Acessibilidade / Reportar erro

As ferramentas de tradução no contexto digital na Galiza: estudo de caso

Translation tools in the Galician digital context: A case study

Resumo

Graças à globalização, alguns sistemas culturais subalternos ficaram à margem do fluxo internacional do capital económico e cultural. Tal é o caso do sistema galego, dependente do espanhol, situado no topo da hierarquia no Estado espanhol e que recebe a maioria dos investimentos públicos. Apesar da escassez de orçamentos destinados a projetos em galego, alguns estudos (Montero Küpper, 2017, 2020) demonstraram que a tradução desempenha um papel crucial para a construção sociocultural da Galiza e para a normalização da língua. De modo análogo, o crescente desenvolvimento da tecnologia motivou a adoção de recursos e ferramentas digitais para auxiliar/otimizar o processo tradutório. A criação de ferramentas e recursos para línguas como o inglês evidencia mais a carência tecnológica para línguas minoritárias como o galego. Contudo, González (2005) aponta para o surgimento de diferentes ferramentas e recursos de tradução que trabalham com o galego, embora não sejam considerados suficientes. É neste contexto que se enquadra a presente investigação, que visa analisar as atitudes/percepções dos profissionais da tradução galegos relativamente às ferramentas e recursos digitais e investigar o modo como a tecnologia tem afetado o mercado de trabalho em tradução na Galiza. Quanto à metodologia, foi realizado um questionário seguindo uma abordagem da Sociologia da Tradução, tendo em conta que consideramos decisivo definir, em termos sociodemográficos, a amostra de profissionais recolhida. Foram elaboradas questões que permitiram uma análise das atitudes dos profissionais perante as ferramentas e recursos de tradução e sobre as quais nos debruçamos pormenorizadamente neste artigo.

Palavras-chave
ferramentas de tradução; recursos de tradução; galego; sociologia da tradução

Abstract

Globalization has pushed subaltern cultural systems to the margins of the international flow of economic and cultural capital. Such is the case of the Galician system, which is dependent on the Spanish one, situated at the top of the hierarchy in the Spanish state and receiving most of the public investments. Despite the scarcity of budgets allocated to projects in Galician, some studies (Montero Küpper, 2017, 2020) have shown that translation plays a crucial role in the sociocultural establishment of Galicia and in the normalization of the language. Similarly, the increasing development of technology has prompted the adoption of digital resources and tools to assist/optimize the translation process. The creation of tools and resources for languages such as English further highlights the contrasting technological shortcomings for minority languages like Galician. Nevertheless, González (2005) points to the emergence of different translation tools and resources that work with Galician, although they are not considered as sufficient. Our research is framed in this theoretical context, aiming to analyze the attitudes/perceptions of Galician translation professionals towards digital tools and resources and investigate how technology affects their work in Galicia. As for the methodology, we conducted a questionnaire following an approach stemming from the Sociology of Translation, since we considered this to be decisive so as to define, in sociodemographic terms, our sample of professionals. The questions asked allowed us to analyze professionals’ attitudes towards translation tools and resources, the outcomes of which will be discussed in detail in this article.

Keywords
translation tools; translation resources; Galician; sociology of translation

1. Introdução

Nos dias de hoje, as ferramentas e os recursos informáticos desempenham um papel fundamental no mundo da tradução (cf. Nogueira & Nogueira, 2004Nogueira, D., & Nogueira, V. M. C. (2004). Por que usar programas de apoio à tradução? Cadernos de Tradução, 2(14), 17–35.). A ideia desta investigação surge primeiramente do interesse em analisar a importância destas ferramentas e recursos de tradução num campo de trabalho caracterizado pela falta de independência plena em termos socioeconómicos, como é o caso do galego. Desta forma, investigamos quais as atitudes dos profissionais da área da tradução e da interpretação galegos relativamente às CAT Tools.

Para este fim, tomamos como ponto de partida alguns aspetos teóricos, dentre os quais se destacam a importância da tradução na Galiza e a relação existente entre línguas menorizadas/minoritárias, nomeadamente o galego, e as novas tecnologias. Assim sendo, na segunda secção é apresentado um panorama geral destes aspetos: por um lado, analisamos como determinados fatores económicos e culturais podem desde logo levar à maior estabilidade da situação da tradução e da língua galega (Montero Küpper, 2017Montero Küpper, S. (2017). Sobre as subvencións públicas á tradución editorial galega. Madrygal: Revista de Estudios Gallegos, 20, 103–112. https://doi.org/10.5209/MADR.57632
https://doi.org/10.5209/MADR.57632...
, 2020Montero Küpper, S. (2020). Sen tradución non hai Acción exterior galega. IDAGI. www.igadi.gal/web/analiseopinion/sen-traducion-non-hai-accion-exterior-galega
www.igadi.gal/web/analiseopinion/sen-tra...
); por outro lado, consideramos qual a presença do galego em recursos tecnológicos e o desenvolvimento dos recursos/ferramentas que trabalham especificamente com o galego (González, 2005González, M. (2005). A investigación ao servizo da normalización da lingua galega na sociedade da información. In Universidade da Coruña (Ed.), Lingua e investigación: II Xornadas sobre Lingua e Usos (pp. 147–163). Servizo de Normalización Lingüística da UDC.).

Esta base teórica permite formular duas perguntas de investigação que estruturam a discussão dos resultados obtidos: como se concretiza o processo de tradução de e para o galego? Em que medida podem as CAT Tools facilitar o trabalho dos profissionais de tradução para este idioma em específico? Em termos gerais, podemos estabelecer uma primeira hipótese considerando o processo de tradução, pois a maior parte dos textos vai ser provavelmente do âmbito da literatura, uma vez que os subsídios públicos estão destinados sobretudo para este fim. Assim, muitos tradutores vão trabalhar sem utilizarem CAT Tools, já que o galego terá pouca presença nestas ferramentas. Aliás, o facto de trabalharem com textos literários dificulta a utilização de CAT Tools pela segmentação estrita do texto e pela possível redução da sua criatividade.

A fim de poder responder a estas questões, a nossa metodologia centra-se na realização de um estudo etnográfico, mais concretamente de um questionário. O questionário permite tirar conclusões acerca dos hábitos tradutórios na Galiza. Devemos também esclarecer a importância e a relevância do nosso trabalho, uma vez que a situação da língua galega relativamente aos processos de tradução tem sido pouco analisada e estudada. Com este projeto de investigação contribuímos para a realidade galega nesta área de trabalho.

2. Enquadramento teórico

Esta secção trata do fundamento teórico subjacente à pesquisa. Por um lado, analisamos a importância da tradução no sistema cultural galego, entendendo este sistema como estando subordinado a políticas culturais do Estado espanhol. Por outro lado, centramos a nossa atenção na importância que têm atualmente as ferramentas e recursos de tradução assistida por computador, embora seja muito complexa a realidade existente para línguas menorizadas como o galego1 1 Utilizamos o termo “língua menorizada” tendo em conta a situação sociolinguística do galego, estando subordinado a outra língua de prestígio, neste caso o espanhol. Assim sendo, surge uma dicotomia entre língua A (espanhol) e língua B (galego), aparecendo, no caso da língua galega, muitos preconceitos e ideias que contribuem para o seu desprestígio. Podemos ainda entender o galego como língua minoritária, mas esta denominação prende-se mais especificamente com o número de falantes. .

