Resumos
The article investigates the role the service sector played in job creation in Brazil during the 1977-90. Special attention is focused on what are known as personal services (community services, repairs, food and lodging, cleaning, and household services), which are considered the least attractive in terms of job quality. Firstly, results show that the proportion of the work force employed within the service sector was similar to that employed by the manufacturing and civil construction sectors together. Secondly, the number of jobs in personal services grew in both absolute and relative terms, surpassing rates for the other two sectors, while in relation to other service sectors, personal services displayed lower rates in both absolute and relative terms. Lastly, the personal services sector enjoyed systematic expansion within the urban labor market, while its participation within the service sector overall declined slightly.
services; labor market; employment; workers; employment policy
Dans cet article on cherche d’abord à savoir quel rôle le secteur des services a joué dans la création des postes de travail au Brésil pendant les années 1977-1990. On examine attentivement cinq segments qui forment ce secteur (nommés dans l’ensemble "services personnels") considérés comme les plus précaires du point de vue de la qualité des postes de travail créés; ce sont les services communautaires, de réparations, d’accueil et d’alimentation, de nettoyage et de tâches ménagères. Les résultats révèlent d’abord que ce secteur embauche un effectif de personnel équivalant à la fois à celui de l’industrie de transformation et du bâtiment. Par ailleurs, le nombre de ces postes de travail est en expansion, en valeurs absolues et relatives, avec des taux supérieurs à ceux de l’industrie de transformation et de l’industrie du bâtiment, mais avec des taux inférieurs, en valeurs absolues, et égaux, en valeurs relatives, à ceux des services restant. Enfin, le poids du secteur "services personnels" a progressé de façon systématique dans l’emploi urbain, tandis qu’il tend à diminuer dans l’ensemble du secteur des services.
services; marché du travail; emploi; travailleurs; politiques de l’emploi
services; labor market; employment; workers; employment policy
services; marché du travail; emploi; travailleurs; politiques de l’emploi
A Absorção de Mão-de-Obra no Setor de Serviços *
Ricardo Paes de Barros e Rosane Mendonça
INTRODUÇÃO
O setor de serviços, e em particular alguns de seus segmentos, tem dividido as opiniões dos pesquisadores preocupados com a conexão entre o funcionamento do mercado de trabalho e a geração da pobreza e da desigualdade. Argumenta-se, por um lado, que esse setor é um dos principais responsáveis pela geração da pobreza e da desigualdade, baseando-se na percepção de que a qualidade dos postos de trabalho (salários em particular) gerados na maioria dos segmentos que compõem esse setor é baixa. Por outro lado, argumenta-se que, uma vez que estar empregado representa sempre uma situação melhor do que a situação oposta, então, se a pobreza e a desigualdade são elevadas entre os empregados no setor de serviços, elas seriam ainda mais elevadas na sua ausência. Esta argumentação se baseia na percepção de que o setor desempenha um papel de destaque na geração do emprego.
Evidentemente, não existe nenhuma contradição entre esses dois argumentos; a diferença entre eles está no referencial usado para comparar os postos de trabalho gerados no setor de serviços, e em que medida seria possível melhorar a sua qualidade. Assim, se a baixa qualidade dos postos de trabalho gerados no setor se deve a uma regulamentação inadequada ou a um excessivo grau de desrespeito (informalidade) à regulamentação existente, então políticas apropriadas poderiam aumentar a qualidade dos postos de trabalho no setor, levando, portanto, a uma redução no grau de pobreza e desigualdade. Por outro lado, se o inchamento do setor de serviços se deve a uma genuína escassez de capital e oportunidades de expansão no setor manufatureiro da economia, então os postos de trabalho no setor de serviços são uma alternativa preferível ao desemprego e este setor funcionaria como um mecanismo de redução da pobreza e da desigualdade.
O objetivo deste artigo é contribuir para esse debate, investigando em que medida o setor de serviços e alguns dos seus segmentos, de fato, têm historicamente desempenhado um papel importante na geração de postos de trabalho no Brasil. Dado que o objetivo central do estudo é investigar a relação entre o setor de serviços e o grau de pobreza e desigualdade, concentramos a análise nos cinco segmentos desse setor considerados mais precários do ponto de vista da qualidade dos postos de trabalho gerados: serviços comunitários, de reparação, de hospedagem e alimentação, de limpeza e serviços domésticos.1
A análise é feita com base nas Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios ¾ PNADs realizadas no período 1977-1990. A análise restringe-se ao mercado de trabalho urbano no Brasil. Considerou-se apenas a população ocupada com 10 anos ou mais de idade.
