Resumen
Pretende-se analisar o uso de perífrases verbais portuguesas na tradução de textos alemães, observando os elementos do texto de partida que levam a essa decisão tradutiva. Com base num corpus de tradução de texto literário alemão-português, foram analisadas as ocorrências de acabar de, parar de, deixar de e acabar por + Infinitivo, observando-se a sua frequência e o seu significado. Em seguida, identificaram-se os elementos do texto de partida que desencadeiam o uso da perífrase ou lhe estão associados. Os resultados da análise foram comparados com as descrições de significado das perífrases verbais presentes em estudos linguísticos e gramáticas, verificando-se até que ponto eram compatíveis ou complementares dos estudos existentes. Por fim, compararam-se os dados relativos às perífrases que remetem para o final das situações com os resultados de estudos anteriores sobre o uso tradutivo das perífrases aspetuais de início e parte intermédia das situações.
Palavras-chave
perífrases verbais; perífrases aspetuais; tradução alemão-português
Abstract
The purpose of this paper is to analyse the use of Portuguese verbal periphrases in the translation of German texts, by examining the elements of the source text that lead to this translation decision. Based on a German-Portuguese translation corpus of literary text, the occurrences of acabar de, parar de, deixar de and acabar por+Infinitive were collected and analysed regarding frequency and meaning. The elements of the source text that trigger or are associated with the use of the periphrases were then identified. The results of the analysis were compared with the descriptions of the meaning of verbal periphrases found in linguistic studies and grammars, verifying to what extent they were compatible with or complementary to existing studies. Finally, the data concerning periphrases referring to the end of situations were compared with the results of previous studies on the translational use of aspectual periphrases that focus on the beginning and middle part of situations.
Keywords
verbal periphrases; aspectual periphrases; German-Portuguese translation
1. Introdução
O presente texto enquadra-se num projeto mais alargado de estudo do uso das perífrases verbais portuguesas em traduções de textos em língua alemã para o português europeu. Nestas construções, constituem-se predicados complexos ligando um verbo a uma forma de infinitivo ou gerúndio de um verbo nuclear – como ir + infinitivo, haver de + infinitivo, ter de + infinitivo, ir + gerúndio e estar a + infinitivo –, daí resultando a agregação de valores temporais, modais e/ou aspetuais ao significado do verbo principal. Este nosso estudo abrange essencialmente perífrases de valor aspetual que se referem ao final das situações, acabar de/parar de/deixar de + infinitivo, e, ainda, acabar por + infinitivo.
A questão é relevante devido às diferenças entre as duas línguas: as perífrases verbais são características e frequentes em português, como noutras línguas românicas, mas bastante raras no alemão, suscitando, por isso, a necessidade de reflexão específica no contexto da tradução. É certo que estas construções têm sido objeto de numerosos estudos ao longo do tempo, tanto por parte de autores de língua portuguesa como por parte de autores de língua alemã, considerando apenas as duas línguas de que nos ocupamos: são exemplo disso trabalhos como Costa (1976)Costa, A. D. (1976). Periphrastic verbal expressions in Portuguese. In J. Schmidt-Radefeldt (Ed.), Readings in Portuguese Linguistics (pp. 187-243). North-Holland., Meyer-Hermann (1978)Meyer-Hermann, R. (1978). Zu den ‚Verbalperiphrasen‘ im heutigen Portugiesisch. In H. Flasche (Hg.), Portugiesische Forschungen der Görres-Gesellschaft. Erste Reihe: Aufsätze zur portugiesischen Kulturgeschichte (vol. 15, pp. 204-226). Aschendorff., Almeida (1980)Almeida, J. de (1980). Introdução ao estudo das perífrases verbais de infinitivo. ILHPA-HUCITEC., Schemann (1982)Schemann, H. (1982). Die Definitionskriterien der Verbalperiphrasen. Niemeyer., Barroso (1994Barroso, H. (1994). O aspecto verbal perifrástico em português contemporâneo: visão funcional/sincrónica. Porto Editora.; 2007)Barroso, H. (2007). Para uma Gramática do Aspecto no Verbo Português [Tese de Doutoramento]. Universidade do Minho. http://hdl.handle.net/1822/7987
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, Cunha (1998)Cunha, L. F. (1998). As construções com progressivo em português: uma abordagem semântica [Dissertação de Mestrado]. Universidade do Porto., Travaglia (2014)Travaglia, L. C. (2014). Aspecto verbal no Português: a categoria e sua expressão (5ª edição). EDUFU. e Alzamora (2014Alzamora, H. (2014). Acabar de VINF, deixar de VINF e parar de VINF no português europeu contemporâneo: contributo para a discussão do estatuto destas perífrases verbais. Estudos Linguísticos/Linguistic Studies, 10, 131-144.; 2018)Alzamora, H. (2018). As Perífrases Verbais no Português Europeu Contemporâneo [Tese de Doutoramento]. Universidade Nova de Lisboa. http://hdl.handle.net/10362/35961
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, que incidem essencialmente sobre questões morfológicas, sintáticas e semânticas. No entanto, as descrições resultantes da análise semântica das perífrases verbais não coincidem necessariamente com os dados encontrados em textos traduzidos, sendo extremamente escassos os estudos que consideram dados desse tipo.
O objetivo central do trabalho é a problematização das escolhas dos tradutores ao decidirem-se pelo uso de perífrases verbais no par linguístico alemão-português europeu, a partir da recolha e análise de exemplos desse uso, com base na observação atenta dos contextos em que existe tradução por perífrases verbais e dos elementos do texto de partida que levam a essa decisão tradutiva. A base de trabalho é um corpus paralelo alemão-português que abrange 13 textos e excertos de textos narrativos escritos em língua alemã nos sécs. XX e XXI, com as respetivas traduções portuguesas (num dos casos, duas traduções diferentes), perfazendo no total cerca de 770 mil palavras e procurando abarcar autores e tradutores diversos, indicados adiante nas referências bibliográficas.
