Resumo
A presente revisão integrativa tem por objetivo identificar os arranjos de cuidado em saúde mental que foram implementados no enfrentamento à pandemia de COVID-19. Realizou-se busca em três bases de dados (SciELO, PubMed e LILACS), em português, inglês e espanhol, com os descritores “SAÚDE MENTAL” or “SALUD MENTAL” or “MENTAL HEALTH” AND “COVID-19”, no período de 2020 a 2021. Foram encontrados 3.451 artigos, sendo 43 selecionados para análise. Em relação ao cuidado em saúde mental, os principais arranjos identificados foram os digitais, de natureza pública, desenvolvidos na esfera municipal e com integração com a rede de saúde. Os modelos de cuidado em saúde mental para o enfrentamento da pandemia são discutidos a partir dos tipos de arranjo produzidos nesse contexto sanitário emergencial e crítico. Apresenta-se, ainda, um recorte da realidade encontrada no Sistema Único de Saúde (SUS), reiterando sua resiliência. Concluiu-se que os arranjos digitais foram os mais usados e que há necessidade de investigar a acessibilidade deste modelo para populações com maior vulnerabilidade social. Reafirma-se a importância do SUS para o enfrentamento da COVID-19 e no acesso a informações de saúde.
Palavras-chave:
Saúde mental; COVID-19; Apoio comunitário; Modelos de assistência à saúde
Abstract
This integrative review aims to identify the mental health care measures that were produced during the COVID-19 pandemic. This research was conducted on three databases (SciELO, PubMed, and LILACS) with the following descriptors in Portuguese, English, and Spanish: “SAÚDE MENTAL” or “SALUD MENTAL” or “MENTAL HEALTH” AND “COVID-19” from 2020 to 2021. In total, 3,451 articles were found, 43 of which were analyzed. Most measures were digital, stemmed from public institutions, focused on the local perspective, and were integrated with the public health care system. This study discusses the models of care in mental health based on measures to cope with the COVID-19 pandemic. It also discusses the Brazilian health care system, reiterating its resilience. In conclusion, digital measures occurred most often. This study suggest the evaluation of the accessibility of this mental health care model for most vulnerable groups. Finally, this research reinforces the importance of the Brazilian health care system for public health and access to information to cope with the COVID-19 pandemic.
Key words:
Mental health; COVID-19; Community support; Healthcare models
Introdução
A saúde mental é um dos campos mais complexos, transversalizados e amplos dentro da área da saúde, sendo multiprofissional, não restrito às patologias ou semiologias, realizado em ato, nos territórios e em liberdade¹.
A eclosão da pandemia de COVID-19, com ponto inicial na China, mas que se alastrou rapidamente para todos os países, exigiu grande capacidade de adaptação e resiliência dos serviços de saúde. As recomendações iniciais da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicavam como principais ações de combate à disseminação do novo coronavírus a higienização das mãos, o uso de máscaras, o isolamento social e a restrição das atividades não essenciais². Essas medidas foram adotadas, com maior ou menor grau de adesão pública, pela maioria dos países.
Os serviços de saúde foram obrigados a readequar seu modo de funcionamento. Segundo o Relatório da Organização Pan-Americana de Saúde, que abordou a situação de 35 países signatários da organização, os serviços de saúde mental na América Latina sofreram com a falta de financiamento adequado para a continuidade da oferta de cuidado³. Além disso, aponta a falta de planejamento para o cuidado com os grupos em situações de vulnerabilidade, a descontinuidade no atendimento a usuários de álcool e outras drogas e que os serviços específicos para atendimento dessas populações, bem como os de cuidados primários, foram mais precarizados durante a pandemia, em detrimento dos serviços ambulatoriais e hospitalares em saúde mental.
As ações para combate à COVID-19, somadas às novas formas de funcionamento dos serviços de saúde mental, também foram agravantes para a piora nos índices de saúde mental³. Os níveis de ansiedade e depressão na vivência da pandemia aumentaram significativamente, tanto nas camadas mais pobres quanto nas mais ricas44 Furtado LAC, Universidade Federal de São Paulo, Fundação Tide Setubal. Pesquisa desigualdades e vulnerabilidades na epidemia de COVID-19: monitoramento, análise e recomendações [livro eletrônico]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 2021. [acessado 2023 ago 3]. Disponível em: https://repositorio.unifesp.br/handle/11600/61363.
Vale destacar que na vigência de processos epidêmicos anteriores, como ebola e H1N1, entre outros, evidenciou-se que a saúde mental das populações tende a piorar, não sendo a COVID-19 exceção à regra55 Anjum S, Ullah R, Rana MS, Khan HA, Memon FS, Ahmed Y, Jabeen S, Faryal R. COVID-19 pandemic: a serious threat for public mental health globally. Psychiatr Danub 2020; 32(2):245-250.. Segundo levantamento realizado por Garrido e Rodrigues (2020), no Brasil o consumo de álcool e outras drogas na população geral aumentou a partir da exigência de isolamento social imposta como medida de prevenção da COVID-1966 Garrido RG, Rodrigues, RC. Restrição de contato social e saúde mental na pandemia: possíveis impactos das condicionantes sociais. J Health Biological Sci 2021; 8(1):1-9..
Outro grupo sumariamente afetado pelas emergências de saúde pública são os profissionais de saúde que atuam na linha de frente. Por medo de contaminação, falta de equipamentos de proteção e/ou em função do luto causado pela perda de colegas e pacientes, essa população lida com diversos agravantes para as condições de vida, trabalho e saúde mental77 Teixeira CFS, Soares CM, Souza EA, Lisboa ES, Pinto ICM, Andrade LR, Espiridião MA. A saúde dos profissionais de saúde no enfrentamento da pandemia de COVID-19. Cien Saude Colet 2020; 25(9):3465-34748..
