Resumo
Este artigo analisa microcenas de interação e argumenta que o cotidiano é decisivo para a objetivação das categorias da diferença. Categorias são aqui compreendidas como intervalo de sentidos – conteúdos sempre situados e construídos mutuamente – no interior de fronteiras ideais de valoração, estabelecidas pelo uso rotineiro. A reflexão etnográfica sobre as situações empíricas dá ensejo a uma interpretação mais ampla sobre como a reação autoritária recente no Brasil tem em sua base a construção mútua de ideais categoriais de gênero e estado, mas também de raça, religião, família, classe, sexualidade e crime, portanto um projeto de nação. Não se pode esperar deste texto, evidentemente, que cada uma dessas categorias seja discutida com rigor; a proposta formal é que se pense a política de sua produção simultânea no curso da vida social contemporânea, ou seja, sobre como a estética de sua emergência situada nos cotidianos remete à construção da cena política mais ampla. Este texto é resultado parcial de investigação mais ampla sobre os cotidianos de grupos fortemente marginalizados em São Paulo.
Diferença; Categorias; Estado; Gênero; Raça; Classe