METODOLOGIA
A contribuição de um segmento do mercado de trabalho para a absorção de mão-de-obra pode ser pensada segundo várias perspectivas. Neste estudo quatro óticas distintas, mas intimamente relacionadas, são utilizadas: inicialmente, diferenciamos entre a contribuição para o estoque de postos de trabalho e a contribuição para o crescimento dos postos de trabalho em um certo período de tempo. Como uma medida da contribuição para o estoque utilizamos a proporção do emprego, em 1990, que se devia ao segmento em foco. Quanto à contribuição para o crescimento dos postos de trabalho, usamos quatro indicadores cuja utilidade depende da ótica com que se pretende avaliar a contribuição dos setores. As quatro óticas surgem do desejo ou não de se relativizar a contribuição de um setor para o crescimento dos postos de trabalho com respeito a dois fatores: crescimento agregado e tamanho do setor. Em cada caso podemos falar da capacidade absoluta e relativa que, combinadas com os dois fatores, resulta nas quatro óticas referidas.
Como medida da contribuição absoluta de um setor para o crescimento dos postos de trabalho utilizamos o crescimento do emprego no setor medido como proporção do emprego total no ano base (1977). Como essa contribuição absoluta pode ser baixa, não devido a impedimentos específicos do setor, mas sim em função de a economia como um todo estar crescendo lentamente, surge a necessidade de relativizar o crescimento do emprego setorial. Vamos medir a contribuição relativa de um setor para o crescimento dos postos de trabalho utilizando o crescimento do emprego no setor, medido como proporção do crescimento agregado no emprego urbano. A contribuição relativa de um setor pode também ser reduzida não devido a um baixo crescimento, mas sim ao pequeno porte do setor. Não podemos esperar que um setor que abriga 40% da força de trabalho tenha a mesma contribuição absoluta que outro que abrigue apenas 4%. Com este objetivo em mente vamos medir a contribuição de um determinado setor para o crescimento dos postos de trabalho relativamente ao seu tamanho, utilizando como indicador o crescimento do emprego no setor, medido como proporção do emprego no setor do ano base. Finalmente, podemos relativizar a contribuição de um setor com relação tanto ao seu tamanho como ao crescimento agregado da economia. Como indicador dessa contribuição, utilizamos a razão entre a contribuição do setor para o crescimento e para o estoque. Caso este indicador seja maior que a unidade, teremos que a participação relativa do setor no emprego está crescendo ao longo do tempo (ver Tabela 1 para um sumário de como esses indicadores são construídos).
Nota: (a), (b), (c): em milhões de postos de trabalho.
A= participação em 1990
B= crescimento relativo ao emprego total em 1977
C= crescimento relativo ao emprego no setor
D= contribuíção ao crescimento
E= contribuíção relativa ao crescimento
F= emprego em 1977 em milhões de postos de trabalho
G= emprego em 1990 em milhões de postos de trabalho
H= variação absoluta no emprego em milhões de postos de trabalho
Do ponto de vista organizacional, o artigo se divide em três formas de análise inter-relacionadas. Na primeira, procuramos avaliar a contribuição para o estoque de postos de trabalho de cada setor do mercado de trabalho; para tanto, utilizamos a participação de cada setor no emprego total em 1990. Cumpre mencionar que essa medida é influenciada pela capacidade secular de geração de emprego de cada setor do mercado de trabalho, e não apenas pela sua capacidade de gerar emprego no passado recente. Com o objetivo de avaliar a capacidade de geração de emprego no passado recente é que recorremos à segunda e terceira formas de análise.
Na segunda forma de análise, buscamos avaliar a capacidade absoluta de geração de postos de trabalho de cada setor do mercado de trabalho no passado recente utilizando duas medidas: (a) o emprego gerado pelo setor entre 1977 e 1990 como proporção do emprego total em 1977; e (b) o emprego gerado pelo setor entre 1977 e 1990 como proporção do emprego no setor em 1977, isto é, a taxa de crescimento do emprego no setor. A primeira medida pode ser entendida como de capacidade absoluta de geração de postos de trabalho, ao passo que a segunda deve ser vista como uma medida da capacidade de geração de postos de trabalho relativa ao tamanho do setor. Em ambos os casos, no entanto, é a capacidade absoluta de geração de postos de trabalho em cada setor que está sendo medida e não sua capacidade em relação ao volume de postos de trabalho gerados pela economia como um todo.
