Open-access O uso de plantas medicinais na atenção primária à saúde: revisão integrativa

Resumo

O uso de plantas medicinais (PM) favorece a integralidade do cuidado na atenção primária à saúde (APS), valorizando o saber popular e o autocuidado. Esta revisão integrativa de literatura objetiva analisar estudos sobre a inserção do uso de PM na APS. A estratégia PICO norteou a busca de evidências, reunindo 18 artigos publicados de janeiro de 2015 a agosto de 2020 nos bancos de dados Biblioteca Virtual de Saúde e PubMed. As variáveis de análise foram o conhecimento dos profissionais da saúde da APS sobre PM e políticas associadas, o uso de PM pelos usuários, destacando seu perfil, fatores que favorecem o uso e a falta de segurança no uso de PM. A literatura aponta insuficiência de conhecimento dos profissionais de saúde sobre as políticas de práticas integrativas e complementares e o uso de plantas para fins medicinais. Os principais usuários são mulheres, idosas, com baixa renda e escolaridade, tanto no Brasil quanto em outros países. Sobre a segurança no uso de PM, frequentemente não há correta identificação de espécie, origem, preparo e dose adequada para cada caso. Por fim, a não abordagem desses conteúdos durante a formação de profissionais da saúde gera menos conhecimento, menos pesquisas e mais preconceito por falta de informação, prejudicando o incentivo e divulgação à comunidade.

Palavras-chave: Plantas medicinais; Ervas medicinais; Atenção primária à saúde

Abstract

Medicinal plant (MP) use supports comprehensiveness of care in Primary Health Care (PHC), enabling appreciation of popular knowledge and self-care. This integrative literature review aims to analyze researches that approach the insertion of using MP in PHC. PICO strategy was used as a guideline in search of evidence, reuniting 18 articles published between January 2015 and August 2020, in the Virtual Health Library and PubMed databases. The variables of analysis were knowledge of PHC healthcare professionals about MP and associated policies, MP use by its users, highlighting their profile, the reasons that lead to the use and lack of security in MP use. The results show insufficient knowledge of healthcare professionals about Integrative and Complementary Practices policies and the medicinal uses of plants. The main users are women, elderly, with low income and education, either in Brazil or other countries. Regarding safety in MP use, frequently there is no correct identification of species, its origin, its preparation and the appropriate dose for each case. Finally, failure to approach these contents during training of healthcare professionals generates less knowledge, less research and more prejudice due to lack of information, impairing incentive and dissemination to the community.

Key words: Medicinal plants; Medicinal herbs; Primary health care

Introdução

É histórico o uso de diferentes plantas a favor de objetivos humanos, desde a aplicação como venenos até o emprego em atividades curativas1, sendo, no último caso, denominada planta medicinal (PM). Esse uso foi inspirado na observação empírica de práticas de outros animais, uma vez que várias espécies apresentavam hábitos de consumir plantas mediante situação de injúrias2.

Por meio de tal análise, os seres humanos começaram a sistematizar o uso de PM, conciliando aspectos filosóficos e culturais característicos, desenvolvendo a base de vertentes da dedicina3. Assim, considera-se PM aquela capaz de aliviar ou curar enfermidades e que tem tradição de uso como remédio pelas pessoas da comunidade4.

Com o passar dos séculos, o cuidado com a saúde sofreu transformações. Hoje se valoriza o conhecimento científico acadêmico e o modelo biomédico centrado na doença, em detrimento aos outros tipos de geração de conhecimentos5. Assim, surge a medicalização da vida, um fenômeno de apropriação pela medicina, que interfere na construção e interpretação de conceitos, costumes e comportamentos sociais6. Há, nesse contexto, desvalorização do autocuidado e da conexão com a natureza, com valorização cada vez maior da medicina convencional moderna como único recurso eficaz e seguro5,6.

Por outro lado, surgiram nas últimas décadas movimentos sociais e políticas públicas que buscam resgatar os saberes tradicionais e valorizar a promoção e integralidade no cuidado à saúde, estimulando a interação humanidade-natureza7.

