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GREGORIO RONCA E O RIO AMAZONAS: UM ITALIANO A SERVIÇO DE UM PROJETO DE COLONIZAÇÃO

GREGORIO RONCA AND THE AMAZON RIVER: AN ITALIAN AT THE SERVICE OF A COLONIZATION PROJECT

Resumo

O texto tem por objetivo servir como paratexto à tradução do capítulo “Navigazione sull’Amazzone” [Navegação no Amazonas], que faz parte da obra Dalle Antille, alle Gujane e alla Amazzonia [Das Antilhas às Guianas e à Amazônia], de autoria do almirante italiano Gregorio Ronca (1859-1911) e publicada em Roma em 1908 em edição de 220 páginas. A obra foi escrita por ocasião da viagem de Ronca à região, iniciada em fevereiro de 1904. Primeiramente são apresentados os interesses europeus pela região amazônica e os motivos que impulsionaram a viagem; em seguida, são mostrados elementos da vida e da obra do autor, e os temas, estrutura e características da obra que se constitui o corpus deste estudo. Por fim, são apresentados alguns comentários acerca do processo tradutório do referido capítulo.

Palavras-chave
Gregorio Ronca; Navigazione sull’Amazzone ; Rio Amazonas; Colonização; Tradução

Abstract

The text aims to serve as a paratext to the translation of the chapter “Navigazione sull’Amazzone” [Navigation on the Amazon], that is part of the work Dalle Antille, alle Gujane e alla Amazzonia [From the Antilles to the Guianas and the Amazon] by the Italian admiral Gregorio Ronca (1859-1911) and published in Rome in 1908 in a 220 pages edition. The work was written because of Ronca’s trip to the region, which began in February 1904. First, European interests in the Amazon region and the reasons that encouraged the trip are presented; then, elements of the author’s life and work are shown, as well as the themes, structure and characteristics of the work that constitutes the corpus of this study. Finally, some comments are presented about the translation process of this chapter.

Keywords
Gregorio Ronca; Navigazione sull’Amazzone ; Amazon River; Colonization; Translation

O Rio Amazonas, com seus quase 7 mil quilômetros de extensão e seus mais de mil afluentes, possui uma rede de navegação hoje calculada em 50 mil quilômetros. No seu ponto mais largo pode alcançar 11 quilômetros durante a época da seca e 50 quilômetros no período da chuva, e sua profundidade varia de 50 a 120 metros (Portal Amazônia, 2021Portal Amazônia. Você sabe a profundidade do Rio Amazonas? 29/06/2021. Disponível em: https://portalamazonia.com/amazonia/voce-sabe-a-profundidade-do-rio-amazonas. Acesso em 09/03/2022.
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). Os números impressionam; incalculável, ao invés, é a importância antrópica deste rio, muitas vezes ainda a única via de acesso a determinadas regiões. Não deve espantar, portanto, que seu conhecimento e sua posse vem sendo motivo de interesse de várias nações há séculos, empenhadas em explorar a floresta em proveito das suas necessidades e ambições. Foi, contudo, na segunda metade do século XIX que a história da exploração da Amazônia ganha um novo capítulo, mais especificamente em 1866, quando ocorre a abertura do Rio Amazonas ao tráfego internacional, realizado por navios a vapor. Esse acesso foi estabelecido principalmente pela convicção, por parte do Governo Imperial, de que tal ação traria grandes benfeitorias ao território brasileiro. Nesse sentido,

A navegação a vapor foi suscitada como parte de uma política de modernização nos meios de transporte que tinha por finalidade desenvolver a região, ou seja, deveria movimentar o comércio, pois representava a rapidez na circulação de produção e produtores; defender o extenso território, chegando a lugares de difícil acesso; encurtar as distâncias entre as administrações, como por exemplo, acelerando a comunicação feita por cartas; facilitar a transferência de imigrantes para a região, promovendo a colonização, entre outros benefícios que poderiam ser proporcionados pela navegação a vapor

(Brito, 2012Brito, Roberta Kelly Lima de. Trabalho e imigração no Amazonas provincial. Trajetórias dos núcleos coloniais da Companhia de Navegação e Comércio do Amazonas (1854-1857). Relatório de pesquisa. Programa Institucional de Iniciação Científica, Universidade Federal do Amazonas. Orientadora: Patrícia Maria Melo Sampaio. Manaus: 2012. Disponível em: https://riu.ufam.edu.br/bitstream/prefix/2684/1/PIB_H_0071-Relat%C3%B3rio_Final__Roberta_Brito.pdf, Acesso em 22/02/2022.
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, p. 5).

Como se percebe, ocupar e monopolizar a região não era apenas uma questão econômica, mas também política, como forma de manter o território sob controle diante das pretensões e possíveis ameaças estrangeiras. Para tanto, era preciso elaborar um plano que atraísse empresários dispostos a apostar em tal empreitada. De diferentes maneiras e com diferentes objetivos, ao longo do século XIX, em especial na sua segunda metade, a colonização/imigração na Amazônia foi sendo incentivada e executada em diversas frentes, seja a ocupação orientada pelo governo e por particulares para fins agrícolas, seja a imigração espontânea, ou seja, a imigração promovida por intermediários mais ou menos inescrupulosos (Santos, 1980Santos, Roberto. História Econômica da Amazônia. São Paulo: T. A. Queiróz, 1980., p. 87). A abertura do Rio Amazonas ao tráfego de embarcações internacionais de grande porte resultou também na presença cada vez mais acentuada de estrangeiros na região, e muitas dessas experiências de navegação e ocupação das terras podem ser encontradas nos testemunhos dos viajantes/ exploradores, em sua maioria do sexo masculino, que circularam pela região e que deixaram, através dos seus relatos de viagem, registros importantes das paisagens geográficas, hidrográficas, climáticas e humanas que encontraram.

A tradução que aqui apresentamos situa-se nesse contexto; em específico, busca ser uma contribuição para o entendimento da presença italiana na Amazônia e suas implicações para a história do Brasil. Escolhemos para esta edição de Traduzindo a Amazônia 2 o capítulo “Navigazione sull’Amazzone” [Navegação no Amazonas], presente na obra Dalle Antille, alle Gujane e alla Amazzonia [Das Antilhas às Guianas e à Amazônia], escrito pelo almirante italiano Gregorio Ronca (1859-1911) por ocasião da viagem à região iniciada em fevereiro de 1904. A obra foi publicada em Roma em 1908 em edição de 220 páginas; na edição consultada, o capítulo corresponde às páginas 110-134 (Ronca, 1908Ronca, Gregorio. Dalle Antille alle Gujane e all’Amazzonia. 2. ed. Roma: Rivista marittima, 1908.). A viagem tinha como missão principal identificar portos e regiões que pudessem ser úteis ao comércio italiano, como o próprio autor narra no seu relato, e que mostraremos adiante. De fato,

Em 1904, estava no auge do triunfo o ciclo econômico da borracha, que prometia posteriores desenvolvimentos, garantidos pela expansão da indústria ciclística e automobilística, fosse europeia ou norte-americana. E a Itália arriscava ficar de fora desta grande oportunidade, visto que recém havia terminado, e bastante mal, a experiência da linha direta de navegação entre Gênova e Manaus, empreendida pela Compagnia di Navigazione Ligure-Brasiliana

(Cappelli, 2012Cappelli, Vittorio. Gregório Ronca e Ermanno Stradelli: oficial da marinha e antropólogo na Amazônia. Tradução Núncia Santoro de Constantino. In: Estudos Ibero-Americanos, PUCRS, v. 38, supl., nov. 2012. p. 335-346., p. 337).