Finalmente, na terceira forma de análise, procuramos avaliar a capacidade relativa de geração de postos de trabalho de cada setor do mercado de trabalho. Para isso utilizamos duas medidas: (a) o emprego gerado por cada setor entre 1977 e 1990 como proporção do emprego gerado por todos os setores no mesmo período, isto é, a contribuição do setor para o crescimento total do emprego; e (b) a razão entre a taxa de crescimento do emprego no setor, entre 1977 e 1990, e a taxa de crescimento do emprego agregado no período. Como no caso anterior, a primeira pode ser entendida como uma medida de capacidade absoluta da geração relativa de postos de trabalho, ao passo que a segunda deve ser vista como uma medida de capacidade de geração relativa de postos de trabalho em relação ao tamanho do setor.
RESULTADOS
Nesta seção investigamos em que medida o setor de serviços e alguns de seus segmentos (serviços comunitários, de reparação, de hospedagem e alimentação, de limpeza e serviços domésticos) têm desempenhado um papel importante na geração de postos de trabalho no Brasil. Para simplificar a exposição, nos referimos a esse conjunto de segmentos dos serviços como serviços pessoais. A seção encontra-se organizada em três subseções: na primeira, analisamos a contribuição do setor de serviços como um todo, na segunda, dividimos este setor em dois subgrupos: serviços pessoais e demais serviços; e, finalmente, na terceira, analisamos a contribuição de cada um dos segmentos dos serviços pessoais.
A CONTRIBUIÇÃO DO SETOR DE SERVIÇOS PARA A GERAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO
A Contribuição para o Estoque
A coluna d da Tabela 2 apresenta a participação de cada um dos grandes setores da economia no emprego urbano em 1990. O setor de serviços, com uma participação no emprego próxima a 70%, corrobora a sua posição de principal absorvedor da mão-de-obra no Brasil.
A Capacidade de Geração de Postos de Trabalho: 1977-1990
A Tabela 2 apresenta a capacidade de geração de postos de trabalho de cada um dos grandes setores da economia. A coluna e revela que o crescimento do emprego no setor de serviços de 1977 a 1990 equivale a 66% do emprego urbano brasileiro em 1977. O emprego gerado nos demais setores urbanos não chegou a 20% do emprego urbano em 1977. Portanto, o setor de serviços gerou três vezes mais emprego no período do que todos os demais setores urbanos em conjunto, demonstrando sua importância na geração de emprego na economia.
Com o objetivo de medir a capacidade relativa de geração de postos de trabalho, calculamos a taxa de crescimento em cada um dos grandes setores. Os resultados estão apresentados na coluna f da Tabela 2 e demonstram que o fato de o setor de serviços ter sido o principal gerador de postos de trabalho no período 1977-1990 não se deve apenas a ele possuir o maior volume de emprego no ano base. Na verdade, os resultados revelam que enquanto o emprego nesse setor duplicou no período, o emprego na indústria de transformação e na construção civil cresceu 56% e 34%, respectivamente. Assim, fica demonstrado que mesmo que se leve em consideração o tamanho relativo do setor de serviços, este apresenta maior capacidade de geração de postos de trabalho que os demais setores urbanos.
A Capacidade Relativa de Geração de Postos de Trabalho: 1977-1990
As colunas g e h da Tabela 2 apresentam duas medidas alternativas da capacidade relativa de geração de postos de trabalho dos grandes setores urbanos da economia. A coluna g revela que o setor de serviços foi responsável por 79% dos postos de trabalho gerados no período, atestando sua importância relativa. A coluna h relativiza as contribuições reportadas na coluna g, dividindo a contribuição para o crescimento do emprego pela contribuição para o emprego no ano base. Indicadores maiores que a unidade mostram uma contribuição para o crescimento dos postos de trabalho superior à participação no emprego no ano base. Os resultados revelam que mesmo relativizando a contribuição do setor de serviços para o crescimento dos postos de trabalho urbanos, ainda assim verificamos que a contribuição desse setor é bem superior à contribuição da indústria de transformação e da construção civil. Enquanto a contribuição do setor de serviços para o crescimento dos postos de trabalho é 20% superior à sua participação no emprego total no ano base, na indústria de transformação e na construção civil a contribuição para o crescimento é sistematicamente inferior à proporção do emprego no ano base.