2.1 A importância da tradução na Galiza

Atualmente, a globalização e o capitalismo fazem com que alguns sistemas culturais considerados como subalternos2 2 Winck (2014) define o sistema literário e cultural galego como subalterno e dependente do sistema espanhol, aquele que tem maior poder e que se situa no topo da hierarquia. Esta será a perspectiva abordada neste trabalho, embora haja uma parte importante de investigadores a favor de uma integração do sistema galego dentro do português ou do lusófono. Para mais informações sobre este assunto, veja-se Herrera Valeiro (2015). (Montero Küpper, 2020Montero Küpper, S. (2020). Sen tradución non hai Acción exterior galega. IDAGI. www.igadi.gal/web/analiseopinion/sen-traducion-non-hai-accion-exterior-galega
www.igadi.gal/web/analiseopinion/sen-tra...
) como, por exemplo, o galego, fiquem à margem do fluxo internacional de capitais. Neste sentido, Montero Küpper (2020, s. p., tradução nossa)Montero Küpper, S. (2020). Sen tradución non hai Acción exterior galega. IDAGI. www.igadi.gal/web/analiseopinion/sen-traducion-non-hai-accion-exterior-galega
www.igadi.gal/web/analiseopinion/sen-tra...
defende que “a tradução (em termos de importação e exportação) desempenha uma especial função na reconfiguração do sistema cultural”3 3 No texto fonte: “A tradución (en termos de importación e exportación) cumpre unha especial función na reconfiguración do sistema cultural”. .

Desta forma, é igualmente interessante introduzir a relação que Bourdieu (1979Bourdieu, P. (1979). La Distinction: critique sociale du jugement. Les Editions de Minuit., 1986Bourdieu, P. (1986). The forms of capital. In J. G. Richardson (Ed.), Handbook of Theory and Research for the Sociology of Education (pp. 241–258). Greenwood Press., 1994)Bourdieu, P. (1994). Raisons pratiques: sur la théorie de l’action. Editions Seuil. estabelece entre a existência de um capital económico e de um capital cultural4 4 Entendemos, de acordo com Herrera Valeiro (2015, p. 51), o capital económico como sendo “[...] aquele gerado pela posse ou pelo controlo dos fatores que intervêm na posição dos agentes a respeito das relações de produção”. Por sua parte, o capital cultural é “aquele [...] gerado pela posse de informação ou formação cultural por parte de um agente social, individual ou coletivo” (Herrera Valeiro, 2015, p. 51). Bourdieu estabelece uma diferença entre outros tipos de capital, mas estes não parecem relevantes para o objetivo deste trabalho. . A conjunção destes dois tipos de capital dá origem a um capital global e espaço social fortemente condicionados pela ausência ou existência de posse. Daí que o sistema galego seja amiúde considerado deficiente ou dominado, por ser o capital, quer econômico, quer cultural, que possibilita ganhar maior poder e autonomia.

Conforme estas ideias, é possível afirmar que a tradução seria um excelente veículo de incrementação do capital cultural e, consequentemente, económico, do sistema galego. Uma vez que o galego é frequentemente considerado língua menorizada (Cronin, 1995Cronin, M. (1995). Altered States: Translation and Minority Languages. TTR, 8(1), 85–103. https://doi.org/10.7202/037198ar
https://doi.org/10.7202/037198ar...
), a tradução pode ser fundamental para a sua adaptação ao mundo moderno e até contribuir para estabelecer uma posição estratégica. Importar textos escritos originalmente noutras línguas estrangeiras, assim como exportar textos de autores galegos, contribui não só para a presença desta realidade no mundo, mas também deve ser entendido como um passo prévio para atingir a normalização linguística e cultural na Galiza (Montero Küpper, 2020Montero Küpper, S. (2020). Sen tradución non hai Acción exterior galega. IDAGI. www.igadi.gal/web/analiseopinion/sen-traducion-non-hai-accion-exterior-galega
www.igadi.gal/web/analiseopinion/sen-tra...
).

No entanto, do ponto de vista sociopolítico, o apoio e o investimento público para a realização de traduções também são essenciais. Montero Küpper (2017)Montero Küpper, S. (2017). Sobre as subvencións públicas á tradución editorial galega. Madrygal: Revista de Estudios Gallegos, 20, 103–112. https://doi.org/10.5209/MADR.57632
https://doi.org/10.5209/MADR.57632...
analisa a evolução dos orçamentos públicos no âmbito das traduções, tanto do galego (“extra-traduções”) como para o galego (“intra-traduções”), e conclui que têm minguado enormemente os investimentos por parte da Administração do Estado espanhol e do governo galego. Além disso, também se destaca o facto de a maioria do dinheiro público estar destinado à tradução literária clássica. Isto impede a proliferação de obras literárias contemporâneas, assim como de publicações dos âmbitos científico e técnico.

Tendo em conta o supramencionado, e em relação às hipóteses colocadas nesta investigação, consideramos que os resultados da nossa pesquisa confirmarão que a maior parte da tradução com a língua galega provém de textos literários. Esta hipótese relaciona-se não só com o fato de boa parte do orçamento de tradução estar destinado à tradução literária, mas também com o fato de existirem observatórios e organizações na Galiza que apoiam principalmente este tipo de tradução. Tal é o caso da Biblioteca de Tradución Galega (BITRAGA), projeto subsidiado pela Universidade de Vigo e pelo governo, que analisa as traduções literárias publicadas na Galiza desde 1980 até à atualidade.

Da mesma forma, é fulcral salientar o papel que desempenham algumas associações, cujo objetivo é não só fomentar o uso do galego na tradução, mas também contribuir e melhorar as subvenções disponíveis para profissionais da tradução na Galiza. Destaca-se a Asociación Galega de Profesionais da Tradución e da Interpretación (AGPTI), que planeja pôr à disposição dos profissionais galegos da tradução e da interpretação melhorias nos âmbitos linguístico, legal, administrativo e económico.

Esta configuração do panorama da tradução galega é essencial para a sua normalização económico-social, mas também para a normalização linguística. A aprovação da primeira Lei de Normalización Lingüística do Galego (Diario Oficial de Galicia, 1983Diario Oficial de Galicia. (1983). Lei 3/1983 de normalización lingüística. Parlamento de Galicia. https://www.parlamentodegalicia.es/sitios/web/BibliotecaLeisdeGalicia/Lei3_1983.pdf
https://www.parlamentodegalicia.es/sitio...
) constitui o ponto de partida para a legalidade do uso do galego em diferentes âmbitos da vida quotidiana: meios de comunicação, assuntos administrativos de governo e publicações, entre outros. Aliás, o mundo editorial, com as instituições académicas, culturais e governamentais, é o responsável pela introdução do galego como língua de tradução (Millán-Varela, 2000Millán-Varela, C. (2000). Translation, Normalisation and Identity in Galicia(n). Target, 12(2), 267–282. https://doi.org/10.1075/target.12.2.05mil
https://doi.org/10.1075/target.12.2.05mi...
).

Em consequência, precisamos da presença do galego em muitos âmbitos para além do literário, e, portanto, necessitamos de ter tradução. Todas as possibilidades de projetar a língua galega no exterior permitirão um avanço relativamente à sua normalização linguística e cultural. Assim, Millán-Varela (2000, p. 280, tradução nossa)Millán-Varela, C. (2000). Translation, Normalisation and Identity in Galicia(n). Target, 12(2), 267–282. https://doi.org/10.1075/target.12.2.05mil
https://doi.org/10.1075/target.12.2.05mi...
constata que “a voz universal precisa de ser ouvida em galego, mas a voz galega também precisa de ser ouvida no estrangeiro”5 5 No texto fonte: “the universal voice needs to be heard in Galician, but the Galician voice also needs to be heard abroad” (Millán-Varela, 2000, p. 280). .

