RESUMO
O objetivo é apreender o funcionamento de DAR em contexto explícito. O trabalho está fundamentado pela Teoria da Operações Predicativas e Enunciativas cuja metodologia propõe a articulação de processos generalizáveis com a especificidade de conteúdos formalizáveis na prática de construção de significação. Na atividade linguageira, DAR é marca da alteridade constitutiva e do bloqueio ao movimento que busca encarnar um outro termo. São as marcas de asserção do contexto encaixante que dão a exata medida da distância entre a representação visada e o ponto em que se encontra a representação numa situação enunciativa particular.
Palavras-chave: Verbo-suporte; invariância; interação; construção da significação
ABSTRACT
Apprehending the functioning of DAR in explicit context is the objective. Theoretically we are supported by the Theory of Predicative and Enunciative Operations and his methodology that articulates generalization processes (theory) with formalization of specific contents in the practice of meaning construction. Constitutive alterity and his blocking to the movement that takes place by another term are marked by DAR. Assertion give us the exact distance between the projected representation and the point the representation is stabilized in a particular situation of uttering.
Keywords: Support verb; invariance; interaction; meaning construction
1. A delimitação de um problema
Em algum ponto, DAR perdeu aquelas propriedades que o definiam como verbo e se tornou estranho às teorias linguísticas de cunho gramatical. Nesses casos, chamá-lo de “verbo-suporte” tem sido uma solução provisória com aparência de definitiva. De um certo ponto de vista do que seja fazer ciência, presume-se do nome que denote as propriedades definidoras do objeto. Mas esse nem sempre é o caso, conforme veremos neste trabalho. “Verbo-suporte” é o nome de uma categoria de baixa incidência2, até que se encontre, segundo os meios científicos adequados, as propriedades que, presume-se, lhes sejam definidoras.
Até agora, pouco se avançou nesse sentido. Ainda não se encontrou, entre as categorias “clássicas”, propriedades que contribuam para uma definição de certos usos de DAR, que, por vezes, “verbo-suporte” cumpre a função de designar. DAR tinha um lugar definido na gramática, que o classificava como “verbo transitivo”. Devido à imprevisibilidade que alguns de seus usos colocam às categorias “clássicas” e, para se evitar a ambiguidade categorial (pertencer a mais de uma categoria), optou-se por uma solução denominada “verbo-suporte”. Há quem se pergunte: um verbo-suporte ainda é um verbo ou é outra coisa? Observe-se que o “verbo”, uma das categorias “clássicas”, é o ponto de referência para a compreensão do que seja o “verbo-suporte”.
Fazer uso ou não das categorias da gramática, na busca pela compreensão do funcionamento de DAR, é o menor dos problemas. Tributária da tradição lógico-filosófica que fundamenta não só os estudos gramaticais, mas também as teorias linguísticas de cunho gramatical, a “categorização” do funcionamento do empírico é o maior dos problemas para o estudo dos processos de construção da significação em língua. Ele nos coloca diante do dilema de ter de definir o novo senão em relação ao já definido e já categorizado. Além disso, estabelece, para o estudo dos processos de significação, o fundamento lógico segundo o qual só existe e só pode ser objeto de reflexão aquilo que puder ser categorizado. Por isso, o “verbo-suporte” é um arremedo de categoria que busca contornar pressupostos lógicos, mas, ressalte-se, sem abandoná-los!
Neste trabalho, propomos uma volta àquele ponto em que ainda não se optou por tratar a apreensão do empírico em termos de categorizações. Trata-se do ponto em que o valor (função) e a forma (posição) de DAR ainda não estão definidos em termos de sua categorização. Nas teorias linguísticas de cunho gramatical, o “verbo-suporte”, em geral, é o efeito do jogo sobre fronteiras de categorias e o “verbo-suporte” DAR, em particular, está em conformidade com esse jogo. Em razão do conceito de categoria, que fundamenta tais análises, não se explicita a diversidade de valores efetivos de DAR que estão sustentando a passagem do verbo “pleno” para o “suporte”, e vice-versa. Na medida em que o empírico é descrito por categorias “representativas” da diversidade de valores efetivos, uma dada categoria nada mais é do que um valor que desconhece todos os demais. O diálogo entre valores efetivos e a abstração de processos generalizáveis, que se encontram na origem de cada valor em particular, não encontram espaço de teorização em arcabouços que operam com categorizações. Com efeito, o diálogo entre categorias deixa de ser um observável nas teorias linguísticas assentes na tradição lógico-filosófica, que não vai além das fronteiras de categorias.
Entendemos que o único modo de apreender o diálogo entre as categorias é propor um plano anterior no qual o empírico ainda não se encontre categorizado quer do ponto de vista nocional quer do ponto de vista psico-físico-cultural. Para tanto, propomos abandonar categorizações em prol da articulação da linguagem, entendida como atividade de representação, referenciação e regulação (Culioli 1990), com as línguas naturais, entendidas como vestígios de representações cognitivas e como agenciamentos de marcadores de mecanismos da linguagem.