O presente estudo faz parte de uma pesquisa mais ampla, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) - PPSUS, coordenada por pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em colaboração com universidades públicas brasileiras e portuguesas, com apoio da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo (SES-SP) e do Conselho dos Secretários Municipais de São Paulo (COSEMS-SP).
Frente ao exposto, busca-se no presente artigo identificar os arranjos de cuidado em saúde mental que foram implementados na pandemia, partindo-se da seguinte questão de pesquisa: quais arranjos foram produzidos para o cuidado em saúde mental no contexto da pandemia de COVID-19?
Metodologia
A metodologia escolhida para a realização dessa pesquisa foi a revisão integrativa, que, segundo Mendes et al.,88 Mendes KDS, Silveira RCCP, Galvão, CM. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm 2008; 17(4):758-764. busca, na literatura, aglutinar produções que tenham resultados e reflexos nas práticas cotidianas e sintetizar esses achados.
A partir da pergunta de pesquisa, foram definidos como estratégia de busca os descritores “SAÚDE MENTAL” or “SALUD MENTAL” or “MENTAL HEALTH” AND “COVID-19”. As bases de dados utilizadas foram SciELO, LILACS e PubMed. A busca foi realizada em 18 de janeiro de 2022 com esses descritores, nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola, compreendendo as publicações referentes aos anos de 2020 e 2021, bem como aquelas já publicadas no curto período referente ao ano de 2022.
Foram encontradas 3.451 produções nesse período, sendo 92 na base da LILACS, 245 na SciELO e 3.114 na PubMed. A etapa seguinte da coleta foi a exclusão de duplicidade pelas bases. As publicações selecionadas foram analisadas por leitura de títulos e resumos e foram excluídas todas aquelas que não fossem artigos científicos e/ou que não respondessem à pergunta norteadora da pesquisa. A etapa final contemplou a leitura na íntegra dos artigos que restaram, sendo excluídos aqueles sem acesso na íntegra e gratuito ou que não respondessem à pergunta de pesquisa.
A Figura 1 explicita cada etapa desse processo de seleção dos artigos, evidenciando o número total ao final de cada fase. O escopo final contou com 43 artigos selecionados.
Resultados e discussão
Os 43 artigos selecionados tratavam de arranjos produzidos ou fomentados a partir da pandemia de COVID-19 para o cuidado em saúde mental (Quadro 1).
Para a análise, os artigos foram classificados, após a leitura, a partir dos seguintes critérios: tipo de estudo; público-alvo; abrangência; nacionalidade; modalidade de arranjo; finalidade do arranjo; natureza do arranjo; integração com rede pública de saúde; abrangência na rede de saúde; arranjo comunitário; e período da intervenção.
O tipo de estudo predominante foi de relato de experiência (51,1%), seguido de estudos de intervenção (20,9%). Os arranjos tiveram como público-alvo, majoritariamente, a população de profissionais da saúde (39%), usuários de serviços de saúde mental (16%) e a população em geral (11%). O período de intervenção das pesquisas é datado, especialmente, do primeiro semestre de 2020.
Os países onde mais artigos foram identificados com arranjos em saúde mental foram Brasil (23%), Estados Unidos (18%), Canadá (9%) e China (9%), sendo possível constatar ao menos uma produção em cada continente. A abrangência dos arranjos, ainda que não descrita em todos os artigos, indica que foram desenvolvidos na esfera municipal (30,2%), nacional (27,9%) e interna aos serviços (23,2%).
A modalidade dos arranjos foi classificada como presencial e/ou digital, sendo que, em alguns casos, um mesmo arranjo apresentou-se de forma híbrida, ou seja, em ambas as modalidades. Os arranjos digitais foram classificados em seis categorias: redes sociais, aplicativos desenvolvidos para o enfrentamento da COVID-19, hotline, teleatendimento, telemonitoramento e educação em saúde (Quadro 2). A modalidade mais utilizada foi a de arranjos digitais (80%).
Em relação à finalidade, em termos de análise, os achados foram categorizados como: autocuidado, diagnóstico, educação em saúde e terapêuticos. Um arranjo poderia ser encaixado em mais de uma finalidade, sendo a de ordem terapêutica a majoritária (83,7%).
A natureza dos arranjos foi majoritariamente pública (49%)4444 Dupont M. Salud mental y apoyo psicosocial (SMAPS): dispositivos de cuidado de equipos sanitarios de primera línea de respuesta telefónica ante COVID-19. Subjetividad Procesos Cognitivos 2020; 24(2):212-243., sendo que parte deles apresenta-se integrado com a rede de atenção à saúde (55%). Por vezes, o mesmo arranjo compunha, com partes diferentes da rede de atenção, e por outras, um arranjo narrado como integrado à rede não se localizava em nenhum ponto específico, como no caso de países sem sistemas universais de saúde. Entre aqueles referentes à rede de saúde, foram desenvolvidos na atenção especializada/ambulatorial (45,8%), na atenção básica (33,3%) e na atenção hospitalar (20,8%). Por fim, destaca-se que 74,5% dos artigos narram arranjos produzidos sem a participação comunitária (74,5%)99 Gray M, Monti K, Katz C, Klipstein K, Limc S. A "Mental Health PPE" model of proactive mental health support for frontline health care workers during the COVID-19 pandemic. Psychiatry Res 2021; 299:113878.,1111 Feinstein RE, Kotara S, Jones B, Shanor D, Nemeroff CB. A health care workers mental health crisis line in the age of COVID-19. Depress Anxiety 2020; 37(8):822-826.,3232 Cavalcante F, Oliveira I, Costa M, Silva V, Caetano J, Neto N, Barros L. Intervenções para promoção da saúde mental durante a pandemia da COVID-19. Psic Saude Doenças 2020; 21(3):582-593..