Nesta secção foi descrito, resumidamente, o panorama cultural em que se inscreve a presente investigação. Contudo, é necessário recordar que a consideração que temos das línguas já não depende muito do número de falantes, mas sim de outros fatores como a adaptabilidade ao mundo moderno ou a possibilidade de terem uma posição estratégica (em termos políticos) no nível global. Tendo em conta os objetivos deste trabalho e de acordo com Cronin (1995, p. 95, tradução nossa)Cronin, M. (1995). Altered States: Translation and Minority Languages. TTR, 8(1), 85–103. https://doi.org/10.7202/037198ar
https://doi.org/10.7202/037198ar...
: “o estatuto minoritário da língua na situação de tradução já não está relacionado com o número de falantes e a existência de uma infraestrutura editorial, mas com a implantação da língua nos desenvolvimentos tecnológicos6 6 No texto fonte: “the minority status of language in the translation situation no longer arguably relates to the number of speakers and existence of a publishing infrastructure but to the implantation of the language in technological developments” (Cronin, 1995, p. 95). ”.

2.2 A era digital: panorama galego

Como referido anteriormente, o desenvolvimento tecnológico é essencial para a prevenção da desaparição de línguas menorizadas. A globalização trouxe consigo uma necessidade constante de adaptação a novas realidades. A criação contínua de ferramentas e recursos para línguas estabelecidas, como o inglês, o espanhol ou o português, acentuou a evidência e a preponderância dos défices deste estabelecimento tecnológico para línguas como o galego. Neste sentido, a consecução duma fase de normalização para o galego só é possível através do desenvolvimento de Tecnologias de Informação e da Comunicação (TICs) que permitam conferir estabilidade à situação sociolinguística. Assim, o Plan Xeral de Normalización da Lingua Galega, aprovado em 2004 no Parlamento galego (Xunta de Galicia, 2004Xunta de Galicia. (2004). Plan Xeral de Normalización da Lingua Galega. Xunta de Galicia. https://www.lingua.gal/c/document_library/get_file?file_path=/portal-lingua/estandar/PNL22_24_textointegro.pdf
https://www.lingua.gal/c/document_librar...
), já contempla, entre os seus objetivos gerais, os seguintes:

B.1. Promover a presença do galego nas novas tecnologias e na telefonia móvel.

B.2. Conseguir uma oferta ampla e competitiva de produtos e recursos informáticos na Galiza.

B.3. Promover a presença da língua galega na Internet.

B.4. Promover a investigação em tradução automática, reconhecimento e síntese de voz e outras novas técnicas que garantam a livre circulação do galego nos sistemas avançados da sociedade atual (Xunta de Galicia, 2004Xunta de Galicia. (2004). Plan Xeral de Normalización da Lingua Galega. Xunta de Galicia. https://www.lingua.gal/c/document_library/get_file?file_path=/portal-lingua/estandar/PNL22_24_textointegro.pdf
https://www.lingua.gal/c/document_librar...
, p. 51, tradução nossa)7 7 No texto fonte: “B.1. Fomentar a presenza do galego nas novas tecnoloxías e na telefonía móbil. B.2. Lograr unha oferta ampla e competitiva de produtos e recursos informáticos en galego. B.3. Potenciar a presenza da lingua galega en Internet. B.4. Potenciar a investigación da tradución automática, o recoñecemento e a síntese de voz, e outras novas técnicas […] que aseguren a libre circulación do galego nos sistemas avanzados da sociedade actual” (Xunta de Galicia, 2004, p. 51). .

Deve-se ainda salientar que, para o desenvolvimento de TIC são indispensáveis as ajudas financeiras provenientes dos órgãos públicos e, nesse sentido, os fatores sociopolíticos desempenham um papel crucial. Em seguida, apresenta-se uma análise de um ponto de vista mais metodológico acerca das ferramentas e recursos disponíveis para a língua galega na atualidade. O foco será sempre a tradução e, para tal fim, convém tornar clara a diferença entre ferramentas e recursos no âmbito da tradução:

Por recursos entendemos todos os conjuntos de dados organizados de uma determinada forma e que podem ser consultados numa determinada fase do processamento. Por exemplo, dicionários ou corpora [...] são conjuntos de dados que podem ser acedidos de diferentes formas8 8 No texto fonte: “By resources we refer to all sets of data that are organised in a particular manner and which can be looked up in the course of some phase of processing. For example, dictionaries or corpora [...] are sets of data that can be accessed in different ways” (Alcina, 2008, p. 94).

(Alcina, 2008Alcina, A. (2008). Translation technologies. Scope, tools and resources. Target, 20(1), 79–102. https://doi.org/10.1075/target.20.1.05alc
https://doi.org/10.1075/target.20.1.05al...
, p. 94, tradução nossa).

As ferramentas permitem aos tradutores introduzir e gerir a sua própria informação linguística, ao passo que os recursos são conjuntos de dados linguísticos previamente recolhidos que são disponibilizados em algum formato eletrônico para que possam ser utilizados ou consultados pelos tradutores9 9 No texto fonte: “Tools allow translators to introduce and manage their own linguistic information, whereas resources are sets of previously gathered linguistic data which are made available in some electronic format so that they can be used or looked up by translators” (Alcina, 2008, p. 98).

(Alcina, 2008Alcina, A. (2008). Translation technologies. Scope, tools and resources. Target, 20(1), 79–102. https://doi.org/10.1075/target.20.1.05alc
https://doi.org/10.1075/target.20.1.05al...
, p. 98, tradução nossa).

Tomando estas definições como ponto de partida, constata-se que é possível incluir na última categoria programas de tradução assistida por computador (CAT Tools) e programas de tradução automática. É habitual associar as ferramentas de tradução assistida ou tradução automática a alguns preconceitos, como a má qualidade ou a pouca fiabilidade. A propagação destas ideias deveu-se principalmente à difusão de alguns produtos com escasso nível de qualidade. Porém, admite-se que estas ferramentas constituem já um auxílio fundamental para o tradutor, uma vez que diminuem a carga de trabalho, principalmente ao trabalhar com línguas tipologicamente próximas (galego-espanhol, galego-francês, etc.). Nesta linha, também convém ter consciência dos âmbitos aos quais podem ser aplicadas estas ferramentas: é, por exemplo, difícil atingir resultados satisfatórios para textos com elevado valor literário (Alcina, 2008Alcina, A. (2008). Translation technologies. Scope, tools and resources. Target, 20(1), 79–102. https://doi.org/10.1075/target.20.1.05alc
https://doi.org/10.1075/target.20.1.05al...
; González, 2005González, M. (2005). A investigación ao servizo da normalización da lingua galega na sociedade da información. In Universidade da Coruña (Ed.), Lingua e investigación: II Xornadas sobre Lingua e Usos (pp. 147–163). Servizo de Normalización Lingüística da UDC.).

González (2005)González, M. (2005). A investigación ao servizo da normalización da lingua galega na sociedade da información. In Universidade da Coruña (Ed.), Lingua e investigación: II Xornadas sobre Lingua e Usos (pp. 147–163). Servizo de Normalización Lingüística da UDC. apresenta três ferramentas de tradução automática para a língua galega: Es-gl, Traduza e Apertium10 10 Já que somente se pretende fazer uma pequena introdução do panorama atual a nível tecnológico, e por questões metodológicas, não vamos analisar os pormenores das diferentes ferramentas e recursos existentes para a língua galega. Considera-se que a sua citação é suficiente para os resultados da presente investigação. . Nesta linha, também sobressai Carvalho, um sistema de tradução estatística que trabalha com o par de línguas inglês-galego (Pichel et al., 2009Pichel, J. R. P., Malvar, P., Senra, O. G., Gamallo, P., & García, A. (2009). Carvalho: EnglishGalician SMT system from EuroParl English-Portuguese parallel corpus. Procesamiento del Lenguaje Natural, 43, 379–381.). Podemos ainda mencionar o tradutor OpenTrad, software linguístico de código aberto que suporta todas as línguas do Estado espanhol (Ramírez Sánchez et al. 2006Ramírez Sánchez, G., Sánchez-Martínez, F., Ortiz Rojas, S., Pérez-Ortiz, J. A., & Forcada, M. L. (2006). Opentrad Apertium open-source machine translation system: an opportunity for business and research. Proceedings of the 28th International Conference on Translating and the Computer: 16-17 November 2006. ACL Anthology. https://aclanthology.org/2006.tc-1
https://aclanthology.org/2006.tc-1...
). Estas ferramentas foram construídas normalmente a partir de diferentes corpora existentes para a língua galega, ou a partir de adaptações quer desde o português, quer desde o espanhol.