O objetivo da ciência, em geral, é o de apreender os processos invariantes subjacentes à diversidade do empírico. No entanto, existem invariantes dinâmicas (invariância) e invariantes estáticas. O objetivo deste trabalho é, através da apreensão dos valores efetivos de DAR, em contexto explícito, flagrar a invariância subjacente a um conjunto de enunciados e simular a interação de DAR com os processos de contextualização da invariância em situações particulares da construção de significação do enunciado. Esse objetivo implica assumir a tese da indeterminação da linguagem como hipótese de trabalho e simular processos de contextualização de uma invariante dinâmica em situações particulares.
Todo empreendimento que vise dar conta da complexidade semântica de uma unidade em relação às suas propriedades distribucionais será tributário da compreensão que se tem da natureza da linguagem e das línguas. Portanto, reiteramos nossa posição sustentada pela “hipótese fundadora de que a atividade de linguagem é produto de uma atividade simbólica por gestos” (Ducard 2009:68) que está acessível ao linguista somente através de sequências textuais definidas como agenciamentos de marcadores3 de operações enunciativas (cf. Culioli 1990:115).
2. A busca pela definição do “verbo-suporte”
Não é nosso objetivo questionar a viabilidade das análises sintetizadas nesta seção. Nós as conclamamos aqui com a finalidade de explicitar que, enquanto resultado de opções que são, não são únicas. Outras opções, outros percursos teóricos, não só são possíveis, mas também são saudáveis, em contexto democrático de pesquisa e de construção de carreiras teóricas e institucionais. Muito se tem discutido sobre o que se entende teoricamente por “significação”. Será polêmica qualquer proposta que vise suscitar uma identidade “primeira”, que privilegie um dado conteúdo. Deixaremos essa tarefa para outros tantos trabalhos que já estão se dedicando a essa tarefa. Não é nosso objetivo juntar nossas intuições (interpretativas) a todas aquelas que já foram formuladas por nobres linguistas.
Não temos a pretensão de apresentar aqui uma revisão bibliográfica exaustiva dos trabalhos dedicados ao estudo dos processos de significação de DAR. De modo mais modesto, retomaremos, sucintamente, trabalhos que investem, em particular, no estudo da significação de dois usos do verbo DAR, quais sejam o de verbo “pleno” e o de “verbo-suporte” (às vezes, também designado por “verbo leve”).
O verbo DAR tem sido denominado “pleno” quando integra uma estrutura sintática do tipo DAR+SN+SPrep4, conhecida como estrutura bitransitiva, tal como em
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(1) João deu [um livro] SN [à Maria] SPrep .
O verbo, nesse contexto, é denominado “pleno”, porque além de exibir marcas morfológicas que referem tempo, modo, número e pessoa, também atribuiria caso e papel semântico aos seus argumentos. Desse ponto de vista, em (1), o verbo exibiria morfologia flexional de terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do modo indicativo e atribuiria casos - acusativo ao SN e dativo ao SPrep - e papeis temáticos (semânticos) - TEMA ao SN e RECIPIENTE ao SPrep. Em suma, exibir uma certa morfologia e atribuir certos casos e certos papeis semânticos serão propriedades dos verbos “plenos”.
DAR tem sido denominado “verbo suporte” (ou “verbo leve”) sob a alegação de que exibiria a morfologia “típica” de verbo “pleno”, mas não atribuiria papeis temáticos como um verbo “pleno”. Desse ponto de vista, o verbo não constituiria o núcleo do predicado ou, especificamente, não o constituiria sozinho. Com efeito, desse ponto de vista, o predicado com o verbo “suporte” se estrutura como um predicado complexo do tipo V+SN, e não como um predicado simples, tal como em
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(2) Pedro deu [uma [olhada] N ] SN [nos livros] SPrep .
Vários trabalhos (Scher 2004; Basílio 2007; Basílio, Dias e Martins 1994; Neves 1996; Neves 1999) argumentam que o SN faria parte da estrutura sintática do verbo predicador, mas não funcionaria semanticamente como seu argumento. Concluem que o verbo DAR “suporte” atribuiria caso (que indica função sintática na oração), mas não papel semântico, ao SN que compõe a construção DAR+SN, e que seria transferido ao Sprep de (2) o papel semântico AFETADO que OLHAR atribuiria ao SN complemento em
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(3) Pedro olhou [os livros] SN .
Dois argumentos foram construídos para justificar a homogeneização da identidade semântica do verbo DAR “suporte”, tomada como equivalente à identidade do verbo OLHAR “pleno”. Primeiro, através da semelhança de forma, é estabelecida uma raiz morfológica “comum” e, através dela, um N é derivado dedutivamente de um verbo “pleno” correlativo: olhar V > olhada N . Segundo, é estabelecida uma relação hierárquica de precedência do V em relação ao N para justificar que esse seja derivado daquele, e não o contrário.
São consecutivas dos seus fundamentos as conclusões a que chegam tais pesquisadores. Entendem que: primeiro, a raiz remete diretamente a um valor “primeiro”; segundo, o verbo, enquanto categoria, está mais próximo desse valor ou esse valor lhe é inerente; terceiro, o nominal está hierarquicamente mais distante da essência do valor “primeiro”, sem dele se afastar por completo. Com efeito, esses pesquisadores estão identificando o valor semântico do verbo DAR “suporte” com a identidade “primeira” de outro verbo, que se mantém não só ausente da predicação, mas também incólume, no seu valor semântico, à relação de predicação instalada pelo verbo DAR “suporte”.