Considerar, portanto, os elementos que impulsionaram a viagem, e não apenas o texto em si, foi fundamental para desenvolver nosso projeto tradutório. Antes, porém, de falarmos sobre isso, reportaremos brevemente algumas informações biográficas sobre Ronca e a viagem, no intuito de mostrar como esse espaço de pesquisa e escrita que se apresenta como paratextual pode ser visto não somente como um discurso de acompanhamento (Genette, 2016Genette, Gérard. Paratextos editoriais. Tradução de Álvaro Faleiros. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009.), que certamente poderá ajudar na leitura do texto traduzido, mas como um necessário cúmplice do processo de tradução, que é também um trabalho de crítica.

Nascido em Solofra, na província da Campania, sul da Itália, e órfão de mãe, Ronca cresceu sob os cuidados de sua avó paterna, prima do revolucionário Carlo Pisacane, que participou de maneira ativa nas lutas pela Unificação Italiana. Ao que parece, as influências familiares do que seriam ideais de liberdade e de pátria tornaram-se motores que impulsionaram a vida, a carreira e as ideias de Ronca, como podemos ver no texto aqui apresentado, que parece ter o conceito de “soberania da pátria” como o maior propulsor da sua missão em terras brasileiras. De fato, a viagem de Ronca em terras sul-americanas ocorreu dentro do contexto político-oficial do recém formado Reino da Itália, como parte de um plano para expandir o comércio do país e buscar equipará-lo a outras nações, como a Inglaterra, e, a nosso ver, seu relato deve ser estudado – e traduzido – considerando essa perspectiva, visto que em toda a obra encontramos referências ao pensamento patriótico e colonialista do autor, como no início da viagem, em que, ao passar pelo estreito de Gibraltar, ele avista a esquadra inglesa, composta por 67 navios, e narra:

Os principais [navios] destes passaram a pouca distância do meu, e pude ler seus nomes escritos em grandes letras douradas nas popas. Cada um desses nomes me lembrava um herói ou uma vitória, então parecia ver a glória da Inglaterra passar e sua grande história se desenrolar diante dos meus olhos. Fechado nos estreitos confins de suas ilhas, o povo inglês viveu, quase pobre e pouco temido, até que por impulsos espontâneos se lançou ao mar, e com poder naval conquistou glória, grandeza e poder maravilhoso. De fato, no mundo prevalecem sempre aqueles que sabem afirmar-se no mar, e nesse momento sonhei com mais entusiasmo com o dia em que este jovem e forte povo da Itália, que soube impor as suas aspirações de liberdade à atônita Europa, saberá impor a si mesmo a vontade de atingir uma grandeza igual ao seu valor e, portanto, desejará possuir e possuirá uma marinha capaz de fazê-lo adquirir no mundo a influência a que tem direito1 1 “Le principali di queste passarono a poca distanza dalla mia, e mi fu possibile leggere i loro nomi scritti a grandi lettere d’oro sulle poppe. Ognuno di quei nomi ricordava un eroe od una vittoria, onde mi pareva di vedere passare la gloria dell’Inghilterra, e che la sua storia grandiosa si svolgesse dinanzi ai miei occhi. Chiuso negli stretti confini delle sue isole il popolo inglese visse, quasi povero e poco temuto, finché per spontaneo impulsi si slanciò sul mare, e col potere navale conquistò gloria, grandezza e potenza meravigliose. Nel mondo infatti, è sempre prevalente chi sul mare sa affermarsi, ed in quel momento sognai con più entusiasmo il giorno in cui questo giovane e forte popolo d’Italia, che seppe imporre all’Europa attonita le sue aspirazioni alla libertà, saprà imporre a se stesso la volontà di raggiungere una grandezza pari al suo valore, e quindi vorrà possedere e possederà una marina capace di fargli acquistare nel mondo l’influenza cui ha diritto.” Todas as traduções são de nossa autoria.

(1908, p. 06. Grifos nossos).

Por ter exercido carreira militar dentro da Real Marinha Italiana, Ronca participou de várias travessias: em especial lembramos as viagens nas fragatas (espécie de navio de guerra) Amedeo e Caracciolo, respectivamente em 1879 e 1881-1884. Essas viagens não tiveram finalidade bélica, mas sim exploratória, motivadas pelo interesse em ampliar o comércio e o conhecimento científico. A Caracciolo, por exemplo, partiu de Nápoles em direção ao Rio de Janeiro, seguindo depois a Montevidéu, Chile e Peru, onde permaneceu por um ano. Em julho de 1883, a viagem prosseguiu em direção ao Taiti, Ilhas Fiji, Sidney, Macaçar (Indonésia), Singapura, Sumatra (Indonésia); Ilhas Seicheles; em julho de 1884 o grupo encontrava-se fazendo a travessia do Mar Vermelho e em seguida do canal de Suez, de onde seguiu para Veneza, com a conclusão da viagem em setembro daquele ano. Uma vasta coleção de objetos étnicos pertencentes a culturas americanas, polinésias, africanas; minerais, plantas e animais foi levada à Itália e doada a museus e universidades (Cimmino, 2016Cimmino, Antonio. Il Cantiere Navale di Castellammare di Stabia e le sue navi. 1861-1900. Napoli: Amministrazione Comunale di Caltellammare di Stabia, Capiteneria di Porti e Associazione Nazionale Marinai d’Italia, 2016., p. 89).

Sucessivamente, a bordo do couraçado (também este um tipo de navio bélico), Ruggiero di Lauria, Ronca inicia o estudo de armamento subaquático e de um novo sistema para manobrar projetores de tiro noturno à distância. Reconhecido por seus estudos, é nomeado professor de artilharia e balística na Academia Naval de Livorno, na costa da Toscana. Posteriormente, em Nápoles, estuda técnicas de transmissão de ordens à distância, visando sempre o aprimoramento considerando o cenário de uma batalha naval. Seus métodos foram adotados por várias marinhas, entre as quais a japonesa. Suas publicações refletem a atenção dispensada aos assuntos militares, em especial as dezenas de estudos publicados na Rivista Marittima [Revista Marítima], La Corrispondenza [A correspondência] e Rivista d’Artiglieria [Revista de Artilharia] entre os anos 1895 e 1901, todos eles relacionados à balística e dos quais citamos alguns: Trattato di Matematica e balística [Tratado de matemática e balística]; Sulla soluzione del problema balistico [Sobre a solução do problema balístico]; Note sul tiro navale [Notas sobre o tiro naval], Regole di tiro [Regras de tiro]; Formule di perforazione [Fórmulas de perfuração]; Norme e regole pratiche di tiro tra navi [Normas e regras práticas de tiro entre navios]; Lezioni sul tiro delle navi da fuoco [Lições sobre o tiro dos navios brulotes]. Publicou também, em outras editoras, Manuale di balistica [Manual de balística] (1901); Studio sulla tattica navale moderna [Estudo sobre a tática naval moderna] (1910); Riflessioni sul combattimento fra navi [Reflexões sobre o combate entre navios] (1910) (De Maio, 1986De Maio, Mimma. Il navigatore scienziato Gregorio Ronca: un irpino da non dimenticare. Solofra: Accademia Solofra, 1986.).

