O 30º aniversário da certificação oficial da Organização Mundial da Saúde (OMS) da erradicação da varíola foi marcado por uma série de eventos que saudaram a dramática história do triunfo tecnológico e organizacional contra este antigo flagelo. Todavia, as comemorações também servem como momentos para uma reflexão crítica. Este artigo questiona os aplausos excessivos para a erradicação da varíola como o único e absoluto sucesso na história da saúde pública. Examina como e por que a erradicação da varíola e a abordagem da atenção básica de saúde orientada para a justiça social (de acordo com a Declaração de Alma-Ata) se tornaram paradigmas concorrentes. Sintetiza críticas sobre as deficiências da erradicação e busca desvelar alguns dos mitos que envolvem a campanha de erradicação global como uma prioridade e necessidade da saúde pública, e como uma vitória da cooperação da Guerra Fria. O artigo finaliza com reflexões sobre a integração de aspectos técnicos e sociopolíticos da saúde no contexto do Estado de bem-estar social como forma de atingir um amplo e duradouro sucesso para a saúde pública global.
Erradicação da varíola; OMS; Halfdan Mahler; Saúde global; Alma-Ata