Por sua parte, existem programas de tradução assistida que auxiliam as traduções com o galego. Destacam-se, entre outros, o Wordfast, o SmartCAT ou o MemoQ. Sendo ferramentas com competências globalmente e muito usadas com línguas com posição sociopolítica mais favorável, é importante destacar o facto de começarem a incorporar o galego como possível língua de trabalho. É importante usar o galego em mais ferramentas, não só devido à língua e à cultura, mas também porque este idioma precisa de se adaptar a um mercado globalizado e mais avançado. Aliás, embora seja necessária uma revisão humana posterior, estes programas auxiliam a resolver problemas e obstáculos na tradução, como as inconsistências terminológicas e ortográficas ou a formatação. Afirma-se, assim, que o uso adequado destas ferramentas é amiúde pré-requisito para a contratação de profissionais da tradução no contexto atual (Sikora & Walczynski, 2015Sikora, I., & Walczynski, M. (2015). Incorporating CAT Tools and ICT in the translation and interpreting training at the undergraduate level. In P. Grabowski & T. Piotrowski (Eds.), The Translator and the Computer (pp. 119–135). Wyższa Szkoła Filologiczna we Wrocławiu.).

Quanto aos recursos, aborda-se principalmente a existência de dicionários ou vocabulários, de corpora e de bases de dados terminológicas. No que diz respeito aos dicionários, destacam-se o Dicionario da Real Academia Galega (DRAG) o Dicionário Estraviz, o Dicionario de dicionarios da lingua galega (DdD) e o Vocabulario ortográfico da lingua galega (VOLG). Relativamente aos corpora, contamos com o Tesouro Informatizado da Lingua Galega (TILG), o Arquivo do Galego Oral (AGO) ou o Corpus de Referencia do Galego Actual (CORGA). Por último, quanto às bases de dados terminológicas, é salientável a criação do bUSCatermos e do TERGAL.

Desta forma, é possível concluir que atualmente há vários recursos para trabalhar com a língua galega disponíveis na Internet. Contudo, estas ferramentas e recursos podem ser, em termos gerais, insuficientes, por ser necessário um empenho constante a fim de alcançar uma posição sólida e estável para a língua galega. Não só há a necessidade de criação de ferramentas e recursos tecnológicos com o galego, como também se deve potenciar a capacidade para incorporar novas tecnologias em língua galega (González, 2005González, M. (2005). A investigación ao servizo da normalización da lingua galega na sociedade da información. In Universidade da Coruña (Ed.), Lingua e investigación: II Xornadas sobre Lingua e Usos (pp. 147–163). Servizo de Normalización Lingüística da UDC.).

Para o objetivo desta investigação, convém recordar ainda que os tradutores, apesar de alguns trabalharem em regime freelancer, devem integrar no seu trabalho diário ferramentas de tradução assistida e sistemas de tradução automática, para além de outras tecnologias (Torrejón, 2013Torrejón, E. (2013). La integración de tecnologías de la traducción: ¿bendición o maldición? Revista Tradumàtica: Traducció i Tecnologies de la Informació i de la Comunicació, 13, 561–570.). Nas seguintes secções, são analisados os resultados da presente investigação, mas, desde já, parte-se da hipótese de que, tendo em conta a atual situação sociolinguística do galego, a sua presença em alguns sistemas tecnológicos vai ser muito limitada. Além disso, pode-se já afirmar que estas ferramentas e recursos não se encontram ainda em fase avançada de desenvolvimento e que, portanto, apenas ajudam com traduções entre línguas tipologicamente muito próximas, sendo a sua eficácia reduzida ao trabalhar com outras mais afastadas, como o alemão ou o russo.

3. A investigação: metodologia

3.1 O estudo etnográfico

Perante as perguntas de investigação nas quais este trabalho se centra, o estabelecimento de um processo metodológico com ênfase na pesquisa qualitativa e etnográfica revelou-se desde logo como essencial, especialmente tendo em conta a componente cultural subjacente à investigação. Esta abordagem etnográfica parece ser a mais apropriada, e a literatura científica corrobora que a etnografia é utilizada de forma cada vez mais frequente em estudos de tradução: “nos estudos de tradução, as abordagens etnográficas, embora não sejam comuns, estão a aumentar e parece haver um interesse crescente por esta abordagem” (LeBlanc, 2013LeBlanc, M. (2013). Translators on translation memory (TM). Results of an ethnographic study in three translation services and agencies. The International Journal of Translation and Interpreting Research, 5(2), 1–13. https://doi.org/10.12807/ti.105202.2013.a01
https://doi.org/10.12807/ti.105202.2013....
, p. 3, tradução nossa)11 11 No texto fonte: “in translation studies, ethnographic approaches, while not common, are on the increase, and there seems to be a growing interest in this approach” (LeBlanc, 2013, p. 3). .

Deste modo, descreve-se o processo tradutório de uma amostra de tradutores que utiliza o galego como uma das suas línguas (de partida ou de chegada), focando especificamente as CAT Tools no seu quotidiano de tradução. Como referido, a existência de estudos prévios acerca da utilização deste tipo de ferramentas e recursos no contexto da Galiza é escassa, pelo que, para a realização deste trabalho, não houve nenhum ponto de partida neste sentido. No entanto, são vários os estudos já realizados acerca da relação dos tradutores com as CAT Tools, os quais foram utilizados como orientação (cf. Mahdy Mohammed et al., 2020Mahdy Mohammed, S., Samad, S. S., & Mahdi, H. S. (2020). The attitudes of professional translators and translation students towards computer-assisted translation tools in Yemen. Dil ve Dilbilimi Çalışmaları Dergisi, 16(2), 1084–1095. https://doi.org/10.17263/jlls.759371
https://doi.org/10.17263/jlls.759371...
; Mahfouz, 2018Mahfouz, I. (2018). Attitudes to CAT Tools: Application on Egyptian Translation Students and Professionals. Arab World English Journal, 4(4), 69–83. https://doi.org/10.24093/awej/call4.6
https://doi.org/10.24093/awej/call4.6...
).

3.2 Seleção da amostra

Para a realização deste estudo, o questionário foi enviado, numa primeira fase, para os membros da AGPTI, uma associação que tem como objetivo difundir, representar e defender as condições laborais dos tradutores e intérpretes da língua galega. Apesar da sua prontidão e disponibilidade, uma das principais dificuldades, no âmbito desta pesquisa, surgiu quando se verificou que a amostra selecionada não correspondia às expectativas pré-existentes quanto ao número de participantes. Por essa razão, tornou-se necessário procurar outros meios de modo a obter mais respostas, decidindo-se aceder ao Facebook, mais concretamente a um grupo dedicado a uma comunidade de profissionais de tradução na zona da Galiza, Astúrias e Cantábria: a Red Noroeste de Traductores. Desta forma, foi possível alargar o universo e, no final, obtivemos 37 respostas, o que foi vantajoso no sentido de dispor de uma amostra mais diversificada, quer em termos sociológicos, quer em termos puramente estatísticos. Além disso, o questionário foi difundido por alguns contatos de docentes e de alunos da Universidade de Vigo.

3.3 O questionário

Partindo da necessidade já anteriormente referida de estudar os hábitos tradutórios e tecnológicos dos tradutores, tornou-se desde logo claro que a melhor metodologia a adotar, para obter estes dados, seria a elaboração de um questionário a difundir por associações e contatos de tradutores na Galiza. Tendo em conta a situação de pandemia na altura, que dificultava qualquer tipo de contacto direto e pessoal, foi decidido que este questionário deveria ser disponibilizado online. Para tal, utilizou-se a plataforma Alchemer12 12 Para consultar o questionário e a plataforma: https://survey.alchemer.eu/s3/90299241/As-CAT-Tools-e-o-sistema-de-tradu-o-galego. , o que trouxe diversas vantagens para a nossa pesquisa.