A viagem para as Antilhas e a América do Sul, incluindo a Amazônia brasileira, não tinha sido, portanto, a primeira viagem de Ronca, mas era a sua primeira no cargo de almirante – vale lembrar que o termo deriva do árabe amir-al-bahr, ou seja, aquele que é “comandante do mar”, “chefe de um conjunto de navios”. Aos 45 anos de idade, no comando do contratorpedeiro (outro tipo de embarcação de guerra, conhecida por sua rapidez e facilidade de manobra) Dogali2 2 O Dogali foi um navio oceânico de guerra de 2.200 toneladas, 76 metros de comprimento, dotado de canhões, metralhadoras e lança-torpedos. , também este pertencente à Real Marinha Italiana, como foi dito, Ronca tinha a missão principal de conhecer portos e buscar pontos de venda para produtos italianos, mas, além disso, iria estabelecer contato com italianos que haviam migrado e que tinham perdido relações com a Itália. Sua viagem teve, assim, interesses econômicos, políticos, militares e geográficos, como, aliás, é possível deduzir das palavras do autor ao apresentar seu itinerário nas primeiras páginas:

As instruções que me foram dadas no momento da partida e que, se me fosse permitido, gostaria de defini-las como um modelo de conhecimento civil e militar, ordenaram-me, entre outras coisas, visitar as Antilhas e a América Central, regulando, porém, o itinerário e escolhendo os portos a tocar, para que as visitas aos mesmos, além de satisfazerem as nossas necessidades e os nossos interesses gerais, pudessem ser úteis para a prosperidade nacional.

Lisonjeira era, portanto, a tarefa que me foi confiada, mas muito séria, e ao tentar resolver o difícil problema, pensei que dentre os fatos que contribuem para formar nossa prosperidade e dos quais eu poderia cuidar, estavam o comércio e a maravilhosa atividade emigrante do nosso povo; graças à qual a nova Itália pode espalhar pelo mundo 4 milhões de seus filhos sem sofrer nenhum dano, pelo contrário, tirando proveito dessa situação. Mas, mais do que qualquer outra coisa, parecia-me que devia estudar os interesses da emigração, porque na maioria dos casos acontece que a expansão do nosso comércio ocorre onde ela está estabelecida3 3 “Le istruzioni che mi furono consegnate al momento della partenza, e che, se mi fosse lecito, vorrei definire un modello di sapienza civile e militare, mi ingiungevano, fra le altre cose, di visitare le Antille e l’America centrale, regolando però l’itinerario e scegliendo, i porti da toccare, in modo che le visite ad essi, oltre a soddisfare anche alle nostre esigenze e ai nostri interessi generali, riuscissero utili alla prosperità nazionale. Lusinghiero era quindi il compito che mi si assegnava, ma grave assai, e nel tentare la soluzione del difficile problema, pensai che tra i fatti che concorrono a formare la nostra prosperità e di cui io poteva occuparmi, erano da annoverare il commercio e quella meravigliosa attività emigratrice della nostra gente; mercé la quale la nuova Italia ha potuto spargere per il mondo 4 milioni dei suoi figli senza risentirne danni anzi traendone benefizi. Ma più che altro mi parve di dover studiare gli interessi della emigrazione, perché nel maggior numero dei casi avviene che la espansione del nostro commercio si manifesta dove essa si è stabilita”.

(Ronca, 1908Ronca, Gregorio. Dalle Antille alle Gujane e all’Amazzonia. 2. ed. Roma: Rivista marittima, 1908., p. 07. Grifos nossos).

Como se percebe, a possibilidade de estabelecer/ ampliar o comércio, em especial junto às colônias onde a maior presença italiana se fazia presente, foi uma das justificativas para a elaboração do itinerário. A ideia de utilidade e prosperidade nacional parece ter sido fundamental para eliminar determinadas regiões da rota: lugares considerados insalubres, com presença de doenças “mortais e exóticas” (1908, p. 08), ou que não fossem considerados úteis dentro do projeto de expansão italiano foram excluídos, de forma que, ao final, o percurso das Antilhas às Guianas e depois à Amazônia foi o seguinte: Barbados e Santa Lúcia; Martinica; Porto Rico; Port-au-Prince; Santiago e Havana, em Cuba; Kingston, na Jamaica; Trinidad e Orenoco (Guiana venezuelana); Demerara (Guiana inglesa); Suriname (Guiana holandesa), e então a Amazônia. O percurso da viagem serviu como molde para a estrutura do livro, dividido em capítulos e subcapítulos de acordo com os lugares percorridos pelo navio.

Assim, o primeiro capítulo, “Verso le Antille” [Em direção às Antilhas], inicia-se com as razões pelas quais Ronca iria desempenhar a viagem; o preparo do navio em Veneza e a visita de Vittorio Emanuele III, Rei da Itália, que teria embarcado especialmente para desejar à tripulação sucesso na viagem, palavras estas que “em qualquer circunstância inspiraram em nós segurança no sucesso e serviram de incitação ao dever4 4 “in ogni circostanza ci ispirò sicurezza nel successo e ci fu di incitamento al dovere.” ”. De Veneza o navio rumou para Nápoles, de onde seguiria para a travessia do Atlântico.

Ao longo deste capítulo, e também nos que seguem, o público leitor acompanha as visões e os pensamentos de Ronca sobre elementos das paisagens natural e humana, e ainda tabelas com valores de importação e exportação, tabelas com gêneros importados e exportados de cada lugar, quantidades dos produtos importados/exportados em cada região, registros da nacionalidade dos navios que entraram em cada lugar, além de mapas do percurso. Os assuntos tratados na obra são, dessa maneira, bastante amplos e heterogêneos.

Cabe aqui um comentário sobre as anotações do autor em relação à presença de navios de outras nacionalidades em toda a região percorrida. A título de exemplo, ao falar sobre Barbados, afirma que em 1903 atracaram no lugar 336 navios a vapor e 494 navios a vela de nacionalidade inglesa. Compõem também a lista um navio a vapor e 8 navios veleiros norte-americanos, 14 navios a vapor e 4 navios veleiros noruegueses, um belga e um alemão (1904, p 14). Em terras brasileiras, aponta que a movimentação na entrada do porto de Belém em 1897 tem a seguinte configuração: 235 navios a vapor e 11 navios veleiros brasileiros, 192 navios a vapor e 6 navios veleiros ingleses, 11 navios a vapor e 14 navios veleiros portugueses, 8 navios a vapor italianos, um navio a vapor e 9 navios veleiros franceses, 4 navios veleiros norte-americanos, 71 navios veleiros de outras nacionalidades (1904, p. 110).

Dos dados mostrados pelo autor, temos a informação de que a Inglaterra, por ter sido o país com mais navios circulando, é também o que detém os maiores números de toneladas comercializadas. O percentual de importação/ exportação tem ainda o Canadá, os Estados Unidos, a França, a Noruega e a Alemanha entre os países com maior atividade comercial na região. Esses elementos, a nosso ver, indicam o olhar atento do autor e a intenção bastante explícita do Governo italiano, ao qual ele estava a serviço, de implantar um projeto colonialista para colocar a Itália no centro da disputa comercial. Ao mesmo tempo, é curioso como Ronca tenha inserido uma nota no início da narrativa para alertar o público leitor sobre como deveria ser lido o seu relato. Nas suas palavras,

Ao publicar estas minhas notas particulares sobre a viagem do navio Real ‘Dogali’ comandado por mim de fevereiro de 1904 a julho de 1905, desejo chamar a atenção do leitor para o adjetivo particular que dei às notas, porque elas nada têm, nem podem ter, algo em comum com meus relatórios oficiais, por isso exponho minhas impressões ou minhas observações como as senti sobre os lugares e como qualquer viajante5 5 “Nel pubblicare queste mie note particolari intorno al viaggio della R. nave “Dogali” da me comandata dal febbraio del 1904 al luglio del 1905, desidero richiamare l’attenzione del lettore sulla qualifica particolare che ho dato alle note stesse, perché esse nulla hanno, né possono avere di comune con i miei rapporti ufficiali, onde io espongo le mie impressioni o le mie osservazioni come le sentii sui luoghi e come un qualsiasi viaggiatore.”

