Consideração da dinâmica do espaço territorial |
“Tenho atualmente cadastradas quatro mil seiscentos e trinta e poucas [pessoas]. Agora, fora do cadastro, deve ter umas mil a mais, que não tem CPF, não tem identidade (...). Sumamente pobre, porque, por exemplo, na parte que eu falei, dentro da favela tem uma favelinha, que tenho cadastrados uns quinhentos. Mas fora os que não tenho cadastrados, que atendo também, devo ter uns mil e cem, mais ou menos, muitas pessoas” (M17) |
“Assim, tenho visto muitas doenças que, realmente, nunca tinha visto. Tinha visto só de livro. (...) Por exemplo, tuberculose, eu tive só um caso de tuberculose na minha vida. Quase dez anos de formada e eu nunca tinha visto um tuberculoso. Vi só um. E aqui, eu estou atendendo agora catorze. Só de uma vez, entendeu?” (M16) |
“A gente faz, pelo menos eu faço, sexta-feira, toda sexta-feira de manhã, faço muitos grupos. Vou dentro da comunidade mesmo. (…) A gente vai lá dentro, graças a Deus, eles me conhecem, trabalhei lá três anos praticamente. E é ‘doutora, o que foi? Tudo bem? Ah, doutora!’. Entendeu? E a gente tem uma parceria. ‘Vamos aqui, a gente vai fazer a ‘provinha’ para todo mundo. A gente vai fazer...’. A ‘provinha’ da escala. A gente vai lá, toma a amostra, a gente faz teste rápido [de sífilis e HIV] lá dentro também. A gente faz muita palestra, reparte muita camisinha” (M6) |
“Todos os meus supervisionados fazem grupo. (…) O paciente recebeu o médico em casa, abriu as portas da casa dele, para ele poder fazer um grupo dentro da comunidade. Dentro da casa do paciente. Todo mundo conhecia” (S1) |
Centralidade do sujeito e sua autonomia |
"Cada pessoa tem um olhar da vida, da doença, da saúde. Assim é como eu avalio os pacientes. E sempre olhando que o paciente é um ser biopsicossocial. O paciente não é um coração, o paciente não é um fígado, o paciente não é um dedo, não é uma mão. O paciente aqui é olhado de forma, vamos falar, universal” (M4) |
“Aqui, o paciente chega com dor ou chega carente de afeto, de carinho. Quando chegam aqui, se sentam aí. Eu não tenho o costume disso. Eu faço assim com o paciente [arrasta a cadeira para o lado da mesa]. Eu quero falar com eles, eu me coloco aqui [ao lado do paciente]” (M12) |
“Se no exercício a aplicação do método [clínico centrado na pessoa] funciona - você percebe na relação que eles têm com o paciente, no vínculo que criam, no exercício de descobrir qual a vivência que o paciente tem da doença em si etc. - eu não sei se a gente precisa ser tão acadêmico assim” (S2) |
“Porque o paciente pode saber da doença, mas não sabe nada de medicina, entendeu? Então você orienta, por exemplo, tratamentos, orienta exames. E conversa com ele a importância de fazer, o que vai fazer em cada um. E, às vezes, ele dá uma sugestão, e você pode ou não apoiar essa sugestão que ele vai te dar” (M3) |
Intersetorialidade |
“A gente faz ações programadas, planejadas, nessa escola com essas crianças. A gente fazia ações aqui no estaleiro. Mas principalmente o PSE [Programa Saúde na Escola]” (M1) |
“Na associação de moradores, (...) eles emprestam o local para fazer qualquer atividade aqui da unidade [de saúde], o lugar é bem grande e ajudam a Clínica da Família para fazer qualquer atividade” (M7) |
“CRAS? Eu não conheço pessoalmente, mas sei da referência. E, assim, a gente tem apoio do NASF, não sei se você sabe, é o Núcleo de Apoio, e eles têm uma assistente social. Então, quando a gente tem algum problema desse tipo, geralmente, a gente se apoia neles porque, a mesma coisa, eu não consigo fazer esse tipo de articulação porque fica muito complicado para mim, sair do meu atendimento para ir para lá” (M16) |
“Quando eu percebo que a intersetorialidade funciona um pouco mais ou existe é porque o gerente é mais engajado ou mais proativo neste sentido. E assim acaba conseguindo fazer um pouco mais essa articulação no território. Ou com agente comunitário, mas aí os agentes comunitários têm mais a ver com a associação de moradores. Com outros setores assim, aí é mais com os gerentes mesmos” (S3) |
Valorização dos determinantes sociais |
“Os meus [supervisionados] eu observo que eles conseguem priorizar bem. Organizar bem esse cuidado da população vulnerável. A maioria deles trabalha com população vulnerável. Então, quando eu vou fazer supervisão e converso e eles me apontam: ah, eu vi um caso assim, eu estou fazendo VD [visita domiciliar] toda semana ou a enfermeira vai primeiro e eu vou na mesma semana” (S1) |
“Quando moro numa comunidade que não tem espaços de lazer, não tem opções de lazer, só tem tráfico, só tem violência, só tem tiro, só tem a polícia que entra, condições de moradia inadequadas, você pode não estar doente, mas, em algum momento, vai chegar essa doença. (…) O principal problema para a gente conseguir mudanças é conseguir juntar, unir essa vontade da saúde, esse conhecimento que têm os profissionais da saúde, para conseguir mudança com esse investimento externo, social” (M5) |
Participação ativa das coletividades na construção de projetos de saúde |
“Consultamos a associação de moradores e líderes comunitários para conhecer a história dessa comunidade. Porque eu, por exemplo, no dia que cheguei aqui, eu não conhecia nada. (…) Em cada microárea, temos que identificar quem são os líderes de cada microárea, para facilitar o trabalho nosso. Eles apontam principalmente o acúmulo de lixo, às vezes, as condições da rua, que tem muitos buracos” (M8) |
“A gente trabalha em conjunto. (...) e trabalha com líderes formais e não formais. Com o chefe da comunidade, a gente trata de falar [até] mesmo com o chefe do tráfico” (M6) |
“A análise da situação de saúde tem várias variáveis, tem múltiplas etapas que têm que ser complementadas. Então, relativo à saúde se faz levantamento, se utiliza os prontuários (…). Mas não vamos falar que tudo está feito, que tudo não se pode fazer. Essa discussão com a comunidade toda, não podemos chegar até lá agora. Não chegamos porque é muito difícil para reunir a comunidade toda” (M14) |