Open-access Distância espacial, distância social: relações entre distintas categorias sociais na sociedade brasileira em tempos de COVID-19

Resumo

Considerado como uma das formas de servidão atuais, o trabalho doméstico ganha destaque com a grande demanda por cuidados de crianças e idosos, reconhecido como serviço essencial durante a pandemia de COVID-19. Poucas categorias foram tão afetadas pela crise sanitária e social associada à COVID-19, devido à sua situação precária - trabalhista, salarial, exposição e vulnerabilidade - face à pandemia. A partir de dados etnográficos de pesquisa doutoral realizada em 2011 de uma rede de babás, que por vezes atuavam como trabalhadoras domésticas e em diálogo com a literatura da teoria do care, discute-se como as experiências de distância social foram amplificadas pela pandemia de COVID-19 e atualizam as dinâmicas que operam nas relações entre distintas categorias sociais na sociedade brasileira, antevendo o que poderá ser um novo elemento na sociabilidade existente. Como conclusão, discutimos as chamadas culturas de servidão, destacando que, nesses casos, a servidão não implica rigidez, mas sim plasticidade. O que faz com que o afeto se transforme numa commodity que valoriza as trabalhadoras domésticas oriundas da América Latina, diferenciadamente no mercado de trabalho, onde essa característica é uma vantagem comparativa que dinamiza o mercado de afetos.

Palavras-chave: Desigualdades sociais; Trabalho feminino; Distância social; Covid-19; Servidão

Abstract

One of the current forms of servitude, domestic work is highlighted by the high demand for children and elderly care, recognized as an essential service during the COVID-19 pandemic. Few categories have been so affected by the health and social crisis associated with COVID-19 due to its insecurity - labor, wages, exposure, and vulnerability - in the face of the pandemic. Based on ethnographic data from doctoral research carried out in 2011 on a network of nannies, who sometimes acted as domestic workers, and in dialogue with the care theory literature, we discuss how the experiences of social distancing were expanded by the COVID-19 pandemic and update the dynamics that operate in the relationships between different social categories in Brazilian society, foreseeing what may be a new element in the existing social interaction. In conclusion, we discuss the so-called cultures of servitude, highlighting that, in these cases, servitude does not imply rigidity, but plasticity, which makes affection become a commodity that values Latin American domestic workers differently in the labor market, where this characteristic is a comparative advantage that boosts the affection market.

Key words: Social inequalities; Female work; Social distancing; COVID-19; Servitude

Introdução

Teria ela a sensação de que vivia para nada? Nem posso saber, mas acho que não. Só uma vez se fez uma trágica pergunta: quem sou eu. Assustou-se tanto que parou completamente de pensar. (Clarice Lispector, A Hora da Estrela, p.32).

Trabalhar na casa de alguém é uma das ocupações mais antigas que se tem registro e sua origem apoia-se no trabalho escravo assim como nas inúmeras formas de servidão1, apoiando a tese que assim forjaram-se culturas da servidão2, com traços específicos, segundo a história de cada região onde se observa a sua existência, assim como são também diversos os caminhos através dos quais chegaram ao mundo contemporâneo. Historicamente, o trabalho doméstico articula duas clivagens principais: raça/ etnia - que constituem o núcleo da servidão; e gênero, com a designação, tanto das tarefas domésticas quanto as de cuidado, predominantemente às mulheres. No caso da América Latina e Caribe, muitas das pessoas vinculadas ao setor do serviço doméstico são, em sua grande maioria, mulheres afrodescendentes e indígenas. Parte importante da desigualdade na região se sustenta com base nesse mercado de trabalho segmentado3. Do ponto de vista quantitativo, os números são eloquentes: entre 11 e 18 milhões de pessoas se dedicam ao trabalho doméstico remunerado na América Latina e no Caribe, das quais 93% são mulheres4! Se por um lado, o trabalho doméstico responde por 10,5% a 14,3% dos empregos das mulheres na região, por outro, os rendimentos das trabalhadoras domésticas são iguais ou inferiores ao 50% da média de todas as pessoas ocupadas. Mais de 75% dessas trabalhadoras estão na informalidade5; 17,2% são migrantes, sendo que 73,4% do total de empregadas são mulheres. Segundo censo realizado na região em 2010, pela OIT, em oito países, 63% das pessoas que prestavam trabalho doméstico eram afrodescendentes3. Existe ainda um outro aspecto importante, que não será desenvolvido no presente artigo, são as chamadas “cadeias globais de cuidado”6 que são movimentos de mulheres de zonas mais pobres, para cidades ou países, configurando verdadeiros corredores migratórios vinculados ao trabalho doméstico - no interior de regiões inteiras e países de determinadas regiões7-10. Considerado por alguns estudos e relatórios11-13 como uma das formas de escravidão contemporânea, o trabalho doméstico ganha peso específico por conta da grande demanda por cuidados tanto de crianças quanto de idosos, muito especialmente durante a pandemia de COVID-19.

