Hospitalizações por doenças tropicais negligenciadas no Piauí, Nordeste do Brasil: custos, tendências temporais e padrões espaciais, 2001-2018

Brito, Sheila Paloma de Sousa; Lima, Mauricélia da Silveira; Ferreira, Anderson Fuentes; Ramos Jr., Alberto Novaes

doi:10.1590/0102-311XPT281021

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Sumário

ARTIGO • Cad. Saúde Pública 38 (8) • 2022 • https://doi.org/10.1590/0102-311XPT281021 copiar

Hospitalizações por doenças tropicais negligenciadas no Piauí, Nordeste do Brasil: custos, tendências temporais e padrões espaciais, 2001-2018

Hospital admissions due to neglected tropical diseases in Piauí, in the Northeast region of Brazil: costs, time trends, and spatial patterns, 2001-2018

Hospitalizaciones por enfermedades tropicales desatendidas en Piauí, Nordeste de Brasil: costos, tendencias temporales y patrones espaciales, 2001-2018

Autoria SCIMAGO INSTITUTIONS RANKINGS

Caracterizar a magnitude das internações hospitalares e custos por doenças tropicais negligenciadas, suas tendências temporais e padrões espaciais no Piauí, Nordeste do Brasil, 2001-2018. Estudo ecológico misto, com cálculo de risco relativo (RR) e análise de tendência temporal por regressão de Poisson, pontos de inflexão, utilizando-se dados de Autorizações de Internações Hospitalares por doenças tropicais negligenciadas via Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde (SIH/SUS). Verificaram-se 49.832 internações hospitalares por doenças tropicais negligenciadas (taxa: 86,70/100 mil habitantes; IC95%: 83,47; 89,93) no período, principalmente dengue (78,2%), leishmanioses (8,6%) e hanseníase (6,4%). O custo total foi de R$ 34.481.815,43, sendo 42,8% de média complexidade. Maiores riscos de hospitalizações ocorreram em: pessoas ≥ 60 anos (RR = 1,8; IC95%:1,5; 2,2), etnia/cor parda (RR = 1,7; IC95%: 1,1; 2,4), residentes em municípios de média vulnerabilidade social (RR = 1,5; IC95%: 1,3; 1,6) e porte populacional (RR = 1,6; IC95%: 1,4; 1,9). A tendência temporal foi de redução nas taxas de internações hospitalares por doenças tropicais negligenciadas, 2003-2018 (variação percentual anual - APC: -10,3; IC95%: -14,7; -5,6). O padrão espacial apresentou aglomerados com maiores taxas de internações hospitalares nos municípios limítrofes ao sul da macrorregião Meio-norte, norte do Semiárido e sul dos Cerrados. O Piauí persiste com elevadas taxas de hospitalizações e custos por doenças tropicais negligenciadas. Apesar da redução nas tendências temporais, o conhecimento de sua carga, seus grupos populacionais e municípios de maior risco e vulnerabilidade reforçam a importância do monitoramento e fortalecimento das ações de controle para manutenção na redução da carga e custos de internações hospitalares por doenças tropicais negligenciadas no estado.

Palavras-chave:
Doenças Negligenciadas; Hospitalização; Morbidade; Análise Espacial; Estudos de Séries Temporais