Modelo digital
O principal achado do estudo foi a utilização massiva dos arranjos em modelo digital, com diferentes tipos de propostas de intervenção, mas essencialmente destinados para oferta de teleconsultas, via atendimentos virtuais, diagnósticos ou linhas específicas para acompanhamento em saúde mental.
Sendo a pandemia de COVID-19 um evento sanitário de proporções inéditas nos últimos cem anos, alguns estudos demonstraram a utilização dos meios digitais para propagação de notícias e informações educativas sobre a doença1414 Guan I, Kirwan N, Beder M, Levy M, Law S. Adaptations and innovations to minimize service disruption for patients with severe mental illness during COVID-19: perspectives and reflections from an assertive community psychiatry program. Community Ment Health J 2021; 57(1):10-17.,3737 Sánchez-Guarnido AJ, Domínguez-Macías E, Garrido-Cervera JA, González-Casares R, Marí-Boned S, Represa-Martínez Á, Herruzo C. Occupational therapy in mental health via telehealth during the COVID-19 pandemic. Int J Environ Res Public Health 2021; 18(13):7138.. Essa disseminação de conhecimentos científicos também foi destacada como algo promotor de bem-estar, de saúde mental e de busca por apoio social e comunitário4949 Yang Q, Wu Z, Xie Y, Xiao X, Wu J, Sang T, Zhang K, Song H, Wu X, Xu X. The impact of health education videos on general public's mental health and behavior during COVID-19. Glob Health Res Policy 2021; 6(1):37..
Os recursos digitais também foram utilizados para finalidade de telemonitoramento de casos confirmados de COVID-191515 Oppel M, Camino S, Smith JM, Godoy A, Strejilevich S. Adaptación de la práctica psiquiátrica en instituciones de salud mental públicas y privadas de la Ciudad de Buenos Aires durante la pandemia de COVID-19. Vertex 2021; 32(153):40-44.,3636 Moreira WC, Sousa KHJF, Sousa AR, Santana TDS, Zeitoune RCG, Nóbrega MDPSS. Mental health interventions implemented in the COVID-19 pandemic: what is the evidence? Rev Bras Enferm 2021; 74(Suppl. 1):e20200635.,4747 Calvetti PU, Vazquez ACS, Silveira LMOB. Teleatendimento psicológico em universidade pública da saúde no enfrentamento da pandemia: da gestão com pessoas à telepsicologia. Rev Bras Psicoter 2021; 23(1):31-43., o que auxiliou na detecção de fatores preventivos ao agravamento da própria doença, mas também da piora do estado de saúde mental decorrente da mesma e dos protocolos exigidos para infectados, como isolamento e distanciamento físico. Os arranjos descritos acompanhavam as pessoas com COVID-19 diariamente, alguns tendo feito escalas de ansiedade e depressão para monitorar os sintomas em pacientes isolados2424 Lee SH, Chiu YR, Hung YT, Chen QG, Zhang A, Yang Y, Zhi P, Li Y, Zhu X, Chang PL. Establish a real-time responsible home quarantine and monitoring management mHealth platform. AMIA Annu Symp Proc 2021; 2020:697-706..
Destacam-se, ainda, os diferentes tipos de aplicativos desenvolvidos para o enfrentamento da COVID-191212 Fiol-DeRoque MA, Serrano-Ripoll MJ, Jiménez R, Zamanillo-Campos R, Yáñez-Juan AM, Bennasar-Veny M, Leiva A, Gervilla E, García-Buades ME, García-Toro M, Alonso-Coello P, Pastor-Moreno G, Ruiz-Pérez I, Sitges C, García-Campayo J, Llobera-Cánaves J, Ricci-Cabello I. A mobile phone-based intervention to reduce mental health problems in health care workers during the COVID-19 pandemic (PsyCovidApp): randomized controlled trial. JMIR Mhealth Uhealth 2021; 9(5):e27039.,2727 Liu M, Neri Mini F, Torres C, Kwete GM, Boudreau AA, Hunter ML, Parra MY, Lopez W, Izen A, Price SN, Perkins ME, Taveras EM. Fostering resilience in pregnancy and early childhood during the COVID-19 pandemic: the HUGS/Abrazos Program design and implementation. Front Public Health 2021; 9:633285.,4545 Song J, Jiang R, Chen N, Qu W, Liu D, Zhang M, Fan H, Zhao Y, Tan S. Self-help cognitive behavioral therapy application for COVID-19-related mental health problems: a longitudinal trial. Asian J Psychiatr 2021; 60:102656., com distintas finalidades: diagnósticas, terapêuticas, educativas e de autocuidado. Um exemplo desenvolvido no Brasil é o aplicativo “COM-VC”, com finalidade terapêutica e diagnóstica em saúde mental para profissionais da saúde, bem como de educação com informações sobre a COVID-192222 Fukuti P, Uchôa CLM, Mazzoco MF, Cruz IDGD, Echegaray MVF, Humes EC, Silveira JB, Santi TD, Miguel EC, Corchs F; COMVC-19 program; Fatori D, Campello G, Oliveira GM, Argolo FC, Ferreira FM, Machado G, Argeu A, Oliveira GMR, Serafim AP, Siqueira LL, Rossi L, Rios IC, Oliveira TR, Antoniazzi LCK, Gagliotti DAM, Abelama Neto E, Oliveira Junior PN, Correia AV, Gonçalves LS, Tortato LS, Busato WMM, Guimarães-Fernandes F, Alves M, Leite Netto OF, Schoueri PCL, Roque MA, Merlin SS, Boer GCM, Sallet PC, Malbergier A, Spedo MA, Kamitsuji CS, Faria E, Moreira MVG, Kaufman A, Abdo C, Scanavino MT, Lancman S, Tavares H, Polanczyk G, Brunoni AR, Forlenza OV, Barros-Filho TEP. COMVC-19: a program to protect healthcare workers' mental health during the COVID-19 Pandemic. What we have learned. Clinics (Sao Paulo) 2021; 76:e2631..