Em suma, os resultados obtidos revelam que o setor de serviços é aquele que: (1) emprega a maior proporção de trabalhadores na economia; (2) mais tem expandido o emprego, tanto em termos absolutos como em relação ao seu próprio tamanho; (3) mais tem contribuído para a geração de postos de trabalho no Brasil, levando a um crescimento sistemático da sua participação no emprego urbano.
Tabela 2
atividade
Emprego
em 1977
(a)
Emprego
em 1990
(b)
Variação
Absoluta
(c)
Proporção
do
Emprego
em 1990
(d)
Crescimento
Relativo ao
Emprego
Total em
1977 (e)
Crescimento
Relativo ao
Emprego no
Setor (f)
Contribuição
para o
Crescimento
(g)
Contribuição
Relativa
para o
Crescimento
(h)
transformação
5.1
8.0
2.9
19
12
56
15
0.88
civil
2.4
3.3
0.8
8
4
34
4
0.41
Serviços
15.3
30.5
15.3
72
66
100
79
1.20
setores
0.3
0.7
0.3
2
2
104
2
1.25
23.1
42.4
19.3
100
83
83
100
1.00
Fonte: Construída com base nas informações contidas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 1977 a 1990.
Nota: (a) - (h): ver definição Tabela 1.
A CONTRIBUIÇÃO DOS SERVIÇOS PESSOAIS PARA A GERAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO
A Contribuição para o Estoque
A coluna d das Tabelas 3 e 4 apresenta a participação no emprego dos dois grandes segmentos em que dividimos o setor de serviços: serviços pessoais e demais serviços. A Tabela 3 mostra a participação em relação ao total do emprego urbano, enquanto a Tabela 4 apresenta a participação em relação ao emprego no setor de serviços. Estas tabelas revelam que os serviços pessoais representam cerca de 1/4 do emprego urbano e aproximadamente 1/3 do emprego no setor de serviços. Portanto, embora o emprego em serviços pessoais seja maior do que o emprego na indústria de transformação, ele representa apenas 1/3 do emprego no setor de serviços como um todo.
A Capacidade de Geração de Postos de Trabalho: 1977-1990
As Tabelas 3 e 4 apresentam também os indicadores que descrevem a capacidade de geração de postos de trabalho dos dois grandes segmentos em que dividimos o setor de serviços. A coluna e dessas tabelas revela que o crescimento dos postos de trabalho em serviços pessoais entre 1977 e 1990 representou cerca de 20% do emprego total em 1977 e aproximadamente 30% do emprego no setor de serviços. Esses indicadores evidenciam que o crescimento dos postos de trabalho em serviços pessoais foi, em termos absolutos, superior ao crescimento do emprego na indústria de transformação e na construção civil tomados em conjunto, mas bem inferior (cerca da metade) ao crescimento nos demais serviços.
Em termos da capacidade de geração de postos de trabalho padronizada pelo tamanho do setor (medida pela taxa de crescimento do emprego em cada setor) os resultados apresentados na coluna f revelam que o emprego nos serviços pessoais cresceu 92% entre 1977 e 1990. Este desempenho é nitidamente superior ao da indústria de transformação e construção civil, mas ligeiramente inferior ao dos demais serviços. Assim, em grande medida, a maior capacidade absoluta de geração de postos de trabalho dos demais serviços relativa aos serviços pessoais advém do maior tamanho do primeiro. Quando padronizamos pelo tamanho, o desempenho do setor de serviços pessoais passa a ser apenas ligeiramente inferior.
A Capacidade Relativa de Geração de Postos de Trabalho: 1977-1990
As Tabelas 3 e 4 apresentam ainda uma série de medidas alternativas da capacidade relativa de geração de postos de trabalho dos dois grandes segmentos em que dividimos o setor de serviços A coluna g da Tabela 3 revela que a contribuição dos serviços pessoais para o crescimento dos postos de trabalho foi de cerca de 25% no período 1977-1990, revelando-se superior à contribuição da indústria de transformação e construção civil em conjunto, mas significativamente inferior à dos demais serviços, cuja contribuição foi de mais da metade dos postos de trabalho gerados no período. Em termos dos postos de trabalho gerados no setor de serviços como um todo, a coluna g da Tabela 4 revela que os serviços pessoais contribuíram com 31%, sendo os 69% restantes provenientes dos demais serviços.