Causa/Doença tropical negligenciada	Código CID-10 ²⁶26. World Health Organization. International statistical classification of diseases and related health problems (ICD): 10th revision. https://icd.who.int/browse10/2010/en (acessado em 13/Nov/2020). https://icd.who.int/browse10/2010/en...	Diagnóstico principal		Total de internações hospitalares *		Taxa média de internações hospitalares		Tempo médio de internações hospitalares **		Custo total das AIH ***
Causa/Doença tropical negligenciada		n	%	n	%	Taxa	IC95%	Dias	Mínimo; Máximo	(R$)
Protozoários
Doença de Chagas	B57	204	0,4	204	0,4	0,3	0,0; 0,8	5	0; 73	2.116.839,32
Leishmanioses	B55	4.291	8,7	4.293	8,6	5,3	2,0; 9,0	14	0; 130	2.871.220,63
THA (doença do sono)	B56	2	0,0	2	0,0	-		3	1; 4	397,68
Helmintos ^#
Esquistossomose	B65/N22	43	0,1	44	0,1	0,1	0,0; 0,2	6	1; 33	25.497,55
HTS	B76-B77/B79	34	0,1	34	0,1	0,0	0,0; 0,1	4	1; 18	15.091,01
Cisticercose/Teníase	B68-B69	154	0,3	154	0,3	0,3	0,0; 0,6	9	1; 47	122.253,31
Equinococose	B67	56	0,1	56	0,1	0,1	0,0; 0,3	7	5; 19	94.567,12
Filariose linfática	B74	21	0,0	21	0,0	0,0	0,0; 0,1	7	1; 33	20.179,55
Bactérias
Hanseníase	A30/B92	3.175	6,4	3.176	6,4	1,3	0,6; 2,2	25	0; 64	4.871.126,89
Tracoma	A71/B94	2	0,0	2	0,0	-		17	11; 23	1.336,17
Úlcera de Buruli	A31.1	355	0,7	355	0,7	0,5	0,2; 0,8	4	1; 58	531.154,30
Treponematoses	A65-A67	19	0,0	19	0,0	0,0	0,0; 0,1	4	1; 32	14.501,51
Vírus
Raiva	A82	6	0,0	6	0,0	0,0	0,0; 0,1	20	4; 42	31.789,63
Dengue	A90-A91	38.956	78,7	38.982	78,2	62,1	50,5; 73,8	3	0; 732	21.739.450,25
Chikungunya	A92	198	0,4	198	0,4	0,22	0,1; 0,4	4	1; 22	51.119,23
Fungos
Micetoma	B47	6	0,0	6	0,0	0,0	0,0; 0,0	11	2; 30	5.556,88
Cromoblastomicose	B43	78	0,2	78	0,2	0,2	0,1; 0,2	6	2; 78	69.419.96
Histoplasmose	B39	10	0,0	10	0,0	0,0	0,0; 0,0	4	1; 14	8.544,97
Coccidioidomicose	B38	201	0,4	201	0,4	0,5	0,0; 1,3	9	0; 70	225.169,10
Paracoccidioidomicose	B41	148	0,3	148	0,3	0,3	0,0; 0,6	25	1; 190	448.094,80
Esporotricose	B42	13	0,0	13	0,0	0,0	0,0; 0,1	9	2; 28	12.255,08
Criptococose	B45	201	0,4	201	0,4	0,3	0,0; 0,8	29	0; 158	532.081,76
Parasitas ^#
Escabiose	B86	1	0,0	1	0,0	-		1	1; 1	142,13
Larva migrans cutânea	B83	23	0,1	23	0,1	0,0	0,0; 0,1	4	2; 10	12.181,62
Miíase	B87	67	0,1	68	0,1	0,2	0,0; 0,4	4	0; 14	26.011,59
Animais peçonhentos
Picada de cobra	T63.0	1.246	2,5	1.246	2,5	3,5	1,3; 6,0	3	0; 40	511.821,15
Serpente/Lagartos	X20			291	0,6	0,9	0,1; 1,8	3	0; 12	113.995,45
Total	-	49.510	100,0	49.832	100,0	76,2	62,5; 90,0	6	0; 732	34.481.815,43

Vaiáveis	Hospitalizações		Taxa bruta		RR	IC95%	Valor de p *
Vaiáveis	n	%	Taxa/100 mil habitantes	IC95%
Hospitalizações por doenças tropicais negligenciadas	49.832	100,0	86,7	83,5; 89,9	-		-
Óbitos hospitalares por doenças tropicais negligenciadas	314	0,6	0,5	0,3; 0,8	-		-
Níveis de complexidade
Média	21.323	42,8	998,0	955,9; 1.040,0	76,5	10,8; 543,4	< 0,0001
Alta	7	0,0	12,9	0,4; 63,6	Referência
Sexo **
Feminino	25.747	51,7	89,9	85,3; 94,6	1,0	1,0; 1,1	0,0022
Masculino	24.084	48,3	87,5	82,9; 92,2	Referência
Faixa etária (anos)
0-4	3.202	6,4	71,9	61,4; 82,5	Referência
5-14	5.359	10,8	51,2	45,4; 57,0	0,7	0,6; 0,9	0,0003
15-19	4.857	9,8	89,4	78,8; 100,1	1,2	1,0; 1,5	0,0239
20-39	16.833	33,8	90,7	84,9; 96,6	1,3	1,1; 1,5	0,0045
40-59	11.692	23,5	104,2	96,5; 112,2	1,5	1,2; 1,7	< 0,0001
≥ 60	7.889	15,8	132,0	119,6; 144,3	1,8	1,5; 2,2	< 0,0001
Etnia/Cor **
Branca	510	3,6	6,8	4,9; 8,6	0,2	0,1; 0,3	< 0,0001
Parda	13.003	92,4	64,9	61,4; 68,4	1,7	1,1; 2,4	0,0114
Preta	300	2,1	10,4	6,7; 14,1	0,3	0,2; 0,5	< 0,0001
Amarela	260	1,9	39,3	26,1; 56,5	Referência
IVS
Baixo	11.869	23,8	69,7	64,4; 75,0	Referência
Médio	10.143	20,4	102,0	93,6; 110,4	1,5	1,3; 1,6	< 0,0001
Alto	15.132	30,4	94,5	88,2; 100,9	1,4	1,2; 1,5	< 0,0001
Muito alto	12.688	25,5	96,5	89,4; 103,6	1,4	1,2; 1,5	< 0,0001
Porte municipal
Pequeno porte I	21.262	42,7	90,8	85,6; 96,0	1,3	1,2; 1,4	< 0,0001
Pequeno porte II	12.551	25,2	104,9	97,1; 112,7	1,5	1,3; 1,7	< 0,0001
Médio porte	3.879	7,8	112,0	97,0; 126,9	1,6	1,4; 1,9	< 0,0001
Grande porte	12.140	24,4	70,2	64,9; 75,5	Referência
Macrorregiões
Litoral	9.445	19,0	78,9	72,1; 85,6	0,9	0,8; 1,0	0,1057
Meio-norte	19.431	39,0	79,7	74,9; 84,4	9,1	8,2; 10,1	< 0,0001
Semiárido	11.697	23,5	111,7	103,1; 120,3	1,3	1,1; 1,4	< 0,0001
Cerrados	9.259	18,6	87,2	79,7; 94,7	Referência

