Resumos
A síndrome de ansiedade de separação em animais é um distúrbio de comportamento caracterizado, em cães, por comportamentos indesejados manifestados por esses animais quando afastados de suas figuras de apego. Este trabalho buscou caracterizar o problema na população de cães residentes em apartamento de um bairro no Município de Niterói, Rio de Janeiro (RJ), por meio de uma pesquisa de campo por meio de dois questionários, um para identificação da síndrome de ansiedade de separação (QI-SASA) e outro questionário de apoio. Nessa população, 55,9% dos cães apresentaram seus sinais característicos, sendo as manifestações mais frequentes as vocalizações excessivas (53,8%), os comportamentos destrutivos (46,1%) e os comportamentos depressivos (34,6%). Os resultados também sugerem um impacto negativo na qualidade de vida dos proprietários dos cães que desenvolvem a SASA.
ansiedade de separação; cães; comportamento; bem-estar animal
Separation anxiety syndrome in animals is a behavioral disorder characterized by undesirable wanted behaviour showed by dogs when they are away from their attachment figures. In this study, with the goal of understanding the syndrome in indoor dogs from a suburb of the city of Niterói, Rio de Janeiro (RJ), two questionnaires were used: a questionnaire to identify separation anxiety syndrome in animals (QI-SASA) and a questionnaire of support. In the surveyed population, 55.9% of the dogs presented clinical signs of SASA, being the most frequent excessive vocalizations (53.8%), destructive behaviours (46.1%), and depressive behaviour (34.6%). The results also suggest a negative impact on the life quality of the owners and dogs.
separation anxiety; dogs; behaviour; animal welfare
ARTIGOS CIENTÍFICOS
CLÍNICA E CIRURGIA
Estudo exploratório da síndrome de ansiedade de separação em cães de apartamento
Exploratory study of separation anxiety syndrome in apartment dogs
Guilherme Marques SoaresI,1; João Telhado PereiraII; Rita Leal PaixãoIII
IPrograma de Pós-graduação em Medicina Veterinária, Clínica e Reprodução Animal, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal Fluminense (UFF), 24320-340, Niterói, RJ, Brasil. E-mail: gsoaresvet@oi.com.br
IIDepartamento de Medicina e Cirurgia Veterinária, Instituto de Veterinária, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Seropédica, RJ, Brasil
IIIDepartamento de Departamento Fisiologia e Farmacologia, Instituto Biomédico, UFF, Niterói, RJ, Brasil
RESUMO
A síndrome de ansiedade de separação em animais é um distúrbio de comportamento caracterizado, em cães, por comportamentos indesejados manifestados por esses animais quando afastados de suas figuras de apego. Este trabalho buscou caracterizar o problema na população de cães residentes em apartamento de um bairro no Município de Niterói, Rio de Janeiro (RJ), por meio de uma pesquisa de campo por meio de dois questionários, um para identificação da síndrome de ansiedade de separação (QI-SASA) e outro questionário de apoio. Nessa população, 55,9% dos cães apresentaram seus sinais característicos, sendo as manifestações mais frequentes as vocalizações excessivas (53,8%), os comportamentos destrutivos (46,1%) e os comportamentos depressivos (34,6%). Os resultados também sugerem um impacto negativo na qualidade de vida dos proprietários dos cães que desenvolvem a SASA.
Palavras-chave: ansiedade de separação, cães, comportamento, bem-estar animal.
ABSTRACT
Separation anxiety syndrome in animals is a behavioral disorder characterized by undesirable wanted behaviour showed by dogs when they are away from their attachment figures. In this study, with the goal of understanding the syndrome in indoor dogs from a suburb of the city of Niterói, Rio de Janeiro (RJ), two questionnaires were used: a questionnaire to identify separation anxiety syndrome in animals (QI-SASA) and a questionnaire of support. In the surveyed population, 55.9% of the dogs presented clinical signs of SASA, being the most frequent excessive vocalizations (53.8%), destructive behaviours (46.1%), and depressive behaviour (34.6%). The results also suggest a negative impact on the life quality of the owners and dogs.