O principal arranjo descrito entre os digitais foram os de teleatendimento3434 Kemp J, Chorney J, Kassam I, MacDonald J, MacDonald T, Wozney L, Strudwick G. Learning about the current state of digital mental health interventions for Canadian youth to inform future decision-making: mixed methods study. J Med Internet Res 2021; 23(10):e30491.,5050 Lai FH, Yan EW, Yu KK, Tsui WS, Chan DT, Yee BK. The protective impact of telemedicine on persons with dementia and their caregivers during the COVID-19 Pandemic. Am J Geriatr Psychiatry 2020; 28(11):1175-1184., em diferentes formatos, como videochamadas, aplicativos de mídia digital, chamadas telefônicas, entre outros, tendo sido destinados a diversos públicos para atendimentos individuais e em grupo2929 Ferrari SML, Pywell SD, Costa ALB, Marcolino TQ. Grupos de terapia ocupacional em telessaúde na pandemia de Covid-19: perspectivas de um Hospital-Dia de Saúde Mental. Cad Bras Ter Ocup 2022; 30:e3019.,3535 Feijt M, Kort Y, Bongers I, Bierbooms J, Westerink J, IJsselsteijn W. Mental health care goes online: practitioners' experiences of providing mental health care during the COVID-19 pandemic. Cyberpsychol Behav Soc Netw 2020; 23(12):860-864.,4242 Graziano S, Boldrini F, Righelli D, Milo F, Lucidi V, Quittner A, Tabarini P. Psychological interventions during COVID pandemic: telehealth for individuals with cystic fibrosis and caregivers. Pediatr Pulmonol 2021; 56(7):1976-1984..
Lai, Yu e Yee5050 Lai FH, Yan EW, Yu KK, Tsui WS, Chan DT, Yee BK. The protective impact of telemedicine on persons with dementia and their caregivers during the COVID-19 Pandemic. Am J Geriatr Psychiatry 2020; 28(11):1175-1184. ressaltam que os teleatendimentos devem ser feitos, preferencialmente, em formato de videochamadas, para que os atendidos possam ver com quem se comunicam. Enfatizam que, na população com demência e seus cuidadores, os atendimentos por videoconferência foram mais promotores de bem-estar e saúde mental do que os telefônicos.
Liberal et al.3030 Liberal SP, Bordiano G, Lovisi GM, Abelha L, Dias FM, Carvalho CO, Morais LRN, Brasil MAA. Implementation of a telemental health service for medical students during the COVID-19 pandemic. Rev Bras Educ Med 2021; 45(4):e202. enfatizam que o teleatendimento apresenta ainda algumas dificuldades para ser implementado, como falta de capacitação profissional e ausência de diretrizes para realização. Apesar disso, reforçam que o espaço terapêutico de acolhimento ofertado pelo teleatendimento é essencial para o cuidado em saúde mental.
Além disso, a discussão acerca da acessibilidade digital também foi relevante. Guan et al.1414 Guan I, Kirwan N, Beder M, Levy M, Law S. Adaptations and innovations to minimize service disruption for patients with severe mental illness during COVID-19: perspectives and reflections from an assertive community psychiatry program. Community Ment Health J 2021; 57(1):10-17. apontam a dificuldade das populações usuárias de serviços de saúde mental em relação à obtenção de recursos tecnológicos/digitais. Os autores destacam que foi possível, via auxílio do governo canadense, ofertar aparelhos eletrônicos para os usuários.
Somam-se a essa ausência de recursos as dificuldades envolvidas no uso das ferramentas virtuais. Ferrari et al.2929 Ferrari SML, Pywell SD, Costa ALB, Marcolino TQ. Grupos de terapia ocupacional em telessaúde na pandemia de Covid-19: perspectivas de um Hospital-Dia de Saúde Mental. Cad Bras Ter Ocup 2022; 30:e3019. apontam que, na realidade brasileira, o manejo via tecnologias digitais encontrou barreiras de acessibilidade, tanto pelas questões de desigualdades de acesso quanto pelo fato de as plataformas não serem de fácil utilização. Essas considerações sobre acessibilidade e uso de equipamentos digitais também são desafios para o próprio sistema de saúde nacional.
Por fim, destaca-se que apenas metade dos arranjos em formato digital foram descritos como integrados à rede pública de saúde1616 Moon KJ, Montiel GI, Cantero PJ, Nawaz S. Addressing emotional wellness during the COVID-19 pandemic: the role of promotores in delivering integrated mental health care and social services. Prev Chronic Dis 2021; 18:E53.,1717 Hamoda HM, Chiumento A, Alonge O, Hamdani SU, Saeed K, Wissow L, Rahman A. Addressing the consequences of the COVID-19 lockdown for children's mental health: investing in school mental health programs. Psychiatr Serv 2021; 72(6):729-731.,1919 Albott CS, Wozniak JR, McGlinch BP, Wall MH, Gold BS, Vinogradov S. Battle buddies: rapid deployment of a psychological resilience intervention for health care workers during the COVID-19 pandemic. Anesth Analg 2020; 131(1):43-54.. Esse volume, que não pode ser desprezado, permite indagar acerca da continuidade dos cuidados que esses arranjos produziram, assim como quais foram, de fato, as populações que tiveram acesso aos recursos necessários para serem assistidas de forma remota.