Em termos relativos, a coluna h dessas tabelas revela que a contribuição dos serviços pessoais para o crescimento total dos postos de trabalho foi 10% superior à sua participação no emprego total, mas que a sua contribuição para o crescimento dos postos de trabalho no setor de serviços foi 8% inferior à sua participação neste setor. Assim, em comparação com a indústria de transformação e a construção civil, cujo crescimento dos postos de trabalho foi bem menor do que a sua participação no emprego urbano, o desempenho dos serviços pessoais foi superior. No entanto, se comparado com o desempenho dos demais serviços, o desse setor foi não apenas inferior em termos absolutos, mas também em termos relativos.
Em suma, os resultados obtidos revelam que os serviços pessoais: (1) empregam uma proporção de trabalhadores semelhante às da indústria de transformação e da construção civil em conjunto, mas, por outro lado, apenas metade daquela observada para os demais serviços; (2) têm expandido o número de postos de trabalho, tanto em termos absolutos como em relação ao seu próprio tamanho, a taxas superiores às da indústria de transformação e da construção civil em conjunto, mas inferiores em termos absolutos e semelhantes em termos relativos à expansão nos demais serviços; (3) têm dado uma contribuição para a geração de postos de trabalho no Brasil superior à da indústria de transformação e da construção civil em conjunto, mas inferior à dos demais serviços, o que tem levado a que sua participação no emprego urbano venha crescendo de forma sistemática, enquanto sua participação no setor de serviços venha declinando ligeiramente.
Fonte: Construída com base nas informações contidas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 1977 a 1990.
Nota: (a) - (h): ver definição Tabela 1.
Fonte: Construída com base nas informações contidas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 1977 a 1990.
Nota: (a) - (h): ver definição Tabela 1.
A CONTRIBUIÇÃO DOS SEGMENTOS DOS SERVIÇOS PESSOAIS PARA A GERAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO
A Contribuição para o Estoque
As Tabelas 5, 6 e 7 apresentam a participação no emprego dos cinco segmentos em que dividimos o setor de serviços pessoais. Elas mostram a participação desses segmentos em relação ao total do emprego urbano, em relação ao emprego no setor de serviços e em relação ao total para os serviços pessoais. A coluna d da Tabela 7 revela que, dentre os segmentos dos serviços pessoais, os serviços de limpeza e os serviços domésticos são os mais importantes, representando cada um cerca de 30% do emprego em serviços pessoais. O menor dos segmentos é o de serviços comunitários, que representa apenas 5% do emprego. Os segmentos de serviços de reparação e de hospedagem e alimentação ocupam uma posição intermediária com uma participação de 18% e 19%, respectivamente. A Tabela 5 revela que como parte do emprego urbano total os serviços domésticos e de limpeza representam cada um cerca de 7% do emprego e que, portanto, têm uma participação semelhante à da construção civil e de cerca de 1/3 da participação da indústria de transformação.
A Capacidade de Geração de Postos de Trabalho: 1977-1990
As Tabelas 5, 6 e 7 apresentam também uma série de indicadores descrevendo a capacidade de geração e postos de trabalho dos cinco segmentos em que dividimos o setor de serviços pessoais. A coluna e da Tabela 7 revela que o segmento com maior capacidade absoluta de geração de postos de trabalho é o de serviços de limpeza, cujo crescimento entre 1977 e 1990 representou 28% do emprego em serviços pessoais. A coluna e das Tabelas 5 e 6 revela que o crescimento do emprego nesse segmento representava 6,2% do emprego urbano e 9,4% do emprego no setor de serviços, sendo superior ao emprego gerado na construção civil, que representava apenas 4% do emprego urbano em 1977. Dos cinco segmentos dos serviços pessoais, apenas os serviços comunitários não geraram tantos postos de trabalho quanto a construção civil. De fato, o crescimento dos postos de trabalho nos outros quatro segmentos foi superior a 15% do emprego no setor de serviços pessoais e igual ou superior a 3,8% do emprego urbano em 1977.