(1908, p. 03. Grifo do autor).

Embora não possamos determinar os motivos que levaram Ronca a redigir tal nota, podemos nos questionar se seria mesmo possível separar a visão de mundo do almirante em missão oficial a serviço do Governo italiano daquela do viajante que afirma descrever suas observações de modo despretensioso, autônomo. Talvez a nota seja apenas uma justificativa pensada para que o autor pudesse exercer livremente a sua escrita particular ao mesmo tempo em que se dedicava aos assuntos oficiais. Ao que parece, Ronca escreveu seu texto não no momento da viagem, e sim depois de ter retornado para a Itália, ou seja, pode revisar suas memórias e anotações, organizá-las, escrever suas impressões depois de ter passado por toda a experiência da viagem e de poder escolher o que e como escrever e perpetuar, a “matéria da recordação” e o “modo da recordação” (Bosi, 1999Bosi, Ecléa. Memória e sociedade. Lembranças de velhos. 7ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999., p. 65). Nesse sentido,

na maior parte das vezes, lembrar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar, com imagens e idéias de hoje, as experiências do passado. A memória não é sonho, é trabalho. Se assim é, deve-se duvidar da sobrevivência do passado, “tal como foi”, e que se daria no inconsciente de cada sujeito. A lembrança é uma imagem construída pelos materiais que estão, agora, à nossa disposição, no conjunto de representações que povoam nossa consciência atual

(Bosi, 1999Bosi, Ecléa. Memória e sociedade. Lembranças de velhos. 7ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999., p. 55).

Se as lembranças não são estáticas e continuam a ser reconstruídas por novas dinâmicas psíquicas de ligações e religações, que por sua vez se utilizam do passado para estabelecer certos propósitos, ações, condutas que interessam o presente, podemos aferir que a narrativa de viagem, embora feita a partir de um acontecimento real, tenha também algo de imaginário, ficcional, pois é a memória um trabalho, (re)criada por quem escreve, e não deve ser vista, portanto, como retrato totalmente correspondente ao acontecido. Além disso, o que parece o pensamento de um indivíduo comporta, na verdade, múltiplas vozes: “De uma vibração em uníssono com as ideias de um meio passamos a ter, por elaboração nossa, certos valores que derivaram naturalmente de uma práxis coletiva” (Bosi, 1999Bosi, Ecléa. Memória e sociedade. Lembranças de velhos. 7ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1999., p. 407).

Com efeito, embora tenha destacado o caráter “particular” da sua escrita, fica evidente que Ronca muitas vezes reproduz ideias, visões de mundo e comportamentos do grupo social ao qual pertence. É o caso, por exemplo, da maneira como caracteriza aos grupos étnicos locais, e que destacamos nos seguintes trechos (grifos nossos):

Um deles (índio) conhecia perfeitamente o rio, o outro (mulato) valia pouco, mas, tendo que navegar apenas durante o dia e por pouco tempo, era o suficiente6 6 “Uno di essi (indio) conosceva perfettamente il fiume, l’altro (mulatto) valeva poco, ma, dovendo navigare solo di giorno e per poco tempo, ne avevo abbastanza.”

(1908, p. 114).

Mas, sejam suas qualidades intelectuais, seja porque as condições especiais do clima deprimem as energias, ou ainda pela ausência das ondas tempestuosas e da fúria do furacão, que formam e temperam as características, é fato que os pilotos do vale do Amazonas, junto com muitas qualidades, têm muitos defeitos. Muitas vezes são pouco sinceros e pouco inteligentes, dificilmente seguem um raciocínio e são sempre presunçosos e cheios de estranhas suscetibilidades7 7 “Ma, siano le loro qualità intellettuali, siano le condizioni speciali del clima che deprimono le energie, sia la mancanza delle onde tempestose e della furia dell’uragano, che formano e temperano i caratteri, è un fatto che i piloti della valle Amazzonica, insieme con molte qualità, hanno molti difetti. Spesso sono poco sinceri e poco intelligenti, difficilmente seguono un ragionamento e sempre sono presuntuosi e pieni di strane suscettibilità.”

(1908, p. 115).

Esses homens, às vezes, ele os tem no local, se por sorte conseguir pegar algum índio, mas outras vezes ele vai recrutá-los e para a borracha ele geralmente pega gente do Ceará e Maranhão e os leva para os seringais8 8 “Questi uomini, qualche volta, li ha sul luogo, se per fortuna è riuscito ad accaparrarsi degli Indi, ma altre volte va a reclutarli e per la gomma prende in generale gente degli Stati di Cearà e di Maranhao e lì porta nel Seringaes.”

(1908, p. 130).

Sua escrita eurocêntrica e colonialista reproduz os preconceitos e o sentimento de superioridade que há muitos séculos vinha escravizando e dizimando populações inteiras em toda a América. Enquanto suas falas sobre indígenas e pardos naturalizam a suposta inferioridade e submissão “natural” desses grupos diante do colonizador branco europeu, o sentimento em relação a outros grupos humanos, como os nordestinos que migravam para a Amazônia em busca de trabalho nos seringais, é de piedade:

A dolorosa odisseia desses infelizes começa na partida para a floresta. Se são cearenses, foi a fome que os expulsou, como disse, de sua cidade, se são de outra origem, além da fome, às vezes, o engano os impele. Na viagem são aglomerados às centenas em embarcações ou vapores com capacidade para poucas dezenas de pessoas e para a longa viagem devem viver na imundície e entre os animais, mal alimentados e nunca tratados em nada. Não deve, portanto, surpreender se desenvolvem entre si os males que dão fama tão ruim à Amazônia, e se a morte os dizima, privados como estão de qualquer assistência médica9 9 “La dolorosa odissea di questi disgraziati comincia fin dalla partenza per la foresta. Se sono Ceerensi fu la fame che li cacciò, come dissi, dal loro paese, se di altra origine, oltre la fame alle volte li spinge l’inganno. Nel viaggio sono agglomerati a centinaia su lanchas o vapori che sarebbero capaci di poche diecine di persone e per il lungo viaggio devono vivere nell’immondizia e tra gli animali, mal nutriti e mal trattati in ogni cosa. Non deve quindi meravigliare se si sviluppano tra loro quei mali che fanno tanta cattiva fama all’Amazzonia, e se la morte li decima, sprovvisti come sono di ogni soccorso medico.”

(1908, p. 130).