Key words: separation anxiety, dogs, behaviour, animal welfare.
INTRODUÇÃO
Definir padrões de bem-estar para animais de companhia é uma tarefa árdua, por serem frequentemente tratados e interpretados como seres humanos intimamente inseridos no contexto de famílias humanas. Esse tratamento humanizado é causa corriqueira de distúrbios de comportamento nesses animais (OVERAL, 1997), entre os quais a Síndrome de Ansiedade de Separação em Animais (SASA) é um dos mais observados.
A SASA pode ser definida pelo conjunto de comportamentos indesejáveis exibidos pelos animais quando são deixados sozinhos ou quando são afastados fisicamente da figura de apego. Essa figura de vínculo pode ser um ser humano ou outro animal. Os comportamentos que mais frequentemente caracterizam a SASA são: vocalização excessiva (uivos, choros ou latidos em excesso), comportamento destrutivo (roer ou arranhar objetos pessoais da figura de vínculo ou as possíveis rotas de acesso a essa figura de vínculo), micção e defecação em locais inapropriados e frequentemente em locais ou objetos que sejam referência à figura de vínculo (MCCRAVE, 1991; OVERALL, 1997; KING et al., 2000; BEAVER, 2001; APPLEBY & PLUIJMAKERS, 2003; SCHWARTZ, 2003; LANDSBERG et al., 2004). Entretanto, outros comportamentos são aceitos como manifestações da síndrome, como vômitos, sialorreia e depressão (MCCRAVE, 1991; LANDSBERG et al, 2004), sendo comum também a comorbidade da SASA com transtornos compulsivos (TC) (MCCRAVE, 1991; OVERALL & DUNHAM, 2002; LANDSBERG et al., 2004). Os comportamentos depressivos se caracterizam pela inatividade total do cão, o animal não urina, não defeca, não come, e geralmente há relatos do proprietário de que ele dorme durante todo tempo em que está sozinho.
Estudos quantitativos em relação ao problema relatam que sua ocorrência varia em torno de 14% (OVERALL, 2001; DENENBERG et al., 2005), podendo atingir até 40% dos cães (SEKSEL e LINDEMAN, 2001), sendo o terceiro problema de comportamento mais frequente da Clínica de Comportamento Animal da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos (TAKEUCHI et al., 2001).
Uma condição considerada necessária para a ocorrência da SASA é a hipervinculação (MCCRAVE, 1991; KING et al., 2000; APPLEBY e PLUIJMAKERS, 2003; LANDSBERG et al., 2004), traduzida pela organização da rotina canina em torno da figura de vínculo, havendo sinais de ansiedade ou desconforto sempre que essa figura se afasta.
No Brasil, há carência de dados epidemiológicos relativos a distúrbios de comportamento em cães; por isso, o presente trabalho constitui-se em estudo exploratório da SASA na busca de meios para preveni-la e tratá-la, em virtude do impacto que causa na qualidade de vida dos cães e de seus proprietários. Especificamente, os objetivos deste estudo foram: (1) mensurar o problema dentro de uma população de cães urbanos residentes em apartamento; (2) determinar a frequência dos sinais clínicos de SASA na amostra; e (3) identificar possíveis correlações entre a apresentação dos sinais e os fatores relacionados ao ambiente (físico e social) e ao manejo desses animais.
MATERIAL E MÉTODOS
A população escolhida foram os cães de apartamento de Icaraí, um bairro com características mistas entre residencial e comercial, no Município de Niterói, Rio de Janeiro (RJ), onde há grande predomínio de prédios de apartamentos residenciais. Todas as informações sobre o comportamento dos cães foram obtidas com os proprietários.