Modelo presencial
Esse formato de arranjo foi evidenciado em um número menor de publicações, mas deve ser destacado que foi o mais utilizado para os profissionais da saúde e populações que já utilizavam os serviços de saúde mental1010 Bröcker E, Louw KA, Hewett M, Burger H, Felix R, De Koker P, Rossouw J, Seedat S. A collaborative and evolving response to the needs of frontline workers, patients and families during the COVID-19 pandemic at Tygerberg Hospital, Western Cape Province, South Africa. S Afr Med J 2021; 111(5):405-408.,1313 Rahul P, Chander KR, Murugesan M, Anjappa AA, Parthasarathy R, Manjunatha N, Kumar CN, Math SB. Accredited Social Health Activist (ASHA) and Her Role in District Mental Health Program: Learnings from the COVID 19 Pandemic. Community Ment Health J 2021; 57(3):442-445.,3838 Beauchamp MR, Hulteen RM, Ruissen GR, Liu Y, Rhodes RE, Wierts CM, Waldhauser KJ, Harden SH, Puterman E. Online-delivered group and personal exercise programs to support low active older adults' mental health during the COVID-19 pandemic: randomized controlled trial. J Med Internet Res 2021; 23(7):e30709.,4040 Orui M, Saeki S, Harada S, Hayashi M. Practical report of disaster-related mental health interventions following the great east japan earthquake during the COVID-19 pandemic: potential for suicide prevention. Int J Environ Res Public Health 2021; 18(19):10424.. Alguns estudos demonstraram arranjos que possibilitam o manejo da saúde mental dos profissionais no próprio espaço de trabalho, que se tornou um ambiente hostil em meio ao medo propagado ao longo da pandemia2020 Noal DS, Freitas CM, Passos MFD, Serpeloni F, Melo BD, Kadri MRAE, Pereira DR, Souza MS, Magrin NP, Kabad JF, Meneses SS, Lima CC, Rezende MJ. Capacitação nacional emergencial em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Covid-19: um relato de experiência. Saude Debate 2020; 44(Esp. 4):293-305.,3939 Roberts C, Darroch F, Giles A, van Bruggen R. Plan A, Plan B, and Plan C-OVID-19: adaptations for fly-in and fly-out mental health providers during COVID-19. Int J Circumpolar Health 2021; 80(1):1935133.. Pinho et al.5151 Pinho L, Correia T, Sampaio F, Sequeira C, Teixeira L, Lopes M, Fonseca C. The use of mental health promotion strategies by nurses to reduce anxiety, stress, and depression during the COVID-19 outbreak: a prospective cohort study. Environ Res 2021; 195:110828. reiteram a importância de estratégias de saúde mental para redução de ansiedade, estresse e depressão em enfermeiras da linha de frente5151 Pinho L, Correia T, Sampaio F, Sequeira C, Teixeira L, Lopes M, Fonseca C. The use of mental health promotion strategies by nurses to reduce anxiety, stress, and depression during the COVID-19 outbreak: a prospective cohort study. Environ Res 2021; 195:110828..
Outros estudos demonstram ações que tiveram que ser desenvolvidas para tentar assegurar o acesso e a continuidade do cuidado em saúde mental, de forma a evitar a disseminação do novo coronavírus1919 Albott CS, Wozniak JR, McGlinch BP, Wall MH, Gold BS, Vinogradov S. Battle buddies: rapid deployment of a psychological resilience intervention for health care workers during the COVID-19 pandemic. Anesth Analg 2020; 131(1):43-54.,3333 Boldt K, Coenen M, Movsisyan A, Voss S, Rehfuess E, Kunzler AM, Lieb K, Jung-Sievers C. Interventions to ameliorate the psychosocial Effects of the COVID-19 pandemic on children-a systematic review. Int J Environ Res Public Health 2021; 18(5):2361.,4141 Ortega AC, Valtierra E, Rodríguez-Cuevas FG, Aranda Z, Preciado G, Mohar S. Protecting vulnerable communities and health professionals from COVID-19 associated mental health distress: a comprehensive approach led by a public-civil partnership in rural Chiapas, Mexico. Glob Health Action; 14(1):1997410.. Sousa1818 Sousa JG. Atividades socioculturais como interface de bem-estar emocional e de prevenção da transmissão da Covid-19 em estruturas residenciais para pessoas idosas. Interface (Botucatu) 2021; 25(Supl. 1):e200576. enfatiza que o acesso e a adaptação de atividades que eram exercidas previamente ao período da pandemia foram tão importantes para a saúde mental da população idosa quanto as medidas sanitárias de prevenção à COVID-191818 Sousa JG. Atividades socioculturais como interface de bem-estar emocional e de prevenção da transmissão da Covid-19 em estruturas residenciais para pessoas idosas. Interface (Botucatu) 2021; 25(Supl. 1):e200576.. Cabe ainda destacar a importância, nos arranjos presenciais, das trocas interpessoais entre colegas de trabalho, vizinhos e conhecidos de diferentes ambientes.
Ainda na modalidade presencial, destacaram-se os arranjos voltados para o autocuidado, como meditação, atividades físicas e medidas de proteção pessoal contra o vírus3333 Boldt K, Coenen M, Movsisyan A, Voss S, Rehfuess E, Kunzler AM, Lieb K, Jung-Sievers C. Interventions to ameliorate the psychosocial Effects of the COVID-19 pandemic on children-a systematic review. Int J Environ Res Public Health 2021; 18(5):2361.. Beauchamp et al.3838 Beauchamp MR, Hulteen RM, Ruissen GR, Liu Y, Rhodes RE, Wierts CM, Waldhauser KJ, Harden SH, Puterman E. Online-delivered group and personal exercise programs to support low active older adults' mental health during the COVID-19 pandemic: randomized controlled trial. J Med Internet Res 2021; 23(7):e30709. enfatizam que essas práticas alternativas de cuidado apresentam resultados benéficos para a saúde mental, podem ser feitas em casa e envolvem menos recursos financeiros para serem implementadas3838 Beauchamp MR, Hulteen RM, Ruissen GR, Liu Y, Rhodes RE, Wierts CM, Waldhauser KJ, Harden SH, Puterman E. Online-delivered group and personal exercise programs to support low active older adults' mental health during the COVID-19 pandemic: randomized controlled trial. J Med Internet Res 2021; 23(7):e30709..