De facto, a utilização deste tipo de questionário revelou-se de rápida conceção para os investigadores, bem como de rápida conclusão para os respondentes. Acabou por ser muito eficaz e flexível, tanto no tipo de questões (com várias opções: escalas de Likert, pergunta aberta), como nos custos de gestão e processamento, já que a plataforma utilizada era gratuita. Graças à facilidade de difusão que uma plataforma online permite, conseguiu-se alargar facilmente a amostra de respondentes. Assim, destaca-se que a maior vantagem da utilização de um site de questionários online é, sem dúvida, a otimização da recolha de dados, já que permite realizar uma análise concreta, eficiente e extensa dos resultados.

3.4 As questões

Para a seleção de questões a colocar no questionário, consultaram-se dois estudos realizados no Egito e no Iémen para avaliar as atitudes de profissionais da tradução perante as CAT Tools (cf. Mahdy Mohammed et al., 2020Mahdy Mohammed, S., Samad, S. S., & Mahdi, H. S. (2020). The attitudes of professional translators and translation students towards computer-assisted translation tools in Yemen. Dil ve Dilbilimi Çalışmaları Dergisi, 16(2), 1084–1095. https://doi.org/10.17263/jlls.759371
https://doi.org/10.17263/jlls.759371...
; Mahfouz, 2018Mahfouz, I. (2018). Attitudes to CAT Tools: Application on Egyptian Translation Students and Professionals. Arab World English Journal, 4(4), 69–83. https://doi.org/10.24093/awej/call4.6
https://doi.org/10.24093/awej/call4.6...
). Tal como sucedeu nos questionários das pesquisas supramencionadas, numa fase inicial, as perguntas feitas foram de índole demográfica, como, por exemplo, acerca da idade, experiência na área, formação, entre outras. A partir destes dados, consegue-se caracterizar melhor a amostra, prestando atenção especial a aspetos como os regimes contratuais e os serviços para os quais os profissionais são contratados.

Em seguida, relativamente à utilização das CAT Tools, questão fundamental neste trabalho, foram colocadas várias perguntas para perceber e avaliar a atitude destes profissionais perante as mesmas. Para tal, foram definidas três categorias: as suas vantagens e desvantagens, a facilidade de utilização e a compatibilidade. Desta forma, por meio da análise de uma série de afirmações centradas nestas categorias, os respondentes tiveram a oportunidade de selecionar o quão se identificam com as frases, numa escala de 1 (discordo totalmente) a 5 (concordo totalmente). Assim, para perguntas acerca das vantagens, os respondentes avaliaram a importância das CAT Tools em questões como a qualidade e a produtividade da tradução; na secção de facilidade, pretendia-se perceber a destreza que os tradutores consideram ter perante a utilização destas ferramentas; relativamente à compatibilidade, esta refere-se tanto ao processamento de determinadas tipologias textuais como a parâmetros económicos e criativos do tradutor. Por último, tendo em conta a ênfase dada ao longo da pesquisa na língua galega, foram feitas cinco perguntas acerca do estatuto do galego em conjunção com a sua proeminência (ou falta dela) nestas ferramentas e recursos.

4. A investigação: análise dos resultados

Tendo em conta os aspectos supracitados e as perguntas de investigação, assim como a metodologia, apresenta-se agora a análise dos resultados obtidos. Para tal, esta secção é dividida em várias partes: em primeiro lugar, serão tratadas as questões de carácter sociológico dos respondentes, que permitirão descrever a nossa amostra; depois, será incluída uma secção para a abordagem das ferramentas e recursos da tradução pelo seu carácter fundamental ao longo da nossa investigação; por fim, serão estudadas as respostas dos participantes relativamente às perguntas formuladas acerca das CAT Tools e da situação do galego.

4.1 O estudo sociológico

A primeira parte do questionário identifica características demográficas e sociológicas fundamentais dos participantes. Assim, a tabela 1 mostra a informação que deve ser considerada como mais relevante para os objetivos desta pesquisa.

Tabela 1
Descrição de aspetos sociológicos dos profissionais inquiridos

No que diz respeito à idade dos respondentes, eles têm uma idade média de 38 anos, situando-se 38,60% deles entre os 40 e os 50 anos. Verifica-se também que a maioria dos profissionais são mulheres e podemos constatar, em consequência, que, na prática profissional da tradução e da interpretação, a presença do sexo feminino é normalmente maior (neste caso, até de 67,40%).

Quanto ao regime de trabalho, obtivemos que 79,07% dos profissionais trabalham como tradutores/intérpretes freelancer, estando também especializados nas mais diversas áreas. Apenas 9,30% dos profissionais trabalham em instituições públicas, o que também mostra o baixo nível de ocupação em órgãos governamentais, dentre outros. Os resultados também mostram que mais da metade das pessoas inquiridas têm nove ou mais anos de experiência.

Relativamente aos serviços para os quais os respondentes são contratados com mais frequência, obtêm-se resultados interessantes, que demonstram que os serviços mais prestados são em primeiro lugar a tradução (28%), seguindo-se a revisão e correção de textos (18%), a localização (13%) e a tradução audiovisual (13%). Destes resultados, pode-se deduzir que a presença das novas tecnologias se torna cada vez mais essencial, já que a demanda por software linguístico também aumenta e daí surge a importância de serviços como a localização.

Tendo agora em conta a formação dos nossos respondentes, a maioria (76,47%) tem formação em tradução e interpretação, enquanto 11,76% são formados na área da linguística e das línguas. No entanto, essa mesma percentagem representa outras diversas formações, como, por exemplo, uma licenciatura em história, um mestrado em edição, ou um mestrado em tradução audiovisual. Quanto à formação em tradução e interpretação, podemos afirmar que 19,61% dos inquiridos são mestres ou doutores (3,92%).

Também foi possível observar que as competências tecnológicas dos tradutores galegos são, geralmente, consideradas boas ou ótimas pelos mesmos, facilitando a adaptação aos novos cenários internacionais com maior demanda por profissionais com elevado nível de competência nessa área. Numa das perguntas, os respondentes foram questionados acerca das suas línguas de trabalho e conforme os resultados obtidos, 19,16% trabalham do galego para o espanhol e do espanhol para o galego, 17,37% trabalham do inglês para o galego e 10,78% do português para o galego. Também se obtiveram resultados de respondentes que trabalham do galego para o inglês, do francês para o galego, do galego para o francês e até do japonês para o galego. Deve-se ainda salientar o facto de muitos tradutores trabalharem com o espanhol como língua-fonte ou língua-alvo, sendo possível aparecerem, neste caso, traduções de carácter indireto (por exemplo, chinês-espanhol-galego).

Na última pergunta de carácter sociológico (gráfico 1), em que foram perguntados sobre o domínio e âmbito de trabalho13 13 Para a delimitação dos âmbitos de trabalho incluídos no nosso questionário, utilizámos alguns dos propostos na seguinte página web: https://www.proz.com/. , os resultados contrastam de forma significativa com uma das hipóteses formuladas. 11,80% dos respondentes trabalham no âmbito jurídico, 10,56% trabalham no âmbito do turismo e viagens e 10,56% em marketing. Porém, somente 8,07% dos inquiridos trabalham no âmbito da literatura, não constituindo assim a área mais importante para os profissionais da tradução na Galiza. Estas respostas vieram, portanto, revelar a falsidade da primeira hipótese, já que estava previsto que o domínio com mais expressão fosse o literário.

