Eu trabalho de oito horas, aí depende muito do dia. O normal é até três ou quatro horas da tarde. Tem dia que a gente sai mais cedo: eu saio duas horas da tarde, três horas. Que a gente tem que fazer uma visita, alguma coisa assim, a gente já aproveita e já sai, já sai daqui e já vou fazer as visitas. [...] Eu, pessoalmente, depende muito do dia. Se, mais comum, eu saio daqui e vou almoçar em S. [município da região] mesmo. Acabo o atendimento 11 horas, retorno 13 horas, por aí. E quando tem um horário, por exemplo, tem uma coisa, tem hora que não para não, a gente vai direto. (2MG6MED2 - Norte de Minas Gerais) |
Então, por isso que te falo, por isso que a maior demanda que a gente tem no município vem pra mim, tanto pela confiança e pela qualidade de resolução, quem tem alguns problemas, porque eu posso resolver várias coisas, sem ter que encaminhar os pacientes para fora. Então por esta razão, até o gestor, ele tem uma diferença comigo. [...] Passaram oito anos, dez anos, eu falei: “eu vou”. Eu não tinha comentado que eu iria. Já tinha falado para alguns amigos que eu já ia embora. Olha, o que entrou de gente chorando aqui... Aí, você me explica, como eu vou embora? Aí eu consegui que o prefeito me desse um dia, de quinze em quinze dias, para eu poder sair para visitar minha família e aumentaria minha carga horária: ao invés de oito horas, eu trabalharia nove. Eu disse: “está bom, para mim está perfeito”. (6BA3MED1 - Semiárido) |
Eles estão mexendo com gado, como te disse, eles são pecuaristas e pequenos produtores, eles vivem daquilo, então eles vivem do leite, a maioria. Para eles virem à unidade, precisam pagar alguém para fazer o serviço, então eles acabam deixando de vir, a não ser em casos extremos, entendeu? Então, se tivesse um lugar onde eles chegassem, uma unidade de saúde mesmo com a equipe montada, não falo de emergência não. E eles chegassem às nove, nove e meia, às dez e conseguissem. Não tivessem que esperar até uma hora, porque tem dia que é assim, o pessoal da cidade é de manhã e o pessoal da zona rural é à tarde: eles preferem assim porque à tarde o serviço é menor. [...] Mas, por exemplo, ele sai de lá nove e meia, vai chegar aqui na UBS dez e meia, onze horas, na hora que vai estar fechando. Então, vai ter que esperar, vai ter que comer. Se tivesse um horário diferenciado e uma unidade que atendesse toda população rural num horário diferenciado, seria melhor para eles. (1MT26MED2 - Vetor Centro-Oeste) |
Mas caso de adaptação, é mais assim, eles têm os telefones, ligam e dizem: “Estou indo com vinte pessoas”. Então assim, a comunidade do B. liga e dizem: “A gente está indo em um barco com quarenta pessoas, dá para ir?”. Teve um dia aqui que fomos direto, nem almoçamos, foi mais de cinquenta pessoas. Não, o recorde nosso foi mais de oitenta. Eu, a enfermeira e as técnicas. Mas é muito “Bolsa Família”, eles têm que fazer o cadastramento. Vieram em dois, três barcos. Nossa, aquele dia foi... No final do dia eu não conseguia nem mais pensar! (4AM16MED2 - Norte-águas) |
Vamos falar do médico: ele vai vir, o carro vai sair de lá, trazer ele, chega aqui oito e meia, depende da situação da estrada, tudo. Ele vai almoçar onde aqui? Entendeu? Aí ele tem que trazer o almoço dele de casa, aí ele vai parar aqui e almoçar aqui. Ele vai ficar aqui na unidade, toda hora vai chegar e: “Ah, doutor, uma consulta e tal”. Então ele não tem o descanso, não é todo dia que ele tem o descanso dele. Aí ele vai retornar 13 horas e vai sair daqui cinco horas da tarde. Como que você vai cobrar uma pessoa, um profissional desse? Você não pode ter tudo numa linha “retinha”. Por quê? Porque eu saio daqui, nós vamos fazer uma visita, é uma hora! Esses dias eu fiz uma caminhada de quase uma hora e meia. Mas é a necessidade da região. Então, você ficar se apegando a uns detalhes mínimos de “Ah, tem que cumprir o horário.”. Não é cumprir horário, na zona rural, não é atendimento igual na cidade. Na cidade você faz medida de hipertenso, medida de diabético, quatro horas da tarde você tem um grupo de pessoas e tudo para você fazer o atendimento. Aqui não tem, aqui tem dia que tem trinta pacientes de manhã! Eu vou me apegar ao detalhe de que eu só posso atender dez? (2MG6MED2 - Norte de Minas Gerais) |
Arranjo das ações com ênfase na demanda espontânea |
Aqui as pessoas não têm aquele hábito de agendar consulta. Já tentei, mas não funciona. Porque, segundo eles, é um costume e que não dá. Logo no início, chegava a atender vinte e oito pacientes, trinta numa manhã. Eu resolvi por conta própria diminuir, porque uma vez aconteceu que eu percebi que estava atendendo rápido demais. Na UBS, é você ouvir, consultar, ouvir até coisa que você não tem de ouvir. Atendendo essa demanda que estava havendo, eu não conseguia. [...] Como te falei, tem dia que atendo quatro pacientes extras. Nos dias de pico, que é segundas-feiras, às vezes eu até deixo passar vinte, porque a pessoa vem aqui e diz “eu moro na zona rural, moro longe, não tem como vir amanhã” e a gente fica atendendo. A gente faz esse cronograma aqui. Já tentei colocar agendamento de consulta e não vai. (5AC11MED2 - Norte-estradas) |