A construção da relação de identificação entre o valor semântico da construção DAR+SN e o valor semântico de um verbo “pleno” diferente de DAR está sustentada pelo princípio da estabilidade, que se traduz por relações intersubjetivas - a nosso ver - fictícias e por escalonamentos das unidades de língua, que acabamos de observar, entre as mais e as menos determinadas, mas, ressalte-se, todas estabilizadas. Os conceitos de signo e de língua enquanto sistema estruturado traduzem o princípio da estabilidade em termos de relações invariáveis entre forma e conteúdo cujas unidades de língua teriam por função realizar.
No entanto, será
uma ilusão, resultante da estabilização dos fenômenos linguísticos, propor as existências de elementos mais determinados, tais como, morfemas nocionais e morfemas gramaticais pertencentes à morfologia lexical, responsáveis pela unidade de análise linguística, e de elementos menos determinados, tais como conjunções, preposições, a ordem esquerda e direita, responsáveis pela organização das unidades, a sintaxe. No entanto, a separação entre sintaxe e léxico, presente nos estudos dos fenômenos estáticos de língua, repousa sobre essa ilusão (Rezende 2000b:14).
Na abordagem estática, as unidades de língua se prestam a encapsular e a veicular um conteúdo que permanece incólume a qualquer organização das unidades em cadeias singulares. Na abordagem dinâmica dos fenômenos linguísticos, a linguagem, enquanto prática de construção de significação numa língua dada, impede-nos de defender a existência de “algumas entidades de língua que sejam determinadas e outras que sejam menos determinadas” (Rezende 2000a:15), porquanto uma tal distinção reitera os fundamentos da abordagem estática, quais sejam a existência de (a) um plano abstrato de relações intersubjetivas estabilizadas e (b) um sistema de relações determinadas entre forma e conteúdo.
Defendemos que alcançar a estabilidade e a determinação referidas em (a) e (b), respectivamente, são o objetivo do trabalho dos sujeitos, na prática de construção de significação. Para tanto, assumimos a tese da indeterminação da linguagem e a necessidade do diálogo entre sistemas não homogêneos na construção de formas interpretáveis numa língua dada. A atividade de linguagem é de natureza operatória, e não instrumental, cuja visibilidade não é tomada por evidente, uma vez que implica a apropriação e a simulação (através de um sistema de representação metalinguística) dos processos de ajustamento intra e intersubjetivos entre sistemas de representação não homogêneos e de determinação de noções semânticas, ou “quase-signos” (Rezende 2000a:15), que implicam, de um lado, a introdução de alguma coisa referenciável num espaço nocional e, de outro lado, a determinação propriamente dita, através de avaliações qualitativas (ser igual, ser diferente, e assim por diante) sobre a identidade de alguma coisa em relação à representação visada.
Nossa opção é por assumir a diversidade implicada pela atividade de linguagem e teorizar a linguagem como o “elemento estruturador” (Rezende 2000a:33) do “aglomerado confuso de coisas heteróclitas, sem liame entre si” (Saussure 2010:16) subjacente aos planos experiencial e linguístico. Partindo da tese da indeterminação da linguagem, temos de dar conta de explicitar o movimento que traz à existência alguma coisa enquanto representação interpretável de uma língua particular num espaço referencial homogêneo. Para tanto, o linguista tem de se apropriar: (a) do posicionamento da invariante de forma num espaço não homogêneo e (b) do sistema de ajustamentos que a passagem5 do sistema representações cognitivas (não homogêneo) para o sistema de representações referenciais (homogêneo), e vice-versa, implica.
3. Um programa de trabalho: a articulação da linguagem com as línguas
Para alcançar seus objetivos, este trabalho apoia-se no referencial da Teoria das Operações Predicativas e Enunciativas, do francês Antoine Culioli. O teórico é mais conhecido entre os brasileiros, em geral, por ter teorizado a atividade epilinguística, difundida, no Brasil, por Carlos Franchi (Franchi 2002). Em síntese, o termo “epilinguismo” refere o trabalho do sujeito para posicionar (répérer), num espaço referencial, raciocínios subjacentes (invariância) através de “formas que marcam e constroem sua presença, formas que traçam a atividade dos sujeitos (sob a ótica que essas formas lhes conferem)” (Vogüé, Franckel e Paillard 2011:11 - grifos do original).
Segundo Culioli (1995:13), a relação entre linguagem e línguas é um problema complexo que tem sido marginalizado na evolução da linguística. Acrescenta que, embora Benveniste tenha tocado nessa questão, não formulou um modelo teórico para o problema. Para Culioli, as teorias linguísticas formulam uma metalinguagem - um modelo - e, só então, são feitas observações sobre fatos empíricos “muitas vezes considerado[s] um simples suporte transparente e inerte” (Culioli 1999b:7). A pesquisa linguística, no contexto desses modelos, fundamenta-se sobre dados metalinguísticos, definidos segundo um raciocínio dedutivo, que caminha da linguagem em direção às línguas, ou sobre descobertas empíricas, definidas segundo um raciocínio indutivo, que caminha das línguas em direção à linguagem.