Note-se ainda que o facto de as perífrases verbais existirem tipicamente numa língua e não na outra faz delas um objeto potencial de análise para determinar uma eventual sub-representação (ou sobrerrepresentação) nos textos traduzidos (cf. Tirkkonen-Condit, 2004Tirkkonen-Condit, S. (2004). Unique Items − Over- or Under-represented in Translated Language? In A. Mauranen & P. Kujamäki (Eds.), Translation Universals: Do they Exist? (pp. 177-184). John Benjamins., p. 177 ss.). No entanto, essa investigação pressupõe quer a análise de textos traduzidos, quer a comparação destes com textos não traduzidos. A análise de textos traduzidos – no contexto da qual, em consonância com Mauranen (2005, p. 89)Mauranen, A. (2005). Contrasting languages and varieties with translational corpora. Languages in Contrast, 5(1), 73-92. https://doi.org/10.1075/lic.5.1.07mau
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, Pym (2008, p. 323 ss.)Pym, A. (2008). On Toury’s laws of how translators translate. In A. Pym, M. Shlesinger & D. Simeoni (Eds.), Beyond Descriptive Translation Studies: Investigations in homage to Gideon Toury (pp. 311-328). John Benjamins. e Bernardini (2011)Bernardini, S. (2011). Monolingual comparable corpora and parallel corpora in the search for features of translated language. SYNAPS – A Journal of Professional Communication, 26, 2-13. http://hdl.handle.net/11250/2393975
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, não dispensamos a consideração do texto de partida – será feita ao longo do presente trabalho, mas a comparação com os textos não traduzidos ultrapassa o seu âmbito, ficando reservada para um estudo posterior.
Nas secções seguintes, analisaremos as ocorrências de acabar de, parar de, deixar de e acabar por no corpus de tradução, observando a sua frequência e o seu significado, tentando determinar que elementos do texto de partida desencadeiam o seu uso e comparando-os com as descrições de significado das perífrases verbais presentes em estudos linguísticos, gramáticas e dicionários. O corpus analisado apresenta ainda ocorrências residuais de duas outras perífrases de sentido aspetual semelhante às três apresentadas (cessar de e terminar de), que não foram incluídas no estudo devido à escassez de dados.
2. Acabar de + Infinitivo
Segundo as descrições da perífrase aspetual acabar de (cf. Cunha, 2013Cunha, L. F. (2013). Aspecto. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Segura & A. Mendes (Orgs.), Gramática do português (vol. I, pp. 585-619). Fundação Calouste Gulbenkian., p. 613; Raposo, 2013Raposo, E. B. P. (2013). Verbos auxiliares. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Segura & A. Mendes (Org.), Gramática do português (vol. II, pp. 1221-1281). Fundação Calouste Gulbenkian., p. 1270), a forma verbal infinitiva que nelas ocorre está restrita a determinadas classes de predicados, nomeadamente os que denotam processos prolongados e que têm uma culminação, ou um fim intrínseco. As ocorrências que surgem no corpus correspondem exatamente a esta descrição, e nelas surge igualmente a maior parte das expressões apontadas por diversos autores como correspondentes ao significado de acabar de em alemão – et. beenden / et. zu Ende machen / et. fertig machen / mit etw. fertig werden / aufhören, et. zu tun (Martins, 1982Martins, M. T. H-M. S. (1982). Portugiesische Grammatik. Niemeyer., p. 351; Schemann, 1982Schemann, H. (1982). Die Definitionskriterien der Verbalperiphrasen. Niemeyer., p. 79; Gärtner, 1998Gärtner, E. (1998). Grammatik der portugiesischen Sprache. Niemeyer., p. 41) –, como se pode verificar nos exemplos seguintes:
Mas o corpus revela igualmente que há no texto de partida outros tipos de contexto que não são mencionados na bibliografia existente, nomeadamente verbos formados com a partícula aus, como austrinken e ausreden nos exemplos seguintes2 2 Veja-se Fleischer e Barz (2012, p. 407) sobre o significado egressivo de verbos formados com a partícula aus. :
A frase anterior é exemplo de uma tendência revelada pelos dados analisados: as construções temporais com als, bis, bevor e wenn (cf. (5), (6), (7), e (8)) são um contexto típico para o uso tradutivo de acabar de, de tal modo que 10 dos 15 exemplos desta perífrase aspetual contêm uma dessas conjunções temporais.
Nestes casos, a função da perífrase acabar de é explicitar ou reforçar a relação temporal de posterioridade/anterioridade entre as situações, que no texto de partida é geralmente transmitida pelo uso das formas verbais Perfekt ou Plusquamperfekt. Na frase (8), o Perfekt frisiert habe é traduzido por tenha acabado de frisar3 3 Neste caso, a introdução da perífrase evita uma tradução como logo que tenha frisado, que seria uma solução bastante inadequada, mesmo ignorando a falha lexical na tradução (frisar por pentear), mas a forma usada mantém o tempo verbal composto em português, que parece constituir uma tentativa contraproducente de reproduzir a estrutura do alemão. :
No entanto, teria sido possível uma outra solução mais simples e apropriada num diálogo – logo que acabe de pentear –, ficando a marcação de posterioridade apenas a cargo da perífrase. No exemplo (9), é necessário usar o Imperfeito na tradução de getrunken hatte para marcar a repetição habitual que em alemão é assinalada pela conjunção wenn; a perífrase surge, assim, como forma de marcar a posterioridade da situação abrir a gaveta em relação a beber e comer:
Um pouco diferente é o exemplo (10), em que a anterioridade não é marcada pelo Perfekt ou Plusquamperfekt, como nos anteriores, mas em que é o contexto narrativo a sugerir que esta frase se reporta ao culminar (e terminar) de um período em que a personagem se ocupa das suas recordações e, ainda, de outras atividades, numa tentativa de adiar a hora do regresso a casa.
