A variação registrada nos atributos dos casos de Doença Isquêmica do Coração (DIC) ao longo do tempo sugere variação temporal na subpopulação fonte dos casos. Propõe-se que tenha ocorrido, em associação com a Pandemia de Influenza de 1918, a expansão de uma subpopulação caracterizada por um fenótipo de hipercolesterolemia e alta propensão à mortalidade por DIC, que teria contribuído com a maior parte dos casos e dos óbitos por DIC registrados na década de 1960. A progressiva extinção daquelas coortes de nascimento teria resultado em crescimento relativo dos casos de DIC oriundos de uma segunda subpopulação, caracterizada por resistência à insulina e expressão de marcadores associados a inflamação crônica subclínica. Esta re-interpretação da tendência temporal da mortalidade por DIC, e o abandono da idéia de degeneração pela idéia de inflamação/infecção pede por uma mudança na epidemiologia. Além de exposições ambientais (dieta, infecção), variações temporais nas representações proporcionais de fenótipos associados à resistência e à vulnerabilidade individual seriam importantes determinantes dos padrões de ocorrência de doenças em populações.
Influenza; Doença cardiovascular; Epidemia; Mortalidade; Ecologia humana