No caso do Brasil, ao final de 2019 a categoria de trabalhadores domésticos, supera os 6 milhões - maior número desde 201214 - sendo formada, segundo estimativas, por 93% de mulheres, em sua maioria, afrodescendentes, sem carteira assinada e na maior parte das vezes as únicas provedoras de sua própria família. Desde 2016 o total de domésticas com carteira diminuiu 11,2% e as sem carteira subiu 7,3%15.

Levando em consideração o número de trabalhadoras domésticas no Brasil, relativamente ao da América Latina e Caribe, elas representam entre 54% e 33% do total da região. Sem dúvida um número expressivo, sob qualquer consideração, em especial quando sabemos das características de nossa desigualdade social16 e suas várias dimensões17, com segregações e clivagens de participação e vinculação no mercado de trabalho18,19; educacionais20; de cor21; de gênero22; e opção afetiva23,24; com processos sociais que contrapõe indivíduo e pessoa25; com modernismos e arcaísmos que convivem e que estão em constante movimento relativo de confronto e complementação, a chamada coalizão societal brasileira permanece como uma esfinge que nos desafia com formulações que se atualizam26,27.

Dada sua importância regional e mundial, o Brasil tem despertado, em inúmeros intelectuais e pesquisadores, interpretações e tentativas de compreensão e apreensão do conjunto de sua dinâmica social, política e econômica que oferece riquíssimo material de reflexão28, ainda mais considerando o período atual da pandemia de COVID-19. Objeto de estudos e reflexões de longa data29, poucas categorias socioprofissionais têm o grau de relevância de seu trabalho como a das trabalhadoras domésticas, e poucas também estão sendo tão afetadas devido à crise sanitária e social associada à COVID-19, em especial devida à sua precária situação trabalhista, baixos salários, desproteção e grande vulnerabilidade face à pandemia4,5,30.

Por longas décadas, a chamada coalizão societal brasileira ocupou cientistas sociais de todos os credos31. Na busca por uma explicação que desse sentido ao nosso arranjo social e as origens de sua disfuncionalidade, especialmente as de distribuição de renda32 analisavam-se ora as origens luso-imperiais, tupis e africanas33-36, ora o conservadorismo das elites nacionais37,38, ora a (des)organização econômica e a inanição institucional39,40, ora como o resultado de um fenômeno de modernização seletiva41.

Quais seriam as características marcantes dessa coalizão societal? Uma nação em eterna crise que preserva os fundamentos de uma sociedade com características duplas e quase imutáveis?25,42-44. Qual o papel da religiosidade, em especial, a católica e evangélica e da fé?45-48. Dessa perspectiva tentaremos oferecer uma reflexão sobre como as experiências de distância física, exigidas pela pandemia da COVID-19, e a distância social atualizam as dinâmicas de invisibilidade social que operam nas relações entre camadas sociais distintas no Brasil, antevendo o que poderá ser um novo elemento na sociabilidade existente. E ainda, dada a importância particular das trabalhadoras domésticas e seu papel marcante no país, especula-se como esse suposto novo elemento se expressaria na sociabilidade contemporânea do Brasil, em especial nas relações entre trabalhadoras domésticas e patrões das famílias brasileiras, analisando alguns pontos de trocas entre esses dois universos sociais.

Método

Revisitando a etnografia “Como se fosse da família”: a relação (in)tensa entre mães e babás