O corpus regista, no total, 76 ocorrências de acabar de. No entanto, apenas 15 delas são perífrases aspetuais que focalizam a parte final das situações, como as que acabamos de analisar, sendo a grande maioria dos exemplos encontrados de um tipo diferente, ilustrado em (11):
Trata-se de um outro uso de acabar de, em que, ao significado aspetual de fim de situação, se sobrepõe o valor temporal de localização desse fim num passado muito recente em relação à enunciação (Raposo, 2013Raposo, E. B. P. (2013). Verbos auxiliares. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Segura & A. Mendes (Org.), Gramática do português (vol. II, pp. 1221-1281). Fundação Calouste Gulbenkian., p. 1270; Cunha, 2013Cunha, L. F. (2013). Aspecto. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Segura & A. Mendes (Orgs.), Gramática do português (vol. I, pp. 585-619). Fundação Calouste Gulbenkian., p. 613). Com este valor temporal, acabar de pode aplicar-se a situações com características aspetuais diversas, desde processos com um fim intrínseco (cf. (11), acima) a situações pontuais (cf. (12), abaixo) ou estados episódicos (não permanentes, por exemplo, Acabei de estar com a Ana)4 4 No caso de processos com um fim intrínseco, acabar de pode ter quer a leitura aspetual de fim de situação, quer a leitura temporal de passado recente, enquanto com situações pontuais e estados episódicos é possível apenas a leitura temporal. .
Quanto às expressões que correspondem em alemão ao uso temporal de acabar de, são indicados os advérbios gerade (Schemann, 1982Schemann, H. (1982). Die Definitionskriterien der Verbalperiphrasen. Niemeyer., p. 80; Gärtner, 1998Gärtner, E. (1998). Grammatik der portugiesischen Sprache. Niemeyer., p. 34), eben e soeben (Martins, 1982Martins, M. T. H-M. S. (1982). Portugiesische Grammatik. Niemeyer., p. 354). E são exatamente estes os elementos que estão na origem do uso da perífrase em (11), (12), (13), (14) e (15):
Estes advérbios alemães têm a particularidade de poderem remeter tanto para um passado recente como para o momento da enunciação, o que poderá explicar a existência de algumas traduções anómalas, como é o caso de (15):
Neste exemplo, gerade não se refere a um passado recente em que ao avião aterrou, mas ao processo de aterragem que coincide com o momento em que alguém o descreve dentro da narrativa, pelo que acabar de não é a opção de tradução adequada, que seria estava a aterrar ou aterrava nesse momento.
A análise do corpus revelou que, embora gerade e eben sejam os elementos mais frequentes, há ainda outros que dão origem a traduções com acabar de em sentido temporal. Dois deles são o advérbio temporal gleich e o adjetivo letzt-, que ocorrem apenas uma vez, e mais frequente, com 7 ocorrências no total, é o adjetivo frisch associado a um particípio passado em uso adjetival5 5 A norma ortográfica vigente prevê quer a grafia separada, quer a grafia justaposta de frisch + adjetivo participial. , como no exemplo seguinte:
Nestas traduções ocorre sistematicamente o particípio passado de acabar, enquanto nas traduções de gerade, eben e soeben encontramos normalmente a alternância entre Presente (14) e Pretérito Perfeito (11) para traduzir Perfekt e Präteritum e entre Pretérito Imperfeito (15) e Pretérito mais que Perfeito (12) para traduzir Plusquamperfekt.
3. Acabar por + Infinitivo
Embora acabar por não seja uma perífrase aspetual, optámos por incluí-la no presente estudo, pois, para além de o seu uso estar associado, ainda que de outra forma, ao término de um processo, a análise do corpus revelou que é muito frequente – com 69 ocorrências, pouco menos do que acabar de – e levanta questões pertinentes ao nível da tradução.
Acabar por não expressa o término da situação referida pelo infinitivo que lhe está associado, mas apresenta-a como resultado final ou consequência (Travaglia, 2014Travaglia, L. C. (2014). Aspecto verbal no Português: a categoria e sua expressão (5ª edição). EDUFU.) de “um conjunto de circunstâncias ou eventos subentendidos ou mencionados no contexto” (Medeiros, 2020Medeiros, A. B. de. (2020). Eu acabei escrevendo o artigo, de novo – um estudo sobre três construções “sinônimas” com o verbo acabar no português do Brasil. Revista de Estudos da Linguagem, 28(3), 1249-1290. http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.28.3.1249-1290
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, p. 1249), que podem estar ou não relacionados entre si. O processo que leva ao resultado final apresenta-se quase sempre como longo e/ou marcado por obstáculos ou dificuldades, eventualmente seguindo por caminhos inesperados, improváveis ou divergentes, que conduzem a um término escolhido ou que se impõe (cf. também Almeida, 1980Almeida, J. de (1980). Introdução ao estudo das perífrases verbais de infinitivo. ILHPA-HUCITEC., pp. 92 e 103 e Fernandes, 1987Fernandes, F. (1987). Dicionário de Verbos e Regimes (37ª edição). Globo., p. 41).