Integração com a rede de saúde
Um achado importante da pesquisa é que a maior parte dos arranjos desenvolvidos presencialmente (66%) teve integração com as redes de saúde, em especial no âmbito da atenção primária e especializada.
A integração dos arranjos com a rede poderia garantir a continuidade e longitudinalidade do cuidado em saúde, assegurando promoção, prevenção e reabilitação ao longo das fases de vida5252 Arantes P. O ódio às universidades públicas [Internet]. 2021. [acessado 2023 jun 11]. Disponível em: https://souciencia.unifesp.br/opiniao/o-odio-as-universidades-publicas
https://souciencia.unifesp.br/opiniao/o-...
. Assim, torna-se necessária na produção e debate deste artigo.
Considerando que a maior parte dos arranjos foi digital, a preocupação com a integração deles à rede pública de saúde permite refletir inclusive sobre a continuidade dos projetos de cuidado2828 Mattos EBT, Francisco IC, Pereira GC, Novelli MMPC. Grupo virtual de apoio aos cuidadores familiares de idosos com deme^ncia no contexto da COVID-19. Cad Bras Ter Ocup 2021; 29:e2882.,4646 Amaral GG, Silva LS, Oliveira JV de, Machado NM, Teixeira JS, Passos HR. Suporte ético-emocional à profissionais de enfermagem frente à pandemia de COVID-19: relato de experiência. Esc Anna Nery 2022; 26(Esp.):e20210234.. Destaca-se que a maior parte dos arranjos que tiveram integração com a rede foi na atenção especializada/ambulatorial4343 Liberati E, Richards N, Parker J, Willars J, Scott D, Boydell N, Pinfold V, Martin G, Dixon-Woods M, Jones P. Remote care for mental health: qualitative study with service users, carers and staff during the COVID-19 pandemic. BMJ Open 2021; 11(4):e049210.,4848 Hopkins L, Pedwell G. The COVID PIVOT - re-orienting child and youth mental health care in the light of pandemic restrictions. Psychiatr Q 2021; 92(3):1259-1270..
Grande parte dos arranjos que estiveram integrados com as redes de saúde era para cuidado em saúde mental com curtos períodos de resposta, ou seja, linhas de emergência, telemonitoramento e diagnósticos em saúde mental e/ou para casos de COVID-192121 Abdullah H, Lynch S, Aftab S, Shahar S, Klepacz L, Cristofano P, Rahmat S, Save-Mundra J, Dornbush R, Lerman A, Berger K, Bartell A, Ferrando SJ. Characteristics of calls to a COVID-19 mental health hotline in the first wave of the pandemic in New York. Community Ment Health J 2021; 57(7):1252-1254.,2323 Chevance A, Gourion D, Hoertel N, Llorca PM, Thomas P, Bocher R, Moro MR, Laprévote V, Benyamina A, Fossati P, Masson M, Leaune E, Leboyer M, Gaillard R. Ensuring mental health care during the SARS-CoV-2 epidemic in France: a narrative review. Encephale 2020; 46(3):193-201.,2525 Nascimento RB, Arau´jo IFL, Vieira ES, Oliveira ACA, Arau´jo RLMS. Estrate´gias de enfrentamento para manutenc¸a~o da sau´de mental do trabalhador em tempos de Covid-19: uma revisa~o integrativa. Rev Psicol Divers Saude 2021; 10(1):181-197.. Esse suporte da rede de saúde mental, já existente antes do período de pandemia, em alguns estudos foi tido como necessário para o encaminhamento de demandas que não eram pontuais4646 Amaral GG, Silva LS, Oliveira JV de, Machado NM, Teixeira JS, Passos HR. Suporte ético-emocional à profissionais de enfermagem frente à pandemia de COVID-19: relato de experiência. Esc Anna Nery 2022; 26(Esp.):e20210234..
Além da finalidade de acompanhamento e encaminhamento para uma rede, os arranjos que contaram com essa integração também puderam expandir o cuidado para além do setor de saúde, associando-se com intervenções escolares ou ainda com áreas do serviço social, garantindo uma visão mais integral da saúde mental das populações1616 Moon KJ, Montiel GI, Cantero PJ, Nawaz S. Addressing emotional wellness during the COVID-19 pandemic: the role of promotores in delivering integrated mental health care and social services. Prev Chronic Dis 2021; 18:E53.,1717 Hamoda HM, Chiumento A, Alonge O, Hamdani SU, Saeed K, Wissow L, Rahman A. Addressing the consequences of the COVID-19 lockdown for children's mental health: investing in school mental health programs. Psychiatr Serv 2021; 72(6):729-731..
Arranjos com participação comunitária
Poucos foram os estudos que apresentaram arranjos construídos com a participação comunitária na sua execução e/ou implementação, ainda que todos fossem voltados para as populações e comunidades em geral. Sete artigos descreveram arranjos com participação comunitária. Todos foram realizados com integração na rede de saúde, a maior parte construída no primeiro ano da pandemia (2020), tendo como foco principal a finalidade terapêutica.
Os arranjos construídos pelas comunidades foram os que mais incluíram populações específicas dentro de cada proposta: profissionais de saúde da linha de frente, idosos em residencial terapêutico, população em situação de vulnerabilidades, crianças e usuários de saúde mental (prévios à pandemia). Guan et al.1414 Guan I, Kirwan N, Beder M, Levy M, Law S. Adaptations and innovations to minimize service disruption for patients with severe mental illness during COVID-19: perspectives and reflections from an assertive community psychiatry program. Community Ment Health J 2021; 57(1):10-17., por exemplo, referem arranjos que contemplaram serviços, profissionais da saúde e população geral. Destaca-se, com isso, que os arranjos que tiveram participação comunitária em sua elaboração puderam alcançar as necessidades das populações específicas, que auxiliaram na constituição dos próprios arranjos.