Foram selecionados seis estabelecimentos que se dedicavam ao comércio de produtos veterinários (medicamentos, cosméticos, rações e acessórios) e ofereciam serviços de banho e tosa. Cinco desses estabelecimentos também tinham consultório médico-veterinário. Nesses estabelecimentos, proprietários de cães foram abordados aleatoriamente no período de julho a novembro de 2006 e, para serem incluídos no estudo, deveriam viver com seu cão e residirem em apartamento no bairro de Icaraí, no município de Niterói-RJ.
Este estudo baseou-se em dados obtidos por meio da aplicação de questionários. Dois questionários foram entregues para cada proprietário abordado: o questionário, para identificação da SASA (QI-SASA), e o questionário de apoio (QA), para a identificação do proprietário, do animal, do ambiente (social e físico) e de alguns itens de manejo desse animal. Os respondentes levavam os questionários consigo e devolviam-nos preenchidos posteriormente, portanto não houve interferência direta do entrevistador nas respostas aos questionários. Foi solicitado a cada proprietário que as respostas aos questionários fossem referentes ao mesmo cão, mesmo que houvesse mais animais na residência.
O QI-SASA é instrumento validado por meio da comparação da análise de quatro etologistas clínicos, assim como por meio da comparação dos resultados obtidos com os questionários comparados com o resultado de entrevistas pré-determinadas para o diagnóstico da SASA (SOARES et al., 2009). O questionário de apoio (QA) foi construído para qualificar: os respondentes; os ambientes físico e social onde o cão vivia; o animal; as práticas; e as rotinas a que eram submetidos. Sua aplicação teve como objetivos: (1) excluir indivíduos que não atendessem aos critérios de inclusão; (2) obter dados a serem cruzados com os resultados do QI-SASA, a fim de analisar possíveis variáveis e/ou fatores predisponentes à SASA; e (3) caracterizar um padrão de interação mínima desejável (IMD) entre os proprietários e seus cães. A combinação entre os hábitos de passear diariamente, escovar periodicamente e brincar regularmente com o cão foram convertidos em grupos, de forma a caracterizar, para fins deste levantamento, se o proprietário tinha ou não tinha IMD com seu cão. Para o cão ser incluído no grupo com IMD, ele deveria ter um mínimo de 20 minutos de passeios diários associados com brincadeiras diárias (com brinquedos) ou escovação diária. Animais que não apresentassem essas características eram considerados como sem IMD.
Para testar os dados categorizados, foi realizado o teste de qui-quadrado clássico (χ2), e para comparação entre médias foi realizado o teste de Student (t), por meio do programa Graphad Instat® V.2.0. O nível de significância para todos os testes aplicados foi de 5% (α<0,05).
RESULTADOS
Foram obtidos 93 questionários válidos, cujos respondentes residiam no município de Niterói - RJ, em apartamentos no bairro de Icaraí. Responderam aos questionários: 81 mulheres e 12 homens. A distribuição por escolaridade foi: Ensino Fundamental (1); Ensino Médio (20); Ensino Superior (42) e Pós-graduação (27); três respondentes não informaram sua escolaridade.
Dos 93 animais, 46 eram fêmeas (23 castradas) e 47 eram machos (12 castrados). Sendo estatisticamente significativa a predominância de fêmeas castradas em relação aos machos castrados (P<0,01). A média de idade foi de 6,1±3,6 anos (dois não informaram), e de peso foi de 8,9±6,0kg (no questionário foi solicitado o peso aproximado do animal, considerado em valores inteiros).
Dos 93 cães, 52 (55,9%) foram considerados positivos de acordo com os critérios publicados por SOARES e colaboradores (2009), ou seja, por meio do QI-SASA apresentaram sinais compatíveis com a SASA. Na tabela 1, observam-se quantitativamente os sinais apresentados, entre os animais considerados positivos, negativos e no total da amostra. Destacam-se a vocalização excessiva (53,8%), os comportamentos destrutivos (46,1%) e a alta incidência de quadros depressivos (34,6%).