Gráfico 1
Âmbitos de trabalho dos profissionais entrevistados

Estas questões mais gerais e demográficas permitiram traçar o perfil dos profissionais da tradução e da interpretação inquiridos. Deste modo, nas seguintes secções, são abordadas perguntas mais metodológicas, que se prendem principalmente com a utilização de ferramentas e/ou recursos, assim como com as opiniões dos profissionais relativamente às CAT Tools.

4.2 Ferramentas e recursos de tradução na Galiza

No questionário, foram incluídas duas perguntas específicas em relação ao uso de ferramentas ou recursos da tradução, partindo-se das definições apresentadas e já referidas anteriormente. Nesta secção, centramos a atenção na análise destas questões. No que diz respeito aos recursos (gráfico 2), os dicionários são os preferidos pelos respondentes (43,01%), seguindo-se as bases de dados terminológicas (25,81%), e já depois os corpora e corpora paralelos (23,66%).

Gráfico 2
Recursos mais utilizados pelos profissionais entrevistados

Quanto aos dicionários, destacam-se para o galego alguns dos mencionados no presente trabalho, como o Dicionario da Real Academia Galega (DRAG) ou o Dicionário Estraviz, além de outros dicionários que não dispõem de versão digital, como o Gran Dicionario Xerais da Lingua. Relativamente aos corpora ou corpora paralelos, os tradutores costumam utilizar o CORGA, o TILG ou o CLUVI. Finalmente, no que diz respeito às bases de dados terminológicas, salientam o bUSCatermos e o TERGAL, sem serem considerados aqui outros disponíveis em mais línguas como o IATE.

Por sua parte, as ferramentas favoritas dos tradutores (gráfico 3) parecem então ser o MemoQ, seguido do SDL Trados, visto que incluem já parcialmente o galego como língua de trabalho, embora a segmentação de texto não constitua sempre uma possibilidade. Estas não são, no entanto, todas as ferramentas utilizadas pelos respondentes, havendo ainda referências e percentagens significativas relativamente a outras, como o Memsource ou o Wordfast. Devemos ainda salientar o facto de alguns tradutores utilizarem ferramentas próprias dos clientes ou nenhuma. Estas ferramentas, as CAT Tools, também desempenham um papel essencial na secção a seguir.

Gráfico 3
Ferramentas mais utilizadas pelos profissionais entrevistados

4.3 As CAT Tools na Galiza

Em seguida, são analisadas as perguntas relacionadas com as CAT Tools, e mais especificamente com questões que se centram em vários aspectos: (1) as vantagens e desvantagens que os inquiridos identificam nas CAT Tools, (2) a sua facilidade na utilização das mesmas e (3) a compatibilidade que estes sentem para com as CAT Tools.

Gráfico 4
Vantagens das CAT Tools

Em geral, é possível afirmar que os respondentes identificam mais vantagens do que desvantagens nas CAT Tools (gráfico 4). 86% responderam que concordam que as CAT Tools facilitam os seus trabalhos de tradução, enquanto 83% concordam que as CAT Tools aumentam a produtividade. Igualmente na secção das vantagens e desvantagens, também se perguntou se um bom tradutor profissional deve utilizar CAT Tools, e 63% dos respondentes concordaram com a afirmação. Destes resultados, é possível concluir que as vantagens das CAT Tools são ainda importantes num contexto em que a língua de trabalho nem sempre está presente nas mesmas. Além disso, salienta-se que as CAT Tools nem sempre aumentam a qualidade do texto, pois a revisão humana posterior continua a revelar-se fundamental.

Com relação à facilidade de utilização das CAT Tools (gráfico 5), 77% concordam que eles têm facilidade e destreza em utilizar CAT Tools. Deve-se entender esta afirmação como estando associada às boas ou muito boas competências tecnológicas dos nossos respondentes. O trabalho em equipa também pode ser facilitado com o uso de CAT Tools e apenas 9% dos tradutores sentem frustração quando trabalham com estas ferramentas. Torna-se salientável a necessidade de maior formação prévia, já que muitos planos de estudos universitários não incluem esta área, que se tem revelado indispensável para a habilitação profissional na atual era digital (cf. Stupiello, 2019Stupiello, E. N. de A. (2019). Uma abordagem reflexiva de ensino de prática de tradução (semi)automatizada para formação de tradutores. Cadernos de Tradução, 39(2), 184–203. https://doi.org/10.5007/2175-7968.2019v39n2p184
https://doi.org/10.5007/2175-7968.2019v3...
).

Gráfico 5
Facilidade de utilização das CAT Tools

Quanto à compatibilidade das CAT Tools (gráfico 6), os resultados mostram principalmente atitudes positivas. Mais de 70% dos respondentes acham que as CAT Tools são úteis para traduzir do galego para uma segunda língua de trabalho e consideram que as estas ferramentas são apropriadas para a tipologia textual com que trabalham. Porém, destaca-se o facto de as ferramentas de tradução não serem sempre economicamente acessíveis: tal é o caso de SDL Trados, por exemplo, com um valor elevado da licença de uso. Podemos também concluir que com o uso de CAT Tools, a criatividade pode ficar limitada, o que impede que estas ferramentas sejam adequadas em ocasiões para a tradução literária.

Gráfico 6
Compatibilidade das CAT Tools

Em geral, os resultados mostram que os respondentes veem as CAT Tools de uma forma favorável e que gostam de as utilizar para tornar os seus trabalhos mais facilmente abordáveis, independentemente de alguns aspetos como o regime contratual em que trabalham. Como aspetos negativos sobressaem apenas três em termos globais: (1) o facto de as ferramentas não serem economicamente accessíveis para os profissionais, (2) a necessidade de formação prévia na área de tecnologias aplicadas à tradução e (3) as limitações que a utilização de CAT Tools implica no âmbito da tradução literária e da criatividade. Por fim, as ferramentas de tradução assistida são valorizadas como muito positivas pelos respondentes: aumentam a produtividade, a eficácia e a qualidade com que se traduz, otimizam o trabalho em equipa e permitem a armazenagem de dados para o processamento de texto. No entanto, mostra-se interessante analisar especificamente qual a situação do galego nas CAT Tools, visto que nem todas as ferramentas fornecem a possibilidade de escolher o galego como língua de trabalho, conforme indica o gráfico 7 a seguir.

Gráfico 7
A presença do galego nas CAT Tools

Assim, as questões relativas à situação do galego no âmbito das CAT Tools (gráfico 7) clarificaram que, de facto, existe pouca presença do galego nas ferramentas de tradução. 57% dos inquiridos concordam que a situação sociolinguística atual é responsável pela pouca presença da língua galega nas CAT Tools. Da mesma forma, os textos traduzidos em galego não parecem vir a aumentar nos últimos anos. Aliás, voltamos a salientar aqui o facto de a maior parte das traduções não ser do âmbito literário, mas esta questão já tinha sido referida e analisada anteriormente. Por fim, apesar de 51% dos inquiridos apontarem para o facto de realizarem traduções de/para galego, eles não afirmam que a demanda por estas traduções tenha aumentado nos últimos anos, o que pode dificultar ainda a inclusão do galego em mais ferramentas.

5. Conclusão

Após a revisão bibliográfica e a apresentação e discussão dos resultados, para encerrar este artigo é necessário revisitar as hipóteses concebidas no início da pesquisa. A questão mais significativa prende-se na primeira hipótese, pois, ao contrário do que fora deduzido da revisão bibliográfica (cf. Montero Küpper, 2017Montero Küpper, S. (2017). Sobre as subvencións públicas á tradución editorial galega. Madrygal: Revista de Estudios Gallegos, 20, 103–112. https://doi.org/10.5209/MADR.57632
https://doi.org/10.5209/MADR.57632...
, 2020), a maioria dos textos traduzidos com o galego não é do âmbito literário. Pelo contrário, são maioritariamente de tipologia jurídica, de marketing e turística. Nesta linha, deveriam existir mais orçamentos públicos destinados para o trabalho nestes âmbitos, visto que também se demonstra serem áreas estratégicas para a normalização cultural e linguística do galego.