Culioli (1995:13) propõe como objeto de estudo a clivagem das duas instâncias. Disso resulta que a linguagem seja apreendida através da diversidade das línguas naturais e dos textos6 orais e escritos produzidos nessas línguas. O conceito de invariância formal ou operatória vai dar conta da passagem de um plano potencial e indistinto de significação, quer dizer, um plano de equivalência formal entre enunciados potenciais, para o plano de valores singulares, construídos em contexto explícito, na superfície das línguas, e formalizados em sequências lineares de modo bastante variável.
Trata-se de uma disposição humana sem precedentes a capacidade de se apropriar de um plano de significação - de invariantes de processo - mais abstrato do que aquele dos valores observados na superfície do enunciado. Se, por um lado, a atividade de linguagem aproxima-se daquilo que os estóicos definiam como hexis, isto é, uma “disposição permanente adquirida”7 (Ducard 2006:15) para a construção de raciocínios conjecturais sobre o eventual, por outro lado, a atividade metalinguística - consciente ou inconsciente - poderia ser designada pela expressão hexis hodopoiétikè (Ducard 2006:15), para referir a disposição humana para a construção de símbolos segundo raciocínios conjecturais. Trata-se de uma disposição prática, mas que não se confunde com uma técnica.
Quando opôs technè a episteme, Aristóteles admitiu que a technè pode equivaler tanto à aplicação da teoria cujo resultado é já sabido (já dado) à realidade quanto ao modo de fazer alguma coisa que implica ajustamentos à teoria e adaptação à realidade em vista de um possível já sabido. É o segundo conceito de technè que explicará o processo de apropriação da linguagem em articulação com as línguas, ou ainda, o diálogo entre uma invariante de forma e a diversidade do empírico.
A atividade linguageira implica sempre voltar à origem, ao plano de indistinção dado pela linguagem, através de uma invariante dinâmica, e se apropriar de uma trajetória original de construção de conteúdo. Com efeito, na atividade linguageira, a linguagem não se reduz a um modelo estático, tomado por relações previsíveis - idealizadas pelo modelo - e distantes do trabalho dos sujeitos na construção de um conteúdo singular (cf. Culioli 1995:14).
4. A apropriação dos processos de observação da linguagem apreendida através das línguas naturais
Na esteira do positivismo, o estruturalismo nos acostumou à observação de um objeto pronto, dado, construído e estático, enquanto resultado de processos que, desse ponto de vista, não são e não devem ser explicitados nem teorizados por se tratar de “um aglomerado confuso de coisas heteróclitas, sem liame entre si” (Saussure 2010:16). Os processos subjetivos da observação foram relegados por essa linguística a outros domínios, com os quais optou por não dialogar. Não se questiona e não se explicita o próprio processo de observar. Abstrai-se de que os objetos sejam o resultado das escolhas dos sujeitos, de que certos objetos só tenham alcançado esse estatuto em razão da ação subjetiva e de que a ação subjetiva lhes seja constitutiva. Com efeito, o linguista se percebe como aquele que interpreta um papel8 dentro de um roteiro construído e não como aquele que seleciona, que exclui, que orienta, e assim por diante. Os objetos lhe parecem auto-evidentes, auto-justificados ou existentes por si. Por certo, serão científicas as pesquisas que, abstraindo do particular, do variável, do acidental, e assim por diante, promovam a homogeneização das formas de superfície, enquanto observáveis, através de raciocínios quantitativos preponderantes. Esse tipo de observação tende a ratificar categorias de língua (cultura) que, exacerbadas pela generalização, produzem uma imagem fictícia (modelo) das línguas e da cultura.
Objetos homogêneos como os modelos harmonizam com o conceito aristotélico de classe, que se utiliza, cientificamente, para descrever um espaço fechado. Aristóteles compreendia o mundo como uma totalidade geométrica não topológica, ou se está dentro ou se está fora do espaço, e nada mais. Tendo reduzido a variação a uma totalidade homogênea e tendo se apropriado da cosmovisão aristotélica, a ciência moderna tem explicado (ou descrito) a realidade através um conjunto finito de categorias modelo. Ficam excluídos desse tipo de tratamento teórico os objetos que não se reduzem à homogeneidade descrita pelo modelo.
No rastro da concepção aristotélica de mundo, a tradição gramatical buscou reduzir a variação (experiencial e linguística) a um conjunto de categorias, mas, por inconsciência metodológica, confundiu a realidade com o sistema que a representa e promoveu tanto a proliferação de categorias quanto a dispersão teórica. Tendo tomado consciência da necessidade de controle da observação, a linguística reduziu a diversidade (das observações) do empírico a um número limitado de categorias que resultam num modelo estável e simplificado da realidade. O método classificatório está totalmente fundamentado na estabilidade do objeto. A transcategorialidade, isto é, a descrição de fenômenos que implicam ir além das fronteiras entre categorias, é uma das dificuldades da linguística sustentada pelo conceito de classe ou de modelo.