Em 1978, com a declaração de Alma-Ata, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a reconhecer o uso de PM e fitoterápicos como estratégias efetivas em saúde, validando suas propriedades curativas, profiláticas e paliativas8. No Brasil, a temática foi abordada na 8ª Conferência Nacional9, em 1986, definindo-se que práticas alternativas de assistência à saúde deveriam ser parte do Sistema Único de Saúde (SUS), ainda em construção, permitindo ao usuário escolher a terapêutica desejada.

Passados 20 anos, com a regulamentação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC)10 e da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos11, determinou-se a adoção do uso de PM e da fitoterapia no SUS, com enfoque na atenção primária à saúde (APS), como mais uma forma de tratamento para processos de adoecimento da população, valorizando também o saber popular12.

Por meio de políticas e movimentos que fortalecem as práticas integrativas e complementares, objetiva-se o resgate de saberes populares, favorecendo formas de cuidado holístico que promovam sustentabilidade, valorização do autocuidado e participação ativa do paciente em todo o processo. Com uso de PM, é possível alcançar esses objetivos, fomentando ainda a educação ambiental, de modo a promover a saúde e o resgate do autocuidado13.

Dessa forma, o objetivo deste estudo foi analisar pesquisas que abordaram formas de uso de PM na APS, caracterizando o perfil desses usuários, fatores que promovem o uso, qual o conhecimento dos profissionais da saúde sobre o tema e as políticas associadas, bem como a questão da falta de segurança e assistência adequadas quanto ao uso de PM na APS.

Método

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, instrumento de obtenção, identificação, análise e síntese das publicações acerca de um tema específico. Foram seguidas as seguintes etapas: identificação do problema (definindo o tema da revisão em forma de questão, denominada pergunta PICO ou norteadora); seleção da amostra, definição das características da pesquisa (categorização dos estudos e da coleta de dados); análise dos estudos incluídos na revisão, identificando similaridades e conflitos; discussão e interpretação dos resultados; apresentação da revisão/síntese do conhecimento14,15.

Para a elaboração desta revisão integrativa, partiu-se da pergunta: quais as evidências científicas relacionadas com as formas de uso de plantas medicinais na atenção primária à saúde?

Para a busca nos bancos de dado selecionados (Biblioteca Virtual em Saúde - BVS, e US National Library of Medicine - PubMed), utilizou-se as seguintes palavras-chave: plantas medicinais; ervas medicinais e relação nacional de plantas medicinais; atenção primária à saúde; atendimento básico; atendimento primário; atendimento primário de saúde; atenção básica; atenção básica de saúde; atenção básica à saúde; atenção primária; atenção primária de saúde; atenção primária em saúde; cuidados primários; cuidados primários de saúde; cuidados primários à saúde; cuidados de saúde primários; primeiro nível de assistência; primeiro nível de atendimento; primeiro nível de atenção; primeiro nível de atenção à saúde; primeiro nível de cuidado; primeiro nível de cuidados.

A busca de artigos foi realizada por quatro pesquisadores, utilizando-se dos mesmos critérios, sendo dois responsáveis pela pesquisa na base de dados BVS e dois na base PubMed. Realizou-se duplicata, às cegas, validando a metodologia. Dois pesquisadores foram responsáveis pela seleção dos artigos. Em caso de divergência, optou-se por manter os artigos na seleção até a etapa de leitura integral, verificando se esses contemplavam o tema desta revisão.

A seleção da amostra inicial adotou como critérios de inclusão artigos que trouxessem em seus títulos ou resumos elementos sobre utilização de PM na APS, encontrados nas literaturas nacional e internacional, publicados no período de janeiro de 2015 a agosto de 2020, nos idiomas português, espanhol e inglês. Foram excluídas teses de dissertação e revisões e aceitou-se artigos com diversos delineamentos metodológicos, pelo fato de a questão norteadora exigir abrangência acerca da temática investigada.

Com isso, a amostragem constituiu-se de 1.038 artigos, sendo 533 encontrados na base de dados BVS e 505 artigos na PubMed, com a aplicação dos filtros de idioma e data. Foram excluídos 981 pelas seguintes causas: títulos ou resumos não se adequarem à pergunta tema ou por se tratar de revisões ou teses de dissertação, restando 57 artigos (Figura 1).

Figura 1
Fluxograma referente aos resultados de busca.