A partir de dados etnográficos de pesquisa doutoral realizada entre os anos de 2007 e 2011 de uma rede de babás, que por vezes também atuavam como trabalhadoras domésticas, em diálogo com a literatura que aborda a temática articulada à teoria do care discutimos a reverberação dos constrangimentos impostos pela pandemia de COVID-19 nas vidas dessas trabalhadoras. Referimo-nos, portanto, a um itinerário de análise crítica do tema que busca relacionar três fontes de dados: a) revisita e reinterpretação de dados etnográficos sobre as representações e práticas de relações constituídas entre mães, crianças, babás e outros atores/trabalhadores domésticos, reunidos numa etnografia dos afetos; b) argumentos teóricos do care; e c) expressões do distanciamento social traduzidas no contexto atual da pandemia de COVID-19. Partimos de uma etnografia concluída em 2011, cujo trabalho de campo aconteceu em dois momentos. No primeiro momento, considerado uma entrada em trabalho de campo, realizou-se uma breve pesquisa no acervo iconográfico de Militão Augusto de Azevedo e Carlos Eugênio Marcondes de Moura no Museu Paulista, transformando-o em um primeiro encontro histórico com as babás do passado - as amas-de-leite escravas. Tratava-se de uma primeira abordagem do tema através do acervo em suas diferentes dimensões: como produtor de conhecimento e no que se refere à interpretação das fotos propriamente ditas. No segundo momento, ao longo de dezessete meses, a observação etnográfica, aliada a outras técnicas como entrevistas em profundidade e conversas informais, teve como principal sítio uma praça situada na Zona Sul do Rio de Janeiro, frequentada por famílias de camadas médias e elites cariocas.

Nove anos se passaram desta etnografia, mas o “tempo compartilhado” nos termos de Fabian49 nos lembra que pesquisa empírica é feita de observação, de coleta de dados e, acima de tudo, de interação com base na intersubjetividade. Tudo isto é realizado com o tempo compartilhado entre o que vemos e o que escrevemos. Assim, na praça era movida por esse “milagre do olhar” de que fala Simmel50. Olhava quem estava olhando, observava quem estava observando; e era afetada de alguma maneira por algo que também afeta àqueles que estudamos. “Ser afetado”51, portanto, leva-nos - os pesquisadores - a atravessar longos anos de estudo, de interesse intelectual e de observação empírica de diversas expressões do nosso objeto de estudo no cotidiano, transformando-se (ou permanecendo o mesmo?) culturalmente e historicamente. Defendemos que nem só de transformação ou permanência são constituídas as experiências societais; mas, sim, compreendemos como Sahlins52 nos ensina das relações entre história e cultura, afirmando que em toda mudança existe continuidade [...] tanto em relação à biografia quanto à própria cultura. Assim, tal itinerário de pesquisa atualiza-nos acerca dos novos arranjos que surgem em função de alguns marcos sociológicos relevantes, tais como foi com a aprovação no Congresso Nacional da “PEC das domésticas” em 2013 e, agora, as possíveis traduções que podem ser feitas das interações entre trabalhadores domésticos e famílias brasileiras no contexto da pandemia de COVID-19, cotejando aqui e acolá com breves comentários de experiências internacionais. Compreendendo que entre os aspectos da vida mais afetado, em poucos meses que transformou a COVID-19 em pandemia global, será como organizamos a prática do cuidado53.

Resultados e discussão

COVID-19: o retorno de “como se fosse da família”?

Poucas categorias profissionais têm as características sintéticas que traduzem a nossa complexidade cultural como a das trabalhadoras domésticas. Talvez no Brasil nenhuma represente tão bem nossos dilemas societais. Poucas carreiam sobre si nosso passado de escravidão e nossa tão singular e ubíqua mentalidade escravocrata, ao ponto de ter causado uma transformação marcante na própria arquitetura dos apartamentos, com os seus quartos de empregada ou os atuais quartos reversíveis. Curioso que nesse símbolo do urbano moderno, tenhamos essa permanência arquitetônica do conceito proximidade espacial e distância social e para uma discussão sobre o moderno e o arcaico na família brasileira, vale consultar Figueira54. Situadas entre um arcaico que não terminou e um devir moderno que ainda resiste a se implantar - será que se implantará? -, a categoria de trabalhadoras domésticas aparece como um elo perdido entre a pessoa e o indivíduo que explicita todo o dilema do país: uma alternância desastrosa entre de um lado um arcabouço nacional de leis universais cujo sujeito é o indivíduo e, de outro, situações onde cada qual deve se virar, dançar conforme a música, utilizando para isso o seu sistema de relações pessoais55.

