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As hipóteses de Aryon Rodrigues: validade, valor e papel no cenário dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica

The work of Aryon Rodrigues: An evaluation of its core hypotheses and contributions to Historical Linguistics and the study of Indigenous Languages

Tendo como seu ponto de partida o estado da arte dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica na atualidade e ultrapassando, portanto, as fronteiras de estados nacionais, o presente artigo revisita hipóteses importantes de Aryon Rodrigues, cuja obra é uma das mais constantes – senão uma das maiores - referências nos estudos de linguística e línguas indígenas, deste lado e do outro lado do Atlântico e no contexto deste século e da segunda metade do século precedente. O artigo revisita, entre outras, hipóteses como: a das relações pré-históricas e históricas entre as línguas do tronco Tupi e aquelas da família Karib (hipótese Tupi-Karib; Rodrigues 1985a______. 1985a. Evidence for Tupi-Carib relationships. In: Harriet Klein Manelis & Louisa R Stark. South American Indian languages: retrospect and prospect. Austin: University of Texas Press. p. 371-404., 2003b______. 2003b. Evidências de relações Tupí-Karíb. In: Eleonora Albano et al. (org.) Saudades da língua. Campinas: Mercado de Letras, v. 1, p. 393-410., 2007a______. 2007a. Linguística comparativa e pré-história dos povos indígenas sul-americanos: a hipótese Tupí-Karíb e as relações genéticas entre Tupí, Karíb e Macro-Jê. In: Thays Cristófaro Silva & Heliana. Mello (orgs). Conferências do V Congresso Internacional da Associação Brasileira de Linguística. Belo Horizonte: FALE/UFMG, p. 165-176.); e a do relacionamento genético mais distante envolvendo Tupi, Karib e Macro-Jê (Rodrigues 1990______. 1990. Grammatical affinities among Tupí, Karíb and Macro-Jê. UnB. Ms., 2000a______. 2000a. Ge-Pano-Carib x Jê-Tupí-Karíb: sobre relaciones prehistóricas em Sudamérica. In: Luis Miranda (org.). Actas del I Congreso de Lenguas Indígenas de Sudamérica, tomo I.. Lima: Universidad Ricardo Palma. p. 95-105. e 2007______ & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. 2007. ‘Através do léxico Macro-Jê: em busca de cognatos’. In: Aryon Dall’Igna Rodrigues & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral (eds.) Línguas e Culturas MacroJê. Brasília: Editora da Universidade de Brasília, p. 175-179.). Ao fazê-lo, busca mostrar caminhos que permitam testar a validade destas e de outras hipóteses, colocando em cena, consequentemente, a questão de seu valor científico e a verificação de seu papel no cenário dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica, sobretudo. Ao mesmo tempo, o artigo lança um olhar sobre os detalhes da argumentação de Rodrigues, da utilização consistente do método que sustenta diferentes trabalhos seus e que lhe permitiu levantar determinadas hipóteses e aperfeiçoá-las, quer com relação à classificação de determinadas línguas, quer com relação a estabelecimento de determinados agrupamentos genéticos e a reconstruções linguísticas, quer ainda com respeito ao fundamento fonético e fonológico de determinadas ideias avançadas – ideias essas que, possuindo consequências para o estudo da mudança linguística, repercutem sobre a própria teoria fonológica, por se caracterizarem por um olhar mais aberto para relações menos familiares (Rodrigues, 1981______. 1981. Nasalização e fronteira de palavra em Maxakalí. Anais do V Encontro Nacional de Linguística, v.2, 305-311. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica., 1986a______. 1986a. Silêncio, pausa e nasalização. Anais do VIII Encontro Nacional de Linguística, 153-158. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica. e 2003c______. 2003c. Silêncio, nasalidade e laringalidade em línguas indígenas brasileiras. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 38, n. 4: 11-24.). De especial importância para a avaliação detalhada das contribuições de Rodrigues - em suas consequências para a fonologia histórica, por exemplo, e como aplicações paradigmáticas do método histórico comparativo - dá-se atenção ainda ao seu trabalho de classificação interna da família Tupi- Guarani (Rodrigues 1945______. 1945. Diferenças fonéticas entre o Tupi e o Guarani. Separata dos Arquivos do Museu Paranaense vol. 4: 333-354., 1958______. 1958. Classication of Tupi-Guarani. International Journal of American Linguistics 24 (3): 231-234., 1978______. 1978. A língua dos índios Xetá como dialeto Guarani. Cadernos de Estudos Linguísticos 1:7-11., 1985b______. 1985b. Relações internas na família linguística Tupi-Guarani. Revista de Antropologia27/28:33-53.) e do estabelecimento de relações e de reconstrução dentro do tronco Tupi (Rodrigues 1966______. 1966. Classificação da língua dos Cinta-Larga. Revista de Antropologia 14:27-30., 1980______. 1980a. Tupi-Guarani e Munduruku: evidências lexicais e fonológicas de parentesco genético. Estudos Linguísticos. Anais dos Seminários do GEL, v.3: 194-209., 2005______. 2005. As vogais orais do Proto-Tupi. In: Aryon Dall’Igna Rodrigues & Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. (ors.) Novos Estudos sobre Línguas Indígenas. Brasília: Editora da UnB, p. 35-46., 2007b______. 2007b. As consoantes do Proto-Tupi. In: Ana Suelly Arruda Câmara Cabral & Aryon Dall’Igna Rodrigues (ors.) Línguas e culturas Tupí. Campinas: Editora Curt Nimuendajú, p. 167-203.; Rodrigues, Cabral & Silva 2006______, Ana Suelly Arruda Câmara Cabral. & Beatriz Carretta Côrrea da Silva. 2006. Evidências linguísticas para a reconstrução de um nominalizador de objeto **-mi em Proto-Tupi. Estudos da Lingua(gem) 4(2):21-39.; Rodrigues & Dietrich 1997______ & Wolf Dietrich. 1997. On the linguistic relationship between Mawé and Tupi-Guarani. Diachronica14:265-304.; Hanke, Swadesh & Rodrigues 1958HANKE, Wanda, MORRIS, Swadesh & Aryon Dall’Igna Rodrigues. 1958. Notas de Fonologia Mekéns. In: J. COMAS. (org.) Miscellania Paul Rivet Octagenario Dicata, vol. 2. México: UNAM, p. 187-217.) além das suas contribuições para o estabelecimento de um grupo Macro-Jê (Rodrigues 1986b______. 1986b. Línguas brasileiras: para o conhecimento das línguas indígenas. São Paulo: Loyola., 1992______. 1992. Um marcador Macro-Jê de posse alienável. Anais da 44º Reunião da SBPC., 1999______. 1999. Tupí-Guaraní. In: Robert M. W. Dixon e Alexandra Aikhenvald (eds.) The Amazonian Languages. Cambridge University Press., 2000b). Deste modo, ao tratar das hipóteses de Rodrigues, sua validade, valor e papel no cenário dos estudos de línguas indígenas e de linguística histórica, o artigo busca igualmente contribuir com uma visão em detalhe dos caminhos científicos que Rodrigues percorreu, em sua prática de análise, enquanto cientista da linguagem.

linguística histórica; línguas indígenas; método comparativo; teoria linguística


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