Nessa etapa, todos os 57 artigos estavam disponíveis para leitura: 14 de acesso público e quatro privados, acessados por meio da universidade apoiadora desta pesquisa.

Foram descartados 11 artigos duplicados, às cegas, sobrando 46. Todos esses foram lidos na íntegra e 28 foram excluídos por abordarem de forma pouco exploratória o uso de PM na APS, não respondendo à pergunta. Por meio da análise de dois pesquisadores, 18 artigos foram estabelecidos como corpus de análise, sendo dez da base de dados BVS e oito da PubMed (Figura 1).

Para o estudo dos artigos, foi utilizada a técnica de análise temática16, que consiste nos seguintes passos: leitura flutuante do conteúdo, codificação, categorização e articulação com os seguintes referenciais teóricos - Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC)10 e Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos11.

Foram criadas, então, as seguintes categorias: “Conhecimento dos profissionais da saúde da APS sobre PM e políticas associadas”, “Usuários de PM na APS: perfil e fatores que levam ao uso” e “A falta de segurança no uso de PM”. Fez-se a leitura criteriosa de cada artigo, observando essas categorias, podendo o mesmo artigo estar presente em mais de uma seção.

Resultados e discussão

Dos 18 artigos selecionados para análise, sete foram elaborados em outros países, a saber: Peru, Paraguai, Espanha, México, Jamaica, Paquistão e Sérvia. Oito foram publicados exclusivamente em português, quatro em inglês, três em espanhol e três tanto em português como em inglês. Destacam-se a Revista Ciência e Saúde Coletiva (n = 3) e o Journal of Ethnopharmacology (n = 4) com as maiores quantidades de artigos publicados na temática desta revisão.

Os estudos foram descritos no Quadro 1, mostrando autores, ano de publicação, local da pesquisa, revista publicada, tipo de estudo e as principais evidências encontradas.

Quadro 1
Distribuição dos artigos selecionados segundo autores, ano de publicação, local da pesquisa, revista publicada, tipo de estudo e principais evidências encontradas.

A partir dos resultados, evidenciou-se a importância de se discutir diferentes variáveis que influenciam no uso de PM na APS, mostrando a complexidade das questões que permeiam o cuidado em saúde. Dessa forma, destacamos temáticas que serviram como base de análise, possibilitando a relação entre os dados e o aprofundamento na literatura para compreensão do nível de conhecimento dos profissionais frente à PM, à caracterização dos usuários e à utilização das PM com maior segurança, a fim de se responder à pergunta PICO.

Conhecimento dos profissionais da saúde da APS sobre PM e políticas associadas

Estudos apontam a insuficiência de conhecimento dos profissionais de saúde em relação às políticas de práticas integrativas e complementares e aos aspectos gerais do uso das PM. Em pesquisa realizada em 45 unidades de Estratégia Saúde da Família no município de Blumenau (SC), 65,6% dos profissionais de saúde relataram conhecer a PNPIC, porém não souberam citar todas as práticas, demonstrando conhecimento superficial da mesma17.

Por outro lado, estudos realizados entre enfermeiros indicaram que 88,7% dos entrevistados da região Sul do estado do RS possuíam déficit de conhecimentos das políticas nacionais e públicas de valorização do uso e difusão de terapias complementares, incluindo a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos18,19.

O não aprofundamento nos conhecimentos de tais políticas pode implicar não adesão às PIC, resultando na desvalorização dessa forma de cuidado. Assim, é necessário que os profissionais adquiram esses conhecimentos para a consolidação da política18.

Autores destacam que, durante a formação, profissionais da saúde não aprendem sobre medicina tradicional e muitas vezes desconhecem evidências científicas acerca das PM20,21. Pesquisa realizada junto a nove profissionais de uma Unidade de Saúde da Família (USF) da zona rural do município de Pelotas (RS) evidencia que, entre os profissionais participantes, nenhum teve disciplinas ou discussões durante a trajetória acadêmica que abordasse o tema de PM21.

O desconhecimento sobre PM acarreta também insegurança dos profissionais de saúde em prescrevê-las, como evidenciado em dados apresentados por Mattos e colaboradores17, no qual os entrevistados desconheciam as plantas ou os fitoterápicos contidos na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME).