A crise sanitária e social, desencadeada pela pandemia de COVID-19, atualiza o conceito de proximidade espacial e distância social, traduzindo de maneira dramática e desigual como as medidas sanitárias de isolamento físico e de quarentena são adotadas pelas diferentes camadas sociais. Se parecia estar em declínio o hábito de empregadas domésticas dormirem nas casas onde trabalham26, tal como algumas interlocutoras da pesquisa já anunciavam, pouco tempo depois do início da pandemia, surgiram matérias jornalísticas56,57 que revelavam que as famílias propuseram a seus trabalhadores domésticos uma quarentena compartilhada. Famílias de classe média e elite isoladas, mas reunidas com empregadas domésticas e babás, “vivendo mais a vida dos patrões”58, numa aparente intimidade. O reconhecimento do trabalho doméstico como essencial durante a pandemia, em deferência ao trabalho do médico que priorizaria o seu ofício, em detrimento de suas tarefas domésticas “não é um avanço para o reconhecimento do trabalho doméstico como fundamental à organização social brasileira mas, mostra, mais uma vez, que ela está fundada na manutenção dos privilégios”59.

Aqui deve-se ponderar as tensões existentes entre transformação e superação; crescimento e desenvolvimento; forma e conteúdo e tantas outras aparentes dicotomias que operam como motores da dinâmica social. Nessa perspectiva é que podemos considerar as observações de Figueira60 sobre o processo de transformação da família brasileira a partir dos anos 1950 - quando predominava o modelo de família hierárquica onde a autoridade era posicional -, para o modelo a partir dos anos 1980, quando passa a prevalecer o modelo igualitário. Esses dois modelos constituem as identidades familiares no Brasil. O modelo hierárquico está apoiado no modelo patriarcal descrito por Freyre33. A convivência e interrelação entre os dois modelos - um antigo e um moderno - justifica-se “pela própria velocidade do processo no Brasil, o que se tem é a aquisição de novas identidades (articuladas de modo complementar e variável aos novos ideais), que se sobrepõem às antigas identidades posicionais, sem, contudo, alterá-las substancialmente”60. Velho26 comenta a ideia de polaridade concomitante como um movimento ininterrupto, e defende que a interação entre patrões e empregados domésticos acontece nos dois sentidos, com importante troca cultural. Destaca que as empregadas domésticas longe de serem meras sobrevivências de um passado arcaico, são ativas construtoras de novos mundos, em que hierarquia e individualismos, tradição e modernidade são transformados em instigantes metamorfoses26.

Existem algumas dimensões a serem consideradas acerca das trabalhadoras domésticas. Vamos a algumas delas. A primeira: em sua maioria formada por mulheres negras, pobres e arrimos de família, integram, sob um ponto de vista mais abrangente, e em expansão na economia global, juntamente com as cuidadoras e com as trabalhadoras do sexo61, uma categoria que opera num limite silencioso, pouco, ou quase nada, declarado que é o da monetização do afeto ou o da comercialização da vida íntima62. Um trabalho com duas características principais, que aparecem tanto nas sociedades em desenvolvimento ou semitradicionais como nas desenvolvidas, quais sejam: devem fazer, de maneira discreta11, o trabalho de limpar o sujo, que ninguém quer fazer. Isso nos leva à segunda dimensão, talvez a mais importante, que é a invisibilidade social. Dentre os diversos componentes que a configuram, a invisibilidade é constituída pelas características próprias ao trabalho doméstico, que acontece no ambiente privado e como uma atividade considerada “naturalmente” feminina. Desse modo, apagando todos os aspectos implicados na sua execução e consequentemente desqualificando o trabalho desta categoria, que aliás, no caso brasileiro, é mais uma instituição, por suas interfaces políticas, ideológicas e estéticas que se traduzem na complexidade cultural brasileira63. Um trabalho interminável marcado por uma constante atualização da necessidade de recomeçar27. Tal característica, que poderia servir para agregar valor, somada às demais características descritas por Fraga27, a saber: os rastros persistentes da escravidão e de uma legislação que a excluí e a desqualifica em relação a outros trabalhadores, vemos aprofundar as desigualdades interseccionais.

Na pesquisa realizada no acervo iconográfico de Militão Augusto de Azevedo e Carlos Eugênio Marcondes de Moura no Museu Paulista, percebeu-se uma transição histórica no padrão das fotos, as quais, inicialmente, contavam com a presença da ama-de-leite ao lado das crianças, e posterior e paulatinamente sofrem um processo de supressão e de retalhamento da figura da ama, que assinala o seu novo lugar no conjunto das novas relações sociais do período. Nelas, somente há “indícios” da sua presença, mormente através das mãos, que servem tanto de suporte como de apaziguamento para os bebês fotografados, uma vez que, assim, “diminuía-se o risco de que os bebês ficassem inquietos durante a feitura do retrato”64.