O retrato da Amazônia, dos seus habitantes, costumes e meio natural, surge, portanto, no viajante branco e europeu, imbuído de uma visão de mundo eurocêntrica e masculina, que triunfa sobre os “outros”, sejam eles pessoas, animais ou floresta, cujo olhar generalista entende que devem ser dominados. Naturalmente, o relato de viagem não deve ser lido como representação histórica dos fatos, e sim como uma construção da memória. Ainda assim, é importante destacar que Navegação no Amazonas constituiu uma fonte de pesquisa que oferece várias pistas sobre a paisagem e a fauna do imenso Rio Amazonas e a relação do ser humano com o ambiente que o cercava, como no capítulo “Verso l’Amazzone” [Em direção ao Amazonas], em que o autor narra:

Para aumentar a ilusão de estar no mar e não em um rio, os golfinhos amazônicos contribuíram circulando ao nosso redor como golfinhos do mar. Esses cetáceos que os brasileiros chamam de Botos crescem muito numerosos porque sua carne não é boa, e só às vezes são pescados para extrair do olho esquerdo um pequeno grânulo que é vendido muito caro como amuleto da sorte10 10 “Ad accrescere l’illusione di essere in mare anziché in un fiume, concorrevano i delfini amazzonici che ci volteggiavano intorno come delfini di mare. Questi cetacei che i Brasiliani chiamano Botos, crescono assai numerosi perché la loro carne non serve, e solamente qualche volta si pescano per estrarre dall’occhio sinistro un piccolo granulo che sì vende abbastanza caro come portafortuna.”

(1908, p. 98).

Além de notar os botos, Ronca testemunha também a presença de numerosas espécies de peixes, espécies estas que seriam duas vezes mais numerosas do que as existentes no mediterrâneo, mas que não são apreciadas pela população local, que “pesca quase exclusivamente a piraíba, de bela cor vermelha, a taihana, que é muito consumida em Belém, pois é muito abundante principalmente na foz, e o pirarucú (Studìs Gigas), que é consumido em toda a Amazônia seco como o bacalhau11 11 “La gente del luogo pesca quasi unicamente il piraiba di un bel colore rosso, la taihana di cui si fa molto consumo a Belem, perché abbonda principalmente verso la foce, ed il pirarucù (Studìs Gigas), che si mangia in tutta l’Amazzonia seccato come il baccalà.” ” (1904, p. 98). São também objeto de sua narrativa o peixe-boi, que fornecia óleo para a iluminação, tartarugas, crocodilos, sucuris, cascavel e outras espécies de serpentes. Além disso, há a descrição de aspectos arquitetônicos, urbanísticos e econômicos do Pará, em especial de Belém, e ainda de Manaus; descrição do clima e dos hábitos de higiene na Amazônia; aceno para a presença de doenças como a febre amarela e malária, bem como a presença de onze hospitais/ casas de saúde em Belém; além da costumeira descrição das riquezas e dados sobre o comércio, enriquecidas com as já citadas tabelas de importação e exportação que destacam a importância do porto de Belém.

O excerto que apresentamos e traduzimos aqui, “Navigazione sull’Amazzone” [Navegação no Amazonas], trata das dificuldades de navegação ocorrida pela falta de mapas e de pilotos capacitados; as experiências de usar a madeira, e não o carvão, como combustível; aspectos paisagísticos da floresta e a extração da borracha nos seringais. Temos assim conhecimento da venda de madeira em grande quantidade para alimentar os navios, marcando, desde aquela época, a destruição da floresta que perdura até nossos dias; visualizamos a grandeza e a riqueza das espécies da floresta pelo olhar encantado do narrador, que do navio observa:

Pudemos assim admirar, a nosso prazer e em todo seu esplendor, a maravilhosa floresta amazônica. Nela, árvores imensas, arbustos finos como juncos, palmeiras delicadas, parasitas de todas as formas, orquídeas preciosas, samambaias elegantes, tudo, desde a mais fina folha de grama até o gigante do reino vegetal (em Rio Branco foi observada uma árvore que mede, em torno dos ramos, uma circunferência de 250 metros), tudo se amontoa na mais estranha confusão. É difícil encontrar duas plantas idênticas juntas, tanto que, diz-se, pode-se contar um milhão delas, uma diferente da outra, em um quilômetro quadrado12 12 “Potemmo così ammirare a nostro bell’agio ed in tutto il suo splendore la meravigliosa foresta amazzonica. In essa alberi immensi, arboscelli sottili come giunchi, palme delicate, parassiti di ogni forma, orchidee preziose, felci eleganti, tutto, dal filo di erba più sottile al gigante del regno vegetale (nel Rio Branco è stato osservato un albero che misura intorno ai rami una circonferenza di 250 metri), tutto è ammassato nella più strana confusione. Riesce perciò difficile trovare vicine due piante eguali tanto che, dicesi, se ne possono contare un milione, diverse una dall’altra, in un chilometro quadrato.”

(1908, p. 118).

No capítulo “Sull’Amazzone” [Sobre o Amazonas], são informados aspectos como características sobre o fundo do rio Amazonas e de seus afluentes, profundidade, correntes, variações sobre o nível do rio, perigos da navegação, inconvenientes, conselhos para quem quer navegar no Amazonas, descrição dos rios afluentes, como o rio Madeiras, rio Negro; descrição de Manaus e de sua arquitetura, urbanísticas das ruas e construções, iluminação elétrica. As descrições são divididas por trecho, assim, pode-se ter uma ideia das especificidades de cada trecho, por exemplo, “De Santarém a Manaus”, “De Japurà a Juruà”, “De Javary a Iquitos”, “De Iquitos a Santa Fé”, e dali o retorno ao mar.

O livro se conclui com um capítulo sobre o comércio e a emigração da Amazônia, considerada por ele como “função natural e necessária da nossa vida nacional” (1908, p. 215), de tal maneira que:

é preciso ensinar nossos jovens não só a se tornarem bons cidadãos, mas também a arte, eu diria, de se tornar um bom emigrante. E, como acontece com muitos problemas em nossa vida, a solução para isso deve ser feita na escola. Para isso seria necessário um grupo de professores instruídos, amantes do país e das instituições, e bem conscientes de seus deveres, que ensinassem nas escolas primárias e seguintes não apenas a ler e escrever, mas também [...] como se tornar um bom cidadão, trabalhador diligente e laborioso, e como também se possa levar sua energia para o exterior, permanecendo ligado à pátria e por ela apoiado, incentivado e defendido, como os filhos devem ser de uma mãe amorosa13 13 “è d’uopo insegnare ai nostri giovani non solo a diventare buoni cittadini, ma anche l’arte direi di farsi buono emigrante. E, come per molti problemi della nostra vita, la soluzione di questo bisogna farla nella scuola. Occorrerebbe per ciò una schiera di maestri colti, amanti della patria e delle istituzioni, e ben consci dei loro doveri, che insegnassero nelle scuole elementari ed in quelle serali non solo a leggere e scrivere, ma anche [...] come si diventa buoni cittadini, solerti e laboriosi operai, e come si possa portare anche all’estero la propria energia, restando alla patria legati e dalla patria sostenuti, incoraggiati e difesi, come i figli devono esserlo da una madre amorosa.”

(1908, p. 214-215).