Para sair do impasse colocado pelo sistema classificatório, Culioli propõe um programa de trabalho (um tipo de método) que visa simular a articulação da linguagem com a diversidade das línguas naturais. Para tanto, o teórico define a linguagem como a atividade de representação, referenciação e regulação dos sujeitos e os arranjos léxico-gramaticais como marcadores do acesso aos mecanismos invariantes da linguagem (Culioli 1990:9-24). Diferentemente da linguística Estrutural, que busca encontrar a linguagem em fim de caminho, a linguística culioliana sabe, desde o início, o que é a linguagem e o que está procurando observar nas línguas.
A linguística, derivada desse conceito de linguagem, não estaria procurando o todo, os universais, as invariantes (concepção de ciência no sentido clássico) e não estaria também propondo um estudo do particular, como processos aleatórios e impossíveis de qualquer organização. Propõe clivar essas duas ordens de fato: procurar as invariantes (fazer ciência, talvez não mais em uma concepção clássica de ciência) processuais responsáveis pela variação (Rezende 2000b:89 - grifo nosso).
Por certo, a linguística de Culioli não se confunde com a ciência que tem por objetivo a apreensão de invariáveis estáticas (algum tipo de categoria) subjacentes a um conjunto de objetos habilitados pelo método. O objetivo da linguística culioliana é a apreensão das invariantes dinâmicas (esquemas formais) que estão sustentando a atividade de linguagem - o processo de apropriação de um conteúdo particular, numa situação particular - e a diversidade das línguas - cada conteúdo particular articulado com formas também particulares - em cada situação particular de diálogo.
Se, por um lado, a linguística Estrutural problematiza o que os objetos são, por outro lado, a linguística culioliana problematiza os modos de observar os objetos. Enquanto o método classificatório pretende ser um instrumento objetivo de observação, porque afasta a diversidade experiencial e empírica, convertendo a diversidade de métodos (caminhos possíveis) numa técnica que é tomada como método, o projeto culioliano trabalha com uma teoria dos observáveis, que assume a variação experiencial e empírica em toda a sua diversidade. O dado pertinente é aquele que, na atividade linguageira, funciona como marcador do ponto de intersecção entre a linguagem e as línguas, um ponto que só pode ser observado - entrevisto - de modo esquemático, sem a pretensão de ser apreendido como uma totalidade.
A passagem da linguística de tipo Estrutural “clássico”9 para a linguística culioliana desloca a seleção/obtenção para a percepção/apreensão dos objetos e a aplicação do método para a apropriação do processo de observação. O linguista culioliano tem de aprender a colocar sob observação a diversidade experiencial e empírica, visando sua apropriação. Para tanto, recorre à simulação da atividade linguageira através de protocolos que visam, por um lado, aproximar representações que, apesar das diferenças de superfície, estariam sustentadas por uma mesma invariante de forma e, por outro lado, distanciar representações que, a despeito de semelhantes de superfície, nada teriam de comum, num plano mais abstrato.
Não por acaso, a linguística de tipo Estrutural “clássica” habituou-se a um tipo de método que, movido por uma ação subjetiva não explicitada, calibra os observáveis de modo a sempre ratificar o ponto de vista do analista. Com efeito, o método passa a intuição de que o processo de apreensão dos dados é autônomo quanto aos observáveis ou de que a apreensão é cega ou ingênua, e não o resultado de decisões, de escolhas. A ação subjetiva que está na origem do processo de apreensão dos observáveis fica relegada ao esquecimento e não se explicita como constitutiva do tipo de dado que seleciona. Já o método que implica a apreensão e a formalização dos observáveis é, explicitamente, o resultado do investimento (trabalho) da ação subjetiva, “que Culioli chama de força assertiva” (Ducard 2009:65 - grifo do original), sobre projetos de representação que se deslocam sob ângulos perceptivos variados. Por fim, a linguística culioliana reabilita a gênese (perdida) da variação nas línguas. A gênese de toda a variação é experiencial e subjetiva e não formal ou processual.
Sustentada pela hipótese fundadora da natureza esquemática e indeterminada da linguagem, a teoria (o formal) é um parâmetro que se antepõe, formulando hipóteses explícitas de observação, e se sobrepõe, construindo tanto raciocínios explicativos quanto um discurso coerente que visa dar unidade aos observáveis. Na esteira da hipótese fundadora, o método - enquanto “disposição permanente adquirida” (Ducard 2006:15) para a construção de caminhos de significação - é constitutivo da teoria, que pretende ser uma modelização da atividade construtora de categorias (cf. Ducard 2009; Dufaye 2009), que é a linguagem.
O estudo da modelização tem avançado, principalmente sob a direção do francês Lionel Dufaye, no âmbito dos estudos culiolianos. Esperamos que a síntese do conceito contribua para a compreensão dos movimentos que fazemos, em nossas análises, do formal ao empírico, e vice-versa.