Quanto às expressões que correspondem em alemão ao significado de acabar por, são mencionadas schließlich (Gärtner, 1998Gärtner, E. (1998). Grammatik der portugiesischen Sprache. Niemeyer., p. 42), schließlich/endlich (doch/noch) etwas tun, am Ende (doch/noch) etwas tun; es endete schließlich damit, dass …, endlich doch dahinkommen, etwas zu tun (Schemann, 1982Schemann, H. (1982). Die Definitionskriterien der Verbalperiphrasen. Niemeyer., p. 80; Martins, 1982Martins, M. T. H-M. S. (1982). Portugiesische Grammatik. Niemeyer., p. 353). Quase todas estão presentes no corpus analisado, onde identificámos igualmente outros contextos que dão lugar a traduções com acabar por, assim como observámos a possibilidade de explicitar ou de apenas implicitar o processo que termina com a situação referida pela forma verbal infinitiva. O exemplo (17) ilustra um elevado grau de explicitação, com o verbo enden, a construção consecutiva so dass, e a própria ação (beleidigten) que dá origem ao resultado ging:
Em contraponto, o exemplo (18) é um caso em que o processo que origina o resultado (erwischen) se encontra apenas implícito no conceito de erwischen/apanhar e no empenho que ele evoca por parte da personagem da avó em contornar todas as estratégias de fuga do neto, obstáculos ao processo de erwischen/apanhar que são, esses sim, explicitados (cf. Medeiros, 2020Medeiros, A. B. de. (2020). Eu acabei escrevendo o artigo, de novo – um estudo sobre três construções “sinônimas” com o verbo acabar no português do Brasil. Revista de Estudos da Linguagem, 28(3), 1249-1290. http://dx.doi.org/10.17851/2237-2083.28.3.1249-1290
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, p. 1266):
Mas a maior parte das ocorrências analisadas apresenta um grau intermédio de explicitação do processo que conduz ao resultado referido. Por vezes, como em (19), a motivação para o uso de acabar por está simplesmente associada à duração prolongada da situação que leva a um resultado:
A duração e/ou a repetição ao longo do tempo também podem estar associadas à noção de que o resultado era considerado improvável, como acontece nos seguintes exemplos com a noite que parece não acabar (20), a estranheza perante a gradual habituação ao horror (21) e a aparente vontade própria de um copo que cai sozinho (22):
Mesmo sem explicitação de processo prolongado, os elementos de surpresa podem justificar a tradução com acabar por:
A complexidade do processo que leva ao resultado explicitado na construção com acabar por pode também ser fruto da contradição entre as circunstâncias que se impõem e a vontade dos envolvidos:
O contraste entre as circunstâncias e a vontade dos envolvidos pode também ter o resultado oposto ao dos exemplos anteriores, nomeadamente a insistência e a consumação dessa vontade, vencendo os obstáculos que tornavam pouco provável o resultado desejado:
A complexidade e a contradição podem igualmente existir na própria vontade dos envolvidos, em diferentes momentos do processo de decisão:
Os exemplos aduzidos ilustram a diversidade de elementos do texto de partida que, em constelações diversas, concorrem para a escolha de acabar por na tradução: desde expressões que revelam uma relação causa-efeito, eventualmente ligada à sucessão temporal (so … dass; so … bis; es ergab sich, dass; da + frase; und (dann); kurz nachdem; nach + nome), a expressões associadas a um prolongamento no tempo (endlich, schließlich, zuletzt noch; lange; jahrelang; nach und nach; sehr langsam; einmal vorübergehen), passando por expressões que traduzem as divergências ou mesmo a tensão entre as circunstâncias relevantes e as expectativas ou a vontade dos participantes (aber; doch; obwohl; trotzdem; überrascht; ausgerechnet; seltsam; müssen; von selber/selbst).
A estes elementos, acresce ainda a forma de Konjunkiv II würde, que marca os casos em que a situação referida pelo verbo no infinitivo se viria a realizar num tempo posterior a um ponto de referência passado:
Esta possibilidade de acabar por designar um acontecimento futuro/potencial é referida por Travaglia (2014, p. 230)Travaglia, L. C. (2014). Aspecto verbal no Português: a categoria e sua expressão (5ª edição). EDUFU. e Almeida (1980, p. 92)Almeida, J. de (1980). Introdução ao estudo das perífrases verbais de infinitivo. ILHPA-HUCITEC..
De todos os elementos presentes no texto de partida que acima elencámos como concorrendo para a possibilidade de uma tradução com acabar por, os mais frequentes no corpus são os advérbios endlich e schließlich, que são, eles próprios, polissémicos e podem assumir, para além do sentido temporal em que marcam a última fase de uma sequência ordenada de situações, um valor avaliativo/desiderativo semelhante ao que pode estar associado a acabar por. Possivelmente devido à sua polissemia, são precisamente estes os advérbios que encontramos em alguns casos de uso inadequado de acabar por na tradução:
Em (34), refere-se a última de uma sequência de situações, sem que se pressuponha um processo longo e não linear para atingir essa última etapa, o que leva à inadequação da tradução com acabar por, que poderia ser substituído por no fim, por fim, finalmente ou em último lugar.
Em (35), há uma situação desejada pelo falante, que eventualmente se atinge depois de decorrido algum tempo sem o conseguir fazer, mas não são indicados explícita nem implicitamente obstáculos ou opções divergentes que tornem o resultado suficientemente improvável para justificar o uso de acabar por, sendo mais adequada uma tradução que veicule apenas os valores temporal e desiderativo, como enfim ou finalmente. Na origem destas traduções anómalas está a ideia de que acabar por se pode usar indistintamente para traduzir frases em que ocorrem endlich e schließlich, por se reportar ao culminar de um processo, sem atender à especificidade de a culminação referida com recurso a acabar por estar associada a processos que implicam alguma dificuldade, com resultados inesperados ou improváveis.
4. Parar de + Infinitivo
No corpus analisado, foram encontradas 17 ocorrências de parar de + infinitivo. Esses exemplos estão de acordo com a caracterização desta perífrase na bibliografia, uma vez que se referem à interrupção de situações que são tipicamente processos sem um fim intrínseco, como reden/falar em (36) e rauchen/fumar (37), ou então repetições de eventos (pontuais) como schlagen/bater (39) e sagen/dizer (38) (cf. Raposo, 2013Raposo, E. B. P. (2013). Verbos auxiliares. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Segura & A. Mendes (Org.), Gramática do português (vol. II, pp. 1221-1281). Fundação Calouste Gulbenkian., p. 1271; Cunha, 2013Cunha, L. F. (2013). Aspecto. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Segura & A. Mendes (Orgs.), Gramática do português (vol. I, pp. 585-619). Fundação Calouste Gulbenkian., p. 612).
Os elementos do texto de partida que dão origem às traduções encontradas correspondem igualmente aos que são mencionados na bibliografia (Gärtner, 1998Gärtner, E. (1998). Grammatik der portugiesischen Sprache. Niemeyer., p. 41; Schemann, 1982Schemann, H. (1982). Die Definitionskriterien der Verbalperiphrasen. Niemeyer., p. 127): os verbos aufhören zu ((36), (39)) e innehalten (37), e ainda, tal como é sugerido por Schemann a partir da análise do seu corpus, as frases com a expressão adverbial nicht mehr – como o exemplo (38). O corpus revela ainda um outro contexto em que é usada a tradução por parar de, nomeadamente o uso do verbo de suspensão de movimento anhalten:
Os exemplos do corpus estão igualmente de acordo com a observação de Alzamora (2014, p. 136)Alzamora, H. (2014). Acabar de VINF, deixar de VINF e parar de VINF no português europeu contemporâneo: contributo para a discussão do estatuto destas perífrases verbais. Estudos Linguísticos/Linguistic Studies, 10, 131-144. segundo a qual, com sujeitos humanos, parar de só é compatível com ações intencionais, como é visível pelo contraste entre a situação de (39), com o seu sujeito não humano, e as ações dos restantes exemplos desta secção.