Em termos da capacidade de geração de postos de trabalho padronizada pelo tamanho do setor (medida pela taxa de crescimento dos postos de trabalho em cada setor), os resultados revelam que o emprego nos diversos segmentos dos serviços pessoais, exceto nos serviços domésticos, mais que dobrou entre 1977 e 1990 (coluna f, Tabela 7). As taxas de crescimento observadas nesses segmentos são cerca de duas vezes superiores às da indústria de transformação e cerca de três vezes superiores às da construção civil. Em relação aos demais serviços, as taxas de crescimento são também mais elevadas, exceto nos serviços de limpeza, que apresentaram uma taxa de crescimento semelhante à dos demais serviços, e nos serviços domésticos. Um fato notável é a quase perfeita relação inversa entre a taxa de crescimento dos postos de trabalho e a participação no emprego no ano base: segmentos com menor participação inicial tenderam a crescer a taxas mais elevadas. A taxa de crescimento foi particularmente elevada em serviços comunitários e de hospedagem e alimentação, mediana nos serviços de reparação e de limpeza, e dramaticamente baixa nos serviços domésticos nos quais a taxa de crescimento foi inferior à da indústria de transformação e apenas ligeiramente superior à da construção civil.
A Capacidade Relativa de Geração de Postos de Trabalho: 1977-1990
As Tabelas 5, 6 e 7 apresentam também uma série de medidas alternativas da capacidade relativa de geração de postos de trabalho dos cinco segmentos em que dividimos o setor de serviços pessoais. A coluna g da Tabela 7 revela que os serviços de hospedagem e alimentação e os de limpeza foram os setores que mais contribuíram para o crescimento do emprego nos serviços pessoais ¾ 25% e 30%, respectivamente. Em seguida vêm os serviços domésticos e de reparação com uma contribuição para o crescimento dos postos de trabalho de 19%. A menor contribuição é a dos serviços comunitários, apenas 7%.
Em termos da contribuição para o crescimento do emprego urbano (coluna g, Tabela 5), a contribuição dos diversos segmentos, exceto serviços comunitários, fica entre 4,7% e 7,4%, o que representa uma contribuição superior à da construção civil e próxima da metade da contribuição da indústria de transformação.
Em termos relativos, a coluna h das Tabelas 5, 6 e 7 revela que a contribuição dos três menores segmentos (serviços comunitários, de reparação e de hospedagem e alimentação) para o crescimento total dos postos de trabalho foi de 50% a 100% superior à sua participação no emprego. Quanto aos serviços de limpeza, a participação no crescimento foi semelhante à participação no emprego no ano base, ao passo que nos serviços domésticos a participação no crescimento foi cerca da metade da sua participação no emprego no ano base. Assim, em comparação com a indústria de transformação e construção civil, cujo número de postos de trabalho cresceu bem menos que a sua participação no emprego urbano, o desempenho dos diversos segmentos dos serviços pessoais, exceto os serviços domésticos, foi nitidamente superior, principalmente no caso dos serviços comunitários e de hospedagem e alimentação.
Em suma, os resultados obtidos revelam que o emprego no setor de serviços pessoais: (1) encontra-se concentrado nos serviços de limpeza e nos serviços domésticos; (2) tem crescido mais, em termos absolutos, nos segmentos de limpeza e de hospedagem e alimentação; (3) em termos relativos, tem crescido mais nos serviços comunitários e de hospedagem e alimentação.
Assim, embora por razões completamente distintas, os segmentos que mais têm contribuído para o crescimento dos postos de trabalho têm sido os de serviços de limpeza e de hospedagem e alimentação. Enquanto os serviços de limpeza contribuem efetivamente para o crescimento dos postos de trabalho graças à combinação de um patamar inicial mais elevado (28%) acompanhado por uma taxa de crescimento mediana (103%), os serviços de hospedagem e alimentação apresentam uma situação inversa, com um patamar inicial mediano (19%) e uma taxa de crescimento elevada (165%) (Tabela 7). Cumpre também ressaltar a diferença entre os serviços domésticos e os serviços comunitários, que apesar de serem os que menos contribuem para o crescimento dos postos de trabalho, o fazem por razões também completamente distintas. O segmento de serviços domésticos, apesar de ser o de maior porte (32%) entre todos os segmentos dos serviços pessoais, tem uma das mais baixas contribuições para o crescimento dos postos de trabalho devido ao fato de ser um segmento com uma taxa de crescimento (40%) atipicamente baixa. Os serviços comunitários, ao contrário, combinam a mais alta taxa de crescimento (178%) com o fato de ser o segmento dos serviços pessoais com menor porte (5%). O resultado é a combinação da menor contribuição para o crescimento dos postos de trabalho (7%) com o maior hiato entre a contribuição para o crescimento dos postos de trabalho e a contribuição para o estoque de emprego no ano base (94%) (Tabela 7).
