NOTAS SOBRE LIVROS BOOKNOTES
Por/by: Francisco Gomes de Matos
Letras, CAC, UFPE, Recife. E-mail: fcgm@hotlink.com.br
COUTO, Hildo Honório do. 2007. Ecolingüística. Estudo das relações entre língua e meio ambiente. Brasília: Thesaurus Editora www.thesaurus.com.br ISBN 9788570 626035, 462p.
Auspiciosa a publicação desta obra pioneira em língua portuguesa sobre uma área interdisciplinar que merece um lugar no sol no currículo de nossos Programas de Pós-Graduação. Seu autor fez mestrado na USP, doutorado na Universidade de Colônia (Alemanha) e estágio pós-doutoral na City University of New York. Versátil, Couto já era conhecido, entre nós e no exterior, por seu incansável trabalho na igualmente importante área da Crioulística.
Este volume contém expressivas capa e contra-capa em que o Autor traduz o título visualmente. Assim, encontramos duas fotos de paisagens em dias de céu povoado de belas nuvens. Seguem-se uma Apresentação (17 lingüistas mencionados, dos quais 6 brasileiros), Prefácio (8 p.), 9 Partes ( 44 capítulos) e Bibliografia (18 p). Os títulos das Partes e de alguns capítuos dão uma idéia do vasto e variado território mapeado por Couto: Descortinando a paisagem (Ecologia, Ecolingüística, Unidade da ciência), Ecologia da língua (Ecologia fundamental da língua, Ecologia da interação comunicativa, Língua e
Meio ambiente, Semântica, Autonomia da linguagem), Endoecologia da língua (Sintaxe,
Morfologia, Léxico, Fonologia, Fonética), Etnoecologia lingüística (Etnobotânica, Etnozoologia, Etnomedicina, Etnotoponímia, Etnoantroponímia, Língua e conhecimento etnoecológico), Ecologia das línguas (Ecologia do contato de línguas, Ecologia da evolução lingüística, Ecologias lingüísticas complexas:multilinguismo e bilingüismo), Ecolingüística social (Ecologia crítica, Linguagem preconceituosa, Biodiversidade e linguodiversidade), População e Indivíduo no nicho ecolingüístico (Política e planejamento lingüístico, Direitos lingüísticos, Ecologia da aquisição e da aprendizagem de língua), Duas áreas conexas (Ecossemiótica, Ecocrítica).
No Prefácio, Couto faz um relato autobiográfico bem realista de aspectos ecolingüísticos de sua infância, adolescência e idade adulta. Os fatos narrados constituem um pano-de-fundo para compreender-se o amor à Natureza pregado e praticado pelo autor. Louve-se a disposição autoral em "conversar sobre algum dos diversos tópicos discutidos" pelo e-mail hiho@unb.br. Vale acrescentar que Couto ensinou na Universidade Estadual de Londrina e, após sua aposentadoria na UnB, continua a atuar como pesquisador associado do Programa de Pós-Graduação da Universidade de Brasília.
Como o livro não oferece Índice de assuntos, os títulos das Partes e dos capítulos suprem razoavelmente a informatividade esperada pelos leitores. Quais as Partes mais extensas? Ecologia da Língua (70 p.) e Descortinando a paisagem (68 p.). Os capítulos variam, em extensão, de 2 a 20 páginas. A Bibliobrafia oferece fontes em português, inglês, alemão, francês, italiano, espanhol e catalão. A abrangência conceitual-terminológica do volume pode também ser apreciada na consulta às fontes bibliográficas. Assim, os leitores encontrarão: contato interlingüístico, anticrioulo, descrioulização, deep ecology movement, anti-languages, semiotic ecology, Gaia, ecolinguistic identity, lingüística da paz, language of environment, antropologia ecológica. Louve-se a inclusão de fontes disponíveis na Internet. A propósito, na lista das contribuições do ecolinguista austríaco Alwin Fill poderse-ia ter incluído seu magistral capítulo Ecolinguistics (2005), acessável on-line por assinantes da monumental enciclopédia on-line da UNESCO: EOLSS, Encyclopedia of Life-Support Systems (www.eolss.net). Também teria merecido inclusão o volume New foundations for a science of text and discourse, de Robert De Beaugrande (Ablex,1997), no qual há várias passagens de interesse ecolingüístico. Outra fonte merecedora de inclusão: o capítulo Ecology of languages, de Peter Muhlhausler, em The Oxford Handbook of Applied Linguistics, organizado por Robert B. Kaplan e publicado em 2002.
Muitos pontos positivos podem ser destacados nesta relevante contribuição: Limitar-me-ei a duas: sua humildade, ao abordar questões da área de Análise do Discurso (315) e sua coragem de discordar a respeito da centralidade do Léxico. Está convicto Couto que "é a Fonética-Fonologia que tem esse papel central na língua" (213). Um livrão como este, que certamente motivará vocações em nossos linguistas em formação ou futuros, atesta o imenso potencial teórico e aplicativo de um dos mais fascinantes e humanizadores modos de fazer lingüística.
Datas de Publicação
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Publicação nesta coleção
17 Set 2009 -
Data do Fascículo
2008