De acordo com o corpus analisado, uma característica que distingue esta perífrase de todas as restantes é a alta frequência de ocorrências com negação – mais de metade, 9 em 17, que leva a uma inversão do significado na perífrase, pois exprime a continuação da situação referida pelo verbo no infinitivo, ao invés da sua interrupção.
Esta diferença leva a que as frases negativas sejam também aspetualmente diferentes das frases afirmativas, não sendo eventos pontuais de interrupção, mas situações prolongadas. Este facto poderá estar relacionado com uma outra peculiaridade dessas ocorrências da perífrase negada, a da forma verbal usada. Não encontramos nestes exemplos o Pretérito Perfeito Simples que predomina nas frases afirmativas, mas o Pretérito Imperfeito, e ainda o Presente e o Imperativo, apesar de serem possíveis frases como Ele não parou de falar durante toda a viagem.
Quanto aos contextos do texto de partida que originam o uso da perífrase negada, na bibliografia são mencionados o verbo negado nicht aufhören zu e as expressões adverbiais de repetição ou duração ständig, unaufhörlich (Gärtner, 1998Gärtner, E. (1998). Grammatik der portugiesischen Sprache. Niemeyer., p. 41), andauernd, ohne Unterlass e die ganze Zeit (Schemann, 1982Schemann, H. (1982). Die Definitionskriterien der Verbalperiphrasen. Niemeyer., p. 127). O corpus revela o uso do verbo negado (cf. nicht aufhören zu em (41), acima), e ainda de recursos diferentes dos acima referidos, nomeadamente as expressões adverbiais unentwegt (42) e immer wieder (44), e ainda a repetição do verbo sprechen, no exemplo (43).
5. Deixar de + Infinitivo
A perífrase deixar de + Infinitivo é de longe a mais frequente no corpus analisado, com 92 ocorrências no total. Silva (1999, p. 547)Silva, A. S. da. (1999). A Semântica de DEIXAR. Uma contribuição para a abordagem cognitiva em Semântica Lexical. Fundação Calouste Gulbenkian. distingue dois significados desta perífrase, o primeiro dos quais é “não continuar (abandonar/cessar) uma ação habitual/frequentativa ou em curso, um estado ou uma qualidade”. Segundo Cunha (2013, p. 611-612)Cunha, L. F. (2013). Aspecto. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Segura & A. Mendes (Orgs.), Gramática do português (vol. I, pp. 585-619). Fundação Calouste Gulbenkian., esta perífrase ocorre preferencialmente com estados, mas também com estados habituais e distingue-se da perífrase parar de por não se aplicar às situações não estativas a que esta se associa. Os dados do corpus analisado confirmam a frequência de deixar de com estados (cf. (50) e (54), abaixo) e estados habituais (cf. (47), (52) e (56)), mas atestam também a sua compatibilidade com processos (cf. (45) e (46)). Observa-se uma alta frequência de verbos de perceção (cf., por ex., (49), (51)) e outros a cujo sujeito está associado o papel temático de Experienciador. É na compatibilidade com estes verbos, e também com os estados, que se revela no corpus a diferença – que é também complementaridade – entre deixar de e parar de, uma vez que esta última, como refere Alzamora (2014, p. 136)Alzamora, H. (2014). Acabar de VINF, deixar de VINF e parar de VINF no português europeu contemporâneo: contributo para a discussão do estatuto destas perífrases verbais. Estudos Linguísticos/Linguistic Studies, 10, 131-144., só admite sujeitos humanos associados ao papel temático de Agentes, cujas ações são intencionais. Globalmente, a compatibilidade mais alargada com diferentes tipos de situações parece justificar a maior frequência da perífrase deixar de, quer em relação a parar de, quer em relação a acabar de, que, como referimos, em sentido estritamente aspectual conta com apenas 15 ocorrências.
Quanto aos contextos do texto de partida traduzidos por esta perífrase, na bibliografia surgem como correspondentes alemães de deixar de estruturas com o verbo aufhören zu (Gärtner, 1998Gärtner, E. (1998). Grammatik der portugiesischen Sprache. Niemeyer., p. 41), a expressão adverbial nicht mehr, e ainda outros recursos como Schluss machen / davon Abstand nehmen / davon ablassen, etw. zu tun e etw. aufgeben (Schemann 1982Schemann, H. (1982). Die Definitionskriterien der Verbalperiphrasen. Niemeyer., p. 92; Martins, 1982Martins, M. T. H-M. S. (1982). Portugiesische Grammatik. Niemeyer., p. 356), mas só os dois primeiros foram identificados no corpus que analisámos. Existem numerosas ocorrências de predicados complexos com o verbo aufhören zu, como nos exemplos (45) e (46), mas há igualmente exemplos em que o próprio verbo transmite a ideia de fim de situação – é o caso de ausbleiben (ex. (47) e de aussetzen, no exemplo (48), assim como de vergehen (49), untergehen (50) e verlieren (51)6 6 Fleischer e Barz (2012, p. 389-390 e 407) referem, entre outros, o valor egressivo de verbos formados com o prefixo ver- e com a partícula aus, que sinalizam o fim de um acontecimento. :
O elemento mais frequente do texto de partida nos contextos em que se usa a perífrase deixar de – em cerca de 50% das ocorrências em frases afirmativas – é, sem dúvida, a expressão adverbial nicht/kein… mehr, como podemos observar nos exemplos (52) a (54).
Em todos estes casos é visível um aspeto adicional que caracteriza uma parte significativa dos exemplos com nicht/kein… mehr no corpus: a sinalização de um avanço no tempo ou de um limite temporal mais ou menos preciso, que marca o fim da situação: a frase subordinada com wenn em (52) e as expressões von diesem Augenblick an e mit der Zeit em (53) e (54).
Surgem ainda, embora raramente, algumas outras expressões adverbiais com efeito semelhante, como kaum noch (ex. (55)) e nicht lang (56).