Neste estudo, buscou-se caracterizarem-se comportamentos compulsivos a partir de duas perguntas no QI-SASA: se o cão tinha o hábito de lamber as patas, outra parte do corpo ou algum objeto com muita frequência; ou se caçava moscas imaginárias. Esses itens, quando marcados, foram considerados como TC, quantificados e comparados entre os cães positivos e negativos para SASA. Os resultados dessa avaliação mostraram que, 83,7% dos que desenvolveram SASA, também desenvolveram comportamentos compulsivos (P<0,01).
Alguns aspectos ambientais foram avaliados e divididos para melhor compreensão neste trabalho entre: ambiente físico, que compreende o espaço físico onde o cão vive; o ambiente social, que compreende os fatores animados da relação familiar, ou seja, caracterização de todos os animais (incluindo os seres humanos) que se relacionam com o cão; e o manejo, que vem a ser todas as práticas de interação e rotinas estabelecidas com o animal. Portanto, foram avaliados os seguintes aspectos: onde (ambiente físico), com quem (ambiente social) e como (manejo) o cão vive.
Na comparação entre diferentes ambientes físicos e manifestação da SASA, foram formados três grupos: (1) se o cão tinha acesso a todas as áreas da residência; (2) se tinha alguma área restrita; ou (3) se seu acesso ficava limitado a apenas um cômodo. A incidência de SASA não diferiu entre os ambientes físicos (P=0,9).
Neste trabalho, foram identificados alguns aspectos do ambiente social, que, a partir do teste de qui-quadrado, não diferiram significativamente entre os grupos "positivo" e "negativo" para SASA. Os aspectos comparados foram: o proprietário teve ou não filhos (P=0,2) e, em caso positivo, o número de filhos que tinha (P= 0,1), o sexo do proprietário (P=0,4) e o número de convivas humanos (P=0,4)/ animais (P=0,2).
Foram abordados aspectos relacionados com a rotina do cão e com atividades humanas que, direta ou indiretamente, pudessem influenciar o comportamento do cão. Para avaliar a frequência com que o cão era deixado só, foram formados dois grupos que caracterizam se o animal é deixado sozinho com ou sem rotina. Para o grupo "com rotina", foram consideradas as respostas: "algumas vezes por semana", "todos os dias" e "mais de uma vez ao dia". Para o grupo "sem rotina", foram consideradas as respostas: "nunca", "raramente" e "de vez em quando". O resultado dessa comparação (39 com rotina - 27 com SASA; 54 sem rotina - 25 com SASA) revelou que cães deixados rotineiramente sozinhos desenvolveram significativamente mais SASA comparados àqueles deixados em casa sem rotina (P=0,01). Pôde-se observar, neste estudo, que 53,8% dos proprietários de cães que apresentaram SASA usavam significativamente mais recursos para não deixá-los sozinhos, em comparação com os 31,7% dos proprietários cujos cães foram diagnosticados como negativos para SASA (P=0,01).
A partir da comparação dos grupos "positivo" e "negativo" para SASA, por meio do qui-quadrado, o fato de o cão dormir no quarto com o proprietário (P=0,2) ou, mais especificamente, na cama do proprietário (P=0,4), não demonstrou predisposição ao desenvolvimento da SASA. Também não houve relação do hábito de o cão dormir na cama do proprietário com eliminação inapropriada, independentemente de o animal apresentar ou não SASA (P=0,3).
A interatividade foi avaliada a partir de dois parâmetros: (1) a rotina de passeios e (2) a "interação mínima desejável" (IMD). Dos animais que passeavam diariamente, 52,1% desenvolveram SASA, número significativamente menor em relação aos 73,7% dos cães que não passeavam diariamente e desenvolveram SASA (P=0,04). Destaca-se que foram excluídos dessa amostra três proprietários que não informaram a frequência de passeios. Em relação à IMD, os grupos foram comparados com o desenvolvimento ou não da SASA. Dos animais com IMD, 54,2% não desenvolveram SASA, o que foi significativamente menor que os 66,7% do grupo sem IMD que desenvolveram o distúrbio (P=0,02).
