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Paradoxos do programa de parteiras tradicionais no contexto das mulheres Krahô

Resumo

Este artigo analisa o impacto do Programa Trabalhando com Parteiras Tradicionais no cotidiano de um grupo de mulheres indígenas Krahô. Trata-se de um estudo etnográfico que utilizou a observação e o diário de campo como suportes principais, além de entrevistas pontuais e dados secundários. O trabalho de campo ocorreu entre agosto de 2015 e dezembro de 2016 e envolveu dez mulheres de oito aldeias diferentes. Os resultados apontam uma desconexão entre o objetivo principal do Programa, centrado na valorização e no resgate do saber da parteira, e a realidade no cotidiano das aldeias. Muito embora o programa tenha como público-alvo mulheres que já atuam empiricamente no cenário do parto, houve o entendimento de que as mulheres “tornaram-se parteiras” após o curso. Por consequência, a falta de pagamento e a expectativa frustrada de contratação por parte do “governo”, embora não previstas, foram interpretadas como descaso. Os resultados indicam um viés etnocentrado do Programa, focado na difusão do saber científico e na entrega de materiais fora da lógica de cuidado do grupo em análise. Estudos que avaliem o impacto das ações do Programa em outros contextos, inclusive não indígenas, podem contribuir para os ajustes necessários e a efetiva valorização do trabalho dessas mulheres.

Parteira leiga; Parto domiciliar; Saúde de populações indígenas

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