Existem no corpus alguns exemplos em que a perífrase se apresenta negada, resultando essa negação na inversão do seu significado: não se trata de uma interrupção da situação referida pelo infinitivo, mas sim da sua continuação, em circunstâncias em que seria de esperar que ela não continuasse:
Quanto aos contextos do texto de partida que levam ao uso da perífrase, encontramos em (57) a expressão adverbial de tempo noch immer, que veicula a ideia de continuação, e em (58) e (59) a conjunção temporal während e a estrutura im Weitergehen, elementos que indicam a simultaneidade entre a situação referida pelo infinitivo e uma outra que poderia levar, mas não leva, à interrupção da primeira. Trata-se de contextos diferentes dos que são indicados na bibliografia como correspondentes de não deixar de: nicht unterlassen, etwas zu tun; schon/wirklich/in der Tat etwas tun; einer Sache nicht entbehren; nicht vergessen, etwas zu tun (Martins, 1982Martins, M. T. H-M. S. (1982). Portugiesische Grammatik. Niemeyer., p. 356; Schemann, 1982Schemann, H. (1982). Die Definitionskriterien der Verbalperiphrasen. Niemeyer., p. 94).
Tal como sucede com a perífrase acabar de, só uma parte das ocorrências de deixar de são perífrases aspetuais como as que se acabam de descrever. Os restantes exemplos são do tipo de (60) e (61), em que deixar de assinala não o fim, mas sim a não ocorrência de uma determinada situação:
Trata-se do segundo significado de deixar de descrito em Silva (1999, p. 547)Silva, A. S. da. (1999). A Semântica de DEIXAR. Uma contribuição para a abordagem cognitiva em Semântica Lexical. Fundação Calouste Gulbenkian.: “não (abster-se de) realizar uma ação em projeto”, no qual o valor aspetual dá lugar a um valor de negação, como também referem Peres (2013, p. 468-469)Peres, J. A. (2013). Negação. In E. B. P. Raposo, M. F. B. do Nascimento, M. A. C. da Mota, L. Segura & A. Mendes (Org.), Gramática do português (vol. I, pp. 461-498). Fundação Calouste Gulbenkian., e ainda Almeida (1980, p. 94)Almeida, J. de (1980). Introdução ao estudo das perífrases verbais de infinitivo. ILHPA-HUCITEC. e Alzamora (2014, p. 135)Alzamora, H. (2014). Acabar de VINF, deixar de VINF e parar de VINF no português europeu contemporâneo: contributo para a discussão do estatuto destas perífrases verbais. Estudos Linguísticos/Linguistic Studies, 10, 131-144.. Os exemplos (60) e (61) são os únicos do corpus em que deixar de nesta aceção surge em frases afirmativas e ambos contêm uma estrutura específica – fazer ou deixar de fazer alguma coisa. No entanto, são perfeitamente comuns exemplos de outro tipo, como o de Alzamora (2014, p. 132)Alzamora, H. (2014). Acabar de VINF, deixar de VINF e parar de VINF no português europeu contemporâneo: contributo para a discussão do estatuto destas perífrases verbais. Estudos Linguísticos/Linguistic Studies, 10, 131-144.: [e]le deixou de comer a tarte, para ta dar, e tu deitaste-a fora, em que a perífrase sinaliza a não realização de uma ação expectável (cf. também a noção de “ação em projeto”, na definição já citada de Silva, 1999Silva, A. S. da. (1999). A Semântica de DEIXAR. Uma contribuição para a abordagem cognitiva em Semântica Lexical. Fundação Calouste Gulbenkian., p. 547).
No corpus, encontramos 24 ocorrências desta aceção de deixar de, com a particularidade de 22 delas serem frases negativas7 7 As frases negativas com deixar de são, no total, 27, pelo que a larguíssima maioria são exemplos do significado de negação, e só 5 se referem à (não ocorrência da) interrupção da situação referida pelo infinitivo. , do tipo de (62):
Em exemplos como este, não deixar de significa a ocorrência da situação, em contraste com a alternativa expectável da sua não ocorrência. No texto de partida, as partículas ja doch têm precisamente a função de veicular esse contraste, que se traduz em português na conjunção mesmo e na perífrase não deixar de. Nos exemplos seguintes, a utilização da perífrase está igualmente associada ao facto de a situação referida ser improvável ou não evidente, estando também presentes partículas com valor adversativo (allerdings e aber) que exprimem o contraste:
Em (65), a possibilidade de não ocorrência da situação – isto é, de conter o riso – existiria em teoria, mas é negada pelo verbo modal müssen:
O exemplo seguinte conjuga vários elementos que induzem o uso da perífrase: um marcador de contraste trotzdem, um elemento modal e ainda dois elementos de negação (nicht möglich…keinen):
E o corpus contém ainda outros exemplos de associação de dois sinalizadores de negação no texto de partida que desencadeiam o uso da perífrase, como acontece com nicht ungefährlich e nicht zu überhören em (67) e (68):
6. Síntese do estudo e relação com outras perífrases
Os resultados que acabámos de apresentar enquadram-se num projeto mais vasto, que abrange não só as perífrases verbais que destacam o fim das situações, mas também perífrases que designam o seu início e a sua parte intermédia, já abordadas em trabalhos anteriores com objetivos similares (Carecho & Soares 2020Carecho, J. & Soares, R. (2020). “Vamos ter de voltar a aprender a ter tempo livre”: as perífrases verbais portuguesas na tradução. In A. D. Bravo, A. M. Alves, C. Martins, E. M. Silva & I. Chumbo (Eds.), Culturas, Identidades e Litero-Línguas Estrangeiras. Politicamente incorreto: será o mundo dos poliglotas? (pp.137-160). Instituto Politécnico de Bragança., 2021Carecho, J. & Soares, R. (2021). Übersetzung Deutsch-Portugiesisch und ingressive Verbalperiphrasen. In: I. Leibrandt, K. Jahn & I. Doval (Hg.), Arbeitswelten von gestern bis heute. Neue Studien in der Germanistik, Übersetzungswissenschaft und DaF (pp. 303-322). Peter Lang.). Estamos, por isso, em condições de fazer uma brevíssima síntese dos dados do corpus relativos aos contextos do texto de partida alemão que dão origem, nas traduções portuguesas, a três tipos de perífrases aspetuais:
Síntese dos elementos do texto de partida alemão que, na tradução para português, dão origem a perífrases aspetuais que focam o início, o meio e o fim das situações.
