Resumo
Neste artigo analiso a relação argumentativa de tópicos de O Segundo Sexo, publicado em 1949 , com os escritos “encomendados” por editores norte-americanos, como o texto intitulado Brigitte Bardot e a síndrome de Lolita , de agosto de 1959. O que há de comum entre eles é a proposta de desmitificação, presente nos escritos teóricos e nos nomeados autobiográficos. Sempre preocupada em perquirir temas de relevo, Beauvoir discute tópicos de simetria, de identidade e diferença, tanto entre culturas – da Europa às Américas –, quanto entre os sexos – na complexa relação do feminino, criticado em bases de suposta “natureza” das mulheres, e o masculino, que se destaca na sociedade patriarcal. Não se trata de reverter, pela escritura, os dilemas da história, mas de criticar o impacto da cultura na leitura e na escritura do real, sem jamais se resignar ao arbítrio e imposições. Indago, assim, sobre o teor axiológico que suscitam os escritos “encomendados”; se poderia ser também o mesmo que se configura em O Segundo Sexo , em seu esforço de desmitificar as ilusões que sobrevoam a realidade histórica. Busco, na interação entre textos e práticas de vida, compreender o método de análise que lança o pensamento de Beauvoir como uma matriz dos feminismos contemporâneos.
Beauvoir; Escritos Encomendados; Desmitificação; Identidade e Diferença