Por outro lado, 93% dos profissionais desse mesmo estudo possuíam conhecimento sobre medicina tradicional por influências e experiências familiares, com 84,7% já tendo prescrito ou sugerido, no caso de profissionais não médicos, o uso terapêutico de PM17. Em contrapartida, outros consideraram essa forma de origem do conhecimento superficial, optando por não prescreverem sem haver aprofundamento científico na temática21.

As pesquisas demonstram que a limitação de entendimento ocorre por uma falha estrutural dos planos de ensino acadêmico e das instituições por não oferecerem cursos de capacitação com o tema ou incentivarem os profissionais a buscar esses conhecimentos21. Contudo, como demonstram Alonso-Castro e colaboradores20, 73% da amostra de profissionais possuíam interesses em adquirir informações, via cursos de capacitação, materiais complementares ou outras fontes que abordassem a utilização de PM na APS17,21.

Outro aspecto importante abordado pelos artigos estudados é a importância de saber qual a visão dos profissionais em relação ao uso de PM, uma vez que a opinião pessoal reflete na prática profissional.

Alonso-Castro et al. apontam que 46% dos profissionais de saúde e 51% dos médicos entrevistados acreditavam que os pacientes não deveriam fazer uso de PM por motivos como ineficácia, falta de embasamento científico e falta de segurança. Porém, 54% desses profissionais de saúde e 49% dos médicos já fizeram uso pessoal de PM como terapia alternativa, alegando eficácia, tradição familiar e destacando a redução do consumo de medicamentos alopáticos20. Ou seja, os profissionais de saúde têm receio de prescrever, mas acabam usando para tratamento próprio.

Dos profissionais entrevistados no RS, 81,4% reconheceram que a inclusão de políticas que visam à inserção do uso de PM na APS seria de suma importância18. Contudo, alguns acreditam que a utilização das PM é eficaz apenas como forma de autocuidado em doenças em estágio inicial e de forma adjuvante em doenças paliativas21.

Quanto ao autocuidado, é importante salientar que o potencial de desmedicalização apresentado pelas PICs não independe da maneira como são aplicadas e utilizadas: a experimentação e abordagem propostas devem estimular uma ampliação da liberdade do paciente para sentir, refletir, experimentar e se conhecer para alcançar um modelo de autocuidado22. Por isso, Macià e colaboradores acrescentam que não se pode esquecer do caráter essencialmente popular desse conhecimento, mostrando abertura para aprender e construí-lo junto à população23.

Nesse sentido, Souza et al. sugerem que a inserção das PM na APS se tornaria efetiva se o profissional de saúde organizasse grupos de discussão com os usuários da USF, exercendo diálogo interdisciplinar, praticando educação em saúde e entendendo o contexto no qual encontra-se inserido18. Dessa forma, o agir profissional se estabelece embasado em uma relação de respeito às crenças e aos valores do indivíduo, empoderado no seu saber histórico e popular, na forma de um diálogo em que ambas as partes aprendem acerca da cidadania e da heterogeneidade do cuidado, fugindo da lógica do atender apenas a doença24,25.

Usuários de PM na APS: perfil e fatores que levam ao uso

Colet e colaboradores, por meio de entrevistas aplicadas a 446 usuários de unidades de saúde da cidade de Ijuí (RS), mostraram que 81% dos entrevistados utilizam PM e 71,5% afirmam utilizá-las por indicações de parentes, 44,6% deles se encontram na faixa etária de 40 a 59 anos e 67,7% com renda de até um salário-mínimo e meio26.

Outro estudo, de Zeni et al., entrevistou 701 indivíduos de Blumenau (SC) e observou que a maioria dos que utilizavam PM eram mulheres (78,1%), brancas (81,6%), casadas (56,4%) e pertencentes à classe C (56,4%), sendo a média de idade de 43,3 anos27.

Em 2016, Szerwieski e colaboradores entrevistaram 252 idosos em Itaipulândia (PR), também mostrando o uso mais prevalente em mulheres (67,58%), com pouca (até quatro anos de estudo) ou nenhuma escolarização (90,11% dos que usam), não sendo economicamente ativas (83,52%) e recebendo até um salário-mínimo mensal (97,25%)28.