Nós estamos organizados mais ou menos. É que nós estávamos sem médico, só com um médico. Aí o médico da zona rural estava cobrindo a zona urbana. Aí chegou a outra médica, também do Programa [Mais Médicos], que é da zona urbana. Então hoje ainda está um pouco assim, atendendo “geralzão”. Mas as [consultas] programadas, no caso, vem o CD [crescimento e desenvolvimento/ puericultura], o pré-natal. [...] É, em qualquer horário [o atendimento das pessoas que moram no interior]. Não tem essa: “Não, a gente vai dar a ficha oito horas da manhã”. Não existe. Porque na comunidade do pessoal lá, como se fala: “Peguei minha rabeta e cheguei dez horas da manhã”. (4AM17MED1 - Norte-águas) |
A princípio, até queria ter ficado na UBS lá do centro, que é mais fácil de se organizar. Você trabalha num lugar fixo e tudo. Tem como você fazer aquela questão: hoje é o dia do “hiperdia” [hipertensão e diabetes], hoje é o dia das gestantes. Aqui eu não posso fazer isso, porque se eu fizer isso, aí... Corta o acesso. Então, meus atendimentos sempre foram à livre demanda. (3MA25MED2 - Matopiba) |
São muito difíceis esses pacientes da zona rural. Por exemplo, geralmente, a menina de 15 anos ela está fazendo o segundo pré-natal, do segundo filho. Quando ela pariu, do hospital, digamos, ela teve o bebê hoje, quando é amanhã, se ela receber alta, essa moça já vai direto para a zona rural. Ela só vai voltar se ela tiver, assim, inflamada, se o bebê passar mal. Mesmo orientada: “Você tem que vir, fazer o acompanhamento”. A maioria só vai voltar se passar mal, se se sentir mal, ou ela ou o bebê, senão, não volta. (4AM17MED1 - Norte-águas) |
Bom, aqui é demanda espontânea. Mas muitos eu digo: “Vem na próxima semana”. Eu mesma falo, na próxima semana os hipertensos que eu vi, que tratei, que tomou remédio: “Na próxima semana quero te ver aqui, por favor. Quero te ver aqui”. Eles vêm. [...] Sim, um acompanhamento sim, mas orientado assim: “eu quero que tu retornes”. E os demais é demanda espontânea. Não tenho, assim, número de pacientes, é demanda espontânea. (3TO19MED2 - Matopiba) |
O problema é que a gente não faz só o serviço que nós somos propostos a fazer, está entendendo? Porque a gente vem para cá para trabalhar como UBS e aqui a gente é obrigado a trabalhar como UBS e serviço de pronto-atendimento. Acaba que a gente não faz direito nem o serviço de UBS e nem o serviço de pronto-atendimento. Na minha grande opinião, é um “enxugar gelo” muito grande. A gente não promove saúde, mas também não tem como ser onde dá o suporte de urgência e emergência. O tempo que eu teria para estar promovendo saúde, eu estou preocupado em estar atendendo pronto-atendimento, estar atendendo a demanda espontânea. (3TO19MED1 - Matopiba) |
A atenção primária é precária porque a gente não tem para onde mandar essas coisas que estou te falando. Aquela demanda diária, você não pode fazer um agendamento, deixar de atender para fazer um grupo de hipertensos. […] Os principais avanços? Olha, não posso falar em avanços, mas não é difícil trabalhar aqui. Tudo que a gente precisa, a gestão providencia. O principal avanço que eu gostaria e não acontece é poder trabalhar a atenção primária que nós não conseguimos. Do meu ponto de vista é porque não tem pronto-atendimento. (1MT26MED2 - Vetor Centro-Oeste) |
Arranjo das ações com ênfase na demanda espontânea |
Essas comunidades aqui próximas têm uma assistência de visitas, de palestras, a gente sabe o que está acontecendo. Quando começa a dar surto de diarreia, viroses, aí a gente sabe o que está acontecendo ali nas localidades mais próximas. Nas mais afastadas eu não sei nem o que acontece por lá. Então, nas próximas daqui o “postinho” funciona, as pessoas têm a cultura de vir para o “postinho”, o “postinho” vai lá, conhece a população, conhece os pacientes, conhece a família dos pacientes, que é como deveria funcionar. Mas é só nesse raio aqui. (6BA1MED2 - Semiárido) |
Aqui nessa unidade é a que tem menos adesão desse tipo de organização. Eles querem sempre consulta. Quando passa mal vem, quando não passa, não vem. [...] Esse acompanhamento, muitas vezes, a gente tem que fazer em casa, ir na casa do paciente para aferir a pressão, ver o remédio, pegar o remédio, coloca: “Tem que colocar o remédio “separadinho”!”. Mesmo assim: “Ah, ela não está tomando”. A gente volta de novo, porque se esperar eles virem aqui, é difícil a adesão. (2MG6MED2 - Norte de Minas Gerais) |