Uma das expressões de apagamento social e sociológico, considerando sua “ausência de inscrição no texto acadêmico”65. A formulação “como se fosse da família”, trabalhada na etnografia aqui referida, pretende domesticar e naturalizar tal relação. Mas, quando falamos “como se fosse”, já estamos querendo dizer que algo “não é”, mas é “como se fosse” A análise etnográfica dessas relações entre patrões e trabalhadoras domésticas nos evidenciou os conflitos, as ambiguidades, os paradoxos dessas relações marcadas, a um só tempo, pela intimidade e distância social. Se por um lado aprender a ser empregada doméstica implica em uma pedagogia relacional com os patrões; por outro lado a criança aprende com os adultos, desde a tenra infância, a tornar o visível invisível61,66. A babá quase perfeita era aquela que conseguia se tornar invisível, como se não existisse. Uma “não pessoa”67, que realiza um “não trabalho”63.

Durante a pandemia de COVID-19, as trabalhadoras domésticas correm sério risco de perderem o emprego e consequentemente as garantias trabalhistas. No caso do Brasil, país com maior número absoluto de trabalhadoras domésticas no mundo5, a situação é dramática. Para as que não perderam/perderem o emprego, além da contaminação pelo vírus, há o risco do isolamento social, do afastamento da família e da dramática restrição da rede social57. E ainda riscos de sofrer violências nas casas, cujos patrões exigiram a sua permanência, o confinamento “em família”. Basta ler alguns títulos de manchetes de jornais: “Casos de abusos à trabalhadora doméstica aumenta durante a epidemia de COVID-1968; “A difícil realidade das domésticas em meio à crise da COVID-1969; “Coronavírus: como a pandemia afetou as empregadas domésticas na América Latina70; “Travailleuses domestiques: les travailleuses de première ligne font face aux défis du COVID-1971. Um panorama internacional encontramos nos artigos de Cave72 e Hamilton73. No Rio de Janeiro, a manchete “Primeira vítima do RJ era doméstica e pegou coronavírus da patroa no Leblon” anunciava o caso emblemático da primeira vítima de coronavírus - Cleonice Gonçalves -, trabalhadora doméstica que fazia parte do grupo de risco. Seus patrões, possíveis transmissores do vírus, estavam na Itália no início da epidemia e não a liberaram de seus serviços59,74.

A OIT3 estimou - com base nas medidas tomadas pelos países relacionadas ao distanciamento físico e nas características da ocupação doméstica - que 72,3% das empregadas domésticas no mundo está sendo severamente impactada pela crise. No conjunto, as trabalhadoras domésticas, são, portanto, uma das principais categorias afetadas pela pandemia53. Isso acontece, em parte, por conta das características do vírus: altamente contagioso, impondo o distanciamento e fechamento das escolas, restaurantes e diversos serviços ligados aos cuidados, e em parte também por conta das características de seu trabalho: o exercício das atividades exige o contato direto com pessoas idosas, crianças e pessoas doentes. Tudo isso reforçado pela aglomeração em transporte público - muitas trabalhadoras exercem a atividade em mais de um domicílio, o que aumenta a probabilidade de contágio e de disseminação5,30,75.

O caso da sociabilidade brasileira apresenta ainda uma terceira dimensão, que coloca em destaque a “Casa”, tal como descrita na obra de Freyre34, prefaciada por DaMatta76, como um “fato social total”77. Com a pandemia de COVID-19, dificilmente se poderia exagerar na importância desse aspecto. A casa tornou-se por excelência o espaço em que trabalhadores domésticos e patrões vivem de forma desigual a quarentena. Impossível, para situar uma das grandes complexidades nacionais, não citar a famosa, e não menos importante, passagem de Freyre sobre o papel da ama negra que fez com as palavras o mesmo que com a comida, […] tirou-lhes as espinhas, os ossos, as durezas, só deixando para a boca do menino branco as sílabas moles33. Aqui intervém, formando um amplo mosaico analítico, a nosso ver com grande potencial para compreensão da dinâmica social contemporânea no Brasil, duas questões. A primeira designada como culturas de servidão2; e a segunda o rastreamento de questões de intimidade para investigar questões da própria sociabilidade brasileira26,78. Desenvolveremos um pouco a primeira questão, deixando a segunda para uma outra oportunidade.