Os dados de Colet et al., Szerwieski et al. e Zeni et al. evidenciam o legado de uma sociedade patriarcal, em que a mulher se tornou a responsável pela manutenção doméstica e pelo cuidado dos familiares29, bem como pelo cultivo de plantas30. Com isso, as mulheres normalmente têm mais informações sobre as PM e acabam recorrendo a elas, por poderem ser obtidas de maneira econômica e acessível em seus próprios quintais31.

Estudo de Dantas e colaboradores entrevista profissionais da saúde e representantes do MST, fazendo uso de grupos focais com famílias e diário de campo, ressalta o papel de se incentivar o uso de PM e fortalecer o saber popular nos dois assentamentos pesquisados por meio de núcleos locais32. Esse cuidado vai ao encontro de experiências do MST relatadas por setores estaduais da saúde, no sentido de promoção de hábitos saudáveis, efetivação do direito à saúde e preparo de remédios à base de PM33.

Em outra realidade, o artigo de Macià et al., realizado em Barcelona, Espanha, entrevistou 161 indivíduos, encontrando que 85% usavam PM, sendo 65,7% mulheres, e 45,2% eram analfabetos ou cursaram apenas o primeiro grau. Embora a idade média da amostra tenha sido de 62,9 anos, a faixa etária de 15-40 anos (14% do total) foi a que mais referiu usar PM (97%), enquanto no grupo de 65 anos ou mais esse valor foi de 48,2%. Com isso, os resultados em números absolutos apontam que o perfil de usuário de PM é de pessoas acima dos 65 anos, analfabetos ou que cursaram apenas o ensino fundamental23.

No Peru, levando em conta a diversidade cultural e étnica do país, Valenzuela-Oré e colaboradores34 abordam a temática social do uso de PM. Aplicaram-se questionários a 775 povoados urbanos e rurais, sendo que 68,7% dos entrevistados relataram sempre usar PM34. No entanto, nota-se diminuição no uso da medicina tradicional na população peruana35.

Já em estudo no Paquistão, Yaseen et al. mostraram que a população local entrevistada fazia uso de PM pela falta de serviços de saúde adequados para o tratamento de diversas comorbidades, além de ser uma herança cultural e tradicional indígena36-38.

Outro artigo encontrado difere dos anteriores e relata a construção do documentário “Cantos e saberes”, partindo da pesquisa “Quintais produtivos e sua relação com a segurança alimentar e nutricional”39. Para a construção do documentário, os autores realizaram uma pesquisa com o intuito de analisar saberes e práticas tradicionais do uso de PM entre as mulheres frequentadoras do Grupo Horta, em Piraquara (PR).

O documentário é uma modalidade que traz a possibilidade de diálogo entre esferas distintas - com profissionais de saúde, pesquisadores e comunidade - e suas realidades40,41, apontando para o potencial humanizador de práticas integrativas e complementares (PIC), como as PM, no cuidado em saúde, ao mesmo tempo em que ressalta as repressões políticas e mercantis que elas sofrem42.

Por sua vez, Tribess et al., na região de mata atlântica do estado de Santa Catarina, fizeram um levantamento etnobotânico com os moradores locais. Notou-se que a prática da medicina tradicional em comunidades rurais é uma fonte importante de autocuidado, diretamente ligada aos princípios da APS no manejo de patologias recorrentes.

Esse estudo cita que a mata atlântica possui uma das maiores biodiversidades de PM por metro quadrado, por isso favorece o acesso a diversas plantas. Isso poderia servir de ferramenta estratégica para práticas de educação em saúde e de estímulo à preservação florestal, propiciando um fortalecimento significativo das políticas nacionais de uso de PM e beneficiando diretamente a população usuária do SUS43.

Por fim, a análise de Caccia-Bava e colaboradores, feita em 4.249 unidades de saúde do estado de São Paulo, por meio dos dados do Primeiro Ciclo do Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ), evidenciou o uso de PM mais prevalente em municípios de grande porte e com indicadores socioeconômicos mais altos (63,9% dos classificados nos estratos 4, 5 e 6 do PMAQ), seguidos pelas cidades menores e marginalizadas (55,7% das classificados nos estratos 1, 2 e 3 do PMAQ)44.