5. A modelização (método): a articulação do formal (teoria) com o empírico (prática)
De princípio, o arcabouço formal (teoria) está apenas relativamente adaptado ao material textual (prática) que se pretende analisar. O trabalho teórico de formalização do funcionamento da linguagem implica a articulação de processos generalizáveis (teoria) com a especificidade de conteúdos que só podem ser apreendidos na prática de construção de significação em contexto explícito. Para tanto, é preciso: apreender os processos (invariantes abstratas; mecanismos de processo; raciocínios) subjacentes ao material textual (prática) através da observação da diversidade de conteúdos efetivamente construídos que o material textual suscita em contexto explícito (que diz respeito a cada situação particular de diálogo) e, então, voltando-se ao material textual que se pretende analisar, ajustar o arcabouço formal (teoria) ao empírico (variação do material textual) através da simulação do vaivém entre processos generalizáveis (da linguagem) e conteúdos específicos (das línguas) e vice-versa.
A apropriação do funcionamento da linguagem - das invariantes da linguagem cujos traços são os arranjos léxico-gramaticais - em contexto de intuições explícitas sobre a significação de formas linguísticas é condição para a observação da atividade de linguagem enquanto movimento que, por um lado, traduz10 (interioriza) em representações mentais as propriedades dos objetos (variação material), apreendidas por mecanismos sensório-motores e afetivos, por outro lado, traduz (exterioriza) em representações linguísticas munidas de propriedades referenciais (adaptações particulares) as representações mentais cujos traços dos mecanismos (raciocínios formais) que as fundamentam constituem os arranjos léxico-gramaticais das línguas em toda a sua diversidade.
As invariantes de forma (método) que sustentam os modos de observação podem até coincidir, mas não se confundem, com as invariantes de forma que sustentam o enunciado enquanto uma sequência linguística interpretável. De modo menos elaborado, diríamos que os raciocínios que sustentam os processos de apropriação de um conteúdo não se confundem com os raciocínios que sustentam tal conteúdo através de uma sequência interpretável. Tal distinção é fundamental para a construção de um sistema metalinguístico de representação do funcionamento da linguagem articulado com a diversidade das línguas.
O sistema metalinguístico deve formalizar a invariância apreendidas pela atividade metalinguística consciente do linguista. No entanto, esse processo esbarra na derivação de enunciados que é própria à prática de linguagem. É o recurso à paráfrase e à desambiguização (Fuchs 1982, 1994) que vai auxiliar o linguista a flagrar os movimentos da (atividade de) linguagem na diversidade do empírico.
Tendo se apropriado de uma invariante de forma, o linguista, por um lado, faz um “recuo”11 (Rezende 2000b:26) sobre uma memória enunciativa constituída de uma família de enunciados possíveis (virtualidades), derivados por processos parafrásticos, dentre os quais, um enunciado de partida com o qual esteja trabalhando, e, por outro lado, faz projeções, também sustentadas por processos parafrásticos, de estabilizações (caminhos possíveis, mas nem sempre acessíveis) da invariância em tempos-espaços variados e para sujeitos variados. Observemos, a seguir, a simulação dos processos de construção da significação do enunciado e a interação de DAR com a invariância de funcionamento da linguagem.
6. DAR e os processos de construção do enunciado
Consideremos o enunciado a seguir:
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(4) Pedro deu uma olhada na Maria. Meu Deus, quanto ódio! Se eu fosse a Maria, eu sumia, mas ela não percebeu nada.
O enunciado tem de ser lido com uma prosódia mais ou menos recortada de “olhada”. Esperamos ter conseguido representar, ainda que de modo aproximado, essa prosódia em “Pedro deu uma o-lha-da na Maria”. “Dar uma olhada”, assim como “lançar ódio sobre”, em Pedro lançou ódio sobre a Maria, por um lado, busca dar forma a certas noções semânticas e ao desejo de alguém de que alguma coisa deixe de ser/existir de um certo modo e, por outro lado, “olhada” não só dá corpo ao ódio de alguém, mas também orienta esse ódio numa certa direção. O localizador do ódio de alguém, em (4), é “na Maria”. Já em Pedro lançou ódio sobre a Maria, “a Maria” é o localizador do ódio lançado por alguém. Com efeito, o termo “olhada” busca instanciar o movimento12 do ódio de um “odiador” na direção de um odiado.
O espaço topológico referido no parágrafo anterior é munido de um Interior, um Exterior e uma zona de Fronteira. No Interior, estão localizadas as ocorrências de equilibração do movimento, no Exterior, as ocorrências de superação da equilibração e, na Fronteira, encontram-se as ocorrências intermediárias. Considerem-se, a seguir, trajetórias singulares que ilustram esses valores:
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- Interior: ocorrências de equilibração do movimento:
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(5) Pedro deu uma olhada na Maria. Meu Deus, quanto ódio! Se eu fosse a Maria, eu sumia, mas ela não percebeu nada;
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- Exterior: ocorrências de superação da equilibração do movimento:
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(6) Pedro deu uma olhada na Maria. Meu Deus, quanto ódio! Na hora, ela percebeu e ficou vermelha de tanta vergonha;
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- Fronteira: ocorrências intermediárias:
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(7) Pedro deu uma olhada na Maria. Meu Deus, quanto ódio! Na hora, ela deve ter ignorado, mas não deve ter resistido ao desejo de revide. (orientação para o interior do domínio);
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(8) Pedro deu uma olhada na Maria. Meu Deus, quanto ódio! Na hora, ela percebeu e o ignorou, apesar do claro desejo de revide em seus olhos. (orientação para o exterior do domínio).