DISCUSSÃO
Nenhum distúrbio psiquiátrico é binário em nenhuma espécie animal (inclusive a humana), sempre há os limítrofes (KAPLAN et al., 1997), o que traz uma dificuldade de definir alguns pacientes como positivos ou negativos. No entanto, foi preciso fazer essa definição para a obtenção de dados possíveis de serem analisados estatisticamente. Outra dificuldade encontrada foi a definição do que é a SASA. Vários autores divergem em alguns pontos, fato que mostra a necessidade de que se crie um padrão internacional para caracterizar distúrbios de comportamento na Medicina Veterinária, a exemplo do DSM-IV (Diagnostic and statistical manual for mental disorders, 4a versão), que cumpre esse papel para a psiquiatria humana.
O destaque para a vocalização excessiva (53,8%) e os comportamentos destrutivos (46,1%) está de acordo com a afirmação de APPLEBY e PLUIJMAKERS (2003) de que estes são os sinais mais frequentes. A alta incidência de quadros depressivos (34,6%) também deve ser destacada, já que essa manifestação da SASA normalmente não é relatada ou percebida pelo proprietário, embora tenha como consequência direta a diminuição na qualidade de vida do animal e um aumento na suscetibilidade a doenças, como já é comprovado em seres humanos (HAMER et al., 2007).
Neste estudo, o Transtorno Compulsivo (TC) não foi considerado como sinal da SASA, o que está de acordo com alguns autores (MCCRAVE, 1991; APPLEBY & PLUIJMAKERS, 2003); todavia, diante dos 82,7% dos animais positivos para SASA com TC, pode-se sugerir a associação entre os dois quadros mórbidos, o que está de acordo com outros estudos (BEAVER, 2001; OVERALL & DUNHAM, 2002; LANDSBERG et al., 2004) e com referências de comorbidade entre Transtorno Obsessivo-Compulsivo em seres humanos com Ansiedade de Separação (18%) e Transtorno do Pânico (de 3 a 14%) (PETRIBÚ, 2001). O arrancar e/ou a ingesta de pelos, o lamber excessivo, a perseguição à própria cauda e o caçar insetos imaginários são comportamentos considerados compulsivos e eventos predisponentes ou geradores das lesões, quando há automutilação (OVERALL, 1997; TELHADO, 1997). Como este estudo se baseou em dados fornecidos pelos proprietários, faz-se necessária uma análise mais profunda dos animais considerados portadores de TC, pois é possível que nem todos os lambedores sejam compulsivos.
Apesar do número relativamente alto de animais que apresentaram sinais da SASA, o significado desta no dia-a-dia dos pacientes é muito variável, pois alguns apresentam os sinais apenas em algumas situações (SASA condicional) e outros raramente ou nunca são deixados sozinhos.
A comparação com a restrição de espaço dentro do apartamento não demonstrou relação estatística com a SASA, até porque a maioria dos animais (82,8%) não tinha nenhum tipo de restrição dentro da residência. Em razão de se tratar de uma pesquisa de campo, sem ambiente controlado, o fato de o animal ter ou não acesso a alguma área da residência pode não significar que essa área seja mais ou menos frequentada pelas pessoas da casa ou pela figura de vínculo desse animal.
A relação inadequada entre seres humanos e cães pode não ser a única causa dos diversos distúrbios comportamentais descritos, mas certamente agrava, predispõe e complica tais distúrbios. Vários autores concordam (O'FARRELL, 1997; OVERALL, 1997; LADEWIG, 2005) que os proprietários são responsáveis pela geração e/ou manutenção da maioria dos problemas comportamentais em cães. Além da relação direta do cão com o proprietário, outros fatores como o tamanho da família e a qualidade da interação dos convivas também interferem no surgimento ou não de problemas (KOBELT et al., 2003; BENNETT & ROHLF, 2007). MCGREEVY & MASTERS (2008) relatam que cães que vivem em residência com maior número de mulheres são mais predispostos a problemas relacionados à separação. Porém, nenhum item relacionado à estrutura social da família demonstrou influenciar o desenvolvimento da SASA nesta pesquisa.