Para além desta questão, os respondentes, em geral, valorizaram positivamente as CAT Tools, apesar de constatarem a presença pouco significativa do galego nas mesmas, que acaba por ser um reflexo da sua situação sociolinguística atual. Contudo, também foi comprovado que existem recursos e ferramentas desenhados especificamente para o galego (González, 2005González, M. (2005). A investigación ao servizo da normalización da lingua galega na sociedade da información. In Universidade da Coruña (Ed.), Lingua e investigación: II Xornadas sobre Lingua e Usos (pp. 147–163). Servizo de Normalización Lingüística da UDC.) e que a criação de recursos, nomeadamente de corpora ou bases de dados terminológicas, costuma estar baseada em textos autênticos de diferentes registos.

Assim sendo, deve-se salientar o facto de existirem resultados interessantes, apesar de uma amostra de 37 respondentes poder ser considerada limitada para extrair conclusões definitivas. Para além desta pequena limitação, os resultados quantitativos obtidos com o questionário, embora essenciais, devem ser completados com uma análise qualitativa, já que se trata de um assunto complexo. Para preencher esta lacuna, foi acrescentada uma pergunta aberta, que se revelou de interesse especial para os resultados da pesquisa. Em geral, os respondentes afirmaram mais uma vez, no âmbito desta pergunta, a necessidade de desenvolvimento de recursos em galego, de modo que a língua possa atingir uma posição estratégica no mundo globalizado dos dias de hoje.

Igualmente, uma das vantagens principais da metodologia escolhida foi a utilização do questionário online, que facilita a sua distribuição aos respondentes, como uma otimização na recolha e análise de dados. Finalmente, deve-se salientar a importância desta investigação para os estudos de tradução na Galiza, pelo facto de ser pioneira. Qualquer pesquisa futura será muito bem-vinda, sendo que sobressai a possibilidade de inclusão de aspetos não considerados neste artigo, nomeadamente com relação aos subsídios públicos de que dispõem os profissionais da tradução na Galiza.

  • 1
    Utilizamos o termo “língua menorizada” tendo em conta a situação sociolinguística do galego, estando subordinado a outra língua de prestígio, neste caso o espanhol. Assim sendo, surge uma dicotomia entre língua A (espanhol) e língua B (galego), aparecendo, no caso da língua galega, muitos preconceitos e ideias que contribuem para o seu desprestígio. Podemos ainda entender o galego como língua minoritária, mas esta denominação prende-se mais especificamente com o número de falantes.
  • 2
    Winck (2014)Winck, O. L. (2014). Literatura galega e sistema literário. Literatura e Propaganda Ideológica, 18(1), 107–118. define o sistema literário e cultural galego como subalterno e dependente do sistema espanhol, aquele que tem maior poder e que se situa no topo da hierarquia. Esta será a perspectiva abordada neste trabalho, embora haja uma parte importante de investigadores a favor de uma integração do sistema galego dentro do português ou do lusófono. Para mais informações sobre este assunto, veja-se Herrera Valeiro (2015)Herrera Valeiro, M. (2015). A normalização linguística: uma ilusão necessária. Através Editora..
  • 3
    No texto fonte: “A tradución (en termos de importación e exportación) cumpre unha especial función na reconfiguración do sistema cultural”.
  • 4
    Entendemos, de acordo com Herrera Valeiro (2015, p. 51)Herrera Valeiro, M. (2015). A normalização linguística: uma ilusão necessária. Através Editora., o capital económico como sendo “[...] aquele gerado pela posse ou pelo controlo dos fatores que intervêm na posição dos agentes a respeito das relações de produção”. Por sua parte, o capital cultural é “aquele [...] gerado pela posse de informação ou formação cultural por parte de um agente social, individual ou coletivo” (Herrera Valeiro, 2015Herrera Valeiro, M. (2015). A normalização linguística: uma ilusão necessária. Através Editora., p. 51). Bourdieu estabelece uma diferença entre outros tipos de capital, mas estes não parecem relevantes para o objetivo deste trabalho.
  • 5
    No texto fonte: “the universal voice needs to be heard in Galician, but the Galician voice also needs to be heard abroad” (Millán-Varela, 2000Millán-Varela, C. (2000). Translation, Normalisation and Identity in Galicia(n). Target, 12(2), 267–282. https://doi.org/10.1075/target.12.2.05mil
    https://doi.org/10.1075/target.12.2.05mi...
    , p. 280).
  • 6
    No texto fonte: “the minority status of language in the translation situation no longer arguably relates to the number of speakers and existence of a publishing infrastructure but to the implantation of the language in technological developments” (Cronin, 1995Cronin, M. (1995). Altered States: Translation and Minority Languages. TTR, 8(1), 85–103. https://doi.org/10.7202/037198ar
    https://doi.org/10.7202/037198ar...
    , p. 95).
  • 7
    No texto fonte: “B.1. Fomentar a presenza do galego nas novas tecnoloxías e na telefonía móbil. B.2. Lograr unha oferta ampla e competitiva de produtos e recursos informáticos en galego. B.3. Potenciar a presenza da lingua galega en Internet. B.4. Potenciar a investigación da tradución automática, o recoñecemento e a síntese de voz, e outras novas técnicas […] que aseguren a libre circulación do galego nos sistemas avanzados da sociedade actual” (Xunta de Galicia, 2004Xunta de Galicia. (2004). Plan Xeral de Normalización da Lingua Galega. Xunta de Galicia. https://www.lingua.gal/c/document_library/get_file?file_path=/portal-lingua/estandar/PNL22_24_textointegro.pdf
    https://www.lingua.gal/c/document_librar...
    , p. 51).
  • 8
    No texto fonte: “By resources we refer to all sets of data that are organised in a particular manner and which can be looked up in the course of some phase of processing. For example, dictionaries or corpora [...] are sets of data that can be accessed in different ways” (Alcina, 2008Alcina, A. (2008). Translation technologies. Scope, tools and resources. Target, 20(1), 79–102. https://doi.org/10.1075/target.20.1.05alc
    https://doi.org/10.1075/target.20.1.05al...
    , p. 94).
  • 9
    No texto fonte: “Tools allow translators to introduce and manage their own linguistic information, whereas resources are sets of previously gathered linguistic data which are made available in some electronic format so that they can be used or looked up by translators” (Alcina, 2008Alcina, A. (2008). Translation technologies. Scope, tools and resources. Target, 20(1), 79–102. https://doi.org/10.1075/target.20.1.05alc
    https://doi.org/10.1075/target.20.1.05al...
    , p. 98).
  • 10
    Já que somente se pretende fazer uma pequena introdução do panorama atual a nível tecnológico, e por questões metodológicas, não vamos analisar os pormenores das diferentes ferramentas e recursos existentes para a língua galega. Considera-se que a sua citação é suficiente para os resultados da presente investigação.
  • 11
    No texto fonte: “in translation studies, ethnographic approaches, while not common, are on the increase, and there seems to be a growing interest in this approach” (LeBlanc, 2013LeBlanc, M. (2013). Translators on translation memory (TM). Results of an ethnographic study in three translation services and agencies. The International Journal of Translation and Interpreting Research, 5(2), 1–13. https://doi.org/10.12807/ti.105202.2013.a01
    https://doi.org/10.12807/ti.105202.2013....
    , p. 3).
  • 12
  • 13
    Para a delimitação dos âmbitos de trabalho incluídos no nosso questionário, utilizámos alguns dos propostos na seguinte página web: https://www.proz.com/.