Ronca parece concluir assim que o projeto de soberania e desenvolvimento italiano na região Amazônica só seria possível mediante um projeto que tivesse as escolas italianas como parceiras. Após a Unificação da Itália, ocorrida em 1860, uma das preocupações foi justamente a escolarização, que permitiria o conhecimento da língua italiana, visto que não havia uma língua comum a todas as pessoas, assim como não havia um sentimento de identidade e de pátria difundidos. Não deixa de ser curiosa a defesa de uma escola que tivesse em seu currículo assuntos de emigração e de adaptação a novos lugares, embora possamos pensar essa ideia no contexto econômico-expansionista defendido por ele, talvez menos preocupado em realmente iniciar um diálogo com os conterrâneos, os mesmos que haviam deixado a Itália alguns anos/décadas antes, no contexto da Unificação, motivados pela pobreza econômica extrema e pelo natural desejo humano de melhorar de vida, e mais interessado em fazer com que essas pessoas, movidas pelo sentimento fictício de uma “pátria italiana” a ser restituída trabalhassem no exterior para ajudar a Itália a se tornar uma grande potência. Ao defender a emigração italiana para o Brasil, afirma: “Mas 16 milhões de habitantes não são quase nada para esta terra sem limites; onde sempre faltam os braços necessários para cultivar pelo menos uma considerável parte da terra, para começar a cortar as florestas, para trabalhar em um maior número de minas e para desenvolver indústrias14 14 “Ma 16.000.000 di abitanti, sono quasi nulla per questa terra sconfinata; onde mancano sempre le braccia necessarie per coltivare almeno una parte notevole della terra, per iniziare il taglio delle foreste, per lavorare maggior numero di miniere e per sviluppare le industrie.” ” (1904, p. 107. Grifos nossos). Em outro momento, ao falar das belezas da floresta e de suas mudanças, afirma: “essas magnificências naturais sempre me inspiraram um sentimento de admiração misturado a um sentimento de orgulho pela segurança de que em um futuro próximo o homem dobrará essa natureza rebelde às suas necessidades15 15 “quelle magnificenze naturali mi hanno sempre ispirato un senso di ammirazione mista ad un sentimento di orgoglio per la sicurezza che in un avvenire prossimo l’uomo avrebbe piegato ai suoi bisogni quella natura ribelle.” ” (1904, p. 120. Grifos nossos).

A ideia de uma terra de proporções incomensuráveis, vista sob o olhar italiano como uma eterna colônia não mais somente portuguesa, mas europeia, que somente se transformaria no que acreditavam ser o desenvolvimento depois de ter seus espaços de florestas limpos, certamente não era exclusiva de Ronca, e seu relato soma-se ao de muitos que, imbuídos das concepções predatórias de seu tempo, defendiam a exploração dos recursos naturais e humanos da região. Não por acaso as palavras do autor ao comparar as regiões visitadas e ter escolhido a Amazônia foram: “para a imensa bacia desta última senti-me mais atraído, porque sobre ela recairá a atenção de todo o mundo civil, e pareceu-me uma coisa boa que nossa bandeira foi uma das primeiras a chegar lá16 16 “verso l’immenso bacino di quest’ultimo mi sentivo attratto maggiormente, perché su di esso presto si porterà l’attenzione di tutto il mondo civile, e mi parve un bene che fra le prime ad arrivarci fosse la nostra bandiera.” ” (1908, p. 08. Grifos nossos).

Visionário ao alertar que os olhos do mundo se voltariam para a bacia do Amazonas, Ronca reconhecia a importância de empreender e marcar território para melhor aproveitamento dos recursos e do comércio na região, de modo a favorecer o desenvolvimento da recém-formada Itália. Deste ponto de vista, cumpriu com êxito a sua missão de narrador responsável por informar ao público italiano o que vivenciara e o que pensava da floresta e do rio.

***

Como foi dito, o excerto que apresentamos e traduzimos aqui, “Navigazione sull’Amazzone” [Navegação no Amazonas], é composto por 2 subcapítulos, “Ricerca delle carte e dei piloti, rifornimento di combustibile” [Em busca das cartas de navegação e dos pilotos; reabastecimento de combustível], e “Nei canali tra Para e l’Amazzone. La foresta Amazzonica. L’estrazione della gomma arabica”. [Nos canais entre o Pará e o Amazonas. A floresta Amazônica. A extração da borracha]

Em relação às questões de tradução, buscamos manter a letra do texto (Berman, 2013Berman, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. 2ª ed. Tradução de Andréia Guerini, Marie-Hélène Torres e Mauri Furlan. Florianópolis/ Tubarão: PGET / Copiart, 2013.), sendo que algumas características do texto trouxeram particular desafio, como a presença de vocábulos em português e espanhol no texto em italiano, os termos em navegação e o vocabulário específico de botânica. Portanto, podemos destacar que as questões de léxico e os aspectos estilísticos-semânticos foram os que mais atenção requereram durante o ato de traduzir. Notas explicativas foram utilizadas para alguns termos e nomes próprios pouco conhecidos a fim de contextualizar o público leitor da atualidade. Mesmo sendo um texto não tão arcaico, existem diferenças percebidas pelo uso de vocabulário que pode soar estranho a quem lê o texto nos dias de hoje. Assim, o fator da temporalidade pode ser levado em consideração na análise da tradução.

Algumas palavras, na atualidade, não possuem a mesma representação que possuíam quando Ronca escreveu seu relato, como no caso da palavra lancha. Ronca utiliza esse termo, que nós optamos por traduzir como embarcação, seguindo a descrição do que seria uma ‘lancha’. Não usamos a palavra lancha na tradução, embora ela exista em português brasileiro, porque a embarcação descrita pelo explorador italiano não se referia ao mesmo objeto que o leitor de hoje normalmente compreenderia. Outro termo náutico encontrado no texto de Ronca foi vaporino, também este uma embarcação, e que foi traduzido como pequeno barco a vapor e pequeno navio a vapor. Vale lembrar que vapore também diz respeito aos ‘navios a vapor’, embarcações maiores que faziam trechos transoceânicos, como na rota Gênova-Amazônia, operada pela Companhia La Ligure Brasiliana, presente no texto.

Duas palavras importantes para o texto são gomma e caucciù, para as quais traduzimos como borracha e caucho, respectivamente. Destacamos essas palavras porque o próprio Ronca citou em seu relato a existência de confusão entre os termos, como vemos no trecho a seguir:

Sabe-se que o caucho tem qualidades diferentes daquelas da borracha elástica e, dadas as localizações das duas observações, eu estaria inclinado a acreditar que se deve a descoberta da borracha ao padre Manoel e a do caucho a La Condamine; mas não pude esclarecer o fato também porque, frequentemente, vi um nome confundido com o outro, talvez porque alguns não dão atenção às qualidades e usos específicos dos dois materiais, mas se limitam a dizer que, entre as várias espécies de borracha exportadas da Amazônia, há uma que se chama caucho. No local, pois, embora todos os interessados saibam a diferença de preço entre um produto e outro, não se preocupam muito com sua história17 17 “È noto che il caucciù ha qualità diverse da quelle della gomma elastica, e date le località delle due osservazioni, sarei propenso a credere che si debba la scoperta della gomma a Padre Manoel e quella del caucciù a La Condamine; ma non mi è riuscito di chiarire il fatto anche per la ragione che spesso mi è occorso vedere confuso l’un nome con l’altro, forse perchè alcuni, non badando alle qualità specifiche ed agli usi delle due materie, si limitano a dire che tra le varie specie di borracha esportata dall’Amazzonia, ve ne è una che è chiamata caucciù. Sul luogo poi, benchè tutti gli interessati sappiano la differenza del prezzo tra l’uno e l’altro prodotto, non si occupano troppo della loro storia.”

(1908, p. 124. Grifos nossos).

É curioso notar ao longo do texto algumas reflexões trazidas por Ronca, assim como o uso de línguas diversas e mistura dessas para tratar de determinado objeto, como em: “Ele sai da cabana de manhã cedo, e faz a ronda em todas as suas árvores e cada uma delas faz uma pequena incisão com um machado (machadinha, português; mashadìña, espanhol)18 18 “Parte dalla capanna al mattino di buon’ora, e fa il giro di tutti i suoi alberi e ad ognuno di essi con un’ascia (machadinha, portoghese; mashadìña, spagnolo), fa delle piccole incisioni.” ” (Ronca, 1908Ronca, Gregorio. Dalle Antille alle Gujane e all’Amazzonia. 2. ed. Roma: Rivista marittima, 1908., p. 131. Grifos nossos). Apesar de a grafia não estar totalmente correta segundo regras ortográficas dos idiomas usados, como em mashadiña citado em espanhol, decidimos manter a grafia usada pelo explorador italiano com o intuito de preservar características do texto de partida.

