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EDITORIAL EDITORIAL

Maria Cecília de Souza Minayo

Editora

No momento político atual, a sociedade brasileira colocou as universidades públicas na pauta das transformações institucionais necessárias para assegurar o futuro da autonomia do país na produção de ciência e tecnologia. Trata-se de uma mudança imperativa, pois, no Brasil, é dentro das universidades e dos centros de pesquisa públicos que se realiza a maior parte das investigações e do desenvolvimento tecnológico. Ninguém duvida de que o maior insumo da riqueza mundial hoje é a produção de conhecimento.

O mundo da ciência e tecnologia mudou muito nos últimos 30 anos, contribuindo para inúmeras transformações na economia, na vida social e no campo cultural. Os grandes avanços atuais foram construídos a partir dos acelerados passos dados pela tecnociência da informação, da comunicação, da informática e da biotecnologia. As transformações tecnológicas são hoje uma espécie de frontispício da pós-modernidade. As mudanças provocadas pela ciência e tecnologia foram de tal ordem que muitos autores começaram a chamar o momento atual, primeiro, de sociedade da informação; depois, de sociedade do conhecimento, e hoje já se usa falar em sociedade aprendente, acentuando-se o caráter mutante e dinâmico dos produtos científicos.

Tudo isso afeta as instituições de ensino e pesquisa, cujas necessidades de transformações não podem ser saciadas apenas com ajustes de percurso. Não se trata de reviravolta passageira: essas transformações não têm retorno e tendem a se acelerar.

Um diagnóstico é necessário. No caso das instituições públicas, vivencia-se uma redução do papel do Estado na economia, o que leva a uma queda dos recursos destinados a custeio e a pessoal. E ao mesmo tempo, observa-se o crescimento dos dois outros lados das instituições-esteios do mundo moderno e pós-moderno: mercado e sociedade civil, inclusive na produção de C&T. O incremento da sociedade civil sem fins lucrativos é geométrico. Esse nicho social já movimenta hoje cerca de um bilhão de dólares na economia brasileira. Cada vez mais se exercita uma diferenciação entre o que é público e o que é estatal e se promove uma aproximação maior, em todo o mundo, entre empresas privadas, ONGs e entidades públicas.

Para o enfrentamento das mudanças, as instituições de ensino e pesquisa criadas no modelo da sociedade industrial evidenciam muitas defasagens: a) faltam instâncias específicas de gestão voltadas para o avanço do conhecimento e de sua aplicação; b) faltam metas institucionais claras e que atinjam e incorporem cada um e a totalidade de seus membros; c) inexistem incentivos para transformações mais ousadas; d) permanece a rigidez departamental que atua por controle de processos, de forma burocrática, tendendo a reproduzir pessoas e a valorizar formas de conhecimento fragmentadas; e) domina a política do pequeno poder, sobretudo do democratismo.

A condição pós-moderna da ciência e tecnologia exige novas modalidades de organização do trabalho fundadas na autonomia, criatividade e responsabilização dos atores; na flexibilidade de funções; em formas abertas de identificação de demandas sociais e de incorporação dos demandantes no ciclo de produção e na maleabilidade das formas organizativas. No momento em que o governo e as próprias instituições universitárias estão convocados a produzir mudanças institucionais, os autores e colaboradores de Ciência & Saúde Coletiva precisam mobilizar sua criatividade, contribuir e ousar!

Maria Cecília de Souza Minayo

Editor

Brazilian society has placed the country's public universities on the agenda for the institutional change needed to guarantee Brazil's future autonomy in science and technology. Such change is imperative, since public universities and research centers concentrate the majority of the country's research and technological development. And no one doubts that knowledge production is the greatest input for national wealth in today's world.

The world of science and technology has changed tremendously in the last 30 years, contributing to countless transformations in the economy, social life, and the cultural field. Such huge advances were built through the breakneck strides taken by the technoscience of information, communication, computers, and biotechnology. Today's technological transformations form a sort of frontispiece for post-modernity. Science and technology have sparked such great changes that many authors began to refer to the current moment first as the information society, then the knowledge society, and now the learning society, highlighting the mutating and dynamic nature of scientific outputs.

All of this affects teaching and research institutions, whose thirst for change cannot be quenched only by mid-course adjustments. What is at stake is not a passing inflection: there is no turning back on these transformations, and they tend to accelerate.

A diagnosis of the situation is urgently needed. Public institutions now experience a reduction in the state's role in the economy, leading to a drop in resource allocation for costing and personnel. Meanwhile, two other underlying institutions in the modern and post-modern world have expanded: the market and civil society, including their roles in the production of science and technology. Non-profit civil society is experiencing exponential growth. The non-profit social niche now operates some one billion dollars in the Brazilian economy. There is a growing differentiation between what is considered public and the state itself, as well as a greater worldwide approximation between private companies, NGOs, and public organizations.

To deal with these changes, the teaching and research institutions that were created under the industrial society model now suffer numerous gaps and mismatches: a) they lack specific management spheres focused on the advancement and application of knowledge; b) they have no clear institutional goals that reach their entire membership individually and collectively; c) there are no incentives for more daring transformations; d) a persistent departmental rigidity acts to bureaucratically control processes, tending to reproduce persons and to value fragmented forms of knowledge; and e) the policy of "small power" predominates, especially that of democratism.

The post-modern condition of science and technology requires new modalities of work organization based on the players' autonomy, creativity, and accountability; flexibility of functions; open ways of identifying social demands; and incorporation of those vindicating change into both the production cycle and flexibility of organizational forms. At a moment when government and university institutions themselves are called on to produce institutional changes, the authors and collaborators of Ciência & Saúde Coletiva need to mobilize their creativity, contribute, and dare!

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Jun 2007
  • Data do Fascículo
    2004
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