Agradecimentos

Agradecemos a todos os participantes pelo seu indispensável contributo para a nossa pesquisa. Agradecemos à Professora Doutora Ana Hermida pelo auxílio e disponibilidade. Por fim, agradecemos ao Professor Fernando Ferreira Alves por ter acreditado no nosso trabalho, que foi originalmente concebido para o seu módulo de Ferramentas e Recursos para a Tradução. O seu incentivo e acompanhamento foram essenciais.

  • Conjunto de dados de pesquisa

    Não se aplica
  • Financiamento

    Este trabalho de investigação foi em parte apoiado e financiado pelo Ministério de Ciência, Inovação e Universidades do governo do Estado espanhol, por meio de uma ajuda para Formação de Professorado Universitário, da qual o primeiro autor é beneficiário (referência da ajuda: FPU2021/00188). Esta pesquisa faz parte do Projeto de Investigação ESMASES+ (PID2022-137170OB-I00), financiado pelo Ministério de Ciência e Inovação/Agência Estatal de Investigação/FEDER “Uma maneira de fazer Europa”
  • Consentimento de uso de imagem

    Não se aplica.
  • Aprovação de comitê de ética em pesquisa

    Não se aplica.
  • Publisher

    Cadernos de Tradução é uma publicação do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, da Universidade Federal de Santa Catarina. A revista Cadernos de Tradução é hospedada pelo Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade.
  • Revisão de normas técnicas

    Alice S. Rezende – Ingrid Bignardi – João G. P. Silveira – Kamila Oliveira

Declaração de disponibilidade dos dados da pesquisa

Os dados desta pesquisa, que não estão expressos neste trabalho, poderão ser disponibilizados pelo(s) autor(es) mediante solicitação.

Referências

  • Alcina, A. (2008). Translation technologies. Scope, tools and resources. Target, 20(1), 79–102. https://doi.org/10.1075/target.20.1.05alc
    » https://doi.org/10.1075/target.20.1.05alc
  • Bourdieu, P. (1979). La Distinction: critique sociale du jugement Les Editions de Minuit.
  • Bourdieu, P. (1986). The forms of capital. In J. G. Richardson (Ed.), Handbook of Theory and Research for the Sociology of Education (pp. 241–258). Greenwood Press.
  • Bourdieu, P. (1994). Raisons pratiques: sur la théorie de l’action Editions Seuil.
  • Cronin, M. (1995). Altered States: Translation and Minority Languages. TTR, 8(1), 85–103. https://doi.org/10.7202/037198ar
    » https://doi.org/10.7202/037198ar
  • Diario Oficial de Galicia. (1983). Lei 3/1983 de normalización lingüística. Parlamento de Galicia. https://www.parlamentodegalicia.es/sitios/web/BibliotecaLeisdeGalicia/Lei3_1983.pdf
    » https://www.parlamentodegalicia.es/sitios/web/BibliotecaLeisdeGalicia/Lei3_1983.pdf
  • González, M. (2005). A investigación ao servizo da normalización da lingua galega na sociedade da información. In Universidade da Coruña (Ed.), Lingua e investigación: II Xornadas sobre Lingua e Usos (pp. 147–163). Servizo de Normalización Lingüística da UDC.
  • Herrera Valeiro, M. (2015). A normalização linguística: uma ilusão necessária Através Editora.
  • LeBlanc, M. (2013). Translators on translation memory (TM). Results of an ethnographic study in three translation services and agencies. The International Journal of Translation and Interpreting Research, 5(2), 1–13. https://doi.org/10.12807/ti.105202.2013.a01
    » https://doi.org/10.12807/ti.105202.2013.a01
  • Mahdy Mohammed, S., Samad, S. S., & Mahdi, H. S. (2020). The attitudes of professional translators and translation students towards computer-assisted translation tools in Yemen. Dil ve Dilbilimi Çalışmaları Dergisi, 16(2), 1084–1095. https://doi.org/10.17263/jlls.759371
    » https://doi.org/10.17263/jlls.759371
  • Mahfouz, I. (2018). Attitudes to CAT Tools: Application on Egyptian Translation Students and Professionals. Arab World English Journal, 4(4), 69–83. https://doi.org/10.24093/awej/call4.6
    » https://doi.org/10.24093/awej/call4.6
  • Millán-Varela, C. (2000). Translation, Normalisation and Identity in Galicia(n). Target, 12(2), 267–282. https://doi.org/10.1075/target.12.2.05mil
    » https://doi.org/10.1075/target.12.2.05mil
  • Montero Küpper, S. (2017). Sobre as subvencións públicas á tradución editorial galega. Madrygal: Revista de Estudios Gallegos, 20, 103–112. https://doi.org/10.5209/MADR.57632
    » https://doi.org/10.5209/MADR.57632
  • Montero Küpper, S. (2020). Sen tradución non hai Acción exterior galega IDAGI. www.igadi.gal/web/analiseopinion/sen-traducion-non-hai-accion-exterior-galega
    » www.igadi.gal/web/analiseopinion/sen-traducion-non-hai-accion-exterior-galega
  • Nogueira, D., & Nogueira, V. M. C. (2004). Por que usar programas de apoio à tradução? Cadernos de Tradução, 2(14), 17–35.
  • Pichel, J. R. P., Malvar, P., Senra, O. G., Gamallo, P., & García, A. (2009). Carvalho: EnglishGalician SMT system from EuroParl English-Portuguese parallel corpus. Procesamiento del Lenguaje Natural, 43, 379–381.
  • Ramírez Sánchez, G., Sánchez-Martínez, F., Ortiz Rojas, S., Pérez-Ortiz, J. A., & Forcada, M. L. (2006). Opentrad Apertium open-source machine translation system: an opportunity for business and research. Proceedings of the 28th International Conference on Translating and the Computer: 16-17 November 2006 ACL Anthology. https://aclanthology.org/2006.tc-1
    » https://aclanthology.org/2006.tc-1
  • Sikora, I., & Walczynski, M. (2015). Incorporating CAT Tools and ICT in the translation and interpreting training at the undergraduate level. In P. Grabowski & T. Piotrowski (Eds.), The Translator and the Computer (pp. 119–135). Wyższa Szkoła Filologiczna we Wrocławiu.
  • Stupiello, E. N. de A. (2019). Uma abordagem reflexiva de ensino de prática de tradução (semi)automatizada para formação de tradutores. Cadernos de Tradução, 39(2), 184–203. https://doi.org/10.5007/2175-7968.2019v39n2p184
    » https://doi.org/10.5007/2175-7968.2019v39n2p184
  • Torrejón, E. (2013). La integración de tecnologías de la traducción: ¿bendición o maldición? Revista Tradumàtica: Traducció i Tecnologies de la Informació i de la Comunicació, 13, 561–570.
  • Winck, O. L. (2014). Literatura galega e sistema literário. Literatura e Propaganda Ideológica, 18(1), 107–118.
  • Xunta de Galicia. (2004). Plan Xeral de Normalización da Lingua Galega Xunta de Galicia. https://www.lingua.gal/c/document_library/get_file?file_path=/portal-lingua/estandar/PNL22_24_textointegro.pdf
    » https://www.lingua.gal/c/document_library/get_file?file_path=/portal-lingua/estandar/PNL22_24_textointegro.pdf

Editado por

Editores do número especial

Andréia Guerini – Fernando Ferreira Alves – Orlando Grossegesse

Editor de seção

Willian Moura

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    19 Jul 2024
  • Data do Fascículo
    2024

Histórico

  • Recebido
    28 Jun 2023
  • Aceito
    17 Fev 2024
  • Revisado
    02 Mar 2024
  • Publicado
    Abr 2024
Universidade Federal de Santa Catarina Campus da Universidade Federal de Santa Catarina/Centro de Comunicação e Expressão/Prédio B/Sala 301 - Florianópolis - SC - Brazil
E-mail: suporte.cadernostraducao@contato.ufsc.br