Os termos de botânica demandaram maior pesquisa e foram utilizadas notas de rodapé para explicar à qual família cada espécie pertencia, como no trecho em que ele determina a melhor lenha para uso nas fornalhas do navio: “A melhor é a capirona, a quinila ou a remo caspi, [...]19 19 “La migliore è quella di capirona, di quinila o di remo caspi.” ” (Ronca, 1908Ronca, Gregorio. Dalle Antille alle Gujane e all’Amazzonia. 2. ed. Roma: Rivista marittima, 1908., p. 118. Grifos nossos). No caso de arauca, não foi possível identificar a espécie. Pela semelhança fonológica e morfológica, poderíamos pensar em araucária. Contudo, o contexto em que a palavra foi empregada não condiz com a planta da araucária, como podemos ler: “Outras vezes é a sementinha da arauca que, carregada pelo vento na casca enrugada de um galho forte, se adere a ele e gera uma graciosa folhazinha, enquanto lança raízes poderosas que penetram na madeira da árvore, cruzam a sua medula e vão germinar do outro lado20 20 “Altre volte è il piccolo seme dell’arauca che portato dal vento sulla corteccia rugosa di un forte ramo vi si attaca e genera una graziosa fogliolina, mentre getta radici poderose che penetrano nel legno dell’albero, ne traversano il midollo e vanno a germogliare anche dall’altro lato.” ” (Ronca, 1908Ronca, Gregorio. Dalle Antille alle Gujane e all’Amazzonia. 2. ed. Roma: Rivista marittima, 1908., p. 120. Grifo nosso). Contudo, tomando a definição e características da planta araucária, percebemos que não seria a tradução correspondente. Tomemos o que se diz sobre a araucária ou pinheiro brasileiro:

Araucaria angustifolia (Bert.) O. Ktze, conhecida popularmente como araucária, pinheiro brasileiro ou pinheiro do Paraná, é uma das espécies nativas mais importantes do Sul do Brasil. Originalmente cobria grandes áreas contínuas na Região Sul, estendendo-se para São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo na forma de pequenas manchas isoladas, principalmente nas regiões mais frias e altas destes estados

(Wendling; Zanette, 2017Wendling, Ivar; Zanette, Flávio (ed. técnicos). Araucária: particularidades, propagação e manejo de plantios. Brasília (DF): Embrapa, 2017. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/160811/1/Araucaria.pdf. Acesso em 22/03/2022.
https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/...
, p. 15).

Como o texto de Ronca diz respeito à região amazônica, onde a araucária não é comum, optamos por manter a palavra não traduzida (arauca). Os demais casos receberam termos correspondentes em português, como percebemos no seguinte excerto: “Plantas medicinais como a ipecacuanha, a copaíba, o guaraná (das quais 34 toneladas foram exportadas do Pará em 1891), salsaparrilha, a fava tonka, etc., são tão numerosas que o vale amazônico poderia ser a farmácia do mundo [...]21 21 “Le piante medicinali, come l’ipecacuana, il copaive, il guaraná (di cui nel 91 si esportarono 34 tonnellate da Parà), la salsapariglia, la noce tonka, ecc., sono tanto numerose che la valle Amazzonica potrebbe essere la farmacia del mondo.” ” (1908, p.123).

No caso do trecho: “A ibady (a coca) cresce abundantemente [...]22 22 “L’Ibady (la coca) cresce abbondante.” ” (1908, p. 122. Grifo nosso), o explorador escreve a palavra seguida de sua definição em italiano (la coca) entre parênteses, estrutura que mantivemos na tradução, conservando o termo ibady e traduzindo a definição, assim como aparece no texto de partida. Seguindo a mesma linha, todas as palavras em língua estrangeira foram mantidas na tradução. Em algumas situações, o próprio autor escreveu uma definição entre parênteses.

Houve um caso que não obtivemos sucesso na busca por um correspondente em português: “[...] Existem dois tipos de mandioca: a doce e a amarga. A raiz da primeira pode ser consumida impunemente, e com algumas operações de lavagem e secagem obtém-se um pó fino – micosacche – que tem uso semelhante à nossa farinha23 23 “Vi sono due specie di manioca: la dolce e l’amara: la radice della prima si può mangiare immunemente, e con delle operazioni di lavaggio e di essiccazione se ne ricava una polvere fina – micosacche – che ha impegno analogo alla nostra farina.” ” (1908, p. 123. Grifo nosso). Micosacche, pelo contexto da palavra, conforme aponta a nota de rodapé, pode ter sido um erro de grafia, pois não conseguimos identificar termo semelhante em italiano para contexto semelhante.

Com essas observações, finalizamos esse texto de apresentação, esperando que o público leitor possa continuar suas reflexões acerca do autor, da obra e do tema, em seu contexto de tradução.