Variáveis/Período	Tendências
Variáveis/Período	APC	IC95%
Hospitalizações por doenças tropicais negligenciadas
2001-2003	67,2	-42,5; 385,7
2003-2018	-10,3 *	-14,7; -5,6
2012-2018	8,7	-5,4; 24,9
Custo total (R$) das AIH por doenças tropicais negligenciadas **
2001-2003	72,0	-34,2; 349,6
2003-2018	-12,4 *	-16,5; -8,0
Óbitos hospitalares por doenças tropicais negligenciadas
2001-2003	57,6	-29,3; 251,5
2003-2018	-2,7 *	-5,3; -0,1
Sexo
Feminino
2001-2018	-8,5 *	-12,9; -3,9
Masculino
2001-201	-6,9 *	-10,7; -2,9
Faixa etária (anos)
0-4
2001-2016	4,9 *	2,1; 7,8
2016-2018	-43,8	-75,6; 29,5
0-14
2001-2006	29,2	-6,4; 78,2
2006-2018	-15,5 *	-22,7; -7,7
15-19
2001-2003	68,3	-48,4; 449,3
2003-2018	-9,2 *	-14,6; -3,4
20-39
2001-2018	-9,8 *	-14,1; -5,2
40-59
2001-2018	-10,5 *	-14,1; -6,2
≥ 60
2001-2003	91,0	-36,6; 475,2
2003-2018	-11,8 *	-15,6; -7,9
Etnia/Cor
Branca
2009-2014	-10,2	-20,7; 1,8
2014-2018	-3,9	-23,2; 20,4
Parda
2009-2011	1,0	-25,8; 37,4
2011-2018	-21,5 *	-26,8; -15,8
Preta
2009-2014	-16,6	-37,8; -11,8
2014-2018	6,0	-38,8; 83,5
Amarela
2009-2016	97,7 *	44,7; 170,1
2016-2018	-26,4	-64,1; 50,6
IVS
Baixo
2001-2018	-9,6 *	-13,6; -5,4
Médio
2001-2010	4,1	-4,1; 13,1
2010-2018	-26,0 *	-36,7; -13,5
Alto
2001-2018	-6,7 *	-11,2; -2,1
Muito alto
2001-2018	-4,5 *	-8,5; -0,4
Porte municipal
Pequeno porte I
2001-2018	-8,4 *	-12,8; -3,7
Pequeno porte II
2001-2012	4,7	-1,0; 10,7
2012-2018	-23,5 *	-37,8; -5,8
Médio porte
2001-2003	122,3 *	39,5; 254,3
2003-2006	-59,8 *	-81,3; -13,5
2006-2010	41,3 *	5,1; 90,0
2010-2018	-28,7 *	-35,4; -21,2
Grande porte
2001-2007	12,0	-2,2; 28,3
2007-2018	-16,6 *	-22,6; -10,2
Macrorregiões
Litoral
2001-2007	25,6 *	4,6; 50,7
2007-2018	-13,5 *	-19,4; -7,1
Meio-norte
2001-2007	3,1	-11,0; 19,3
2007-2018	-13,6 *	-20,9; -5,6
Semiárido
2001-2003	142,9 *	10,0; 436,3
2003-2006	-52,8	-81,5; 20,6
2006-2010	28,1	-11,0; 84,4
2010-2018	-25,5 *	-34,4; -15,3
Cerrados
2001-2010	5,2	-6,3; 18,0
2010-2018	-15,5 *	-27,9; -1,0

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[1] Correspondência
S. P. S. Brito Programa de Pós-graduação em Saúde Pública, Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará. Rua Professor Costa Mendes 1608, Bloco Didático, 5º andar, Fortaleza, CE 60430-140, Brasil. sheila.psb@gmail.com