Os enunciados de (4) a (8) estão sustentados pela seguinte invariante de fundamento: que alguma coisa olhada por alguém deixe de ser/existir. Trata-se da mesma invariante que está sustentando os enunciados de (9) a (11), a seguir:
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(9) Pedro deu uma senhora olhada na Maria. Meu Deus, quanto ódio!
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(10) Pedro deu uma olhada e tanto na Maria. Meu Deus, quanto ódio!
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(11) Que olhada foi aquela que Pedro deu na Maria! Meu Deus, quanto ódio!
“Senhora” marca a identificação de “olhada” com uma ocorrência típica do movimento de ódio de alguém por alguém. “E tanto” é marca da identificação de “olhada” com outras ocorrências do mesmo tipo. “Que” marca a trajetória da representação na direção do alto grau (Que olhada!), quando todas as propriedades da noção estão congregadas num valor absoluto. Nesse ponto já não se coloca em questão as propriedades que lhes são próprias versus as que não são. Em (11) ainda está sendo questionada a adequação das propriedades “[d]aquela [olhada] que Pedro deu na Maria”.
Conforme veremos na sequência deste trabalho, DAR é marca da alteridade constitutiva na busca pela equilibração da representação. A alteridade cujo marcador é DAR é uma instância constitutiva do movimento de ódio de alguém por alguém que, embora “externo”13 ao movimento, dialoga com a trajetória de determinação da representação e, assim, constitui-se, no enunciado, através das alteridades “internas” (Pedro e Maria), como parâmetro operatório de determinação da representação.
7. A dinâmica da interação de DAR com as contextualizações da representação
Descrevemos a seguir a dinâmica da interação de DAR com as contextualizações dos modos de ser/existir da representação.
7.1. Equilibração do movimento.
Consideremos o enunciado abaixo:
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(12) Pedro deu uma olhada na Maria. Meu Deus, quanto ódio! Se eu fosse a Maria, eu sumia, mas ela não percebeu nada.
O processo de equilibração da representação implica, por um lado, a projeção da representação (Maria de outro modo) e, por outro lado, o diálogo da alteridade constitutiva com as demais alteridades em jogo. A marcas assertivas (eu sumia e não percebeu) estabilizam a representação num ponto de equilibração, isto é, num ponto em que o obstáculo colocado pela alteridade constitutiva não é questionado pelas alteridades internas ao movimento. Com efeito, se, por um lado, a representação visada é Maria de outro modo, por outro lado, a representação estabilizada é Maria de um certo modo. A equilibração da representação é alcançada pela indeterminação das relações de alteridade que não se hierarquizam14. Vejamos, a seguir, que a instanciação do termo “olhada” pelo movimento de ódio de alguém implica hierarquização das relações de alteridade e superação do bloqueio ao movimento de ódio de alguém colocado pela alteridade constitutiva.
7.2. Superação do bloqueio ao movimento.
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(13) Pedro deu uma olhada na Maria. Meu Deus, quanto ódio! Na hora, ela percebeu e ficou vermelha de tanta vergonha.
Trata-se do processo pelo qual o obstáculo colocado ao movimento de ódio de alguém pela alteridade constitutiva é superado pela alteridade enquanto o mesmo. A superação da alteridade constitutiva pela alteridade enquanto o mesmo abre caminho à encarnação do termo “olhada” pelo movimento de ódio de alguém. “Olhada” se determina como o nome de um movimento de ódio cujo resultado é Maria de outro modo. Consideremos a dinâmica da interação dos termos “na Maria” e “olhada”.
Num plano inferior (de determinação), “na Maria” é o localizador da construção do termo “olhada”. Num plano superior, “na Maria” é um termo especificado pela “olhada” que se determinou, no plano superior. Com efeito, no plano superior, “na Maria” se determina como um outro modo de ser/existir de Maria, resultado da superação do obstáculo colocado pela alteridade constitutiva e, consequentemente, da encarnação do termo “olhada” pelo movimento de ódio de alguém. Em suma, Na hora, ela ficou vermelha de tanta vergonha estabiliza a representação num ponto em que Maria não mais é/existe de um certo modo, transformando-se em Maria de outro modo, quer dizer, transformando-se em Maria vermelha de tanta vergonha, graças ao movimento de ódio que não foi retido pela alteridade constitutiva.
7.3. Não superação do bloqueio ao movimento.
Tomemos o enunciado abaixo para fins de observação do processo de contextualização em epígrafe:
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(14) Pedro deu uma olhada na Maria. Meu Deus, quanto ódio! Na hora, ela o deve ter ignorado, mas não deve ter resistido ao desejo de revide.
Em (14), temos projeção de representação (Maria de outro modo) e desequilíbrio, em razão do obstáculo colocado pela alteridade constitutiva ao movimento de ódio de alguém. Temos um jogo de forças entre a alteridade constitutiva e outras forças. Se, por um lado, a alteridade constitutiva é obstáculo à transformação da representação, por outro lado, deve ter ignorado é marca de asserção que esboça uma eventual superação do obstáculo colocado pela alteridade constitutiva. Não deve ter resistido ao desejo de revide são marcas de asserção que remetem à polarização entre a alteridade constitutiva e as demais forças, com tendência à superação do bloqueio colocado pela alteridade constitutiva.
