O artigo procede a uma retrospectiva histórica dos conceitos e estratégias metodológicas que informaram e informam o monitoramento da pandemia de aids, hoje na sua terceira década. Procurou-se iluminar aspectos raramente abordados pela história canônica da epidemia, buscando traçar as raízes e desdobramentos das atuais alternativas de vigilância e monitoramento, no campo da epidemiologia, da biologia molecular e das ciências sociais e comportamentais. O profundo cisma que opõe sociedades duramente afetadas pela epidemia e que contam com recursos humanos e financeiros escassos a serem empregados tanto no monitoramento, como na implementação ampla e adequada de estratégias de prevenção e tratamento às pessoas vivendo com HIV/aids nas sociedades afluentes e substancialmente menos afetadas pela epidemia é criticamente revisado, em prol de soluções factíveis e prementes, dado o alto custo e a complexidade de boa parte das alternativas-padrão em curso nos países mais ricos. Mais do que um desafio à engenhosidade de cientistas e profissionais de saúde, a pandemia de aids é revista como uma crise de grandes proporções da saúde pública, da vida social e um chamamento renovado à frustrada ética solidária entre as diferentes sociedades e segmentos sociais.
Aids; Monitoramento e avaliação; História da ciência