  • 1
    “Le principali di queste passarono a poca distanza dalla mia, e mi fu possibile leggere i loro nomi scritti a grandi lettere d’oro sulle poppe. Ognuno di quei nomi ricordava un eroe od una vittoria, onde mi pareva di vedere passare la gloria dell’Inghilterra, e che la sua storia grandiosa si svolgesse dinanzi ai miei occhi. Chiuso negli stretti confini delle sue isole il popolo inglese visse, quasi povero e poco temuto, finché per spontaneo impulsi si slanciò sul mare, e col potere navale conquistò gloria, grandezza e potenza meravigliose. Nel mondo infatti, è sempre prevalente chi sul mare sa affermarsi, ed in quel momento sognai con più entusiasmo il giorno in cui questo giovane e forte popolo d’Italia, che seppe imporre all’Europa attonita le sue aspirazioni alla libertà, saprà imporre a se stesso la volontà di raggiungere una grandezza pari al suo valore, e quindi vorrà possedere e possederà una marina capace di fargli acquistare nel mondo l’influenza cui ha diritto.” Todas as traduções são de nossa autoria.
  • 2
    O Dogali foi um navio oceânico de guerra de 2.200 toneladas, 76 metros de comprimento, dotado de canhões, metralhadoras e lança-torpedos.
  • 3
    “Le istruzioni che mi furono consegnate al momento della partenza, e che, se mi fosse lecito, vorrei definire un modello di sapienza civile e militare, mi ingiungevano, fra le altre cose, di visitare le Antille e l’America centrale, regolando però l’itinerario e scegliendo, i porti da toccare, in modo che le visite ad essi, oltre a soddisfare anche alle nostre esigenze e ai nostri interessi generali, riuscissero utili alla prosperità nazionale.
    Lusinghiero era quindi il compito che mi si assegnava, ma grave assai, e nel tentare la soluzione del difficile problema, pensai che tra i fatti che concorrono a formare la nostra prosperità e di cui io poteva occuparmi, erano da annoverare il commercio e quella meravigliosa attività emigratrice della nostra gente; mercé la quale la nuova Italia ha potuto spargere per il mondo 4 milioni dei suoi figli senza risentirne danni anzi traendone benefizi. Ma più che altro mi parve di dover studiare gli interessi della emigrazione, perché nel maggior numero dei casi avviene che la espansione del nostro commercio si manifesta dove essa si è stabilita”.
  • 4
    “in ogni circostanza ci ispirò sicurezza nel successo e ci fu di incitamento al dovere.”
  • 5
    “Nel pubblicare queste mie note particolari intorno al viaggio della R. nave “Dogali” da me comandata dal febbraio del 1904 al luglio del 1905, desidero richiamare l’attenzione del lettore sulla qualifica particolare che ho dato alle note stesse, perché esse nulla hanno, né possono avere di comune con i miei rapporti ufficiali, onde io espongo le mie impressioni o le mie osservazioni come le sentii sui luoghi e come un qualsiasi viaggiatore.”
  • 6
    “Uno di essi (indio) conosceva perfettamente il fiume, l’altro (mulatto) valeva poco, ma, dovendo navigare solo di giorno e per poco tempo, ne avevo abbastanza.”
  • 7
    “Ma, siano le loro qualità intellettuali, siano le condizioni speciali del clima che deprimono le energie, sia la mancanza delle onde tempestose e della furia dell’uragano, che formano e temperano i caratteri, è un fatto che i piloti della valle Amazzonica, insieme con molte qualità, hanno molti difetti. Spesso sono poco sinceri e poco intelligenti, difficilmente seguono un ragionamento e sempre sono presuntuosi e pieni di strane suscettibilità.”
  • 8
    “Questi uomini, qualche volta, li ha sul luogo, se per fortuna è riuscito ad accaparrarsi degli Indi, ma altre volte va a reclutarli e per la gomma prende in generale gente degli Stati di Cearà e di Maranhao e lì porta nel Seringaes.”
  • 9
    “La dolorosa odissea di questi disgraziati comincia fin dalla partenza per la foresta. Se sono Ceerensi fu la fame che li cacciò, come dissi, dal loro paese, se di altra origine, oltre la fame alle volte li spinge l’inganno. Nel viaggio sono agglomerati a centinaia su lanchas o vapori che sarebbero capaci di poche diecine di persone e per il lungo viaggio devono vivere nell’immondizia e tra gli animali, mal nutriti e mal trattati in ogni cosa. Non deve quindi meravigliare se si sviluppano tra loro quei mali che fanno tanta cattiva fama all’Amazzonia, e se la morte li decima, sprovvisti come sono di ogni soccorso medico.”
  • 10
    “Ad accrescere l’illusione di essere in mare anziché in un fiume, concorrevano i delfini amazzonici che ci volteggiavano intorno come delfini di mare. Questi cetacei che i Brasiliani chiamano Botos, crescono assai numerosi perché la loro carne non serve, e solamente qualche volta si pescano per estrarre dall’occhio sinistro un piccolo granulo che sì vende abbastanza caro come portafortuna.”
  • 11
    “La gente del luogo pesca quasi unicamente il piraiba di un bel colore rosso, la taihana di cui si fa molto consumo a Belem, perché abbonda principalmente verso la foce, ed il pirarucù (Studìs Gigas), che si mangia in tutta l’Amazzonia seccato come il baccalà.”
  • 12
    “Potemmo così ammirare a nostro bell’agio ed in tutto il suo splendore la meravigliosa foresta amazzonica. In essa alberi immensi, arboscelli sottili come giunchi, palme delicate, parassiti di ogni forma, orchidee preziose, felci eleganti, tutto, dal filo di erba più sottile al gigante del regno vegetale (nel Rio Branco è stato osservato un albero che misura intorno ai rami una circonferenza di 250 metri), tutto è ammassato nella più strana confusione. Riesce perciò difficile trovare vicine due piante eguali tanto che, dicesi, se ne possono contare un milione, diverse una dall’altra, in un chilometro quadrato.”
  • 13
    “è d’uopo insegnare ai nostri giovani non solo a diventare buoni cittadini, ma anche l’arte direi di farsi buono emigrante. E, come per molti problemi della nostra vita, la soluzione di questo bisogna farla nella scuola. Occorrerebbe per ciò una schiera di maestri colti, amanti della patria e delle istituzioni, e ben consci dei loro doveri, che insegnassero nelle scuole elementari ed in quelle serali non solo a leggere e scrivere, ma anche [...] come si diventa buoni cittadini, solerti e laboriosi operai, e come si possa portare anche all’estero la propria energia, restando alla patria legati e dalla patria sostenuti, incoraggiati e difesi, come i figli devono esserlo da una madre amorosa.”
  • 14
    “Ma 16.000.000 di abitanti, sono quasi nulla per questa terra sconfinata; onde mancano sempre le braccia necessarie per coltivare almeno una parte notevole della terra, per iniziare il taglio delle foreste, per lavorare maggior numero di miniere e per sviluppare le industrie.”
  • 15
    “quelle magnificenze naturali mi hanno sempre ispirato un senso di ammirazione mista ad un sentimento di orgoglio per la sicurezza che in un avvenire prossimo l’uomo avrebbe piegato ai suoi bisogni quella natura ribelle.”
  • 16
    “verso l’immenso bacino di quest’ultimo mi sentivo attratto maggiormente, perché su di esso presto si porterà l’attenzione di tutto il mondo civile, e mi parve un bene che fra le prime ad arrivarci fosse la nostra bandiera.”
  • 17
    “È noto che il caucciù ha qualità diverse da quelle della gomma elastica, e date le località delle due osservazioni, sarei propenso a credere che si debba la scoperta della gomma a Padre Manoel e quella del caucciù a La Condamine; ma non mi è riuscito di chiarire il fatto anche per la ragione che spesso mi è occorso vedere confuso l’un nome con l’altro, forse perchè alcuni, non badando alle qualità specifiche ed agli usi delle due materie, si limitano a dire che tra le varie specie di borracha esportata dall’Amazzonia, ve ne è una che è chiamata caucciù. Sul luogo poi, benchè tutti gli interessati sappiano la differenza del prezzo tra l’uno e l’altro prodotto, non si occupano troppo della loro storia.”
  • 18
    “Parte dalla capanna al mattino di buon’ora, e fa il giro di tutti i suoi alberi e ad ognuno di essi con un’ascia (machadinha, portoghese; mashadìña, spagnolo), fa delle piccole incisioni.”
  • 19
    “La migliore è quella di capirona, di quinila o di remo caspi.”
  • 20
    “Altre volte è il piccolo seme dell’arauca che portato dal vento sulla corteccia rugosa di un forte ramo vi si attaca e genera una graziosa fogliolina, mentre getta radici poderose che penetrano nel legno dell’albero, ne traversano il midollo e vanno a germogliare anche dall’altro lato.”
  • 21
    “Le piante medicinali, come l’ipecacuana, il copaive, il guaraná (di cui nel 91 si esportarono 34 tonnellate da Parà), la salsapariglia, la noce tonka, ecc., sono tanto numerose che la valle Amazzonica potrebbe essere la farmacia del mondo.”
  • 22
    “L’Ibady (la coca) cresce abbondante.”
  • 23
    “Vi sono due specie di manioca: la dolce e l’amara: la radice della prima si può mangiare immunemente, e con delle operazioni di lavaggio e di essiccazione se ne ricava una polvere fina – micosacche – che ha impegno analogo alla nostra farina.”

Referências

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    » https://riu.ufam.edu.br/bitstream/prefix/2684/1/PIB_H_0071-Relat%C3%B3rio_Final__Roberta_Brito.pdf
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  • Genette, Gérard. Paratextos editoriais Tradução de Álvaro Faleiros. São Paulo: Ateliê Editorial, 2009.
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Set 2023
  • Data do Fascículo
    Sep-Dec 2022

Histórico

  • Recebido
    22 Ago 2022
  • Aceito
    22 Set 2022
  • Publicado
    Nov 2022
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