Deve ser considerado o fato de que a amostra apresentou um predomínio de pessoas com nível superior completo, totalizando 74,2% dos respondentes, e destes 39,1% eram pessoas pós-graduadas, o que não reflete a realidade social do Brasil.
Se o cão apresenta problemas quando é deixado só, há uma noção popular de que basta providenciar-lhe um companheiro animal, e o problema será resolvido. Tal suposição popular não foi comprovada a partir da comparação entre o desenvolvimento ou não da SASA com o número de convivas animais. Para estabelecer esse total, foram considerados animais que geralmente relacionam-se com cães, portanto outros cães e gatos. Como a amostra foi obtida com cães de apartamento, percebe-se um número bem maior (74,2%) de cães que não conviviam com nenhum outro animal, exceto seres humanos.
Na literatura, há referências de que mudanças na rotina são fatores desencadeantes da SASA (APPLEBY & PLUIJMAKERS, 2003; SCHWARTZ, 2003; LANDSBERG et al., 2004); porém, neste estudo, foi demonstrado o contrário, mas sem contradizer tal informação, visto que existe um aspecto condicional para a manifestação da SASA, observado em alguns animais.
JAGOE & SERPELL (1996) afirmam que animais que dormem com seus donos apresentam maior predisposição para o desenvolvimento de distúrbios de eliminação vinculados à SASA; porém, no presente estudo, tal relação não foi confirmada, assim como em relação ao hábito de o cão dormir na cama do proprietário com eliminação inapropriada, independentemente de apresentar ou não SASA. As diferenças nos resultados desta pesquisa com os desses autores podem ser resultantes das características da amostra, que foi composta apenas por animais residentes em apartamento, enquanto que, no estudo citado, a amostragem foi direcionada a proprietários de cães com diversas realidades diferentes (ambientes urbanos, rurais, casas e apartamentos).
O resultado da comparação entre IMD e desenvolvimento da SASA sugere que a qualidade e a quantidade de interação interferem positivamente na prevenção da SASA. Tal resultado é compatível com os resultados de MCGREEVY & MASTERS (2008), os quais afirmaram que os riscos de desenvolvimento de problemas relacionados à separação diminuem em cães que brincam mais com seus proprietários. Entretanto, o mesmo estudo relata que os riscos aumentam para aqueles cães que têm esse momento de interação nos primeiros 30 minutos seguintes à chegada do proprietário em casa.
CONCLUSÕES
A SASA é um problema de comportamento do cão que traz impacto na qualidade de vida do proprietário e de sua família. Ao quantificar a Síndrome na população canina residente em apartamentos no bairro de Icaraí do Município de Niterói-RJ, concluiu-se que este é um problema manifestado por mais da metade desses cães. As manifestações mais frequentes foram: as vocalizações excessivas, os comportamentos destrutivos e os comportamentos depressivos. O presente estudo também sugere a necessidade de realização de mais estudos para avaliar a SASA em cães com outras condições de moradia e para avaliar o seu impacto direto e indireto na qualidade de vida dos cães.
AGRADECIMENTOS
A todos aqueles que responderam aos questionários com muito boa vontade.
Esta pesquisa teve o apoio da CAPES, por meio da concessão de bolsa de mestrado.
COMITÊ DE ÉTICA E BIOSSEGURANÇA
Este projeto foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (CEP CMM/HUAP n. 149/06). Cada participante, ao ser abordado, assinou um termo de consentimento livre e esclarecido.
Recebido para publicação 13.08.09
Aprovado em 20.01.10
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Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
26 Mar 2010 -
Data do Fascículo
Mar 2010
Histórico
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Aceito
20 Jan 2010 -
Recebido
13 Ago 2009