A participação comunitária possibilitou mais acessibilidade em saúde, propiciando uma maior universalização e integralidade do cuidado nos locais em que foram implementados1414 Guan I, Kirwan N, Beder M, Levy M, Law S. Adaptations and innovations to minimize service disruption for patients with severe mental illness during COVID-19: perspectives and reflections from an assertive community psychiatry program. Community Ment Health J 2021; 57(1):10-17.,1717 Hamoda HM, Chiumento A, Alonge O, Hamdani SU, Saeed K, Wissow L, Rahman A. Addressing the consequences of the COVID-19 lockdown for children's mental health: investing in school mental health programs. Psychiatr Serv 2021; 72(6):729-731.,2020 Noal DS, Freitas CM, Passos MFD, Serpeloni F, Melo BD, Kadri MRAE, Pereira DR, Souza MS, Magrin NP, Kabad JF, Meneses SS, Lima CC, Rezende MJ. Capacitação nacional emergencial em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Covid-19: um relato de experiência. Saude Debate 2020; 44(Esp. 4):293-305.,2323 Chevance A, Gourion D, Hoertel N, Llorca PM, Thomas P, Bocher R, Moro MR, Laprévote V, Benyamina A, Fossati P, Masson M, Leaune E, Leboyer M, Gaillard R. Ensuring mental health care during the SARS-CoV-2 epidemic in France: a narrative review. Encephale 2020; 46(3):193-201.. Além disso, esses arranjos estavam associados aos modelos de prevenção e enfrentamento aos quadros mais comuns de saúde mental em vigência de pandemias (ansiedade, estresse e depressão) 16, 23.
Análise dos arranjos narrados nos estudos brasileiros
Considerando que a COVID-19 foi um evento sanitário de magnitude inédita para o Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro, que os serviços e territórios tiveram que modificar rotinas e modos de vida para enfrentar a pandemia, procura-se aqui destacar os estudos produzidos no Brasil.
Todos os estudos nacionais selecionados foram realizados em 2020, abrangendo o primeiro ano da pandemia, em uma realidade em que a vacinação ainda não era uma alternativa de cuidado no país. Além disso, a maior parte desses artigos trata de relatos de experiências, dando visibilidade às iniciativas dos serviços e suas conexões com a produção acadêmica, ainda que diante de um governo que ameaçava as universidades públicas5353 Costa AM, Chioro A, Laguardia J, Flauzino RF. Ainda tem pandemia, mas há esperança. Saude Debate 2022; 46(Esp. 1):5-14..
Destaca-se que a maior parte dos arranjos foi de natureza pública e abarcou a saúde mental de profissionais da linha de frente, majoritariamente pelo modelo digital. As inovações digitais mais apontadas foram as criações de linhas telefônicas e de aplicativos para acolhimento de demandas dessa população2929 Ferrari SML, Pywell SD, Costa ALB, Marcolino TQ. Grupos de terapia ocupacional em telessaúde na pandemia de Covid-19: perspectivas de um Hospital-Dia de Saúde Mental. Cad Bras Ter Ocup 2022; 30:e3019.,3131 Alavi Z, Haque R, Felzer-Kim IT, Lewicki T, Haque A, Mormann M. Implementing COVID-19 mitigation in the community mental health setting: march 2020 and lessons learned. Community Ment Health J 2021; 57(1):57-63.,4747 Calvetti PU, Vazquez ACS, Silveira LMOB. Teleatendimento psicológico em universidade pública da saúde no enfrentamento da pandemia: da gestão com pessoas à telepsicologia. Rev Bras Psicoter 2021; 23(1):31-43..
A principal finalidade dos arranjos descritos em território nacional dizia respeito a atividades de cunho terapêutico, voltadas para suporte e enfrentamento das demandas em saúde mental causadas pela pandemia2929 Ferrari SML, Pywell SD, Costa ALB, Marcolino TQ. Grupos de terapia ocupacional em telessaúde na pandemia de Covid-19: perspectivas de um Hospital-Dia de Saúde Mental. Cad Bras Ter Ocup 2022; 30:e3019.,3030 Liberal SP, Bordiano G, Lovisi GM, Abelha L, Dias FM, Carvalho CO, Morais LRN, Brasil MAA. Implementation of a telemental health service for medical students during the COVID-19 pandemic. Rev Bras Educ Med 2021; 45(4):e202.,3333 Boldt K, Coenen M, Movsisyan A, Voss S, Rehfuess E, Kunzler AM, Lieb K, Jung-Sievers C. Interventions to ameliorate the psychosocial Effects of the COVID-19 pandemic on children-a systematic review. Int J Environ Res Public Health 2021; 18(5):2361.. Considerando que a pandemia aumentou as demandas em saúde mental, o predomínio dessa finalidade terapêutica se justifica.
