 crianças com HIV e constatou perdas auditivas em uma proporção importante delas. O estudo intitulado "Desenvolvimento do potencial evocado auditivo cortical P1 em crianças com perda auditiva sensorioneural após o implante coclear: estudo longitudinal", de autoria de Alvarenga, Vicente, Lopes, Ventura, Bevilacqua e Moret, relata a pesquisa com dez crianças, na qual não foi observada correlação entre o desenvolvimento em P1 com o desempenho em percepção de fala. Já o artigo de Alcarás, Larcerda e Marques, "Estudo das Emissões Otoacústicas Evocadas e efeito de supressão em trabalhadores expostos a agrotóxicos e ruído", concluiu que o uso de emissões otoacústicas evocadas em 55 participantes é um método adequado para a detecção de perdas auditivas em trabalhadores expostos a fatores de risco.

Na área da Linguagem, o artigo de Berti e Roque, intitulado "Desempenho perceptivo-auditivo de crianças na identificação de contrastes fonológicos entre as vogais tônicas" também aborda a associação entre linguagem e audição na avaliação de 66 crianças e conclui que o uso das habilidades perceptivo-auditivas para a identificação de contrastes vocálicos ainda não está estabilizada em crianças pequenas. "Impacto dos distúrbios da fala na qualidade de vida: proposta de questionário" é o título do artigo apresentado por Lúcio, Perilo, Vicente e Friche, onde se destaca a importância do desenvolvimento de instrumentos nacionais para o estudo da interferência dos distúrbios da comunicação na qualidade de vida das pessoas. A "Intervenção fonoaudiológica em curto prazo para crianças com distúrbios do espectro do autismo" foi estudada por Martins e Fernandes em um grupo de 21 crianças que receberam três modelos de intervenção em períodos curtos de tempo.

O artigo da área de Saúde Coletiva aborda a "Relação entre distúrbio de voz e trabalho em um grupo de Agentes Comunitários de Saúde" e é de autoria de Cipriano, Ferreira, Servilha e Marsiglia; as autoras estudaram 65 agentes comunitários de saúde e verificaram que mais da metade deles refere problemas de voz.

Na área da Voz, Fouquet, Behlau e Gonçalves apresentam "Uma nova proposta de avaliação do segmento faringoesofágico e sua relação com a espectrografia acústica na voz traqueoesofágica" a partir de um estudo com 30 sujeitos laringectomizados totais. "Distúrbio de voz relacionado ao trabalho docente: um estudo caso-controle" é o título do artigo de Giannini, Latorre e Ferreira, em que confirmam a associação entre estresse laboral e distúrbios de voz. De Pimenta, Dájer, Hachiya, Tsuji e Mantagnoli, o estudo "Parâmetros acústicos e quimografia de alta velocidade identificam efeitos imediatos dos exercícios de vibração sonorizada e som basal" verificou efeitos positivos imediatos em qualidade vocal de mulheres sem alterações laríngeas que realizaram exercícios de vibração sonorizada.

Os artigos de Revisão de Literatura também apresentam importantes contribuições para diferentes áreas da Fonoaudiologia e serão seguramente utilizados como material de referência. Moret, Bevilacqua, Melo, Mondelli, Martinez, Cruz e Jacob abordaram "Questionários sobre a satisfação da amplificação em crianças". "Intervenções em linguagem infantil na atenção primária à saúde" foi o tema escolhido por De Cesaro. Silva, Couto, Matas e Carvalho revisaram o tema "Potenciais evocados auditivos de longa latência em crianças com implante coclear".

Este fascículo conta ainda com duas Comunicações Breves: "Equivalência cultural da versão brasileira do Eating Assessment Tool - EAT-10", por Gonçalves, Remaili e Behlau, uma proposta de triagem de origem americana, e "Perfil Funcional da Comunicação no diagnóstico fonoaudiológico de crianças do espectro autístico - uso de um checklist", por Neubauer e Fernandes.

Finalmente, para fechar este editorial, queremos deixar registrado que tivemos a oportunidade de mediar um encontro, no dia 3 de dezembro do presente ano, com o Prof. Dr. Abel Parker, diretor do Programa SciELO e assessor de Informação e Comunicação em Ciência da Fundação de Apoio à Universidade Federal de São Paulo - FAP-UNIFESP, na Intereditors Talks, uma iniciativa da Zeppelini Editorial. O evento contou com a presença de 69 participantes, de mais de 30 periódicos, que compartilharam suas dificuldades e ouviram sugestões de estratégias para melhorar a visibilidade de suas revistas por meio do reconhecimento dos desafios e oportunidades existentes no momento atual.