Os elementos que, no texto de partida, desencadeiam o uso das perífrases encontram-se divididos em quatro categorias: (i) estruturas complexas por vezes paralelas às perífrases verbais, baseadas em verbos que correspondem às diferentes partes da situação; (ii) verbos, adjetivos e nomes cujo significado lexical corresponde às diferentes partes das situações; (iii) expressões adverbiais de tempo ou de domínios associados; (iv) a mera interpretação do contexto, sem elementos linguísticos específicos. Observa-se que diferentes (grupos de) perífrases têm padrões diversos relativamente às categorias de elementos do texto de partida que originam o seu uso: construções paralelas às perífrases portuguesas, como anfangen/beginnen/aufhören zu só se revelam frequentes no texto de partida no caso de uma das perífrases de início de situação – começar a – e das perífrases de fim, sobretudo deixar de e parar de. Verbos, adjetivos ou nomes com significado lexical que remete para o início/meio/fim da situação só se mostram relevantes no caso das perífrases de fim. O que é sempre frequente para todos os tipos de perífrases na tradução são expressões adverbiais presentes no texto de partida. O uso das perífrases motivado não por elementos linguísticos concretos, e sim apenas pela interpretação do contexto narrativo, é algo que quase não vimos nas perífrases de fim de situação que acabámos de descrever, mas que é frequente tanto em relação a estar/andar a como em relação à perífrase de início de situação pôr-se a.
Estes casos em que só uma interpretação correta do contexto leva o tradutor a usar a perífrase afiguram-se potencialmente mais problemáticos, mas não são os únicos, já que os elementos que originam o uso da perífrase podem ser ambíguos e interagir com outros fatores, como se verificou no comentário das traduções inadequadas em (15), (34) e (35), associadas a interpretações inapropriadas de gerade, schließlich e endlich, e como é igualmente visível nos exemplos seguintes, que têm em comum as expressões adverbiais nicht mehr ((69), (70)) e von … an ((70), (71)), mas que são traduzidos com recurso a perífrases diferentes devido a outros elementos contextuais:
Para além do que é observável no Quadro 1, uma outra diferença que constatámos entre as perífrases aspetuais que se referem ao princípio, ao meio e ao fim das situações diz respeito à frequência com que elas ocorrem: as análises de corpus efetuadas indicam que as perífrases que remetem para o final das situações são bastante menos frequentes do que as que remetem para o seu início e parte intermédia, como pode verificar-se no Quadro II, onde apresentamos, na última coluna, o cálculo da quantidade de perífrases por 100000 palavras:
Frequência absoluta das perífrases aspetuais e frequência relativa à dimensão dos corpora analisados.
Embora o número total de ocorrências de deixar de analisadas no presente trabalho, 92, seja superior ao número de ocorrências de estar a (66) e começar a (51) em trabalhos anteriores, o corpus usado nesses trabalhos era bastante mais reduzido. Daí que a frequência relativa de perífrases como estar a, começar a e pôr-se a seja muito maior do que a de deixar de, como mostra a última coluna do Quadro II. Esta diferença acentuada sugere que as referências ao final das situações poderão ser discursivamente menos relevantes do que as referências ao facto de elas se iniciarem ou se verificarem/estarem em curso.
Esta pode também ser a razão pela qual identificámos uma percentagem elevada de frases negadas com as perífrases parar de (53% de frases negadas) e deixar de (29% de frases negadas), uma vez que a negação inverte o significado destas perífrases, convertendo-as em marcadores não do fim, mas da continuação ou realização de situações. No que diz respeito às perífrases com o verbo acabar, constatámos que a larga maioria das ocorrências também não se limita a registar o fim das situações, mas liga essa ideia à de passado recente (61 casos de significado temporal num total de 76 ocorrências), ou, no caso de acabar por, remete para o início da situação denotada pelo infinitivo, como resultado de um processo anterior. E, entre as poucas ocorrências de acabar de com sentido puramente aspetual (15), observamos no texto de partida uma percentagem elevada de estruturas subordinadas temporais com als/wenn/bevor/bis, cuja função é relacionar o fim de uma situação com outras situações que se iniciam ou se verificam/estão em curso. Também estes dados sugerem que a referência ao fim das situações, só por si, parece ser muitas vezes pouco relevante no discurso, ainda que os recursos da língua permitam essa referência, em paralelo com a indicação de início e parte intermédia das situações.
7. Considerações finais
O objetivo do presente trabalho era estudar o uso das perífrases verbais que indicam o fim da situação em textos traduzidos do alemão, observando os elementos que, no texto de partida, originam esse uso e comparando esses elementos com as descrições das perífrases presentes em outros estudos. A análise do corpus revelou que muitos dos contextos de uso destas perífrases na tradução contêm elementos linguísticos já mencionados em descrições anteriores, mas são também numerosos os contextos ainda não referidos na bibliografia existente, por exemplo, para acabar de, os verbos formados com a partícula aus e as construções subordinadas temporais, ou, para a mesma perífrase acabar de em sentido temporal, o adjetivo frisch associado a um particípio passado em uso adjetival. No que diz respeito a acabar por, a análise do corpus pôs em evidência a multiplicidade de contextos com características muito diversas que dão origem ao seu emprego, enquanto no caso de parar de – nomeadamente na sua variante negada, a mais frequente nos dados – foram detetados contextos de tradução não mencionados anteriormente: as expressões adverbiais unentwegt e immer wieder, assim como a repetição do verbo (spreche und spreche). No caso de deixar de, os novos contextos encontrados são sobretudo de verbos que transmitem a ideia de fim de situação, como os formados com a partícula aus e também outros como vergehen, verlieren e untergehen, enquanto para a variante negada não deixar de foram detetados contextos com noch immer, während e im Weitergehen.