Fonte: Construída com base nas informações contidas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 1977 a 1990.
Nota: (a) - (h): ver definição Tabela 1.
Fonte: Construída com base nas informações contidas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 1977 a 1990.
Nota: (a) - (h): ver definição Tabela 1.
Fonte: Construída com base nas informações contidas na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 1977 a 1990.
Nota: (a) - (h): ver definição Tabela 1.
A= participação em 1990
B= crescimento relativo ao emprego total em 1977
C= crescimento relativo ao emprego no setor
D= contribuíção ao crescimento
E= contribuíção relativa ao crescimento
F= emprego em 1977 em milhões de postos de trabalho
G= emprego em 1990 em milhões de postos de trabalho
H= variação absoluta no emprego em milhões de postos de trabalho
CONCLUSÕES
Neste trabalho investigamos, com base nas PNADs para o período 1977-1990, o papel do setor de serviços na geração de postos de trabalho. A análise concentrou-se nos cinco segmentos deste setor (denominados conjuntamente de serviços pessoais), considerados os mais precários do ponto de vista da qualidade dos postos de trabalho gerados: serviços comunitários, de reparação, de hospedagem e alimentação, de limpeza e serviços domésticos. O universo de análise restringiu-se ao mercado de trabalho urbano no Brasil. Considerou-se apenas a população ocupada com 10 anos ou mais de idade.
Os resultados obtidos revelam três importantes características do setor de serviços pessoais. Em primeiro lugar, este setor emprega uma proporção de trabalhadores semelhante à da indústria de transformação e da construção civil em conjunto, mas, por outro lado, apenas metade daquela observada para os demais serviços. Em segundo lugar, esse setor tem expandido o número de postos de trabalho tanto em termos absolutos quanto em relação ao seu próprio tamanho a taxas superiores às da indústria de transformação e da construção civil em conjunto, mas inferiores em termos absolutos e semelhantes em termos relativos à expansão dos demais serviços. Finalmente, o setor de serviços pessoais tem dado uma contribuição para a geração de postos de trabalho no Brasil superior à da indústria de transformação e da construção civil em conjunto, mas inferior à dos demais serviços, o que tem levado sua participação a crescer de forma sistemática no emprego urbano, enquanto sua participação no setor de serviços vem declinando ligeiramente.
(Recebido para publicação em março de 1997)
NOTA:
ABSTRACT
Employment within the Brazilian Service Sector
The article investigates the role the service sector played in job creation in Brazil during the 1977-90. Special attention is focused on what are known as personal services (community services, repairs, food and lodging, cleaning, and household services), which are considered the least attractive in terms of job quality. Firstly, results show that the proportion of the work force employed within the service sector was similar to that employed by the manufacturing and civil construction sectors together. Secondly, the number of jobs in personal services grew in both absolute and relative terms, surpassing rates for the other two sectors, while in relation to other service sectors, personal services displayed lower rates in both absolute and relative terms. Lastly, the personal services sector enjoyed systematic expansion within the urban labor market, while its participation within the service sector overall declined slightly.
Keywords: services; labor market; employment; workers; employment policy
RÉSUMÉ
LAbsorption de Main-dOeuvre par le Secteur des Services
Dans cet article on cherche dabord à savoir quel rôle le secteur des services a joué dans la création des postes de travail au Brésil pendant les années 1977-1990. On examine attentivement cinq segments qui forment ce secteur (nommés dans lensemble "services personnels") considérés comme les plus précaires du point de vue de la qualité des postes de travail créés; ce sont les services communautaires, de réparations, daccueil et dalimentation, de nettoyage et de tâches ménagères. Les résultats révèlent dabord que ce secteur embauche un effectif de personnel équivalant à la fois à celui de lindustrie de transformation et du bâtiment. Par ailleurs, le nombre de ces postes de travail est en expansion, en valeurs absolues et relatives, avec des taux supérieurs à ceux de lindustrie de transformation et de lindustrie du bâtiment, mais avec des taux inférieurs, en valeurs absolues, et égaux, en valeurs relatives, à ceux des services restant. Enfin, le poids du secteur "services personnels" a progressé de façon systématique dans lemploi urbain, tandis quil tend à diminuer dans lensemble du secteur des services.
Mots-clé: services; marché du travail; emploi; travailleurs; politiques de lemploi
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
13 Out 1998 -
Data do Fascículo
1997
Histórico
-
Recebido
Mar 1997