O termo “olhada” oscila entre a instanciação do movimento de ódio cuja extensão é Maria de outro modo e a não instanciação do movimento, que equilibra Maria de um certo modo. As marcas de asserção de (14) trazem algum grau de incerteza sobre a transformação da representação e, não por acaso, sobre a determinação dos termos. Enquanto localizador de “olhada”, “na Maria” passa a intuição de existência de representação, isto é, passa a intuição de existência de uma memória enunciativa antecipada, mas marcas de modalidade favoráveis (ela o deve ter ignorado) e desfavoráveis (não deve ter resistido ao desejo de revide) projetam uma eventual existência a ser confirmada em outra situação enunciativa.
8. Considerações finais
Começamos este trabalho, afirmando que, até mesmo do ponto de vista da linguística de cunho gramatical, o conceito de “verbo-suporte” diz pouco sobre o funcionamento de DAR. Assumimos, como objeto de estudo, a linguagem apreendida através da diversidade das línguas naturais, porque entendemos que esse é o caminho da superação dos dilemas colocados pelo conceito de classe ou modelo. Isso feito, definimos, como objetivo deste trabalho: flagrar a invariância de funcionamento da linguagem, através dos valores efetivos de DAR em contexto explícito, e representar, num sistema metalinguístico, os processos de determinação do enunciado.
Com efeito, conseguimos apreender o diálogo entre categorias, assumindo um plano inferior, no qual o empírico ainda não se encontre categorizado, e um plano superior, no qual as propriedades dos termos encontram-se transformadas. Apreendemos a invariância de funcionamento subjacente a um conjunto de enunciados e definimos que alguma coisa olhada por alguém deixe de ser/existir descreve essa invariância. Simulamos a interação de DAR com os processos de contextualização da invariante e observamos diferentes trajetórias de determinação dos termos constitutivos do enunciado.
Contribuiu para nossos objetivos, a construção de um espaço topológico. Localizamos um conjunto de ocorrências da representação em relação ao centro atrator, no Interior do espaço, e então, pudemos observar a distribuição de outras tantas ocorrências no Interior, no Exterior e na zona de Fronteira.
Através da interação dinâmica de DAR com sucessivas contextualizações, no processo de construção do enunciado, apreendemos algumas tendências do seu funcionamento.
Referências
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2
. Trata-se de uma categoria que ainda carece de definição.
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3
. Não se confundem com etiquetas.
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4
. Optamos por não representar o sujeito sintático nessa fórmula.
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5
. Há uma não coincidência de princípio entre as representações (abstratas) mentais ou cognitivas e as representações sociais (situadas no tempo-espaço) ou linguísticas.
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6
. O termo “texto” “designa a materialidade fornal do enunciado [...] o dado empírico essencial de toda a análise” (Vogüé 2011:58). Com efeito, “o dado [empírico] é fortemente teorizado” (Rezende 2000b:98) como “arranjo de marcas” (Vogüé 2011:58) que remetem a uma invariante de forma que é recobrada pelo termo “formal” utilizado por Vogüé (2011). Desse ponto de vista, na análise de texto, o trabalho do linguista “não é formalizar (criar uma metalinguagem), mas descrever o formal que a língua é, com os instrumentos descritivos adequados” (Rezende 2000b:128).
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7
. No original: Une disposition permanente acquise (Ducard, 2006:15).
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8
. O de “receptáculo da cultura” (Franchi 2002:57) que lhe é exterior.
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9
. Que opera com o conceito de classe ou modelo.
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10
. Entenda-se por “tradução” a passagem de um sistema de representação a outro e os ajustamentos de ângulos perceptivos que se fazem necessários. Não se confunda esse conceito de “tradução” com a noção de “transferência”.
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11
. Recurso metamental e infinito que incide sobre o que está construído e esboça sua reorganização (REZENDE 2000a:26).
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12
. Preferimos o termo “movimento” ao termo “evento” porque o primeiro enfatiza a trajetória da representação. Já o segundo pode, eventualmente, ser confundido pelo leitor com a descrição de um estado.
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13
. Podemos dizer que é uma instância “externa” ao movimento apenas se não considerarmos que é ela o resultado da articulação das instancias de nível inferior. Na passagem ao nível superior, o nível das propriedades transformadas, imediatamente apreendemos a alteridade como constitutiva do movimento e já não podemos continuar sustentando que seja “externa” sob pena de torná-la invisível à teorização.
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14
Essa, inclusive, parece ser a leitura preferida do fragmento Pedro de uma olhada na Maria pelos trabalhos gerativistas (Scher 2004; Basílio 2007; Basílio, Dias e Martins 1994) e funcionalistas (Neves 1996; Neves 1999) referidos na Seção 2.
Datas de Publicação
-
Publicação nesta coleção
12 Ago 2019 -
Data do Fascículo
2019
Histórico
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Recebido
12 Maio 2018 -
Aceito
29 Nov 2018