Ray e Qayum2, em seu livro sobre a Índia, Cultures of Servitude, elaboram sobre três temáticas que também são cruciais para o Brasil: a concomitância de valores tradicionais e modernos; a domesticidade; e a questão das classes sociais. Resumem, ao longo de alguns parágrafos, o que seria, segundo eles, uma cultura de servidão: é aquela em que as relações sociais de dominação/subordinação, dependência e desigualdade são (1) legitimadas culturalmente de tal forma que a dominação, dependência e desigualdades, daí derivadas, não são apenas toleradas, mas aceitas plenamente; (2) são reproduzidas no cotidiano das interações sociais; (3) permeiam tanto a esfera pública quanto a privada; e (4) forma uma espécie de estrutura de sentimentos/afetos associados à instituição e às relações de servidão doméstica produzida pela confluência de condições materiais históricas e organização social prevalecente.

Aqueles que vivem em uma cultura de servidão a aceitam como a ordem dada das coisas, o modus operandi tanto da esfera pública quanto da doméstica. Podemos pensar o trabalho doméstico a partir dessa perspectiva, mas também podemos pensar a cultura de servidão dando direção, sentido e magnitude a uma mentalidade, como a prevalecente no Brasil, mas não exclusivamente79, através da qual poderíamos entender, não apenas, a nossa quase infinita tolerância com as desigualdades sociais em todas as suas manifestações, com a exclusão específica dos afrodescendentes, assim como a condenação das mulheres, em especial as de baixa renda, àquilo que já foi chamado de “escravidão vitalícia”12. É preciso registrar que a servidão não implica rigidez, ao contrário, ela opera com plasticidade, o que faz com que o afeto se transforme num valor demandado e que qualifica, por exemplo, babás e trabalhadoras domésticas oriundas da América Latina como afetuosas, amorosas e prestativas7,62,80,81, atributos que as diferenciam para os postos de trabalho, sendo uma verdadeira vantagem comparativa no mercado de afetos82 que demanda especificamente um estoque de maternidade6.

Conclusão

Ao longo do artigo apresentamos elementos de um equilíbrio instável e dinâmico entre o arcaico e o moderno, as culturas de servidão e as posturas e iniciativas de trabalhadoras domésticas, que não estão passivas ou fantasmagorizadas por um passado marcado pela escravidão. Esse complexo de emoções é marcado por desigualdades interseccionais intensificadas pelos aspectos de gênero, geração, origem regional, cor e classe social. O cruzamento entre trabalho e família; dinheiro e afeto; hierarquia social e intimidade são pares analíticos antagônicos e complementares e sintetizam, portanto, um dos grandes dilemas do país. Mas, vale frisar que a heterogeneidade cultural observada nessas relações é um fator importante para a viabilidade de uma negociação entre esses atores. Da etnografia, aqui reinterpretada, podemos comentar alguns perfis de trabalhadoras, que sintetizam esse equilíbrio instável entre o passado e o contemporâneo. Se havia aquela que se considerava “como se fosse da família”, também havia aquela que negava essa posição sublime e defendia que não era uma “babá tentáculos”, cujos patrões esperavam dela total abarcamento da família para qual trabalhavam. Existe, portanto, grande antagonismo nessas relações e que geram frequentemente dramas sociais, como os que temos vistos na pandemia da COVID-19, nos quais estão em jogo grandes custos emocionais e afetivos. Há alianças, como podemos constatar nos casos em que patrões dispensaram as trabalhadoras domésticas, garantindo os seus salários. Mas não sem conflitos de valores e de interesses. O eixo hierarquia e individualismo configura-se como uma das bases de diferenciação de escala de valores com consequências no mundo dos cuidados domésticos realizados pelas trabalhadoras domésticas. Embora não se possa estabelecer uma divisão rígida e esquemática, há uma tendência de predomínio dos valores hierarquizantes entre as trabalhadoras domésticas, enquanto, no universo das famílias, identifica-se uma maior presença de perspectivas individualistas. Mas isto não significa que estas não apareçam, e por vezes de modo intenso.

Seja em confinamento com a família dos patrões, seja em confinamento com a sua própria família, o isolamento compulsório e o léxico constituído pela pandemia de COVID-19 tiveram expressões dramáticas nas vidas dessas trabalhadoras.

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Editado por

  • Editores-chefes:
    Romeu Gomes, Antônio Augusto Moura da Silva

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    25 Out 2021
  • Data do Fascículo
    Out 2021

Histórico

  • Recebido
    20 Nov 2020
  • Aceito
    22 Maio 2021
  • Publicado
    24 Maio 2021
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