Os dados acabados de elencar confirmam a relevância de estudos como este, baseados em corpora de tradução, como complemento das descrições das perífrases já existentes, uma vez que que mostram que a prática de tradução abarca um leque mais amplo de recursos. Por este facto, e também por ter revelado a complexidade inerente ao uso consistente destas perífrases e as dificuldades que daí decorrem para a tradução, o trabalho que apresentamos pode ser usado com vantagem na formação de tradutores. Os estudantes de tradução necessitam de saber usar adequadamente, na língua de chegada, estas construções que tipicamente não existem na língua de partida, uma tarefa que se pode revelar difícil, sobretudo quando lhes falta alguma experiência de lidar com as duas línguas, quer por estarem ainda a desenvolver a sua proficiência linguística em alemão, quer por falta de consciência metalinguística em português, língua materna. Essa consciência pode ser adquirida nas aulas de tradução, através do contacto com exemplos de tradução dos fenómenos em causa e da discussão das implicações das escolhas feitas. Esperamos que a análise que aqui apresentamos possa contribuir para um futuro trabalho nesse sentido.
Por fim, refiram-se ainda as conclusões que podem tirar-se da comparação entre os dados de análise das perífrases de fim de situação e os de outras perífrases aspetuais por nós estudadas anteriormente: as que se referem ao início e à parte intermédia das situações. A comparação revela que as perífrases de fim de situação têm características de uso na tradução que são algo diferentes das restantes, nomeadamente uma frequência mais baixa da marcação de fim de situação e um aumento notório de usos em que esse sentido de fim é invertido e/ou transformado em início de uma outra situação.
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1
Código composto pela sigla que identifica a obra na bibliografia e o número da página.
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2
Veja-se Fleischer e Barz (2012, p. 407)Fleischer, W. & Barz, I. (2012). Wortbildung der deutschen Gegenwartssprache. de Gruyter. sobre o significado egressivo de verbos formados com a partícula aus.
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3
Neste caso, a introdução da perífrase evita uma tradução como logo que tenha frisado, que seria uma solução bastante inadequada, mesmo ignorando a falha lexical na tradução (frisar por pentear), mas a forma usada mantém o tempo verbal composto em português, que parece constituir uma tentativa contraproducente de reproduzir a estrutura do alemão.
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4
No caso de processos com um fim intrínseco, acabar de pode ter quer a leitura aspetual de fim de situação, quer a leitura temporal de passado recente, enquanto com situações pontuais e estados episódicos é possível apenas a leitura temporal.
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5
A norma ortográfica vigente prevê quer a grafia separada, quer a grafia justaposta de frisch + adjetivo participial.
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6
Fleischer e Barz (2012, p. 389-390 e 407) referem, entre outros, o valor egressivo de verbos formados com o prefixo ver- e com a partícula aus, que sinalizam o fim de um acontecimento.
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7
As frases negativas com deixar de são, no total, 27, pelo que a larguíssima maioria são exemplos do significado de negação, e só 5 se referem à (não ocorrência da) interrupção da situação referida pelo infinitivo.
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8
Síntese baseada nos dados apresentados em Carecho e Soares (2020)Carecho, J. & Soares, R. (2020). “Vamos ter de voltar a aprender a ter tempo livre”: as perífrases verbais portuguesas na tradução. In A. D. Bravo, A. M. Alves, C. Martins, E. M. Silva & I. Chumbo (Eds.), Culturas, Identidades e Litero-Línguas Estrangeiras. Politicamente incorreto: será o mundo dos poliglotas? (pp.137-160). Instituto Politécnico de Bragança..
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9
Síntese baseada nos dados apresentados em Carecho e Soares (2021)Carecho, J. & Soares, R. (2021). Übersetzung Deutsch-Portugiesisch und ingressive Verbalperiphrasen. In: I. Leibrandt, K. Jahn & I. Doval (Hg.), Arbeitswelten von gestern bis heute. Neue Studien in der Germanistik, Übersetzungswissenschaft und DaF (pp. 303-322). Peter Lang..
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10
Dados provenientes de Carecho e Soares (2021)Carecho, J. & Soares, R. (2021). Übersetzung Deutsch-Portugiesisch und ingressive Verbalperiphrasen. In: I. Leibrandt, K. Jahn & I. Doval (Hg.), Arbeitswelten von gestern bis heute. Neue Studien in der Germanistik, Übersetzungswissenschaft und DaF (pp. 303-322). Peter Lang..
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11
Dados provenientes de Carecho e Soares (2020)Carecho, J. & Soares, R. (2020). “Vamos ter de voltar a aprender a ter tempo livre”: as perífrases verbais portuguesas na tradução. In A. D. Bravo, A. M. Alves, C. Martins, E. M. Silva & I. Chumbo (Eds.), Culturas, Identidades e Litero-Línguas Estrangeiras. Politicamente incorreto: será o mundo dos poliglotas? (pp.137-160). Instituto Politécnico de Bragança..
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12
Contabilizam-se apenas as ocorrências da perífrase com sentido aspetual, omitindo-se as que têm um sentido temporal de passado recente.
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Conjunto de dados de pesquisa
Não se aplica -
Financiamento
Este trabalho é financiado através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P., no âmbito do projeto UID/04887/2020. -
Consentimento de uso de imagem
Não se aplica. -
Aprovação de comitê de ética em pesquisa
Não se aplica. -
Publisher
Cadernos de Tradução é uma publicação do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, da Universidade Federal de Santa Catarina. A revista Cadernos de Tradução é hospedada pelo Portal de Periódicos UFSC. As ideias expressadas neste artigo são de responsabilidade de seus autores, não representando, necessariamente, a opinião dos editores ou da universidade. -
Revisão de normas técnicas
Alice S. Rezende – Ingrid Bignardi – João G. P. Silveira – Kamila Oliveira
Declaração de disponibilidade dos dados da pesquisa
Os dados desta pesquisa, que não estão expressos neste trabalho, poderão ser disponibilizados pelo(s) autor(es) mediante solicitação.
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Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
19 Jul 2024 -
Data do Fascículo
2024
Histórico
-
Recebido
09 Set 2023 -
Aceito
17 Fev 2024 -
Revisado
02 Mar 2024 -
Publicado
Abr 2024