Assim, explicita-se a necessidade de expandir esse conhecimento de forma mais abrangente na comunidade e na equipe de saúde, no intuito de contemplar a população de maneira homogênea, para que usufruam dos recursos naturais e sustentáveis que seus territórios estão aptos a lhes fornecer, sempre preservando e respeitando os aspectos culturais da localidade12.

A falta de segurança no uso de PM

Alguns estudos apontam as dificuldades e os problemas associados à falta de conhecimento dos usuários sobre a segurança ou os riscos no uso de PM.

No trabalho de Szerwieski et al., mostrou-se que usuários não sabiam corretamente as contraindicações e os possíveis efeitos colaterais, e disseram fazer uso indiscriminado, acreditando que por ser algo mais natural não poderia apresentar malefícios28. Soria e colaboradores relatam que no Paraguai a identificação correta das espécies é complicada porque a comercialização das mesmas se dá pelo nome popular, podendo gerar confusões45. Eles então discutem que a inclusão de PM na APS deve ser pautada pelo uso seguro e eficaz, com a correta identificação da espécie, de sua origem, seu preparo e a dose adequada para cada caso45. Por isso, é essencial identificar, por meio de estudos farmacológicos e toxicológicos, os possíveis riscos acerca dessa prática, bem como fornecer informações cientificamente embasadas aos profissionais de saúde, estabelecendo um programa de farmacovigilância20.

Além disso, o estudo Caccia-Bava et al. revelou que no estado de São Paulo apenas 5,1% do total de 467 unidades de saúde que disponibilizam fitoterápicos o fazem com a planta in natura44.

No Brasil, uma possibilidade de ampliação institucionalizada e segura do uso de PM na APS é o programa Farmácia Viva, um programa de assistência social farmacêutica que prepara, prescreve e dispensa fitoterápicos na rede pública de saúde. Também orienta sobre o uso de plantas, garantindo eficácia e segurança a partir de jardins medicinais com certificação botânica21.

Com a implementação da Farmácias Viva na APS, é possível trabalhar com conhecimentos e usos populares das plantas, associando-os a evidências científicas, bem como produzir remédios fitoterápicos seguros para uso da população, considerando também efeitos colaterais e contraindicações de cada um deles.

Em relação a quais PM mais são utilizadas, os trabalhos mostraram uma variabilidade muito grande, a depender de localidade geográfica, cultura e fatores históricos e econômicos20,26,36,45-47.

Como limitação da presente revisão integrativa, foi evidenciada a escassez de estudos que descrevam o conhecimento da população em geral e dos profissionais de saúde sobre eficácia, formas de administração, interações medicamentosas e efeitos adversos das PM utilizadas no Brasil e no mundo.

Considerações finais

As evidências científicas relacionadas às formas de uso de plantas medicinais na atenção primária à saúde caracterizam os usuários e trazem dados acerca do conhecimento dos profissionais e da segurança dessas. Conclui-se que, na atenção primária à saúde, o perfil de usuário de plantas medicinais é constituído por mulheres, idosas, com baixas escolaridade e renda, tanto no Brasil quanto em outros países, o que evidencia o papel das mulheres na produção, no uso e na transmissão de conhecimentos tradicionais.

Também se evidencia que, durante a formação dos profissionais da saúde, os temas de práticas integrativas e complementares não são abordados, gerando menos conhecimento, mais preconceito por falta de informação e levando a menos pesquisas, o que resulta em menor incentivo e divulgação para a população.

Nesse contexto, é difícil promover o uso seguro, cientificamente embasado e eficaz das PM na APS, uma vez que se tem como limitantes o desconhecimento acerca de como se identificar corretamente as plantas, da forma adequada de uso, da dose recomendada e das possíveis interações medicamentosas, efeitos adversos e toxicidades.

Porém, com formação profissional adequada, a APS tem potencial para desenvolver hortas medicinais ou implantar Farmácias Vivas, garantindo acesso às PM de forma segura e eficaz e atuando junto dos saberes populares na melhoria do bem estar e do autocuidado da população.

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Editado por

  • Editores-chefes:
    Romeu Gomes, Antônio Augusto Moura da Silva

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    02 Fev 2022
  • Data do Fascículo
    Fev 2022

Histórico

  • Recebido
    11 Set 2020
  • Aceito
    09 Fev 2021
  • Publicado
    11 Fev 2021
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