O Prof. Abel foi extremamente perspicaz em seus comentários, quando destacou os esforços que devem ser feitos para aumentar a visibilidade de nossa ciência, ao mesmo tempo em que apontou falhas no sistema de se usar o fator de impacto como verdade absoluta. Como um exemplo disso, assinalou que há 394 periódicos brasileiros nas três bases mais importantes: 280 na SciELO, 300 na Scopus e 150 na WoS e apenas 25% dos títulos são comuns às três plataformas. Comentou ainda que há uma campanha mundial para se restringir o uso do fator de impacto para se tomar decisões sobre programas, preferindo-se considerar o número de citações que um artigo recebe, ignorando-se o periódico em si.

Internacionalização foi assunto da pauta, considerando-se as particularidades brasileiras. Por mais que o periódico seja local, tem que se pensar em inserção. "O editor não pode ser mais aquele acadêmico tímido, mas sim um agente de liderança em sua área", disse o professor. O Brasil é pioneiro no acesso aberto e temos hoje 63% de nossa produção disponível (versus 13% dos artigos internacionais), sem custo para o leitor, o que ajuda a divulgação de nossa ciência. Apesar de esse número promissor, o professor alertou para o fato de que estamos sendo ameaçados por casas publicadoras internacionais e grandes plataformas de jornais com um sistema muito eficiente de coleta de manuscritos; embora nossa reserva de mercado seja grande, há urgência de nos internacionalizarmos.

Uma oportunidade de fácil implementação e custo relativo baixo é incrementar a divulgação dos resultados da pesquisa científica, associando periódicos a blogs e redes sociais. Comunicar os resultados de uma pesquisa deve fazer parte integral da própria pesquisa científica e o Brasil está atrasado nessa conexão com as mídias modernas. Os editores e autores devem se preocupar em medir a influência dos artigos nas redes sociais, o que pode ser acompanhado pelo portal Altmetric (www.altmetric.com), que é uma start-up londrina, com o objetivo de facilitar a métrica do nível de um artigo, analisando a atividade on-line sobre ele. Os autores e editores devem tuitar seus artigos e manterem-se conectados em portais como o Mendeley (www.mendeley.com), Research gate (www.reserachgate.net) ou Academia (www.academia.edu), que apesar de terem sido vistos inicialmente como não científicos pelas agências de fomento, hoje são muito úteis e valorizados. Desta forma, deve-se considerar seriamente a criação de um Departamento de Marketing ou de Redes Sociais para uma revista científica, o que deixamos aqui registrado para consideração pela nova gestão da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia - SBFa.

Outra estratégia de efeito relativamente rápido é a publicação de artigos com colaboradores internacionais (que hoje fazem parte de apenas 6% do total de manuscritos brasileiros), o que aumenta a média de citações. Pode-se ainda buscar colegas brasileiros inseridos em universidades no exterior, com posições de destaque, para ajudarem as publicações brasileiras, como editores associados. Analisando a questão do multilinguismo, o professor revelou que 16% de nossos artigos em 2012 foram publicados em português e inglês e, na área da saúde, esse valor sobe para 34%, mostrando o esforço empreendido, desafio esse já conquistado pela CoDAS. O professor destaca como erros graves, que devem ser evitados a todo custo: publicações sem revisão de pares, endogenia na revisão e ausência de planejamento dos fascículos (que devem conter revisões e artigos comissionados). Solicitou que os editores se esforcem para melhorar o nível dos manuscritos publicados, não se enviando artigos fracos para revisão (o que esgota os editores associados e pareceristas) e tomando-se cuidado especial para com os títulos, afiliação (não confundir com currículo!) e resumo do trabalho, que devem ser impecáveis.

A SBFa mediou essa apresentação e o diálogo com os editores presentes, uma oportunidade única que agradecemos ao Sr. Márcio Zeppelini. Encontros com o Prof. Abel Parker são carregados de reconhecimento pela dedicação ímpar que ele tem frente ao SciELO. Ouvi-lo nutre nossas mentes com informações valiosas, ao mesmo tempo em que aumenta a ansiedade e responsabilidade sobre as escolhas nesse caminho a trilhar. Contudo, no caso específico da CoDAS, temos contado com a compreensão dos autores sobre as mudanças implementadas, o apoio dos pareceristas em relação às cobranças por regras e prazos e à diretoria da SBFa, pela autonomia que dá a nós, os editores.

Desejamos que a leitura deste fascículo instigue novas pesquisas, cartas aos editores e artigos de revisão para os próximos números.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Dez 2013
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