Destaca-se ainda que os arranjos integrados com o SUS eram voltados para a promoção de saúde mental, via educação em saúde, capacitação profissional e até mesmo autocuidado2020 Noal DS, Freitas CM, Passos MFD, Serpeloni F, Melo BD, Kadri MRAE, Pereira DR, Souza MS, Magrin NP, Kabad JF, Meneses SS, Lima CC, Rezende MJ. Capacitação nacional emergencial em Saúde Mental e Atenção Psicossocial na Covid-19: um relato de experiência. Saude Debate 2020; 44(Esp. 4):293-305.,2222 Fukuti P, Uchôa CLM, Mazzoco MF, Cruz IDGD, Echegaray MVF, Humes EC, Silveira JB, Santi TD, Miguel EC, Corchs F; COMVC-19 program; Fatori D, Campello G, Oliveira GM, Argolo FC, Ferreira FM, Machado G, Argeu A, Oliveira GMR, Serafim AP, Siqueira LL, Rossi L, Rios IC, Oliveira TR, Antoniazzi LCK, Gagliotti DAM, Abelama Neto E, Oliveira Junior PN, Correia AV, Gonçalves LS, Tortato LS, Busato WMM, Guimarães-Fernandes F, Alves M, Leite Netto OF, Schoueri PCL, Roque MA, Merlin SS, Boer GCM, Sallet PC, Malbergier A, Spedo MA, Kamitsuji CS, Faria E, Moreira MVG, Kaufman A, Abdo C, Scanavino MT, Lancman S, Tavares H, Polanczyk G, Brunoni AR, Forlenza OV, Barros-Filho TEP. COMVC-19: a program to protect healthcare workers' mental health during the COVID-19 Pandemic. What we have learned. Clinics (Sao Paulo) 2021; 76:e2631.,4747 Calvetti PU, Vazquez ACS, Silveira LMOB. Teleatendimento psicológico em universidade pública da saúde no enfrentamento da pandemia: da gestão com pessoas à telepsicologia. Rev Bras Psicoter 2021; 23(1):31-43.. Dado que os estudos nacionais foram datados do começo da pandemia, nenhum deles fazia uma análise de como os arranjos produzidos contribuíram para a manutenção do cuidado em liberdade e antimanicomial no país.
Enfatiza-se que o SUS enfrentava uma história prévia à pandemia de desfinanciamento, mas ainda assim demonstrou alta resiliência54. Em consonância, metade dos arranjos apresenta-se integrada à rede de saúde pública, o que reitera a importância do sistema de saúde na conjuntura brasileira.
Para Caponi55, a ausência de ações centrais e de coordenação do governo federal e o estímulo da disseminação de notícias falsas também foram fatores negativos determinantes para a construção do enfrentamento da pandemia no Brasil55. Destaca-se que metade dos estudos brasileiros são arranjos de educação em saúde, fato que reitera o enfrentamento à desinformação e o papel do SUS na acessibilidade do conhecimento vigente sobre a pandemia2121 Abdullah H, Lynch S, Aftab S, Shahar S, Klepacz L, Cristofano P, Rahmat S, Save-Mundra J, Dornbush R, Lerman A, Berger K, Bartell A, Ferrando SJ. Characteristics of calls to a COVID-19 mental health hotline in the first wave of the pandemic in New York. Community Ment Health J 2021; 57(7):1252-1254.,2323 Chevance A, Gourion D, Hoertel N, Llorca PM, Thomas P, Bocher R, Moro MR, Laprévote V, Benyamina A, Fossati P, Masson M, Leaune E, Leboyer M, Gaillard R. Ensuring mental health care during the SARS-CoV-2 epidemic in France: a narrative review. Encephale 2020; 46(3):193-201.,4747 Calvetti PU, Vazquez ACS, Silveira LMOB. Teleatendimento psicológico em universidade pública da saúde no enfrentamento da pandemia: da gestão com pessoas à telepsicologia. Rev Bras Psicoter 2021; 23(1):31-43.. A mesma autora destaca a importância das organizações comunitárias e dos territórios na produção de vida e de saúde mental. Sob essa perspectiva, considerando a relevância das articulações em comunidade para a construção de ferramentas de enfrentamento, destaca-se que apenas um arranjo narrado foi composto com a participação comunitária2323 Chevance A, Gourion D, Hoertel N, Llorca PM, Thomas P, Bocher R, Moro MR, Laprévote V, Benyamina A, Fossati P, Masson M, Leaune E, Leboyer M, Gaillard R. Ensuring mental health care during the SARS-CoV-2 epidemic in France: a narrative review. Encephale 2020; 46(3):193-201.. Nesse sentido, a produção de cuidados em saúde mental mais integrados com as comunidades nos territórios é um desafio para o SUS.
Como limitações da pesquisa, indica-se que a revisão foi realizada no início de 2022 e busca contemplar os dois anos anteriores, a fim de compreender ações realizadas desde o princípio da pandemia. No entanto, as dificuldades na produção e o longo tempo observado entre a submissão e publicação de artigos no meio científico pode ter sido um dos motivos para o menor número de publicações em 2021.
Considerações finais
Os arranjos e a invenções para o cuidado em saúde mental no enfrentamento da COVID-19 foram analisados nesta revisão, que apontou o meio digital e as produções em saúde de forma remota como uma das principais invenções na resposta à pandemia de COVID-19.
As possibilidades de cuidado em saúde mental ampliaram-se, tendo como público diferentes populações, mas sempre voltadas aos problemas gerados em situações de emergência sanitária. Seja como ferramenta para o cuidado de si e/ou do coletivo, os arranjos em saúde mental foram modificados e adaptados para esta nova realidade.
As análises dos arranjos produzidos em território nacional reiteraram a importância do SUS no cotidiano das populações, por ações que abarcaram desde o acolhimento de profissionais de saúde da linha de frente até atividades de educação em saúde. No contexto da pandemia, o SUS mais uma vez mostrou sua potência.
Como desafios para a realidade nacional do sistema de saúde, aponta-se a integração com os territórios e comunidades, o que pode ampliar o escopo de pessoas cuidadas pelos arranjos produzidos.
Outra indicação que pode servir de base para futuras pesquisas é investigar seus desdobramentos e se tais arranjos foram sustentáveis e continuados. Além disso, indica-se a investigação das populações acessadas pelos arranjos, buscando compreender se foram universais e de acesso mais amplo, inclusive para populações em situação de vulnerabilidade, o que exigirá outras abordagens metodológicas.
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Financiamento
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
Editores-chefes:
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
09 Ago 2024 -
Data do Fascículo
Ago 2024
Histórico
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Recebido
03 Maio 2023 -
Aceito
01 Set 2023 -
Publicado
03 Set 2023